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terça-feira, 11 de outubro de 2016

MAGNETISMO o fluido e a vontade

Adilson Mota
adilsonmota1@gmail.com

Envolvidos no mecanismo da ação pelo magnetismo vamos encontrar, ao fazer uma análise didática, alguns elementos importantes: vontade, fluido vital, confiança, técnica, estudo e amor. Vamos nos deter, neste artigo, mais especialmente nos dois primeiros, buscando entender a relação entre eles e a sua atuação.

A vontade é um dos atributos do Espírito. Representa o nosso querer e juntamente com o pensamento movimenta e dinamiza o ser. Elabora ideias e as expressa através das realizações materiais, tanto quanto da palavra e do intelecto. Sem vontade não somos almas, nos tornamos "coisas". Podemos ter vida, como os animais e as plantas, mas não exercemos o poder do pensamento, já que os dois estão sempre atrelados um ao outro.

Temos o exemplo disso na depressão mais grave, quando se perde a capacidade de exercer a própria vontade. O depressivo não é um objeto, mas se coisifica, torna-se letárgico, vive como num casulo onde as forças maiores da Vida é que lhe movem e conduzem. O objetivo do magnetismo nesse caso será o de reconstituir os canais energéticos a fim de que, restabelecido o trânsito normal das energias, emoções e pensamentos, consiga o doente exercer a sua vontade de forma satisfatória.

Diz o Espírito André Luiz em Missionários da Luz:

Pelo passe magnético, no entanto, notadamente naquele que se baseie no divino manancial da prece, a vontade fortalecida no bem pode soerguer a vontade enfraquecida de outrem para que essa vontade novamente ajustada à confiança magnetize naturalmente os milhões de agentes microscópicos a seu serviço, a fim de que o Estado Orgânico, nessa ou naquela contingência, se recomponha para o equilíbrio indispensável.


A vontade do magnetizador exerce um papel fundamental nos tratamentos. Sem ela não há transmissão fluídica e as técnicas se tornam apenas  movimentos de braços, sem função. O poder curativo do fluido se manifesta através da vontade do operador. Como escreveu Allan Kardec "os fluidos não possuem qualidades sui generis"1, adquirem as do meio, trazem o cunho dos nossos sentimentos positivos ou negativos, bem como podem ser "excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos" etc.

Fluido e vontade são inseparáveis. O perispírito comanda o corpo físico, transmite a este os comandos vindos do Espírito, mas isto só se torna possível por causa do fluido que intermedeia os impulsos perispirituais que agem sobre o organismo biológico. A vontade do Espírito se exerce sobre o corpo utilizando o fluido como recurso que possibilita essa interação.

Van Helmont (1579-1644), médico, químico e fisiologista belga, afirmava que o homem "tem ao alcance da mão uma energia obediente à vontade, ligada ao seu potencial imaginativo, capaz de atuar exteriormente e influir sobre pessoas distantes, muito distantes mesmo".2

Essa capacidade que o fluido possui, ligado à nossa vontade, pode ser compro vada através da eficácia da prece.     Quando oramos por alguém distante emiti mos nossas energias que atravessa o espaço e o alcança onde estiver. Há pés quisas recentes feitas experimentalmente que mostram essa realidade: doentes que recebem preces, mesmo sem saber, obtêm melhoras mais significativas que outros que não são beneficiados pela oração.

Está mais do que demonstrado através de hipnotistas e magnetizadores que a vontade pode ser exercida a distância de forma a não restarem dúvidas quanto à influência do pensamento sobre outras pessoas, mesmo à sua revelia. É possível hipnotizar ou magnetizar alguém a distância, sem que o hipnotizado/magnetizado seja previamente avisado. Nesse caso, a vontade do hipnotizador/magnetizador é o agente através do qual a ação se exerce. Mas como um pensamento pode atuar através do espaço, senão tendo uma substância fluídica, invisível como intermediário? Essa substância é o fluido magnético que nos envolve e interpenetra todo o nosso organismo.



