Estudo com base numa
comunicação dos Espíritos Erasto e Timóteo in O Livro dos Médiuns, Cap. XIX,
Papel do Médium nas Comunicações, item 225. Obra codificada por Allan
Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo
Os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Contudo, o ser encarnado põe o seu corpo, como instrumento de comunicação por palavras, à disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo. Assim, podemos perceber a importância do papel dos médiuns nas comunicações espíritas
Os Espíritos gastam algum
tempo para percorrer o espaço, porém, rápido como o pensamento. Quando o
pensamento está em algum lugar, a alma está também, uma vez que é a alma que
pensa. O pensamento é um atributo da alma. Para os Espíritos o pensamento é
tudo. (1)
Os Espíritos agindo sobre os
fluidos espirituais, não os manipulam como os homens manipulam os gases, mas
com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os
Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses
fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos, combinam-nos ou os dispersam. É com
esses fluidos que eles formam a grande oficina ou o laboratório da vida
espiritual. (2)
A linguagem dos Espíritos é
o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los, pois, sendo a linguagem a
expressão do pensamento, eles tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más
que possuem em sua capacidade evolutiva, sendo assim, o primeiro sentimento que
os evocadores e os médiuns devem ter em relação a eles é o da prudência (3),
pois os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não possuem a
soberana sabedoria, nem a soberana ciência. O saber dos Espíritos esta limitado
ao grau de seu adiantamento, e a suas opiniões tem unicamente o valor de uma
opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida preservará os evocadores e os
médiuns da grande dificuldades de crerem em suas infalibilidades. Inclusive, é
útil e sensato não formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de
alguns Espíritos. (4)
Salvo algumas poucas
exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos
de que dispõe, e a expressão desse pensamento pode e deve, o mais
frequentemente, ressentir-se da imperfeição desses meios.
Qualquer que seja a natureza
dos médiuns escreventes, mecânicos, semi-mecânicos ou simplesmente intuitivos,
os processos de comunicação dos Espíritos não variam na essência. As
comunicações com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos
propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação do pensamento. Os
pensamentos não necessitam das vestes da palavra para que os Espíritos os
compreendam. Todos os Espíritos percebem o pensamento transmitido, pelo simples
fato de ele ter sido dirigido a alguém, um grupo, ou de uma maneira geral e
cada um o entenderá na razão do grau de suas faculdades intelectuais. Quer
dizer que determinado pensamento pode ser compreendido por estes e aqueles,
segundo o respectivo adiantamento, enquanto para outros o mesmo pensamento, não
despertará nenhuma lembrança nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do
seu cérebro não será perceptível. No caso de ser um Espírito encarnado que
serve de médium, este processo é o método mais apropriado para transmitir o
pensamento de um Espírito para outros encarnados, mesmo que o médium não o
compreenda.
Se um Espírito tiver a
necessidade de usar de um médium para comunicar o seu pensamento por palavras,
ele irá usar um ser terreno (espirito encarnado), porque este pode ceder o seu
corpo como um instrumento, colocando-se a sua disposição, o que um Espírito
errante não tem condição de fazê-lo. Eis aqui um ponto importante do papel dos
médiuns nas comunicações espíritas.
Assim, quando os Espíritos
superiores encontram num médium o cérebro cheio de conhecimentos adquiridos na
sua vida atual, e o seu Espírito rico de conhecimentos anteriores, latentes,
próprios a facilitar as comunicações, eles preferem servir-se dele, porque
então o fenômeno da comunicação será muito mais fácil do que através de um
médium da inteligência limitada, e cujos conhecimentos anteriores fossem
insuficientes.
Para compreender melhor
tentaremos usar algumas explicações que nos parecem ser mais claras e precisas.
