Por Maria das Graças Cabral
O presente texto tem por objetivo tratar do seguinte questionamento: - Se deve ou não evocar determinados Espíritos nas reuniões mediúnicas? A esse respeito, hodiernamente o procedimento usual e padronizado nos centros espíritas ou grupos de estudo, é o de “não evocação” ou “comunicação espontânea”, em consonância com o entendimento do Espírito Emmanuel, mentor do médium Chico Xavier.
A esse respeito o
referido Espírito, no livro O Consolador, psicografado pelo médium acima
mencionado, quando indagado se é aconselhável a evocação direta de determinados
Espíritos, assim se posiciona: - “Não somos dos que aconselham a evocação
direta e pessoal, em caso algum. Se essa evocação é passível
de êxito, sua exeqüibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual.”
(O Consolador - pergunta 369, p. 207) (grifo e negrito meus) Como se não
ocorresse o mesmo com a comunicação espontânea!
Acrescenta
Emmanuel: “Daí a necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no
complexo dos fenômenos espiríticos, a solução de muitas incógnitas espera o
avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem intencionado,
portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa,
considerando que a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus
esforços de acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e
segundo o merecimento do seu coração. Podeis objetar que Allan Kardec se
interessou pela evocação direta, procedendo a realizações dessa
natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional
do Codificador, aliada a necessidades e méritos ainda distantes da esfera de
atividade dos aprendizes comuns.” (O Consolador - pergunta 369, p. 207)
(grifo e negrito meus)
Diante das
elucidações feitas por Emmanuel, observa-se que sua argumentação se opõe
sumariamente à evocação direta, sustentando-se primeiramente no entendimento de
que o êxito de tais evocações só poderia ser averiguado no plano espiritual.
Indaga-se: - Por acaso o êxito da comunicação espontânea tem como ser apurada
com toda a segurança no plano material?! Quais seriam os critérios de
segurança? Isso objetivamente ele não aponta.
Em seguida alega
que devemos pedir sem exigir, orar sem reclamar, etc.. Será que para Emmanuel
evocar, chamar, significa exigir, ou impor aos Espíritos seu comparecimento?
Rebate que em razão de nossa precária condição moral não devemos evocar
Espírito nenhum. Pondera que com Kardec foi diferente, pois o mesmo executava a
extraordinária tarefa da codificação associada às suas virtudes pessoais que
estamos longe de auferir.
A argumentação de
Emmanuel torna-se inaceitável pois a Doutrina dos Espíritos veio para todos
independentemente de grau evolutivo, visando alavancar o progresso do espírito
humano. Allan Kardec não teria tido todo o cuidado de explanar de forma clara e
pedagógica, desenvolvendo um verdadeiro tratado sobre mediunidade em O Livro
dos Médiuns, se não objetivasse que a mediunidade fosse bem compreendida e o
trabalho mediúnico seguro e acessível a todos.
No que tange às
evocações, nas Considerações Gerais do Capítulo XXV de O Livro dos Médiuns
quando trata do tema em tela, o Mestre começa pontuando que “algumas pessoas
acham que não devemos evocar nenhum Espírito, sendo preferível esperar o que
quiser comunicar-se. Entendem que chamando determinado Espírito não temos a
certeza de que é ele que se apresenta, enquanto o que vem espontaneamente, por
sua própria iniciativa, prova melhor a sua identidade, pois revela assim o
desejo de conversar conosco.” (O Livro dos Médiuns - item 269)
Não obstante,
estabelece o Codificador que optar pela comunicação espontânea “é um erro”!
Observe-se que taxativamente considera um ERRO a não evocação, justificando seu
entendimento com as seguintes palavras: “Primeiramente porque estamos sempre
rodeados de Espíritos, na maioria das vezes inferiores, que anseiam por se
comunicar. Em segundo lugar, e ainda por essa mesma razão, não chamar
nenhum em particular é abrir a porta a todos os que querem entrar. Não
dar a palavra a ninguém numa assembléia é deixá-la livre a todos, e bem
sabemos o que disso resulta. O apelo direto a determinado Espírito
estabelece um laço entre ele e nós; o chamamos por nossa vontade e assim opomos
uma espécie de barreira aos intrusos. Sem o apelo direto um Espírito muitas
vezes não teria nenhum motivo para vir até nós, se não for um nosso Espírito
familiar.” (O Livro dos Médiuns - item 269) (grifei)
Acrescenta ainda
que (...) “as comunicações espontâneas não têm nenhum inconveniente quando
controlamos os Espíritos e temos a certeza de não deixar que os maus venham a
dominar.” (O Livro dos Médiuns - item 269) (grifei) Constata-se que
Kardec demonstra a temeridade de lidar com tais comunicações espontâneas, em
face da dificuldade de se controlar os Espíritos comunicantes, e obstar de
forma efetiva o domínio dos maus. Ou seja, o Codificador não apenas “se
interessou” pelas evocações como “sutilmente” afirma Emmanuel. Ele as
utilizou de forma sistemática e rechaçou as comunicações espontâneas
considerando tal prática um “erro”. Até porque Kardec nunca usou de
subterfúgios nem meias palavras. Sempre primou pela correição de vocabulário e
clareza de idéias!
