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terça-feira, 10 de junho de 2014

TRANSE, ANIMISMO E MEDIUNISMO

Pedro da Fonseca Vieira
  
“(...) Um Espírito, que não o do médium, pode ser de ordem inferior à deste e, então, falar menos sensatamente” (O Livro dos Médiuns, Parte II, item 223-5).

O termo animismo não é novo, sempre permeia discussões de estudos mediúnicos nos Centros Espíritas – mas o que é o animismo? É um mal que deve ser combatido – como se ouve vez por outra? Pode ser desenvolvido e ser colocado a serviço do bem? Pode ajudar no exercício mediúnico?

Animismo é a denominação geral de todos os fenômenos psíquicos que têm por origem a alma, ou seja, o Espírito encarnado (vide O Livro dos Espíritos, questão 134), agente desses fenômenos. Mediunismo, por outro lado, é a designação geral de todos os fenômenos psíquicos que têm por origem outros Espíritos (encarnados ou desencarnados) e que se tornam perceptíveis pela ação de um médium, pessoa que atua como “meio ou intermediário entre os Espíritos e os homens” (vide O Livro dos Espíritos, introdução IV). Exemplos de fenômenos tipicamente anímicos são a psicometria (percepção de fatos a partir de objetos), a leitura de pensamentos, a pirogenia (combustão espontânea), a emancipação da alma e a clarividência. Por outro lado, podemos citar outros tipicamente mediúnicos como: a psicografia, a psicofonia, a possessão (ou incorporação), a pneumatografia (escrita direta), a pneumatofonia (fala direta) e a materialização dos Espíritos.

Existe animismo sem mediunismo? “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”. Esta citação é de O Livro dos Espíritos, questão 459, a partir da qual entendemos que, de ordinário, não há fenômeno anímico que não tenha a participação efetiva dos desencarnados, o que equivale a dizer que o animismo puro é uma situação excepcional.

E mediunismo sem animismo, é possível? “Dessas explicações resulta, ao que parece, que o Espírito do médium nunca é completamente passivo? É passivo, quando não mistura suas próprias idéias com as do Espírito que se comunica, mas nunca é inteiramente nulo. Seu concurso é sempre indispensável, como o de um intermediário (...)”. Essa colocação é vista em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XIX, item 223-10. Por ela podemos compreender que não há fenômeno mediúnico, seja de que natureza for, que não tenha a participação, mais ou menos forte, do médium, o que, analogamente, significa que o mediunismo puro também é uma abstração. Em suma, o que existem são fenômenos predominantemente mediúnicos ou predominantemente anímicos.

Essa dificuldade de isolar os dois conceitos foi a justificativa dada por pesquisadores para o uso do termo medianimismo, ou medianimidade, tal qual foi citado por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XXXII como sinônimo de mediunidade, mas “no sentido restrito”, ou seja, poderíamos dizer, no sentido prático do fenômeno mediúnico, mostrando que esta nunca está desvinculada do animismo.

Em todos os acontecimentos medianímicos, indistintamente, o médium/anímico entra num estado especial citado pelos Espíritos em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XIX, item 223: “No momento em que exerce a sua faculdade, está o médium em estado perfeitamente normal?” “Está, às vezes, num estado, mais ou menos acentuado, de crise”. Por conta da acepção negativa do termo “crise”, modernamente, sem perda de significado, adotou-se o termo “transe”, muito embora ainda pouco estudado. É, por definição, um movimento anímico, ou seja, um estado pertinente ao próprio Espírito encarnado, e constitui a base fundamental de todos os fenômenos psíquicos. Seu estudo e conhecimento seriam de importância capital para a melhora das práticas medianímicas no Centro Espírita. Sem buscar esgotar o assunto, vamos tratar de algumas de suas características.

Podemos entender o transe como uma série de alterações físicas (principalmente nervosas) e perispirituais que permitem certo grau de emancipação da alma. Essa fase, eminentemente anímica, antecede e predispõe o sensitivo a toda uma gama de fenômenos psíquicos que dela dependem, sejam estes anímicos ou mediúnicos. Uma descrição desse processo foi dada pelo Espírito Erasto em O Livro dos Médiuns com respeito aos médiuns de efeitos físicos: “Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa ter consigo médiuns a que chamarei sensitivos, isto é, dotados, no mais alto grau, das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade, porque o sistema nervoso facilmente excitável de tais médiuns lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar abundantemente, em torno de si, o fluido animalizado que lhes é próprio”.

