Quando
Allan Kardec afirmou, em O Livro dos Médiuns (cap. 17, 211): “Por isso é que
indispensável se faz o estudo prévio da teoria, para todo aquele que queira
evitar os inconvenientes peculiares à experiência”, ele estava dizendo ser
inconcebível não se conhecer a base de uma ciência se quisermos caminhar
seguros por seus caminhos e conexões. O Magnetismo é uma ciência que, como tal,
surgiu antes do Espiritismo. O respeito que Allan Kardec teve para com ela foi
incontestável: “O Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e os rápidos
progressos desta última doutrina são incontestavelmente devidos à vulgarização
das ideias sobre a primeira” (Revista Espírita, edição março-1858, artigo
“Magnetismo e Espiritismo”). Assim se pronunciando, ele deixava enfático seu
ponto de vista de gratidão ao Magnetismo e do vínculo estreito entre essa
ciência e o Espiritismo. Tanto que no mesmo artigo ele coloca: “(...) longe de
se combaterem, podem e devem se prestar mútuo apoio: elas (as duas ciências)
se completam e se explicam mutuamente”.
Ora,
sendo constatado que o dito pelo senhor Kardec é mais do que verdade, não nos
restaria muita coisa a fazer que não fosse sairmos correndo atrás de tudo o que
dissesse respeito ao Magnetismo, especialmente àquele que chamamos de
Magnetismo Clássico, o qual se fundamenta em Mesmer, Puységur, Du Potet,
Deleuze e LaFontaine, dentre outros.
Muito bem; e o que foi que fizemos?
Simplesmente deixamos todos eles de lado. Tanto que até agora só as obras de
Mesmer foram traduzidas para o português, e há apenas quatro anos
aproximadamente. Seria até justo perguntarmos: por que será que os órgãos que
se dizem responsáveis pela divulgação da Doutrina Espírita, não cuidaram disso
até hoje? Por que será que obras que abordavam a questão do magnetismo, antes
publicadas, deixaram de sê-lo, sem que nenhuma explicação fosse dada a quem
quer que seja? O que temem essas Casas ante a base em que o próprio Codificador
se assentou e recomendou fosse conhecida, estudada, analisada e continuada?
Mas
nosso foco, nesta questão, é outro. Vamos a ele. O conhecimento e o estudo
dessas obras clássicas, fornecendo-nos a base teórica que tanto precisamos, nos
arremeterão a um mundo no mínimo surpreendente. Jamais poderia dizer “mundo
novo”, porque isso tudo já vem de muito tempo. Mas que seríamos surpreendidos –
como seremos, mais dia, menos dia – com tantas oportunidades de entendimentos
novos, úteis, práticos, objetivos advindos dessas obras que certamente nos
perguntaremos: e como conseguimos chegar aonde chegamos sem saber nada disso???
Conhecer essas obras deixarão ressaltadas a responsabilidade e a importância do
magnetizador nos processos de cura, sem que isso, em tempo algum, diminua ou
tisne a presença e/ou influência dos Benfeitores Espirituais. Por outro lado, o
mundo em que esses magnetizadores clássicos caminharam e deixaram suas marcas
exigirão de cada um de nós apurado senso para sabermos reter tudo de muito bom
que ali tem, sem nos perdermos pelas oscilações que também aconteceram, numa época
em que as correspondências e os conhecimentos aconteciam de forma gradual e
lenta, quase sem cruzamento de dados de informações, pelo menos até que um
livro fosse publicado e tivesse como ser lido por aqueles que se interessavam
pelo tema.
Sabemos que no dia 22 de abril do próximo ano,
na abertura do 4º Encontro Mundial de Magnetizadores Espíritas, que acontecerá
em Pelotas/RS, sob o patrocínio da Sociedade Espírita Vida, dirigida por nossa
valorosa e destemida companheira Ana Vargas, ali teremos o lançamento da tradução
da primeira obra do Barão du Potet, o que será um verdadeiro marco, mas,
convenhamos, com um atraso de pelo menos 150 anos. (E fico me perguntando: por
que será que nós, os espíritas, somos tão lerdos nas questões do Magnetismo?)
Hoje vivemos uma grande dificuldade: não
temos editoras interessadas em publicar esses clássicos nem contamos com
tradutores de qualidade que pudessem fazer isso sem custos a fim de que
distribuíssemos, nem que fosse via internet, todo o manancial de informações,
livros, revistas e pesquisas disponíveis, a maioria em línguas estrangeiras
(inglês, alemão, francês e italiano, tudo com redação de mais de um século).
Caso um artigo como este faça aparecer gente com essa disposição, ofereceremos
ao mundo uma bênção tão grande que só nos daremos conta disso depois que a história
refizer seu rumo plenamente.
Até
lá, sugiro que se leia o livro Mesmer, de Paulo Henrique de Figueiredo,
da editora Lachatre; baixe-se na internet e leia-se igualmente os volumes dos
livros do Alphonse Bué (em português) e ainda leiam o Magnetismo Espiritual,
publicado pela FEB. Sem falar que ler e analisar todos os exemplares da Revista
Espírita de Allan Kardec (igualmente disponível na internet) é tarefa inadiável
para qualquer pessoa que queira andar seguro no Magnetismo. Isso é o mínimo do
mínimo que poderemos ler e conhecer para irmos aprimorando nossas ações em
nossos passes e atendimentos magnéticos.□
“O conhecimento e o estudo dessas obras clássicas, fornecendo-nos a
base teórica que tanto precisamos, nos arremeterão a um mundo no mínimo
surpreendente. Jamais poderia dizer “mundo novo”, porque isso tudo já vem de
muito tempo”.
JORNAL VORTICE -ANO III, n.º 08 ,janeiro/2011
jacobmelo@gmail.com
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