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sábado, 2 de maio de 2015

PARA OS ESPÍRITOS O PENSAMENTO É TUDO


Estudo com base numa comunicação dos Espíritos Erasto e Timóteo in O Livro dos Médiuns, Cap. XIX, Papel do Médium nas Comunicações, item 225. Obra codificada por Allan Kardec.

Pesquisa: Elio Mollo

Os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Contudo, o ser encarnado põe o seu corpo, como instrumento de comunicação por palavras, à disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo.  Assim, podemos perceber a importância do papel dos médiuns nas comunicações espíritas
Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço, porém, rápido como o pensamento. Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está também, uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da alma. Para os Espíritos o pensamento é tudo. (1)

Os Espíritos agindo sobre os fluidos espirituais, não os manipulam como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos, combinam-nos ou os dispersam. É com esses fluidos que eles formam a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual. (2)

A linguagem dos Espíritos é o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los, pois, sendo a linguagem a expressão do pensamento, eles tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más que possuem em sua capacidade evolutiva, sendo assim, o primeiro sentimento que os evocadores e os médiuns devem ter em relação a eles é o da prudência (3), pois os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não possuem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência. O saber dos Espíritos esta limitado ao grau de seu adiantamento, e a suas opiniões tem unicamente o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida preservará os evocadores e os médiuns da grande dificuldades de crerem em suas infalibilidades. Inclusive, é útil e sensato não formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns Espíritos. (4)

Salvo algumas poucas exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos de que dispõe, e a expressão desse pensamento pode e deve, o mais frequentemente, ressentir-se da imperfeição desses meios.

Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, mecânicos, semi-mecânicos ou simplesmente intuitivos, os processos de comunicação dos Espíritos não variam na essência. As comunicações com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação do pensamento. Os pensamentos não necessitam das vestes da palavra para que os Espíritos os compreendam. Todos os Espíritos percebem o pensamento transmitido, pelo simples fato de ele ter sido dirigido a alguém, um grupo, ou de uma maneira geral e cada um o entenderá na razão do grau de suas faculdades intelectuais. Quer dizer que determinado pensamento pode ser compreendido por estes e aqueles, segundo o respectivo adiantamento, enquanto para outros o mesmo pensamento, não despertará nenhuma lembrança nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do seu cérebro não será perceptível. No caso de ser um Espírito encarnado que serve de médium, este processo é o método mais apropriado para transmitir o pensamento de um Espírito para outros encarnados, mesmo que o médium não o compreenda.

Se um Espírito tiver a necessidade de usar de um médium para comunicar o seu pensamento por palavras, ele irá usar um ser terreno (espirito encarnado), porque este pode ceder o seu corpo como um instrumento, colocando-se a sua disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo. Eis aqui um ponto importante do papel dos médiuns nas comunicações espíritas.

Assim, quando os Espíritos superiores encontram num médium o cérebro cheio de conhecimentos adquiridos na sua vida atual, e o seu Espírito rico de conhecimentos anteriores, latentes, próprios a facilitar as comunicações, eles preferem servir-se dele, porque então o fenômeno da comunicação será muito mais fácil do que através de um médium da inteligência limitada, e cujos conhecimentos anteriores fossem insuficientes.

Para compreender melhor tentaremos usar algumas explicações que nos parecem ser mais claras e precisas.

Com um médium cuja inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, o pensamento do Espírito se comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito, graças a uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso o Espírito encontra no cérebro do médium os elementos apropriados à roupagem de palavras correspondentes a esse pensamento, quer o médium seja intuitivo, semi-mecãnico ou mecânico. É por isso que apesar de diversos Espíritos se comunicarem através do médium, os ditados por eles recebidos trazem sempre o cunho pessoal do médium, quanto à forma e ao estilo. Porque embora o pensamento não seja absolutamente dele, o assunto não se enquadre em suas preocupações habituais, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha do médium, ele não deixa de exercer sua influência na forma, dando-lhe as qualidades e propriedades características da sua individualidade. É precisamente como quando olhamos diversos lugares através de binóculos coloridos, de lentes brancas, verdes ou azuis, e embora os lugares e objetos vistos pertençam ao mesmo trecho, mas tenham aspectos inteiramente diferentes, aparecem sempre com a coloração dada pelas lentes.