O transe tem diferentes graus de profundidade, o que pode ser facilmente verificado pelos níveis de consciência física que o médium/anímico mantém durante a comunicação/percepção. Em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XV, vemos três níveis de consciência que, podemos dizer, correspondem a três níveis de transe. O superficial distingue-se pouco do estado normal e corresponde à mediunidade intuitiva. O intermediário ou mediano permite que o Espírito que se comunica traga algumas de suas características com a contrapartida da perda parcial de consciência por parte do médium, correspondendo à mediunidade semi-consciente, ou semi-mecânica no caso específico da psicografia. O nível profundo de transe – mais raro hoje em dia – viabiliza uma percepção quase completa de anulação da personalidade do médium e da presença do comunicante, o que verificamos pela mudança de letra na psicografia, da voz na psicofonia, dos gestos na possessão (ou incorporação), permitindo, por exemplo, a passagem de detalhes e datas, bem como comunicação por meio de línguas estranhas ao médium. Observamos, também, no nível mais profundo, a perda total de consciência física por parte do médium, correspondendo à mediunidade inconsciente, sonambúlica ou mecânica.

A origem do transe pode ser também variada, podendo este ser provocado ou natural. Dizemos que o transe é provocado quando a causa principal de seu acontecimento não reside na própria alma – por exemplo, por efeito de ação magnética, de ação de Espíritos desencarnados ou do uso de algumas drogas (neste último caso, desequilibrado, imperfeito, perigoso e inútil em função do entorpecimento gerado). Natural quando nasce da concentração do Espírito encarnado numa direção bem definida, em atitudes naturais da vida, ou sob seu direto controle. Recomendamos fortemente o estudo detido da obra: “Transe e mediunidade” para maiores esclarecimentos (ver recomendações bibliográficas ao fim).

Será que animismo e mediunismo podem andar de mãos dadas? Dia 01/10/2005, no Centro Espírita Cristófilos, no Rio de Janeiro, o Espírito Ayres de Oliveira nos trouxe essa reflexão, situando o movimento anímico como importante para a qualidade da prática mediúnica: “É de fundamental importância que compreendam, de forma correta, as fases por que passam todos vocês em uma reunião como essa. Podemos dividi-las em três: preparação, busca e vibração. (...) A próxima fase é a da busca, ou a fase predominantemente anímica, é aquela que deve ser melhor desenvolvida ainda se quisermos dar maior ganho à reunião. O foco da maioria dos problemas que se observa nos médiuns está nesta fase. Este momento é o do movimento da alma do médium encarnado. Ele, na hora que um nome é chamado, deve fazer um movimento de ir buscar, no Plano Espiritual, as causas e as circunstâncias que envolvem a pessoa que foi chamada. (...) Com esse movimento anímico de todos vocês, o canal para que possamos trazer os Espíritos até aqui torna-se muito mais simples e os médiuns tornam-se muito mais preparados para o exercício da sua função”.

A Casa Espírita está preparada para lidar com o animismo? Deveria, mas aparentemente não é esse, infelizmente, o caso geral. Muito se tem ouvido, nos Centros Espíritas, que o animismo é um mal que precisa ser extirpado e as percepções anímicas em suas reuniões condenadas, perdendo-se, assim, não apenas a possibilidade do uso racional do animismo como da melhora do próprio mediunismo. Trabalhos interessantíssimos com o uso das potencialidades anímicas podem ser desenvolvidos e colocados a serviço das pessoas, tais como os citados nas obras “Laudos espíritas da loucura” e “Evocando os Espíritos” (vide recomendações bibliográficas). Por que não fazê-lo? A questão é de suma importância e merece a reflexão de todos nós.

Para aqueles que ainda pensam no animismo como um mal, resta-nos recorrer à obra A Gênese, de Allan Kardec, em seu Capítulo XV, item 2, onde o maior anímico de todos os tempos é apresentado: “Agiria [Jesus] como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.”

Finalmente, para mais esclarecimentos sobre o assunto, são recomendados, em ordem, os títulos a seguir:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, LAKE.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, LAKE.
3. PALHANO, Lamartine (Jr.). Transe e mediunidade, Lachâtre.
4. AKSAKOF, Alexander. Animismo e Espiritismo (2 volumes), FEB.
5. BOZZANO, Ernesto. Animismo ou Espiritismo?, FEB.
6. PALHANO, Lamartine (Jr.). Laudos espíritas da loucura, Lachâtre.
7. PALHANO, Lamartine (Jr.). Evocando os Espíritos, Lachâtre.
8. SCHUBERT, Suely Caldas. Os poderes da Mente, EBM Editora.
9. DELANNE, Gabriel. A evolução anímica, FEB.
10. BOZZANO, Ernesto. Os enigmas da psicometria, FEB.
11. BACELLI, Carlos A.; FERNANDES, Odilon (Espírito). Mediunidade e Animismo, LEEP.