O indivíduo hipnotizado está magnetizado, mesmo sem a intenção do operador e somente assim ele consegue influenciá-lo a vontade, fazendo-o até mesmo cometer atos ridículos durante o estado de transe ou após este, às vezes depois de decorrido muito tempo, meses até. As sugestões tão utilizadas inicialmente pelos magnetizadores, depois pelos estudiosos e praticantes da hipnose de palco  ou terapêutica funcionam com uma vontade exercendo o seu poder sobre a outra. O desejo de um é acatado pelo outro que o comanda até certo ponto porque o tem envolvido no seu magnetismo.

Quando a mulher com hemorragia tocou as vestes de Jesus3 ela atraiu para si o fluido magnético através do poder da sua vontade. Ela tinha o desejo sincero e confiante de curar-se atraindo o recurso curativo do Cristo. Já na cura do paralítico4, a poderosa vontade de Jesus intervém ordenando-lhe: levanta-te e anda! O seu magnetismo envolve o doente e através deste o Mestre comanda a vontade estranha que se lhe submete e, a partir daí, as células orgânicas lhe obedecem, se reordenam e o homem ergue-se a caminhar.

Vamos encontrar a influência da vontade até mesmo na magnetização para produzir o estado de sonambulismo. O magnetizador impregna o sonâmbulo com o seu fluido e o faz porque quer, ou seja, utilizando a sua vontade como instrumento emissor, dosador e direcionador das energias. Com essa operação o perispírito do sujet se desvencilha, em maior ou menor grau, do organismo físico, o que proporciona o transe sonambúlico ou outra espécie de transe mais superficial. O transe mais ou menos profundo, porém, não ocorre por causa do quantum de fluido, mas sim pelo tamanho da vontade do magnetizador. Dessa forma, quanto mais forte e confiante a vontade deste, menos fluido precisará despender para alcançar no sonâmbulo uma emancipação mais completa. Logicamente, isso também dependerá do desenvolvimento da faculdade desse sonâmbulo.

Relatando outro tipo de experiência, podemos conduzir a imaginação de uma pessoa, induzindo-a a acreditar na existência de uma imagem, som ou ideia irreal. Num estado hipnótico a vontade do operador pode incutir uma determinada ideia na mente do hipnotizado fazendo-o acreditar piamente no que não passaria de uma alucinação. Por exemplo, o hipnotizador pode dizer ao indivíduo em transe: "entre mim e você há uma parede de tijolos alta de tal modo que você não consegue me ver, apenas me ouvir". O sujeito de olhos abertos será capaz de enxergar a tal parede em todos os detalhes, lhe impedindo a visão do hipnotizador. Se este assim desejar, fará com que aquele continue enxergando essa parede mesmo não estando mais em estado hipnótico. Ele poderá tocar e sentir a suposta parede através do tato, vê-la com seus olhos e continuará impedido de ver o seu hipnotizador.

Esta obra de Ernesto Bozzano publicada em 1926 mostra o quanto pode a vontade do encarnado como do desencarnado na realização dos fenômenos de objetivação ou materialização do pensamento.
podemos conduzir a imaginação de uma pessoa, induzindo-a a acreditar na existência de uma imagem, som ou ideia irreal.


A obsessão espiritual nada mais é do que uma vontade subjugando a outra. É um verdadeiro processo hipnótico-magnético em que o Espírito, se não consegue submeter o encarnado de imediato, vai-lhe incutindo ideias, sugerindo-lhe imagens, que alcançam a vítima desatenta lentamente, substituindo aos poucos a sua vontade pela do perseguidor. O desejo de perseguição do obsessor  fazem-no emitir voluntariamente ou não as suas energias que envolverão o organismo perispiritual e físico do perseguido, as quais servirão de instrumento pelo qual a vontade doentia alcança o objetivo. Na subjugação, fase mais avançada do processo obsessivo, a vontade do Espírito vai mais longe, consegue mesmo atuar sobre o corpo físico comandando-o ao seu bel prazer, quase sem resistência do obsediado, mostrando um rapport de alto nível.