Melhor ainda: comparemos os médiuns a esses botijões de vidros com líquidos coloridos e transparentes que se veem nos laboratórios farmacêuticos. Pois bem, os Espíritos são como focos luminosos voltados para certos trechos de paisagens morais, filosóficas, psicológicas, iluminando-os através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de maneira que os nossos raios luminosos tomam essas colorações, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha dele, ou seja, obrigados a atravessar vidros mais ou menos bem lapidados, mais ou menos transparentes, o que vale dizer médiuns mais ou menos apropriados, esses raios só atingem os objetos que os Espíritos desejam iluminar tomando a coloração ou a forma própria e particular desses médiuns.

Para terminar oferecemos mais uma comparação: os Espíritos são como os compositores de música que tendo composto ou querendo improvisar uma ária só dispõem de um destes instrumentos; um piano, um violino, uma flauta, um fagote ou um apito comum. Não há dúvida que com o piano, com a flauta ou com o violino eles executarão a ária de maneira satisfatória. Embora os sons do piano, do fagote ou da flauta sejam essencialmente diferentes entre si, a composição do Espírito será sempre a mesma nas diversas variações de sons. Mas se ele dispõe apenas de um apito comum, ou mesmo de um sifão de esguicho, ei-lo em dificuldade.

Quando os Espíritos são obrigados a servir-se de médiuns pouco adiantados o trabalho deles se torna mais demorado e penoso, pois eles tem de recorrer a formas imperfeitas de expressão, o que é para eles um embaraço. São então forçados a decompor os pensamentos e ditar palavra por palavra, letra por letra, o que é fatigante e aborrecido, constituindo verdadeiro entrave à presteza e ao bom desenvolvimento das manifestações espíritas.

É por isso que eles se sentem felizes quando encontram médiuns bem apropriados, suficientemente aparelhados, munidos de elementos mentais que podem ser prontamente utilizados, bons instrumentos, numa palavra, porque então o perispírito dos Espíritos, agindo sobre o perispírito daquele que mediunizam, só tem de lhe impulsionar a mão que serve de porta caneta ou porta lápis. Com os médiuns mal aparelhados eles, para se comunicarem são obrigados a realizar um trabalho por meio de pancadas, ou seja, indicando letra por letra, palavra por palavra, para formar as frases que traduzem o pensamento a ser transmitido. Essa a razão dos Espíritos preferirem as classes esclarecidas e instruídas, para a divulgação do Espiritismo e o desenvolvimento da mediunidade escrevente, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais destituídos de moralidade. E é também por isso que, se deixam aos Espíritos brincalhões e pouco adiantados a transmissão das comunicações tangíveis por meios de pancadas e os fenômenos de transporte, é porque os homens são pouco sérios preferindo os fenômenos que lhes tocam os olhos e os ouvidos aos de natureza puramente espiritual, puramente psicológica.

Quando os Espíritos desejam ditar mensagens espontâneas agem sobre o cérebro, nos arquivos do médium, e juntam o material deles com os elementos que o médium fornece. E tudo isso sem que ele o perceba. É como se os Espíritos tirassem da bolsa do médium o seu dinheiro e dispuséssem a moedas, para somá-las. Na ordem que lhes parecer melhor. (5)

Mas quando o próprio médium quer interrogar os Espíritos, melhor será que antes reflita seriamente a fim de fazer as perguntas de maneira metódica, facilitando assim o trabalho deles para responder. Porque o cérebro do médium, como acontece frequentemente, pode estar numa desordem dificílima de organizar, sendo para os Espíritos muito mais difícil trabalhar com o labirinto do pensamento do médium.