Fonte;
espiritismo.net

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

TRANSE E MEDIUNIDADE


Nesta entrevista, realizada há quatro anos, o escritor espírita Lamartine Palhano Jr. explica os tipos de transe mediúnico de acordo com a doutrina espírita.

Pelo site www.irc-espiritismo.org.br

O que é realmente o transe?


Quero lembrar que Allan Kardec perguntou aos espíritos se os médiuns, na hora das manifestações, permaneciam num estado especial. Os espíritos responderam que estavam numa espécie de "crise", tanto que isto gerou o termo "crisíaco".

Mas naquele tempo, a psicologia ainda não usava o termo "transe", que é uma corruptela de uma situação "transacional", que passa de um estado para outro, no caso, de um estado mental. Hoje se sabe que o que se chama "transe" é um estado alterado da consciência, onde há dissociação psíquica, que pode ser superficial (consciente) hipnogógico (semiconsciente) e profundo (inconsciente). O transe é anômalo porque ele é ocasional. Neste caso, não podemos, por exemplo, classificar o estado de sono porque é uma situação normal.

O transe está sempre presente em todas as manifestações mediúnicas?

Como eu disse, a mediunidade é um tipo de transe, por isso devemos compreender os outros tipos de transe para definir o que é realmente mediunidade.

A emancipação da alma, ou projeção astral, não considerada como caráter mediúnico, mas como capacidade inerente do ser. Poderia esta ser considerado uma forma de transe?

Evidente. É um transe anímico, no qual o espírito do próprio tem essa liberdade de emancipar-se, numa espécie de dissociação psíquica já referida. Veja o capítulo de O Livro dos Espíritos chamado "Emancipacão da Alma".
Por que, no início, quando a mediunidade está "aberta", sentimos tanta coisa: dores, doenças?

Falta de treino e de orientação para o "transe canalizado", que tenho estudado de modo cansativo nos últimos tempos.

A primeira publicação que fiz a respeito está no capítulo 11 do livro Transe e Mediunidade, Editora Lachâtre. Sem esse treinamento, os médiuns permanecem com seus canais psíquicos abertos à revelia, recebendo todos os tipos de freqüências mentais.

Quais os procedimentos corretos quando uma pessoa, não espírita e não estudiosa, entra em transe, debatendo-se e dizendo coisas desconexas?

Por isso eu estou insistindo em que o espírita aprenda sobre o "transe", porque um tipo de situação dessa pode ser um "transe patológico" (esquizofrênico, psicótico, efeitos de drogas, obsessivo etc. ). E para ajudar melhor, o espírita deve reconhecer o transe e tomar as providências cabíveis, junto ao socorro médico ou aos recursos espíritas, como a ordem moral de afastamento dos espíritos, passe, irradiação etc.

Existe uma forma para se identificar a mediunidade intuitiva?

No livro Transe e Mediunidade tem essa explicação. No caso da intuição, ela vem inteira, direta e muitas vezes seguida do nome do espírito que está intuindo, o que se transforma em ação imediata. A observação constante do fenômeno dará segurança ao médium intuitivo e também, outros médiuns próximos podem confirmar o sentimento recebido.

Uma outra coisa importante para se observar é o resultado positivo provocado pela ação nascida da intuição. A intuição é a primeira variedade mediúnica surgida na humanidade. Veja o livro Evolução em Dois Mundos, de Chico Xavier (espírito André Luiz).

Quais são os tipos de transe e qual a sua origem? Segundo a conceituação espírita, o transe tem origem endógena e exógena. Poderia nos explicar?

Os tipos básicos de transe são: 1) patológicos. Ex: delírio febril, coma, trauma craniano, psicose, depressão, esquizofrenia, epilepsia etc. 2) farmacógenos: provocados por drogas e medicamentos como tranqüilizantes, calmantes, anfetaminas e ecstasy, cocaína, heroína, crack, álcool, fumo etc. 3) anímico: Quando o indivíduo é capaz de emancipar-se por si mesmo, por sua vontade, ou não, naturalmente ou sob estímulo. Veja pergunta número 420 de O Livro dos Espíritos. 4) transe provocado: a) hipnose auto ou hetero; b) mediúnico, provocado por espíritos bons ou maus; c) farmacógenos (já citado).