Com um médium cuja
inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, o pensamento do Espírito se
comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito, graças a uma faculdade
peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso o Espírito encontra no
cérebro do médium os elementos apropriados à roupagem de palavras
correspondentes a esse pensamento, quer o médium seja intuitivo, semi-mecãnico
ou mecânico. É por isso que apesar de diversos Espíritos se comunicarem através
do médium, os ditados por eles recebidos trazem sempre o cunho pessoal do
médium, quanto à forma e ao estilo. Porque embora o pensamento não seja
absolutamente dele, o assunto não se enquadre em suas preocupações habituais,
se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha do médium, ele não deixa
de exercer sua influência na forma, dando-lhe as qualidades e propriedades
características da sua individualidade. É precisamente como quando olhamos
diversos lugares através de binóculos coloridos, de lentes brancas, verdes ou
azuis, e embora os lugares e objetos vistos pertençam ao mesmo trecho, mas
tenham aspectos inteiramente diferentes, aparecem sempre com a coloração dada
pelas lentes.
Melhor ainda: comparemos os
médiuns a esses botijões de vidros com líquidos coloridos e transparentes que
se veem nos laboratórios farmacêuticos. Pois bem, os Espíritos são como focos
luminosos voltados para certos trechos de paisagens morais, filosóficas,
psicológicas, iluminando-os através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de
maneira que os nossos raios luminosos tomam essas colorações, se bem o que os
Espíritos desejam dizer não provenha dele, ou seja, obrigados a atravessar
vidros mais ou menos bem lapidados, mais ou menos transparentes, o que vale
dizer médiuns mais ou menos apropriados, esses raios só atingem os objetos que
os Espíritos desejam iluminar tomando a coloração ou a forma própria e
particular desses médiuns.
Para terminar oferecemos
mais uma comparação: os Espíritos são como os compositores de música que tendo
composto ou querendo improvisar uma ária só dispõem de um destes instrumentos;
um piano, um violino, uma flauta, um fagote ou um apito comum. Não há dúvida
que com o piano, com a flauta ou com o violino eles executarão a ária de
maneira satisfatória. Embora os sons do piano, do fagote ou da flauta sejam
essencialmente diferentes entre si, a composição do Espírito será sempre a
mesma nas diversas variações de sons. Mas se ele dispõe apenas de um apito
comum, ou mesmo de um sifão de esguicho, ei-lo em dificuldade.
Quando os Espíritos são
obrigados a servir-se de médiuns pouco adiantados o trabalho deles se torna
mais demorado e penoso, pois eles tem de recorrer a formas imperfeitas de
expressão, o que é para eles um embaraço. São então forçados a decompor os
pensamentos e ditar palavra por palavra, letra por letra, o que é fatigante e
aborrecido, constituindo verdadeiro entrave à presteza e ao bom desenvolvimento
das manifestações espíritas.
É por isso que eles se
sentem felizes quando encontram médiuns bem apropriados, suficientemente
aparelhados, munidos de elementos mentais que podem ser prontamente utilizados,
bons instrumentos, numa palavra, porque então o perispírito dos Espíritos,
agindo sobre o perispírito daquele que mediunizam, só tem de lhe impulsionar a
mão que serve de porta caneta ou porta lápis. Com os médiuns mal aparelhados
eles, para se comunicarem são obrigados a realizar um trabalho por meio de
pancadas, ou seja, indicando letra por letra, palavra por palavra, para formar
as frases que traduzem o pensamento a ser transmitido. Essa a razão dos
Espíritos preferirem as classes esclarecidas e instruídas, para a divulgação do
Espiritismo e o desenvolvimento da mediunidade escrevente, embora seja nessas
classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais
destituídos de moralidade. E é também por isso que, se deixam aos Espíritos
brincalhões e pouco adiantados a transmissão das comunicações tangíveis por
meios de pancadas e os fenômenos de transporte, é porque os homens são pouco
sérios preferindo os fenômenos que lhes tocam os olhos e os ouvidos aos de
natureza puramente espiritual, puramente psicológica.