Quando as perguntas devem ser feitas por terceiro, é bom e conveniente que sejam antes comunicadas ao médium para que ele se identifique com o Espírito do interrogante, impregnando-se, por assim dizer, das suas intenções. Porque então os Espíritos terão muito mais facilidades para responder, graças à afinidade existente entre o perispírito do Espírito e o do médium que servirá de intérprete (6).

Certamente, os Espíritos podem tratar de Matemáticas através de um médium que as desconheça por completo, mas quase sempre o Espírito do médium possui esse conhecimento em estado latente. Isso quer dizer que se trata de um conhecimento pessoal do ser fluídico e não do ser encarnado, porque o seu corpo atual é um instrumento inadequado ou rebelde a essa forma de conhecimento. O mesmo se dá com a Astronomia, a Poesia, a Medicina e as línguas diversas, e ainda com todos os demais conhecimentos peculiares à espécie humana. Por fim, os Espíritos, tem ainda o meio dificultoso de elaboração, aplicado aos médiuns completamente estranhos ao assunto tratado, que é o de reunião das letras e das palavras como se faz em tipografia (7).

Finalizando, os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Eles o percebem e os transmitem naturalmente entre si. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Enquanto a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, enfim, são necessários para percepção dos seres encarnados, mesmo mental, nenhuma forma visível ou tangível é necessária para os Espíritos. (8).

Esta análise do papel dos médiuns e dos processos, pelos quais se comunicam é tão clara quanto lógica. Dela decorre o princípio de que o Espírito não se serve das ideias do médium, mas dos materiais necessários para exprimir os seus próprios pensamentos, existentes no cérebro do médium, e de que, quanto mais rico for cérebro do médium, mais fácil se torna a comunicação.

Os que exigem esses fenômenos para se convencerem, devem antes tratar de estudar a teoria, só assim, poderão saber em que condições especiais eles se produzem. (9)


NOTAS

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Escala Espírita, itens 89, 89a e 100.
 (2) Ver Allan Kardec, Revista Espírita junho 1868, Fotografia do Pensamento.
 (3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, setembro 1859, Procedimentos para Afastar os Maus Espíritos.
 (4) Ver Allan Kardec, Obras Póstumas, 2ª. Parte, Minha primeira iniciação no Espiritismo.
 (5) Note-se a precisão deste exemplo: o médium possui os elementos materiais da comunicação, que no caso são as moedas; o Espírito os toma e utiliza segundo as suas ideias para exprimir o seu pensamento. Os exemplos anteriores são também de extrema clareza. Mas devemos ressaltar neste capitulo o perfeito esclarecimento das relações entre os Espíritos e os médiuns. Graças a esse esclarecimento, compreende-se a função médiuns como de verdadeiro intérprete espiritual e os problemas tantas vezes levantados pela crítica, como o da marca pessoal do médium nas mensagens, o da trivialidade da maioria destas, o da dificuldade na obtenção de comunicações de teor elevado no campo das Ciências ou da Filosofia, e outros que tais ficam perfeitamente esclarecidos. Vê-se que os críticos do Espiritismo, em sua esmagadora maioria, nada conhecem de todos esses problemas, expostos de maneira precisa e didática há mais de um século. (Nota de J. Herculano Pires)
 (6) Observe-se aqui a origem de uma das maiores dificuldades encontradas pela pesquisa psíquica. A lei de afinidade fluídica é desconsiderada pelos pesquisadores, em nome da desconfiança "necessária" ao rigor científico. Felizmente, na atualidade, os estudos de Parapsicologia sobre as relações entre o experimentador e o sensitivo modificaram muito essa situação, dando razão à pesquisa espírita. Compreende-se, afinal, depois de muitas torturas físicas e morais impostas aos médiuns, que o problema exige condições psicológicas favoráveis.  (Nota de J. Herculano Pires)
 (7) Note-se a diferença entre ser fluídico e ser encarnado. O primeiro, como Espírito, possui conhecimentos e predicados que podem não se refletir no segundo. O ser encarnado é um condicionamento especial do ser fluídico para uma experiência terrena, com vistas aos objetivos dessa experiência. A personalidade total do homem está no Espírito e não na conjugação espírito corpo.  que constitui a sua forma de manifestação temporária e específica na Terra. (Nota de J. Herculano Pires)
 (8) A expressão vestir os pensamentos com palavras corresponde precisamente ao princípio espírita da encarnação e da materialização. O pensamento, segundo a Lógica, é uma entidade abstraia, que existe realmente, mas como objeto lógico.  Essa entidade se manifesta no plano material através dos elementos convencionados para traduzir ideias: a palavra, a letra, os sinais da mímica, telegráficos e outros. É a esses signos convencionais que os Espíritos recorrem para nos transmitir, através dos médiuns, os seus pensamentos, que então se encarnam ou se materializam na palavra, na escrita, na tiptologia. Esse problema lógico, até há pouco encarado como de simples abstração mental, passou para o plano da realidade científica através das pesquisas parapsicológicas sobre telepatia. O pensamento não é hoje apenas um objeto lógico, sem realidade própria, uma espécie de epifenômeno produzido pelo cérebro (segregado pelo cérebro como o fígado segrega a bílis, segundo a conhecida expressão materialista), mas um objeto dotado de realidade cientificamente constatada e cuja natureza extrafísica (segundo Rhine e sua escola)  abre as portas da Ciência para um novo mundo, evidentemente o espiritual. Na Física moderna o problema é colocado em termos de antimatéria, mas também já foi atingido e o físico nuclear Arthur Compton chegou mesmo a afirmar que "por trás da energia", a que as pesquisas reduziram a própria matéria, existe algo mais, e que esse algo mais "parece ser pensamento".  Vemos assim a importância dessas explicações dos espíritos de Erasto e Timóteo, dadas há mais de um século e sistematicamente desprezadas e ridicularizadas pelos que negam e combatem o Espiritismo. (Nota de J. Herculano Pires)