Esses são os tipos básicos. Endógenos são os provocados por distúrbios patológicos neuro-anímicos, por liberação ou inibição de neurotransmissores; os exógenos, transes provocados mediante estímulos externos.

Supomos que um médium cobre por seus trabalhos espirituais. Poderia essa mediunidade ser autêntica e eficaz?

A mediunidade não é propriedade dos espíritas, tanto quanto os poderes psíquicos de cada um. O problema de não cobrar por ação mediúnica foi uma recomendação dos espíritos a Allan Kardec, baseados em que os poderes mediúnicos são movimentações dos espíritos e, por isso, os médiuns não deviam cobrar, porque receberam o dom nesta vida. No entanto, é uma questão cultural. Nos Estados Unidos, por exemplo, o médium que não cobra é tido como feiticeiro.

Pode-se afirmar, com certeza, que toda pessoa que boceja seguidamente no momento da reunião mediúnica, se não estiver sob a influência do cansaço, está sob má influência espiritual?

Não significa má influência. Significa perda. Algumas pessoas se condicionam a determinados estímulos, mediantes os quais começam a bocejar. Entretanto, não pode ser descartada uma ação obsessiva.

Cabe ao presidente, através de outros médiuns presentes, fazer uma "varredura psíquica" no indivíduo que está apresentando esses sintomas, e descobrir as causas. Meu procedimento é esse.

O Livro dos Médiuns nos diz que quando um médium não age corretamente, os espíritos acabam por abandoná-lo, ficando este sem a sua mediunidade. Por que então vemos médiuns trabalhando para espíritos perturbados sem perderem a faculdade mediúnica?

Não devemos entender as coisas ao pé-da-tetra. Os espíritos superiores não são maus para abandonar seus protegidos. O que acontece é que os médiuns, com as suas atitudes estranhas e inadequadas, diminuem o tônus vibracional, não permitindo a facilidade da ação superior. Os espíritos protetores respeitam essa atitude por causa do livre-arbítrio, e não significa propriamente que o médium "perde a mediunidade", porque o seu corpo hereditariamente tem a possibilidade do transe mediúnico.

Duas coisas podem acontecer: os médiuns se sintonizam com os planos inferiores e continuam médiuns, ou os seus guias, considerando as energias compensadas do bem já realizado pelo médium, o protegem de modo especial para que não seja "pasto" para os "vampiros espirituais", de forma que, aparentemente, "perdem a mediunidade".

No caso, se um médium clarividente vier a perder seu dom, por atos assim, poderia ele voltar a ver caso se modificasse vibracionalmente?

Ele teria que ganhar a confiança de seus protetores novamente. E preciso entender que médium não é médium de uma mediunidade só. Cada médium possui em si mesmo uma dinâmica psíquica que pode alcançar diversos níveis de variedades mediúnicas, e isso é bem observa do quando se atenta para o fato.

A clarividência é apenas uma variedade, mas se ele diz ou se dizem para ele sempre que ele é um clarividente, ele bloqueia as outras possibilidades que ele tem. Tenho prova disso em meus experimentos no CIPES.

Em um dos seus livros, você coloca que o transe tem vários graus. Como poderia nos explicar isso?

Tem vários graus e várias intensidades. As intensidades, eu comentei no início: superficial, hipnogógico e profundo. Os graus, nós temos: intuitivo, semimecânico e mecânico. Esses graus referem-se aos transes motores. Ex: psicofonia, psicografia e psicopraxia (ação psíquica). Com relação aos transes psico-sensoriais, nós temos desde o pressentimento, criptestesia, premonição, clariaudiência, clarividência, olfativos e psicometros.

A psicometria pode ser enquadrada como fenômeno mediúnico ou anímico?

Ë uma possibilidade anímica, podendo ser secundada por espíritos.

No atendimento fraterno existe a manifestação mediúnica?

Se no atendimento fraterno existe o passe e a água fluidificada, naturalmente vai existir liberarão de ectoptasma num transe de natureza biológica, além da psíquica. Se no passe se está transmitindo energias psíquicas, o passista, mesmo que esteja consciente de tudo, está em transe superficial, e, como não poderia deixar de ser, o paciente que está sendo magnetizado também está em transe leve. Pergunte ao paciente o que ele sentiu no momento, e ele vai dizer o que sentiu.

Se o passista, no momento do passe, perceber a natureza dos problemas do paciente, o que há de ser feito, ele está em transe, que pode ser anímico ou mediúnico. O mais provável é que seja anímico (energias corporais), com auxílio das energias espirituais. Veja maiores informações na obra de André Luiz.

