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domingo, 20 de julho de 2014

PASSES EM CRIANÇAS

Jacob Melo

     Mateus, 19 – 13, 14, 15. Então lhe trouxeram algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreenderam. Jesus, porém, disse: Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus. E, depois de lhes impor as mãos, partiu dali.
     Interessante como, já ao tempo de Jesus, muitos sabiam da necessidade das crianças serem tocadas, receberem o influxo magnético de uma fonte de energias revigorantes.
   
  Impressiona que, juntamente com isso, àquela época também havia a tentativa de impedimento, o querer estabelecer-se regras ou proibições.
  
   Ao que se percebe no texto evangélico, as crianças não estavam, necessariamente, portando enfermidades; simplesmente elas foram trazidas até Ele e, colocadas ao seu redor, foi solicitado ao Mestre que impusesse suas mãos sobre elas.

    Antes de prosseguir, quero ressaltar que a expressão “imposição de mãos”, há 2000 anos, tinha significado bastante diferente do que entendemos hoje, como, de ordinário, quase tudo que seja antigo sempre pede contextualização a fim de serem evitados os equívocos cometidos, tão comuns como lamentáveis, quando queremos limitar nossas interpretações e/ou conclusões à literalidade das palavras e expressões.
  
   Jesus as abençoou, transmitindo-lhes os fluidos que cada uma carecia e aproveitou magistralmente o ensejo para dizer a todos que é imprescindível termos na alma aquele tipo de pureza.

    Embora transcorrido tanto tempo, ainda hoje é recorrente se perguntar sobre os passes em crianças. Concentram-se fluidos? Não se faz nada além de dispersar? Elas possuem centros vitais? A partir de que idade pode-se aplicá-los com segurança? E se a criança não quiser recebê-los? No caso de crianças muito inquietas, que não aceitam ficar sentadas na cabine de passes, não se faz ou o que se faz? E por aí se seguem as questões...

     Vamos refletir um pouco sobre elas.

    De início sabemos que uma criança, por menor que seja, é um ser humano perfeito, pois tendo os órgãos que todos dispomos, certamente também possui sua identidade perispiritual, o que significa dizer que trazem em si reais estruturas vitais (centros vitais), ainda que eventualmente sejam de extensões e potências diferentes daquelas dos adultos. Sendo assim, que diferenças básicas encontramos nelas em relação a estes (magneticamente falando)? As crianças, por estarem em desenvolvimento fisio-psico-emocional-perispiritual, não possuem estruturas vitais nas mesmas dimensões de um adulto, porém, embora usando os mesmos mecanismos, apresentam variações muito importantes, posto que precisam absorver, reter e dissipar “energias” de variada ordem em padrões diferentes. Só para servir de comparação: normalmente as crianças precisam de muito menores quantidades de alimentos do que os adultos, ainda assim seus processos de “multiplicação celular” seguem em franca expansão, dizendo-nos que do menos elas extraem e conservam o máximo, de forma distribuída e bem equilibrada. Energeticamente ocorre algo semelhante: elas precisam de fluidos, todavia de um padrão mais sutil e quase sempre em “quantidades” muito menores do que as que se aplica em adultos. Apesar disso, os resultados das manipulações bem executadas costumam apresentar resultados sobejamente felizes.
  
   A partir da realidade de como são e de como funcionam essas usinas vitais infantis podemos deduzir que os concentrados (imposições, circulares, sopros quentes) devem ser administrados com parcimônia, contando com uma qualificação emocional do magnetizador bastante harmônica e evitando-se longas exposições energéticas aos pequenos. Já os dispersivos, por serem mais distributivos e dissipadores de congestionamentos energéticos, estes podem e até devem ser aplicados com mais eficiência e com muito menores “riscos” para os infantes.
  
   Se tomarmos em consideração a banalização do “aplicar passes por aplicá-los apenas”, não sou dos que sugerem fazê-lo no primeiro ano de vida e, logo após esse período, ainda aí não convém gerar condicionamentos, tudo isso ressalvados os casos de crianças portadoras de problemas fisiológicos ou deficiências diversas, nas quais seja imperioso aplicar-lhe os recursos magnéticos. Para tanto é determinante que o magnetizador tenha um mínimo de experiência e segurança para agir de forma correta e feliz, a fim de não sujeitá-las a riscos desnecessários.