 (9) Porque os Espíritos se referiram ao cérebro e não à mente, nessas explicações, Kardec segue a mesma linha nas suas observações? Porque estão explicando o processo de manifestação, que implica a materialização do pensamento. E claro que os elementos ou materiais que aludem são abstratos, são conceitos, mas em forma palavras. Atente-se para a explicação final de que as palavras nos são necessárias pá a percepção do pensamento, mesmo mental, e será fácil compreender que eles trata das funções mentais do cérebro, que é o instrumento material da mente. De fato, (experiências telepáticas ficou demonstrado que a transmissão do pensamento se por meio de palavras, em virtude do nosso hábito de pensar em palavras. (Nota de J. Herculano Pires).

terça-feira, 1 de julho de 2014

MEDIUNIDADE NO TEMPO DE JESUS



Paulo da Silva Neto Sobrinho

“Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça um mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).

Introdução

A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.

É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.

Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.

A mediunidade e Jesus

Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.

O evangelista Mateus narra o seguinte:

Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).

A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.

Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.

O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:

“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).

Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.

A mediunidade no apostolado

Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam“como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:

“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).

Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.

Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:

“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).
Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.

A mediunidade como era “transmitida”

A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.

Em Atos 8, 17-18:

“Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”.

Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.

Em Atos 19, 1-7:

“Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. 

Eram, ao todo, doze homens”.

Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.

A mediunidade como os dons do Espírito

Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.

Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”“Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.
E esclarece o apóstolo dos gentios:
“Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11).

Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.

Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele:

“...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembléia seja edificada...”.

Conclusão

Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.

Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.

Nov/2004.

Referência bibliográfica.

  • PASTORINO, Carlos Torres, Sabedoria do Evangelho, volume 1, Revista Mensal Sabedoria, Rio, 1964.
  • Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 43ª ed. 2001.
Fonte; http://www.espirito.org.br/portal/artigos/paulosns/mediunidade-no-tempo.html

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http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2013/12/palavras-do-codificador-mediunidade.html

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

SONAMBULISMO NÃO É DESDOBRAMENTO

Gebaldo José de Souza

 “Por que você não usa o termo ‘desdobramento’, adotado por André Luiz? Não acha mais adequado que o termo ‘sonambulismo’, usado por Kardec? Penso que Kardec usou o termo naquela época por ser a melhor relação possível entre a observação e o cotidiano, mas acho o termo adotado por André Luiz mais acorde com a atualidade.”