O transe tem várias origens, podendo apresentar combinações diversas na forma. Que formas são essas? E como podemos caracterizá-las?
Como foi dito, há vários tipos de transe. Por exemplo, a origem de um transe patológico, como no caso do delírio febril é uma febre; no caso de esquizofrenia, é a depleção das dopaminas; no caso das depressões, são os problemas com serotoninas, se consideramos o problema como de origem orgânica. Se for um problema de ordem espiritual, temos que considerar a erigem como uma incompetência de viver e uma revolta íntima (conforme Jung). 

Então, cada tipo de transe pode ter diversas origens. Não há espaço aqui para definir as origens de cada tipo de transe.

"Mediunidade" é igual a "medianimico"?

Mediunidade foi o termo utilizado por Kardec, que também se utilizou do termo "mediaminique". Aksakof utilizou o termo "anímico" (de "anima", alma).

Como a mediunidade vem atrelada às possibilidades anímicas do médium, o termo mais completo para a definição seria "medianimico". Mas o termo "mediunidade" já está consagrado.

Deixe-nos uma mensagem final.

Gostaria de lembrar que o espírito humano não está preso no corpo como se estivesse dentro de uma caixa. Ele irradia por todos os lados, podendo receber e emitir irradiações mentais (pensamentos) de níveis diferentes, adotando aqueles pensamentos que lhe são mais afins. Então, somos potencialmente médiuns, e se não temos a devida vigilância mental, corremos o risco de estarmos vivendo o pensamento de outrem, e não o nosso próprio.

Daí, o conselho básico de Santo Agostinho, na pergunta 919 de 0 Livro dos Espíritos sobre a questão do "conhece-te a ti mesmo". Só podemos dizer se somos ou não médiuns se os efeitos da nossa ação psíquica forem ostensivos ou sob observação experimental. Com relação ao transe mediúnico em si, é preciso exercitar as possibilidades que vão se apresentando e não decidir qual mediunidade que queremos ter, pois então corremos o risco de bloquear os gérmens das nossas possibilidades medianímicas latentes.

O conselho dos espíritos é que essas forças devem ser desenvolvidas acompanhadas de renovação moral, para que possamos vencer as forças inferiores que nos cercam neste mundo de expiação e provas.

TRANSE E MEDIUNIDADE

Trecho do livro Mediunismo, de Ramatís.
Psicografia de Hercílio Mães. Editora do Conhecimento.

Alguns médium com os quais temos tido contato afirmam resolutamente que nada se 
recordam do conteúdo espiritual que recebem dos desencarnados, deixando-nos convictos de que todos eles são absolutamente sonâbulos.

O médium sonâmbulo que for incapaz de avaliar de imediato ou posteriormente, ao menos, um só pensamento dos comunicantes desencarnados, além de muito raro, é um dos tipos mais apropriados para atender às pesquisas cientificas e identificar os espíritos dos “falecidos”, cumprindo a finalidade da alma. No sonambulismo perfeito enquadra-se melhor o médium de fenômenos físicos, que, em geral, só depois do transe completo é que fornece o ectoplasma para a consecução de trabalhos mediúnicos desse gênero. Ele precisa submeter-se passivamente aos técnicos do Além, para lograr o melhor êxito possível na fenomenologia de materializações, voz direta, transportes ou levitações, que se produzem pela manipulação da força ectoplásmica que se exsuda pela contextura perispiritual do médium.

Conforme já vo-lo dissemos, os desencarnados comunicam-se pelo cérebro perispiritual dos médiuns intuitivos. Nos sonâbulos acionam-lhes diretamente o cérebro físico e no médium mecânico movimentam-lhe a mão na psicografia inconsciente. Entretanto, sempre o médium terá um conhecimento parcial daquilo de que é intermediário, pois só nos casos de obsessão completa, em que se entidades malévolas, depois de tenaz ação “diabólica”, conseguem assenhorear-se completamente do comando mental do obsidiado, é que então se poderia aceitar o sonambulismo absoluto e sem qualquer lampejo de razão.

É certo que muitos médiuns, embora sejam sinceros e bem intencionados, alegam que são sonâmbulos e que de nada se recordam do transe mediúnico, temerosos de não inspirarem a devida confiança aos seus ouvintes. Nem sempre o fazem por vaidade ou má intenção, pois é evidente que o público fica mais convicto das comunicações do Além quando crê no completo alheamento do médium naquilo que transmite mediunicamente.


(Extraído da Revista Cristã de Espiritismo nº 28, páginas 26-29


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http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2013/12/palavras-do-codificador-mediunidade.html

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

MEDIUNIDADE CURADORA




"Caro Senhor Kardec.