     Por fim, a questão do comportamento das crianças na recepção dos passes; isto, por si só, nos indica de que devemos estar muito bem preparados para atendê-las. Veja-se o exemplo de autistas, na maioria irrequietos, alguns chegando a atitudes violentas ou de total desabandono interior, sem se conectarem às menores recomendações que lhes sejam repassadas. Se os magnetizadores não se prepararem para atendê-los como deve, eles estarão entregues à própria sorte, posto que as Casas costumam cobrar comportamentos que não lhes são aplicados. Sendo assim, será que uma criança “problema” (como ordinariamente as chamam) não precisa nem merece um atendimento digno e justo? Seria justo não atendê-las por elas não se sujeitarem ao padrão que queremos impor?
  
   Muito se fala de que “Deus protege os inocentes” bem como “a boa vontade sempre faz o bem”. Na vida real isto não é tão seguro como se pensa ou se diz. Deus protege a todos, indistintamente, mas Ele não quebra as regras da Grande Lei para que nossos descasos e irresponsabilidades sejam inócuos ou inofensivos. Por sua vez, a boa vontade, em muitos casos, sequer chega a mobilizar o mínimo, muito menos o suficiente, por isso não chegando a gerar o bem que se espera. Por tudo isso, agir magneticamente com crianças não é ter comportamentos mágicos, não agir por simples obrigação ou crer que atitudes magnéticas não possam oferecer riscos. É preciso sim que os aplicadores de passes em crianças saibam exatamente o que fazem.
   
  Jesus, quando atendia a quem quer que fosse, inclusive às crianças, Ele sabia primorosamente como, quanto e de que maneira fazer; quanto a nós precisamos todos estudar, aprimorar, aperfeiçoar para agirmos com a segurança indispensável.

     Este tema traz muitas reflexões, as quais pedem para serem pensadas e refletidas; do contrário poderemos ensejar condicionamentos sem solução ou levar algumas crianças a verem o passe não como uma bênção e sim como uma obrigação esdrúxula

Fonte Correio Espírita


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terça-feira, 1 de julho de 2014

MEDIUNIDADE NO TEMPO DE JESUS



Paulo da Silva Neto Sobrinho

“Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça um mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).

Introdução

A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.

É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.

Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.

A mediunidade e Jesus

Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.

O evangelista Mateus narra o seguinte:

Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).

A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.

Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.

O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:

“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).

Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.

A mediunidade no apostolado

Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam“como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:

“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).

Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.

Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:

“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).
Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.

A mediunidade como era “transmitida”

A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.

Em Atos 8, 17-18:

“Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”.

Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.

Em Atos 19, 1-7:

“Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. 

Eram, ao todo, doze homens”.

Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.

A mediunidade como os dons do Espírito

Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.

Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”“Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.
E esclarece o apóstolo dos gentios:
“Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11).

Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.

Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele:

“...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembléia seja edificada...”.

Conclusão

Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.

Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.

Nov/2004.

Referência bibliográfica.

  • PASTORINO, Carlos Torres, Sabedoria do Evangelho, volume 1, Revista Mensal Sabedoria, Rio, 1964.
  • Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 43ª ed. 2001.
Fonte; http://www.espirito.org.br/portal/artigos/paulosns/mediunidade-no-tempo.html

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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TOMÉ - O APÓSTOLO DESCRENTE


Entre os doze Apóstolos selecionados por Jesus, consta Tomé. O nome vem do aramaico "toma", que significa gêmeo que, em grego, é Dídimo. E é como o nomina o Evangelista João, o que nos leva a crer que devia ser seu apelido.



 A ele são atribuídos alguns escritos apócrifos, como os Atos de Tomé, escritos em siríaco e conservados em tradução grega; o Apocalipse de Tomé, escrito em grego, conservado apenas em latim e ainda O Evangelho de Tomé, cujo texto cóptico foi descoberto em 1945, no Egito.

 Desse, escritores eclesiásticos gregos afirmam que fazia parte de uma coleção de obras a respeito de Jesus, cuja descoberta se reporta aos anos 140-150.
Tomé era descendente de um antigo pescador de Dalmanuta, território de Magedan, cidade para onde foi Jesus, após a segunda multiplicação dos pães, conforme relatos dos cronistas do Evangelho, Marcos e Mateus.