São indagações de companheiro espírita, após ler nosso estudo: Sonambulismo natural em Reuniões Mediúnicas.

Ofereci a ele a seguinte resposta: Sonambulismo e desdobramento não são sinônimos. Um e outro são faculdades anímicas. Mas não são a mesma coisa.

Tanto é que André Luiz utilizou as duas palavras, em sua obra1, não como sinônimas, mas em situações distintas. Analisemos o assunto.

Afirma-nos nobre amigo: “Independentemente de serem, ou não, sonâmbulos, desdobram-se letárgicos e catalépticos, assim como todos nós, quando dormimos; e os médiuns em geral, antes da ocorrência de qualquer fenômeno mediúnico. O fato de a pessoa ser sonâmbula facilitará esse desdobramento”. E, nessa condição, suas percepções são ampliadas:

“Em geral, suas ideias são mais justas do que no estado normal, e mais amplos seus conhecimentos, porque sua alma está livre. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos.”2

Hermínio C. Miranda, num pequeno grande livro3, afirma que

“(...) alma e espírito são e não são a mesma coisa. (...) A alma é a personalidade e o espírito, a individualidade.”

Se bem entendi a hipótese que ele nos apresenta e desenvolve, a personagem “dorme” quando o sensitivo está em desdobramento. A partir daí, não é mais a alma (Espírito encarnado) que se manifesta, mas a individualidade (Espírito), agora livre dos condicionamentos que o corpo lhe impõe, com “apenas” cinco sentidos.

Então, o fato de o médium ser sonâmbulo é que enseja a ele entrar no transe anímico – expressão do autor citado, na mesma obra –, a partir do qual ocorre o desdobramento espiritual; ou seja, o desdobramento, nele, é consequência da faculdade sonambúlica. Esta facilita a ocorrência daquele.

“Luciano, mergulhado num transe de perfil nitidamente anímico, no qual seu espírito, dono de todo um acervo mnemônico, falava através de seu próprio corpo físico, como uma espécie de médium de si mesmo.” (p. 31).

Já Martins Peralva4, registra que: “Antônio Castro: é médium sonâmbulo.”

E, na mesma obra e Capítulo (XV), à página 86, afirma:

“O capítulo ‘Desdobramento em Serviço’, (...) esclarece essa singular mediunidade, realmente pouco comum entre nós.”

Médium de desdobramento é aquele cujo Espírito tem a propriedade ou faculdade de desprender-se do corpo, (...).”

Com todo o respeito que dedico aos escritos do nobre e estudioso autor – ora na Pátria Espiritual –, ouso discordar dele nos dois casos: de que o desdobramento é raro e em afirmar que há médium de desdobramento. A meu ver, ele se equivoca duplamente.

Primeiro, ao afirmar que o desdobramento é pouco comum entre nós – situação real, quem sabe, no passado. Mas tudo evolui; e mudanças ocorrem. Há que se preparar para elas e para novos aprendizados. Percentualmente, talvez o seja, mas em números, num universo de 200 milhões de brasileiros, ou de 7 bilhões de habitantes, na Terra, existe grande número de pessoas sonâmbulas!

E essa faculdade, ainda que continuasse rara, necessita e merece ser estudada, compreendida, até para auxiliar médiuns que a detém e que sofrem, em muitos casos, enormemente, por não haver quem dela conheça um pouco, e os auxilie e oriente!
Entendo, isto sim, que a faculdade é pouco conhecida, porque pouco ou raramente é estudada, advindo daí a dificuldade de muitos dirigentes de reuniões mediúnicas em identificá-la. Aliás, a própria Doutrina Espírita é pouco estudada por grande maioria daqueles que nos dizemos espíritas! Especialmente por muitos que dirigem ou atuam em Reuniões Mediúnicas, ou até assumem responsabilidades ainda maiores no Movimento Espírita.