"Venho, na qualidade de Espírita, recorrer à vossa cortesia, e vos rogar consentir em dar-me alguns conselhos relativamente à prática da mediunidade curadora pela imposição das mãos. Um simples artigo a este respeito na Revista Espírita, contendo alguns desenvolvimentos, seria acolhido, disto estou seguro, com um grande interesse, não só por aqueles que, como eu, se ocupam desta questão com ardor, mas ainda por muitos outros a quem essa leitura poderia inspirar o desejo de dela se ocupar também. Lembro-me sempre dessas palavras de uma sonâmbula que eu havia formado. Eu a enviei, durante seu sono magnético, para visitar uma doente à distância, e a meu pedido como se poderia curá-la, ela disse: "Há alguém em sua aldeia que o poderia, é um tal; é médium curador, mas sobre isto nada sabe."

"Não sei até que ponto essa faculdade é especial, cabe-vos mais do que a qualquer outro apreciá-la, mas se ela o é realmente, como seria de desejar, que atraísseis sobre este ponto a atenção dos Espíritas. Mesmo todos aqueles que, fora de nossas opiniões, vos lessem, não poderiam ter nenhuma repugnância em tentar uma faculdade que não pede senão a fé em Deus e a prece. Que de mais geral, de mais universal? Não é mais questão de Espiritismo, e cada um, nesse terreno, pode conservar suas convicções. Quantas irmãs de caridade, quantos bons curas do campo, quantos milhares de pessoas piedosas, ardentes pela caridade, poderiam ser médiuns curadores? É o que sonho em todas as religiões, em todas as seitas. Aceita por toda a parte, essa faculdade, esse presente divino da bondade do Criador, em lugar de ficar como apanágio de alguns, cairia, se assim posso me expressar, no domínio público. Este seria um belo dia para aqueles que sofrem, e há tantos deles!
"Mas, para exercer essa faculdade, independentemente de uma fé viva e da prece, podem existir condições a reunir, procedimento a seguir para agir o mais eficazmente possível. Qual é a parte do médium na imposição das mãos? Qual é a dos Espíritos? É preciso empregar a vontade, como nas operações magnéticas, ou se limitar a pedir, deixando agir à sua vontade a influência oculta? Essa faculdade é realmente especial ou acessível a todos? O organismo nela desempenha um papel, e que papel? Essa faculdade pode ser desenvolvida, e em que sentido?

"Eis aqui onde vossa longa experiência, vossos estudos sobre as influências fluídicas, o ensino dos Espíritos elevados que vos assistem, e, enfim, os documentos que recolheis de todos os cantos do globo, podem vos permitir nos esclarecer e nos instruir; ninguém, como vós, está colocado nessa situação única. Todos aqueles que se ocupam da questão desejam vossos conselhos tanto quanto eu, disto estou seguro, e creio me fazer o intérprete de todos. Que mina fecunda é a mediunidade curadora! Aliviar-se-á ou se curará o corpo, e pelo alívio ou pela cura encontrar-se-á o caminho do coração, lá onde freqüentemente a lógica havia fracassado. Quantos recursos possui o Espiritismo! Quanto é rico dos meios dos quais é chamado a se servir! Não deixando nenhum deles improdutivo; quanto tudo concorre a elevá-lo e a difundi-lo. Nisto nada poupais, caro senhor Kardec, e depois de Deus e dos bons Espíritos, o Espiritismo vos deve o que é. Já tendes uma recompensa disto neste mundo pela simpatia e afeição de milhões de corações que oram por vós, sem contar a verdadeira recompensa que vos espera num mundo melhor.
“Tenho a honra, etc.
“A. D.”

O que nos pede nosso honorável correspondente não é nada menos do que um tratado sobre a matéria. A questão foi esboçada em O Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revista, a propósito de fatos de curas e de obsessões; ela está resumida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a propósito das preces para os doentes e os médiuns curadores. Se um tratado regular e completo não pode ainda ser feito, isto se prende a duas causas: a primeira que, apesar de toda a atividade que desdobramos em nossos trabalhos, nos é impossível fazer tudo ao mesmo tempo; a segunda, que é mais grave, está na insuficiência das noções que se possuem ainda a esse respeito. O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, não pode ainda haver dito tudo; não pode, de um só golpe, nos mostrar todos os fatos que ele abarca; cada dia deles desenvolve novos, de onde decorre novos princípios que vêm corroborar ou completar aqueles que já se conheciam, mas é preciso o tempo material para tudo; qualquer parte integrante do Espiritismo é, por si mesma, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complicadas de obsessões que, elas mesmas, influem sobre o organismo. Não é, pois, em algumas palavras que se pode desenvolver um assunto tão vasto. Nele trabalhamos, como em todas as outras partes do Espiritismo, mas como não queremos nele nada pôr de nossa autoridade e que seja hipotético, não procedemos senão pelo caminho da experiência e da observação. Os limites deste artigo não nos permitindo dar-lhe os desenvolvimentos que comporta, resumimos alguns dos princípios fundamentais que a experiência consagrou.

