Richard Simonetti
Melindres
Indagado sobre problemas de relacionamento humano,
disse Chico:
Existem pessoas que se sentem ofendidas, magoadas por qualquer coisa: à mais
leve contrariedade, se sentem humilhadas... Ora, nós não viemos a este mundo
para nos banhar em águas de rosas... Somos Espíritos altamente endividados -
dentro de nós o passado ainda fala mais alto... Não podemos ser tão
suscetíveis assim...
Com a sabedoria de sempre, há todo um tratado de
bem viver em suas singelas expressões.
Muitos problemas seriam evitados se as pessoas se
dessem ao trabalho de cogitar dos objetivos da existência.
Não somos fruto do acaso, a partir do encontro de
um óvulo com espermatozoide vencedor.
Vivíamos antes do berço.
Viveremos após o túmulo.
Transitamos pela Terra pilotando o corpo, máquina
frágil que precisa ser alimentada e cuidada.
A todo momento apresenta desajustes e dores que
exigem cuidados e, não raro, nos oprimem.
E convivemos com pessoas que guardam limitações
semelhantes, sob a regência do egoísmo, esse vilão das almas, a sustentar as
dores e confusões do Mundo.
Estimaríamos, no relacionamento humano,
banhar-nos em rosas, guardando inefável tranquilidade e inalterável bem-estar.
Ocorre que isso nunca acontece em plenitude,
porquanto há sempre espinhos que nos ferem a sensibilidade, impostos pela
convivência com desafetos da Terra e do Além.
O problema, amigo leitor, não está na contundência
dos espinhos, mas, como afirma Chico, em nossa suscetibilidade, que se exprime
na facilidade em nos melindrarmos.
É como uma alergia.
Há pessoas que podem comer quilos de queijo, sem problema algum. Outras ficam com o rosto
deformado pelo inchaço, ingerindo mínima porção.
O melindre é a alergia da alma.
Um mínimo de contrariedade e eis o estrago feito,
promovendo transtornos em nosso ânimo.
Para vencer a alergia física há uma terapia de
dessensibilização, com o suporte medicamentoso a ser aplicado com critério e
perseverança.
Para vencer a alergia espiritual, que tanto nos
perturba e aborrece, é preciso arejar a alma, com o exercício perseverante da
humildade.
Alguém alegará:
– Como pode ser a humildade o remédio para o
melindre se é justamente por sermos humilhados que nos sentimos melindrados?
Quem assim questiona está confundindo humildade com
humilhação.
A humilhação é a sensação de rebaixamento, de
discriminação. Julgamos que alguém nos boicotou, diminuiu ou menosprezou…
A humildade é a consciência de nossas próprias
limitações, que nos induz a não nos julgarmos melhor do que ninguém.
É simples entender.
Se sou humilde, nunca me sentirei humilhado.
Se me sinto humilhado, humilde não sou.
Proclama Jesus (Lucas, 17:21):
…o Reino de Deus está dentro de vós.
Isso significa que entrar no Reino é
realizá-lo em nossa própria consciência, em inefável tranquilidade interior.
Jesus nos indica como fazê-lo, em O
Sermão da Montanha (Mateus, 5:3):
Bem-aventurados os humildes, porque deles
é o Reino de Deus.
Olhe aí, amigo leitor, mais uma vez a humildade!
É muito mais do que um remédio para a alergia da
Alma!
É o passaporte para estados de beatitude na
consciência, o Reino em nós, sem as escuras nuvens de indesejável
suscetibilidade.
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