Allan Kardec dedicou trinta e uma questões – as de números 425 a 455 –, com mais duas subquestões ao tema, em O Livro dos Espíritos5; os itens 172 a 174, em O Livro dos Médiuns; e inúmeros artigos na Revista Espírita, ao longo de vários anos! São algumas citações, para não nos alongarmos demais. Como se vê, para ele o assunto não é menor e, portanto, merece ser estudado e compreendido.

Em segundo lugar, ao chamar essa faculdade (desdobramento) de mediunidade.
O simples fato de um médium, detentor da faculdade sonambúlica achar-se desdobrado, não indica que haja Espírito a manifestar-se por ele. Não se encontra, nesse momento particular, “incorporado” por qualquer Entidade. Não existe, pois, médium de desdobramento. Existem médiuns que possuem a faculdade sonambúlica. Quando entram no transe anímico, desdobram-se e se manifestam eles mesmos, sem a interferência de outro Espírito, seja revivendo a personalidade que teve em outra existência, servindo-se do idioma que então falava, seja conservando-se no tempo presente, revelando, contudo, acervo de conhecimentos que não expressa na existência atual. Não há, pois, nesses fatos, o exercício da mediunidade, mas, sim, uma “vivência” sonambúlica, se assim podemos dizer.

A ausência de estudo dessa faculdade, repito, é erro extraordinário, pelos recursos que apresenta no socorro a espíritos sofredores que se manifestam mediunicamente, seja porque o médium, desdobrado, desloca-se a regiões distantes, ou próximas, onde existam intensos sofrimentos, seja porque permite – quando os Mentores Espirituais concordam com a aplicação desse recurso – submeter o espírito rebelde à regressão de memória, quando “incorporado” ao médium em transe sonambúlico. Ele, em casos assim, atua na condição de médium, exercitando a psicofonia sonambúlica (Ver o Cap. 8 da obra de André Luiz, acima indicada; e, ainda, o item 173, de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec).

No item 172 deste último livro, o Codificador registra que: “O sonambulismo pode ser considerado como uma variedade da faculdade mediúnica, ou melhor, são duas ordens de fenômenos que frequentemente se acham reunidos.”


“O simples fato de um médium, detentor da faculdade sonambúlica achar-se desdobrado, não indica que haja Espírito a manifestar-se por ele.”

Nesse mesmo item, diz ainda Allan Kardec: “Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também pode fazê-lo com um sonâmbulo; aliás, o estado de emancipação da alma provocada pelo sonambulismo facilita essa comunicação.”

Contudo, admoesta-nos Áulus: essa faculdade requer dos que a possuem vigilância igual ou ainda maior do que a de quaisquer médiuns; sobretudo no que se refere ao aprimoramento moral, eis que ficam mais sujeitos à obsessão. É o que se lê em André Luiz – obra citada1, Cap. 08 – Psicofonia sonambúlica –, pp. 75/76:

“(...) O sonambulismo puro, quando em mãos desavisadas, pode produzir belos fenômenos, mas é menos útil na construção espiritual do bem. A psicofonia inconsciente, naqueles que não possuem méritos morais suficientes à própria defesa, pode levar à possessão, (...).”

Referindo-se à enferma,
“(...) Áulus acentuou:

– É um caso doloroso como o de milhares de criaturas.” (p. 89)
O nobre Espírito não usou a palavra “alguns”, mas “milhares”; ou seja, há número considerável de pessoas passando pela provação do “sonambulismo torturado”.

No caso em estudo, a mulher deveria receber o perseguidor como filho, mas, ao engravidar, provocou o aborto, descumprindo compromissos espirituais, advindo daí sua enfermidade. (p. 91).
Em situações semelhantes, certamente haverá grande número de doentes mentais reiteradamente internados em clínicas especializadas, espíritas, ou não.