1. Os médiuns que obtêm as indicações de remédios da parte dos Espíritos não são o que se chama médiuns curadores, porque não curam por si mesmos; são simples médiuns escreventes que têm uma aptidão mais especial do que outros para esse gênero de comunicações, e que, por essa razão, podem se chamar médiuns consultantes (consultores), como outros são médiuns poetas ou desenhistas. A mediunidade curadora se exerce pela ação direta do médium sobre o doente, com a ajuda de uma espécie de magnetização de fato ou de pensamento.

2. Quem diz médium diz intermediário. Há esta diferença entre o magnetizador e o médium curador, que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual.

3. O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito grande na qualidade do fluido e em seus efeitos.
O fluido humano é sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e morais do encarnado; o dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e, por isto mesmo, tem propriedades mais ativas que levam a uma cura mais rápida. Mas, passando por intermédio do encarnado, pode-se alterar como uma água límpida passando por um vaso impuro, como todo remédio se altera se permanece em um vaso impróprio, e perde em parte suas propriedades benfazejas. Daí, para todo verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar em sua depuração, quer dizer, em sua melhoria moral, segundo este princípio vulgar: limpai o vaso antes de vos servir dele, se quereis ter alguma coisa de bom. Só isto basta para mostrar que o primeiro que chega não poderia ser médium curador, na verdadeira acepção da palavra.

4. O fluido espiritual é tanto mais depurado e benfazejo quanto o Espírito que o fornece é, ele mesmo, mais puro e mais desligado da matéria. Concebe-se que o dos Espíritos inferiores deve se aproximar do homem e pode ter propriedades malfazejas, se o Espírito for impuro e animado de más intenções.
Pela mesma razão, as qualidades do fluido humano apresenta nuanças infinitas segundo as qualidades físicas e morais do indivíduo; é evidente que o fluido saindo de um corpo malsão pode inocular princípios mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do magnetizador, quer dizer, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar seu semelhante, unido à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos se aproximar das qualidades do fluido espiritual.
Seria, pois, um erro considerar o magnetizador como uma simples máquina na transmissão fluídica. Nisto como em todas as coisas, o produto está em razão do instrumento e do agente produtor. Por estes motivos, haveria imprudência em se submeter à ação magnética do primeiro desconhecido; abstração feita dos conhecimentos práticos indispensáveis, o fluido do magnetizador é como o leite de uma nutriz: salutar ou insalubre.

5. O fluido humano sendo menos ativo, exige uma magnetização prolongada e um verdadeiro tratamento, às vezes, muito longo; o magnetizador, dispensando seu próprio fluido, se esgota e se fatiga, porque é de seu próprio elemento vital que ele dá; é porque deve, de tempos em tempos recuperar suas forças. O fluido espiritual, mais poderoso em razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos e, freqüentemente, quase instantâneos. Esse fluido não sendo o do magnetizador, disto resulta que a fadiga é quase nula.

6. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo se isto se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.

7. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo. Mas os médiuns curadores, na estrita acepção da palavra, quer dizer, aqueles cuja personalidade se apaga completamente diante da ação espiritual, são extremamente raros, porque esta faculdade, elevada ao seu mais alto grau, requer um conjunto de qualidades morais que raramente se encontra sobre a Terra; somente eles podem obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que nos parecem prodigiosas; muito poucas pessoas podem pretender este favor. O orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.

8. A mediunidade curadora pura sendo, pois, uma exceção neste mundo, disso resulta que há quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano; quer dizer, que os médiuns curadores são todos mais ou menos magnetizadores, é por isso que agem segundo os procedimentos magnéticos; a diferença está na predominância de um ou de outro fluido, e na maior ou na menor rapidez da cura. Todo magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.

9. Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se rendem à prece se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador de desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.