 Traços de sua personalidade no-lo apresentam como alguém rápido para pensar e rápido para desacreditar. Andava segundo a lógica. Parecia desconfiar de tudo e de todos.
 Alguns autores o apontam como portador de um certo pessimismo, que o levava a separar-se da convivência dos demais companheiros, por vezes.
 De todos, era o que mais se preocupava em que Jesus dilatasse a sua zona de influenciação junto aos homens importantes e mais ricos. Sob seu ponto de vista, era necessário atender algumas das exigências dos fariseus bem aquinhoados de autoridade e de riqueza. Disso dependia a vitória ampla e fácil do Evangelho, pensava. Por que, pois, Jesus não mostrava o seu poder perante eles, para os convencer?
 Alguns meses antes da prisão, julgamento e morte de Jesus, quando se encontrava o grupo de Apóstolos e Jesus, na Peréia, ele deu mostras de grande heroísmo, influenciando positivamente os demais, o que nos diz que, entre os doze, gozava de certa autoridade.
 Quando chegam a Jesus as notícias de que Lázaro, o amigo da cidade de Betânia, se encontra enfermo, Jesus prossegue a pregar por mais dois dias, após o que informa que voltará para a Judéia.

 As palavras caem sobre os Apóstolos como um raio. No conceito deles, era um ato temerário apresentar-se Jesus na Judéia, onde os fariseus estavam à espreita para O prender.
Recordam eles ao Mestre dos perigos de há bem pouco, do desejo dos judeus de O apedrejarem.
 Contudo, o Galileu começa a caminhar resolutamente, pondo-se rumo a Jerusalém. Os discípulos se entreolham, hesitantes e apreensivos. Mas, foram seguindo o Mestre, com o coração acabrunhado.
Subitamente, num impulso de heroísmo, ouve-se a voz de Tomé:
"Vamos também nós e morramos com Ele." O brado de intrepidez sugestionou os demais, que seguiram a Jesus, com novo ânimo.
 Ao ensejo da prisão do Mestre, debandou Tomé, espavorido. Depois de algum tempo, contudo, sentiu o coração cheio de remorsos.
 Segundo apontamentos de Humberto de Campos, Espírito, ele se teria disfarçado e acompanhado o cortejo até o Gólgota. O coração batia descompassado e ele procurou romper a massa popular, aproximando-se um pouco mais de Jesus.
 O Carpinteiro seguia a passos vacilantes, seguido de perto pelos soldados. Tomé pôde observar a serenidade do Mestre, apesar do martírio daquela hora. E vendo Suas mãos como duas rosas vermelhas, gotejando sangue, sua fronte aureolada de espinhos, os pés ensangüentados, chorou discretamente.
 O olhar de Jesus o descobriu entre tantas criaturas reunidas no Calvário. Tomé O sentiu sobre si e esperou que os lábios do Modelo e Guia se abrissem em reprovação sincera ao seu condenável e covarde procedimento.

 Mas, de forma imperceptível, a voz Dele se lhe fez ouvir, alertando de que "no Evangelho do Reino, o sinal do céu tem de ser o completo sacrifício de nós mesmos!" (11)
 Mesmo assim, o discípulo continuou em sua atitude de dúvidas. Para ele, o Cristo era a mais alta figura da Humanidade, em se falando do amor. No entanto, no que se referia ao raciocínio, mantinha certas restrições.
 Após a Ressurreição, quando o Mestre aparece aos discípulos reunidos, assustados e aflitos, Tomé não se encontrava entre eles. Possivelmente, se ocultara, ainda temeroso das represálias dos inimigos da Luz.
 Quando se reencontra com os amigos, é recebido com exclamações jubilosas e a informação de que Jesus ressuscitara e estivera com eles.
 Havia alegria em todos os olhares. Tomé sorriu um sorriso céptico e desdenhoso. Sem dar maior importância à sensacional notícia, respondeu:
 "Se eu não lhe vir as marcas dos cravos e não lhe introduzir a mão no seu lado, onde está a ferida aberta pela lança, digo-vos francamente que de maneira nenhuma o crerei."
 Oito dias depois, estando ainda os onze reunidos, na mesma casa do pai de Marcos, com as portas fechadas, Jesus se apresenta:
 "A paz seja convosco!"
 E, voltando-se para Tomé, demonstrando ter ciência total do que ia na alma do Apóstolo ainda descrente, diz:
 "Vem, Tomé! Põe aqui o teu dedo e vê as marcas dos cravos. Chega a tua mão e mete-a do meu lado."
 O Apóstolo executa automaticamente as ordens que recebe. Tocado pela humildade do Mestre, ajoelhou-se e chorou. Suas lágrimas eram, agora, de ventura. Na batalha entre cérebro e coração, o sentimento que lhe extravasava do peito, era fé.
Jesus o ergue e fala:
"Porque me viste, Tomé, creste. Bem-aventurados os que não viram e creram."
Partiram depois os onze para a Galiléia, segundo determinações de Jesus. Entregam-se à pesca.
 No lago de Genesaré, Simão Pedro, Natanael, João, Tiago e Tomé tripulam um barco, aproximando-se da Terra. Não trazem nenhum peixe. Noite infrutífera.
 Da praia, um homem lhes pergunta se algo têm para comer, e à negativa azeda de Pedro, lhes diz que lancem a rede para a banda direita do barco.
 Foram 153 os peixes retirados do mar da Galiléia. João reconhece que Aquele é Jesus. Quando chegam à praia, o Mestre já preparara um monte de brasas e lhes serve peixe assado e pão.