Nas curas magnéticas, a vontade do magnetizador possibilita o sucesso das técnicas utilizadas. Sobre isso, vejamos o que escreveu Kardec:

Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo.
[...] Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.5

Aqui o autor deixou claro a importância  da vontade nas ações realizadas através do magnetismo. Em seguida, ele escreveu:

Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contato e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado.

Pois é, a força do magnetizador reside na potência da sua vontade, do quanto ele quer e do quão firme e convicto é esse querer. A vontade, embasada no sincero desejo de ajudar, em outras palavras, no amor, dá a capacidade curativa ao fluido que obedece à sua intenção transformando o organismo alheio, doente, entregue docemente à sua vontade, restituindo-se em saúde e harmonia.

1. A Gênese, cap. XIV.
2. Pensamento e Vontade, Ernesto Bozzano.
3. Evangelho de Lucas, VIII: 43-46.
4. Evangelho de Marcos, II: 9-12.
5. O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VIII.


 Fonte;  JORNAL VÓRTICE    ANO VIII, Nº 07 Dezembro - 2015

quarta-feira, 6 de maio de 2015

A CIÊNCIA DO MAGNETISMO


Adilson Mota
adilsonmota1@gmail.com

Todos sabem que o Magnetismo era conhecido como ciência entre os magnetizadores clássicos. A intenção desse artigo, porém, é analisar o quanto ainda  falta para fazermos dele, na atualidade, uma verdadeira ciência. Durante cerca de cento e cinquenta anos após o seu surgimento, o Magnetismo conseguiu produzir provas e evidências dos seus efeitos. As doenças eram curadas e os resultados eram visíveis, o que esclarecia os estudiosos dedicados e confundia os orgulhosos que, não querendo observar o que não acreditavam, tinham como fraude ou ilusão tudo que destoava da sua maneira de entender as coisas.

O verdadeiro pesquisador não procura confirmar os seus pontos de vista, ele busca a verdade, mesmo que tenha que admitir que estava em erro. O orgulhoso, por sua vez, anseia em encontrar confirmações das suas ideias, distorcendo a verdade muitas vezes. Falta-lhe humildade como sobra o desprezo pelos que não pensam como ele.

Depois de um hiato em que o Magnetismo praticamente desapareceu, agora ele retorna aliado ao Espiritismo, num crescimento lento, mas vigoroso, envolvendo as mentes e também os corações das pessoas sensíveis que vislumbraram naquele um grande potencial para a cura das diversas doenças físicas, psíquicas ou espirituais. Esse movimento ainda é tímido, insipiente, quase completamente restrito aos atendimentos das Casas Espíritas. Talvez por que seus adeptos não estejam convencidos da grandeza do recurso que têm nas mãos e do quanto esta ciência pode fazer pela Humanidade. A visão parece enxergar apenas o agora, sem vislumbrar as possibilidades vindouras que se abrirão desde que compreendamos o seu objetivo verdadeiro. Sem esta macrovisão estaremos fadados a manter o Magnetismo no rol das crenças particulares sem que ele nunca consiga influir verdadeiramente nos rumos da Humanidade, o que é o seu destino.
Barão Jules Denis du Potet de Sennevoy.
(1796-1881)
Fundador do Journal de Magnétisme e dirigente da
 Socieade Mesmeriana.
icionar legenda

Em carta enviada a Napoleão III, Imperador da França, o Barão du Potet ressalta a importância do Magnetismo.