10. Mas se a vontade é ineficaz quanto ao concurso dos Espíritos, ela é onipotente para imprimir ao fluido, espiritual ou humano, uma boa direção, e uma energia maior. No homem débil e distraído, a corrente é débil, a emissão fraca; o fluido espiritual se detém nele, mas sem proveito para ele; no homem de uma vontade enérgica, a corrente produz o efeito de uma ducha. É preciso não confundir a vontade enérgica com a teimosia, porque a teimosia é sempre uma conseqüência do orgulho e do egoísmo, ao passo que o mais humilde pode ter a vontade do devotamento.

A vontade é ainda onipotente para dar aos fluidos as qualidades especiais apropria- das à natureza do mal. Este ponto, que é capital, se prende a um princípio ainda pouco conhecido, mas que está em estudo, o das criações fluídicas, e das modificações que o pensamento pode fazer a matéria suportar. O pensamento, que provoca uma emissão fluídica, pode operar certas transformações moleculares e atômicas, como se vê isto se produzir sob a influência da eletricidade, da luz ou do calor.

11. A prece, que é um pensamento, quando é fervorosa, ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos, mas em dirigindo sobre o doente uma corrente fluídica salutar. Chamamos a esse respeito a atenção sobre as preces contidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo, para os doentes ou os obsidiados.

12. Se a mediunidade curadora pura é o privilégio das almas de elite, a possibilidade de abrandar certos sofrimentos, de curar mesmo, embora de maneira não instantânea, certas doenças, é dada a todo o mundo, sem que seja necessário ser magnetizador. O conhecimento dos procedimentos magnéticos é útil em casos complicados, mas não é indispensável. Como é dado a todo o mundo chamar os bons Espíritos, orar e querer o bem, freqüentemente, basta impor as mãos sobre uma dor para acalmá-la; é o que pode fazer todo indivíduo se nisso põe a fé, o fervor, a vontade e a confiança em Deus. Há a se anotar que a maioria dos médiuns curadores inconscientes, aqueles que não se dão nenhuma conta de sua faculdade, e que se encontram, às vezes, nas condições mais humildes, e entre pessoas privadas de toda instrução, recomendam a prece, e ajudam a si mesmos orando. Somente sua ignorância faz crer na influência de tal ou tal fórmula; algumas vezes mesmo ali misturam práticas evidentemente supersticiosas, das quais é preciso dar o caso que elas merecem.

13. Mas do fato de que se tenha obtido uma vez, ou mesmo várias vezes, resultados satisfatórios, seria temerário se dar como médium curador, e disso concluir que se pode vencer toda espécie de mal. A experiência prova que, na acepção restrita da palavra, entre os melhores dotados, não há médiuns curadores universais. Tal terá devolvido a saúde a um doente, que não produzirá nada sobre um outro; tal terá curado um mal num indivíduo, que não curará o mesmo mal uma outra vez, sobre a mesma pessoa ou sobre uma outra; tal, enfim, terá a faculdade hoje, que não terá mais amanhã, e poderá recobrá-la mais tarde, segundo as afinidades ou as condições fluídicas em que se encontrem.

14. A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e sobretudo pela prática do bem e da caridade; mas como ela não poderia ter a constância, nem a pontualidade de um talento adquirido pelo estudo, e do qual se é sempre senhor, não poderia tornar-se uma profissão. Seria, pois, abusivamente que uma pessoa se ostentasse diante do público como médium curador. Estas reflexões não se aplicam aos magnetizadores, porque a força está neles, e são livres para dela dispor.

15. E um erro crer que aqueles que não partilham nossas crenças, não teriam nenhuma repugnância em tentar essa faculdade. A mediunidade curadora racional é intimamente ligada ao Espiritismo, uma vez que repousa essencialmente sobre o concurso dos Espíritos; ora, aqueles que não crêem nem nos Espíritos, nem em sua alma, e ainda menos na eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições desejadas, porque isso não é uma coisa que se possa tentar maquinalmente. Entre aqueles que crêem na alma e sua imortalidade, quantos há ainda hoje que recuariam de medo diante de um chamado aos bons Espíritos, no temor de atrair o demônio, e que crêem ainda de boa-fé que todas essas curas são a obra do diabo? O fanatismo é cego; ele não raciocina. Isto não será sempre assim, sem dúvida, mas se passará muito tempo antes que a luz penetre em certos cérebros. À espera disto, façamos o maior bem possível com a ajuda do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, aceitemos ser pagos com a ingratidão, é o melhor meio de vencer certas resistências, e de provar que o Espiritismo não é tão negro quanto alguns o pretendem.

REVISTA ESPÍRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS - PUBLICADA SOB A DIREÇÃO DE ALLAN KARDEC
ANO 8 - SETEMBRO 1865 - Nº. 9
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