Tomé, como os demais, sente amor e temor, confiança e respeito. Um respeito diferente. Jesus ressurgira da morte. Ele está ali, mas num corpo diferente. Um corpo de surpreendentes propriedades que Lhe permite entrar nas casas de portas fechadas, desaparecer de forma instantânea.
 Após o repasto, Jesus caminha ao longo da praia, convidando Pedro a segui-Lo. Mais atrás, segue João. A alguns passos marcham Tomé, Natanael e Tiago.
 Jesus sai caminhando, enquanto sua túnica, batida pelo vento, brilha, como uma bandeira branca. Tomé se esforça por acompanhá-Lo. Jesus lhe dá a impressão de não tocar o solo, parece flutuar. Todo seu corpo e as vestes, adquirem a leveza de uma nuvem e a claridade de uma luz suave. Desaparece na tarde...

 E numa outra tarde de azul profundo, junto às cinco centenas de corações amigos, Tomé ouviu, no Monte das Oliveiras, as derradeiras exortações de Jesus, conclamando-os à missão de fazerem discípulos da Boa Nova a todas as gentes.
 Sua alma agora se enchia de coragem e ilimitada confiança. "Eu estarei convosco todos os dias..."

 E Tomé saiu a pregar, tendo estendido seu apostolado à Índia, onde é reconhecido como fundador da Igreja dos Cristãos Sírios Malabares, ou Igreja dos Cristãos de São Tomé.
 Consta que, no ano 53 da era cristã, teria sido martirizado pelo rei de Milapura, na cidade indiana de Madras, a flechadas, que lhe provocaram intensa hemorragia, dissolvendo-se sua vida pouco a pouco. A dor e o sangue não lhe destruíram os sonhos. Ele sonhava com a eternidade.

Bibliografia:

01. BÍBLIA, N.T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica, 1966. cap. 10, vers. 2-4.

02. ______. Marcos. Op. cit. cap. 3, vers. 13-19.

03. ______. Lucas. Op. cit. cap. 6, vers. 13-16.

04. ______. João. Op. cit. cap. 11, vers. 16; cap. 20, vers. 24-29 e cap. 21,vers. 2.

05. CURY, Augusto. A personalidade dos discípulos. In:___.O mestre inesquecível. São Paulo: Academia de Inteligência, 2003. cap. 3.

06. ROHDEN, Huberto. Aparição na praia de Genesaré. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. II, pt. 3, cap. 200.

07. ______. Jesus e Tomé. Op. cit. v. II, pt. 3, cap. 199.

08. SALGADO, Plínio. A ascensão. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 5, cap. LXXXIII.

09. ______. "Eu sou a ressurreição e a vida". Op. cit. pt. 5, cap. LXXX.
10.VAN DER OSTEN, A . Tomé. In:___. Dicionário enciclopédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
11. XAVIER, Francisco Cândido. O testemunho de Tomé. In:___. Boa nova. Pelo espírito Irmão X. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1963. cap. 16.
12. ______. Os discípulos. Op. cit. cap. 5

Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - março/2005


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SERIE ANDRE LUIZ (CHICO XAVIER)
ANDRÉ LUIZ - REFLEXÕES NECESSÁRIAS
AS IRMÃS FOX E O FENÔMENO DE HYDESVILLE
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