Quando os Espíritos desejam
ditar mensagens espontâneas agem sobre o cérebro, nos arquivos do médium, e
juntam o material deles com os elementos que o médium fornece. E tudo isso sem
que ele o perceba. É como se os Espíritos tirassem da bolsa do médium o seu
dinheiro e dispuséssem a moedas, para somá-las. Na ordem que lhes parecer
melhor. (5)
Mas quando o próprio médium
quer interrogar os Espíritos, melhor será que antes reflita seriamente a fim de
fazer as perguntas de maneira metódica, facilitando assim o trabalho deles para
responder. Porque o cérebro do médium, como acontece frequentemente, pode estar
numa desordem dificílima de organizar, sendo para os Espíritos muito mais
difícil trabalhar com o labirinto do pensamento do médium.
Quando as perguntas devem
ser feitas por terceiro, é bom e conveniente que sejam antes comunicadas ao
médium para que ele se identifique com o Espírito do interrogante,
impregnando-se, por assim dizer, das suas intenções. Porque então os Espíritos
terão muito mais facilidades para responder, graças à afinidade existente entre
o perispírito do Espírito e o do médium que servirá de intérprete (6).
Certamente, os Espíritos
podem tratar de Matemáticas através de um médium que as desconheça por
completo, mas quase sempre o Espírito do médium possui esse conhecimento em
estado latente. Isso quer dizer que se trata de um conhecimento pessoal do ser
fluídico e não do ser encarnado, porque o seu corpo atual é um instrumento
inadequado ou rebelde a essa forma de conhecimento. O mesmo se dá com a
Astronomia, a Poesia, a Medicina e as línguas diversas, e ainda com todos os
demais conhecimentos peculiares à espécie humana. Por fim, os Espíritos, tem
ainda o meio dificultoso de elaboração, aplicado aos médiuns completamente
estranhos ao assunto tratado, que é o de reunião das letras e das palavras como
se faz em tipografia (7).
Finalizando, os Espíritos
não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Eles o
percebem e os transmitem naturalmente entre si. Os seres encarnados pelo
contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Enquanto
a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, enfim, são necessários
para percepção dos seres encarnados, mesmo mental, nenhuma forma visível ou
tangível é necessária para os Espíritos. (8).
Esta análise do papel dos
médiuns e dos processos, pelos quais se comunicam é tão clara quanto lógica.
Dela decorre o princípio de que o Espírito não se serve das ideias do médium,
mas dos materiais necessários para exprimir os seus próprios pensamentos,
existentes no cérebro do médium, e de que, quanto mais rico for cérebro do
médium, mais fácil se torna a comunicação.
Os que exigem esses
fenômenos para se convencerem, devem antes tratar de estudar a teoria, só
assim, poderão saber em que condições especiais eles se produzem. (9)
NOTAS
(1) Ver Allan Kardec, O
Livro dos Espíritos, Escala Espírita, itens 89, 89a e 100.
(2) Ver Allan Kardec, Revista Espírita junho
1868, Fotografia do Pensamento.
(3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita,
setembro 1859, Procedimentos para Afastar os Maus Espíritos.
(4) Ver Allan Kardec, Obras Póstumas, 2ª.
Parte, Minha primeira iniciação no Espiritismo.