Entende-se,
portanto que o interesse de certos Espíritos nas comunicações espontâneas está
justamente na liberdade que os permite facilmente mistificar. Não obstante,
Kardec com muita propriedade argüiu que numa reunião onde a palavra não é dada
a ninguém, fala quem quer o que quer, tendo como corolário reuniões
desorganizadas, improdutivas e mistificadas.
A esse respeito,
faz-se por oportuno também mencionar as sessões mediúnicas onde vários
Espíritos se comunicam espontânea e concomitantemente, ocorrendo paralelas
doutrinações. Indaga-se: - Uma reunião nesses moldes obedece aos preceitos de
organização e respeito que Kardec impinge às sessões experimentais? É óbvio que
uma reunião onde várias pessoas falam ao mesmo tempo, denota total falta de
urbanidade e descaso pela exposição de cada um. Imagine-se tal ocorrência num
ambiente com Espíritos nos mais variados estágios de desequilíbrio!
Diante do exposto,
reporto-me a uma publicação de Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1865,
intitulada “Nova Cura de uma Jovem Obsedada de Marmande”. Tratava-se de
uma jovem de treze anos que experimentava crises convulsivas de tal violência,
que cinco homens tinham dificuldade de mantê-la em seu leito. Depois das mais
diversas tentativas de tratamento médicos e do padre que rezou missa na
intenção da jovem, constatou-se o insucesso dos recursos utilizados.
Daí, um grupo
espírita de Marmande consultou os guias espirituais sobre a natureza da
moléstia da jovem. A resposta dada pelos guias foi à seguinte: “É uma obsessão
das mais graves, cujo caráter mudará muitas vezes de fisionomia. Agi friamente,
com calma; observai, estudai e chamai Germaine”,
acrescentando que na primeira evocação, o Espírito de Germaine não
poupou injúrias e “mostrou grande repugnância em responder às nossas
interpelações.” (Revista Espírita - Janeiro de 1865, p. 20/21) (grifei)
Adiante, assevera o
narrador que os guias deram a seguinte instrução: “Procedei com muito cuidado,
muita observação e muito zelo. Tratareis com um Espírito mistificador, que alia
a astúcia e a habilidade hipócrita a um caráter muito mal. Não cesseis de
estudar, de trabalhar pela moralização desse Espírito e de orar com essa
finalidade.” (...) (Revista Espírita - Janeiro de 1865, p. 21)
No caso em tela
observa-se a prática da evocação numa sessão mediúnica de desobsessão, onde em
um primeiro momento são evocados os guias espirituais objetivando
esclarecimento e orientação de como agir face à complexidade do caso. Num
segundo momento obedecendo às disposições dadas pelos guias, é feita a evocação
do obsessor.
Na leitura do longo
processo relatado na Revista, observa-se a alternância das evocações. Em certos
momentos são os guias evocados, e sob a orientação destes evocava-se o Espírito
obsessor, até o deslinde total da problemática. Ou seja, de acordo com o
presente exemplo publicado na Revista Espírita, Kardec demonstra a prática das
evocações nas sessões de desobsessão.
Diante do exposto,
constata-se que pela falta de estudo, valorização e respeito aos ensinos
ministrados pela Espiritualidade Superior e positivados por Allan Kardec, somos
levados a acatar orientações alienígenas, anti-doutrinárias, que não trazem em
absoluto a tão almejada segurança das comunicações mediúnicas.
Não obstante vale
ressaltar, que todos os ensinamentos ministrados pelo Codificador não provinham
de uma teoria própria nem de um único Espírito. Mas de uma plêiade de Espíritos
evoluídos e preparados para tão grande empreitada!
Finalizando, fica
claro que o médium que se diz espírita deveria obrigatoriamente ter como
literatura objeto de estudo e orientação nas práticas mediúnicas O Livro dos
Médiuns conjuntamente com a Revista Espírita, repositório de experiências e
lições que o Codificador disponibilizou para o esclarecimento dos Espiritistas.
Obviamente não desconsiderando as demais Obras Fundamentais que estabelecem o
alicerce doutrinário.
No que concerne às
evocações, se fizermos uma análise racional e profunda da proposta de Kardec, e
o tivermos na conta do maior estudioso e conhecedor da Doutrina Espírita na
condição de Codificador, assessorado por toda uma equipe espiritual de elevada
evolução, não temos como duvidar do melhor procedimento a ser adotado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Ed. LAKE. SP/SP, 22ª edição. 2002.
KARDEC, Allan. Revista
Espírita. Ano VIII. Janeiro de 1865. Ed. FEB. Brasília/DF. 3ª edição. 2004.
XAVIER, Cândido Francisco. O
Consolador. Ditado pelo Espírito Emmanuel. Ed. FEB. RJ/RJ. 17ª edição. 1995.
Fonte; http://umolharespirita1.blogspot.com.br/
Leitura
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