Entendemos, assim, que sonâmbulos são médiuns cuja faculdade pode manifestar-se de três formas:

– Eles só, como sonâmbulos, desdobrados, sem referir-se a vidas anteriores deles próprios e sem oferecer passividade a quaisquer Espíritos desen-carnados;

– Como médiuns de si mesmos, em manifestações anímicas, relatando experiências de outras vidas – vide Eu sou Camille Desmoulins – de Hermínio C. Miranda, Editora Arte & Cultura Ltda.;

– Quando se desdobram e ocorre a psicofonia sonambúlica, na mediunidade inconsciente.

No primeiro caso, temos, no dizer de Kardec, “(...) apenas um sonâmbulo (...)”; no segundo, autêntica manifestação anímica e sonambúlica – vide citação3, acima: (...) como uma espécie de médium de si mesmo.” –, quando assumem personalidades por eles vividas, em outra época; no terceiro, o sonâmbulo-médium, como afirma também o Codificador, no item 173, de O Livro dos Médiuns.

Podem atuar, também, na mediunidade consciente, como médiuns comuns – sem utilizar a faculdade sonambúlica –, incorporando, “(...) como qualquer médium comum (...)”, entidades sofredoras, ou não, em manifestação mediúnica normal.
Em O Livro dos Médiuns2 (Allan Kardec): ver itens 172 a 174. (Importantíssimos e algo extensos para transcrição na íntegra).
No final do item 173, dessa obra, lemos: “(...) Quando só, era apenas um sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium.” (Grifos do texto original).
Como vimos, sonambulismo não é “apenas” desdobramento. E, portanto, nem essas faculdades são iguais, nem as expressões que as identificam são sinônimas!

NOTA: Os grifos em negrito são todos nossos.

Referências:
1 – XAVIER, Francisco C. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 9.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Cap. 3, 8 e 11.
2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução Evandro Noleto Bezerra. 1. Reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Segunda parte, Cap. XIV, Itens 172 e 173.
3 – MIRANDA, Hermínio C. O que é Fenômeno Anímico. São Bernardo do Campo: CORREIO FRATERNO, 2011. p. 19 e 31.
4 – PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Cap. VII, p. 44.
5 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1ª edição Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Q. 455 e 425.

JORNAL VÓRTICE ANO V, N.º 06 - NOVEMBRO – 2012



Leitura Recomendada;

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DE QUE MANEIRA O ESTUDO DOS CLÁSSICOS DO MAGNETISMO PODE AJUDAR HOJE PARA O DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS MAGNÉTICOS NOS CENTROS ESPÍRITAS?


Quando Allan Kardec afirmou, em O Livro dos Médiuns (cap. 17, 211): “Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio da teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência”, ele estava dizendo ser inconcebível não se conhecer a base de uma ciência se quisermos caminhar seguros por seus caminhos e conexões. O Magnetismo é uma ciência que, como tal, surgiu antes do Espiritismo. O respeito que Allan Kardec teve para com ela foi incontestável: “O Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e os rápidos progressos desta última doutrina são incontestavelmente devidos à vulgarização das ideias sobre a primeira” (Revista Espírita, edição março-1858, artigo “Magnetismo e Espiritismo”). Assim se pronunciando, ele deixava enfático seu ponto de vista de gratidão ao Magnetismo e do vínculo estreito entre essa ciência e o Espiritismo. Tanto que no mesmo artigo ele coloca: “(...) longe de se combaterem, podem e devem se prestar mútuo apoio: elas (as duas ciências) se completam e se explicam mutuamente”.

Ora, sendo constatado que o dito pelo senhor Kardec é mais do que verdade, não nos restaria muita coisa a fazer que não fosse sairmos correndo atrás de tudo o que dissesse respeito ao Magnetismo, especialmente àquele que chamamos de Magnetismo Clássico, o qual se fundamenta em Mesmer, Puységur, Du Potet, Deleuze e LaFontaine, dentre outros.
Muito bem; e o que foi que fizemos? Simplesmente deixamos todos eles de lado. Tanto que até agora só as obras de Mesmer foram traduzidas para o português, e há apenas quatro anos aproximadamente. Seria até justo perguntarmos: por que será que os órgãos que se dizem responsáveis pela divulgação da Doutrina Espírita, não cuidaram disso até hoje? Por que será que obras que abordavam a questão do magnetismo, antes publicadas, deixaram de sê-lo, sem que nenhuma explicação fosse dada a quem quer que seja? O que temem essas Casas ante a base em que o próprio Codificador se assentou e recomendou fosse conhecida, estudada, analisada e continuada?