(5) Note-se a precisão deste exemplo: o médium
possui os elementos materiais da comunicação, que no caso são as moedas; o
Espírito os toma e utiliza segundo as suas ideias para exprimir o seu
pensamento. Os exemplos anteriores são também de extrema clareza. Mas devemos
ressaltar neste capitulo o perfeito esclarecimento das relações entre os
Espíritos e os médiuns. Graças a esse esclarecimento, compreende-se a função
médiuns como de verdadeiro intérprete espiritual e os problemas tantas vezes
levantados pela crítica, como o da marca pessoal do médium nas mensagens, o da
trivialidade da maioria destas, o da dificuldade na obtenção de comunicações de
teor elevado no campo das Ciências ou da Filosofia, e outros que tais ficam
perfeitamente esclarecidos. Vê-se que os críticos do Espiritismo, em sua
esmagadora maioria, nada conhecem de todos esses problemas, expostos de maneira
precisa e didática há mais de um século. (Nota de J. Herculano Pires)
(6) Observe-se aqui a origem de uma das
maiores dificuldades encontradas pela pesquisa psíquica. A lei de afinidade
fluídica é desconsiderada pelos pesquisadores, em nome da desconfiança
"necessária" ao rigor científico. Felizmente, na atualidade, os
estudos de Parapsicologia sobre as relações entre o experimentador e o
sensitivo modificaram muito essa situação, dando razão à pesquisa espírita.
Compreende-se, afinal, depois de muitas torturas físicas e morais impostas aos
médiuns, que o problema exige condições psicológicas favoráveis. (Nota de J. Herculano Pires)
(7) Note-se a diferença entre ser fluídico e
ser encarnado. O primeiro, como Espírito, possui conhecimentos e predicados que
podem não se refletir no segundo. O ser encarnado é um condicionamento especial
do ser fluídico para uma experiência terrena, com vistas aos objetivos dessa
experiência. A personalidade total do homem está no Espírito e não na
conjugação espírito corpo. que constitui
a sua forma de manifestação temporária e específica na Terra. (Nota de J.
Herculano Pires)
(8) A expressão vestir os pensamentos com
palavras corresponde precisamente ao princípio espírita da encarnação e da
materialização. O pensamento, segundo a Lógica, é uma entidade abstraia, que
existe realmente, mas como objeto lógico.
Essa entidade se manifesta no plano material através dos elementos
convencionados para traduzir ideias: a palavra, a letra, os sinais da mímica,
telegráficos e outros. É a esses signos convencionais que os Espíritos recorrem
para nos transmitir, através dos médiuns, os seus pensamentos, que então se
encarnam ou se materializam na palavra, na escrita, na tiptologia. Esse
problema lógico, até há pouco encarado como de simples abstração mental, passou
para o plano da realidade científica através das pesquisas parapsicológicas
sobre telepatia. O pensamento não é hoje apenas um objeto lógico, sem realidade
própria, uma espécie de epifenômeno produzido pelo cérebro (segregado pelo
cérebro como o fígado segrega a bílis, segundo a conhecida expressão
materialista), mas um objeto dotado de realidade cientificamente constatada e
cuja natureza extrafísica (segundo Rhine e sua escola) abre as portas da Ciência para um novo mundo,
evidentemente o espiritual. Na Física moderna o problema é colocado em termos
de antimatéria, mas também já foi atingido e o físico nuclear Arthur Compton
chegou mesmo a afirmar que "por trás da energia", a que as pesquisas
reduziram a própria matéria, existe algo mais, e que esse algo mais "parece
ser pensamento". Vemos assim a
importância dessas explicações dos espíritos de Erasto e Timóteo, dadas há mais
de um século e sistematicamente desprezadas e ridicularizadas pelos que negam e
combatem o Espiritismo. (Nota de J. Herculano Pires)
(9) Porque os Espíritos se referiram ao
cérebro e não à mente, nessas explicações, Kardec segue a mesma linha nas suas
observações? Porque estão explicando o processo de manifestação, que implica a
materialização do pensamento. E claro que os elementos ou materiais que aludem
são abstratos, são conceitos, mas em forma palavras. Atente-se para a
explicação final de que as palavras nos são necessárias pá a percepção do
pensamento, mesmo mental, e será fácil compreender que eles trata das funções
mentais do cérebro, que é o instrumento material da mente. De fato,
(experiências telepáticas ficou demonstrado que a transmissão do pensamento se
por meio de palavras, em virtude do nosso hábito de pensar em palavras. (Nota
de J. Herculano Pires).
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