 Mas nosso foco, nesta questão, é outro. Vamos a ele. O conhecimento e o estudo dessas obras clássicas, fornecendo-nos a base teórica que tanto precisamos, nos arremeterão a um mundo no mínimo surpreendente. Jamais poderia dizer “mundo novo”, porque isso tudo já vem de muito tempo. Mas que seríamos surpreendidos – como seremos, mais dia, menos dia – com tantas oportunidades de entendimentos novos, úteis, práticos, objetivos advindos dessas obras que certamente nos perguntaremos: e como conseguimos chegar aonde chegamos sem saber nada disso??? Conhecer essas obras deixarão ressaltadas a responsabilidade e a importância do magnetizador nos processos de cura, sem que isso, em tempo algum, diminua ou tisne a presença e/ou influência dos Benfeitores Espirituais. Por outro lado, o mundo em que esses magnetizadores clássicos caminharam e deixaram suas marcas exigirão de cada um de nós apurado senso para sabermos reter tudo de muito bom que ali tem, sem nos perdermos pelas oscilações que também aconteceram, numa época em que as correspondências e os conhecimentos aconteciam de forma gradual e lenta, quase sem cruzamento de dados de informações, pelo menos até que um livro fosse publicado e tivesse como ser lido por aqueles que se interessavam pelo tema.

Sabemos que no dia 22 de abril do próximo ano, na abertura do 4º Encontro Mundial de Magnetizadores Espíritas, que acontecerá em Pelotas/RS, sob o patrocínio da Sociedade Espírita Vida, dirigida por nossa valorosa e destemida companheira Ana Vargas, ali teremos o lançamento da tradução da primeira obra do Barão du Potet, o que será um verdadeiro marco, mas, convenhamos, com um atraso de pelo menos 150 anos. (E fico me perguntando: por que será que nós, os espíritas, somos tão lerdos nas questões do Magnetismo?)

Hoje vivemos uma grande dificuldade: não temos editoras interessadas em publicar esses clássicos nem contamos com tradutores de qualidade que pudessem fazer isso sem custos a fim de que distribuíssemos, nem que fosse via internet, todo o manancial de informações, livros, revistas e pesquisas disponíveis, a maioria em línguas estrangeiras (inglês, alemão, francês e italiano, tudo com redação de mais de um século). Caso um artigo como este faça aparecer gente com essa disposição, ofereceremos ao mundo uma bênção tão grande que só nos daremos conta disso depois que a história refizer seu rumo plenamente.

Até lá, sugiro que se leia o livro Mesmer, de Paulo Henrique de Figueiredo, da editora Lachatre; baixe-se na internet e leia-se igualmente os volumes dos livros do Alphonse Bué (em português) e ainda leiam o Magnetismo Espiritual, publicado pela FEB. Sem falar que ler e analisar todos os exemplares da Revista Espírita de Allan Kardec (igualmente disponível na internet) é tarefa inadiável para qualquer pessoa que queira andar seguro no Magnetismo. Isso é o mínimo do mínimo que poderemos ler e conhecer para irmos aprimorando nossas ações em nossos passes e atendimentos magnéticos.□

“O conhecimento e o estudo dessas obras clássicas, fornecendo-nos a base teórica que tanto precisamos, nos arremeterão a um mundo no mínimo surpreendente. Jamais poderia dizer “mundo novo”, porque isso tudo já vem de muito tempo”.

JORNAL VORTICE -ANO III, n.º 08 ,janeiro/2011
jacobmelo@gmail.com