Uma descoberta brilhante como o sol, fecunda como a natureza se expande hoje pelo mundo inteiro, sem o concurso dos sábios e apesar da poderosa liga que organizaram contra ela. Trata-se do magnetismo, força medicamentosa a qual nada se compara. Como agente de fenômenos, supera e mui-to a eletricidade e o galvanismo, como princípio de ciência moral, nossos conhecimentos atuais nada tem a lhe opor. Que espera então, Sua Majestade, para fazer prevalecer a verdade sobre a mentira? A sanção dos sábios? Nunca a terá plenamente, pois os fatos novos desarranjam seus cálculos e contrariam a fé que tem nas afirmações solenemente procla-madas por eles mesmos. Eles o enganaram sobre o valor real do magnetismo assim como enganaram seu tio, de gloriosa memória, a respeito do vapor.1

Mais adiante solicita o empenho do imperador para a criação de uma “cátedra de ensinamento do Magnetismo”. Seria uma forma dessa  ciência ser melhor estudada e compreendida, estar mais protegida dos ataques dos inimigos, servir à verdade, triunfar sobre a má vontade dos homens e ser preservada para o futuro.

O Magnetismo no período clássico tinha os seus dignos estudiosos, sinceros amantes da verdade, que buscavam o seu desenvolvimento com inteligência e amor. Utilizavam métodos científicos que não deixassem dúvidas quanto aos resultados que ele podia produzir e almejavam a disseminação dessa arte que tantos benefícios trazia, e continua trazendo.

Apesar de alguns esforços ardentes e sinceros, o Magnetismo permanece ainda isolado em pequenos círculos sem, contudo, conseguir ir além dos limites do Centro Espírita. Carece que compreendamos qual a sua missão na Terra. É um bem da Humanidade que desconhece limites de crença, raça, cor, sexo, idade. É a chama da vida que impregna todo ser vivo e que mantém a vida no nosso planeta. Achá-lo patrimônio do Espiritismo é acreditar que somente nós espíritas temos o direito e as condições de utilizar, quando qualquer pessoa possui essa energia e, em tese, tem condições de aplicá-la em benefício de outrem.
   
Sir William Crookes (1832-1919).
Cientista, químico e estudioso 
do psiquismo,
nascido em Londres, Inglaterra.
Foto do Espírito Katie King (materializado) de
braços com William Crookes.
 
                                                                                                                                                         

Numerosos cientistas de renome, mesmo diante dos fatos mais convincentes, hesitaram em proclamar a verdade, com receio das consequências que isso poderia acarretar aos olhos do povo. Crookes, porém, não agiu assim. Ele penetrou o campo das investigações com o intuito de desmascarar, de encontrar fraudes, entretanto, quando constatou que os casos eram verídicos, insofismáveis, ele rendeu-se à evidência, curvou-se diante da verdade, tornou-se espírita convicto e afirmou: - "Não digo que isto é possível; digo: isto é real!“

(http://www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=278)

 É razoável que hoje o Espiritismo detenha o melhor conhecimento a respeito do magnetismo, mas daí há uma diferença em achar que é o seu proprietário.

Pensando no Magnetismo num sentido universal, podemos entender a nossa responsabilidade no sentido de fazê-lo extrapolar para além das instituições espíritas e fincar bandeira como terapia curativa eficaz. Para isso há um longo caminho a ser percorrido, das experimentações, das exaustivas pesquisas, das frias análises, buscando firmar o Magnetismo em bases sólidas, confiáveis e verificáveis por todos que desejem estudá-lo de maneira séria.

Citei a frieza das análises não me referindo à ausência de paixão e amor pelo que se faz, já que esses são elementos imprescindíveis que geram motivação e que ajudam a superar os desafios que se interpõem no caminho de quem segue algo de bom. Aludi à necessidade de frear a empolgação que nos faz ver a verdade em tudo, até mesmo na mentira, que ilude os olhos e o espírito e desencaminha o pesquisador. É preciso firmar os pés no chão enquanto a emoção nos leva a voar mais alto.

Sir William Crookes, um grande pesquisador dos fenômenos psíquicos e um dos maiores cientistas da sua época é um excelente exemplo. Foi-lhe sugerida uma investigação dos fenômenos espíritas a fim de desvendar de uma vez por todas o que havia por trás daquilo que os espiritistas afirmavam ser a alma dos mortos. Con-ta do livro “Katie King” de Wallace Leal V. Rodrigues a afirmação de Crookes com as características do verdadeiro sábio:

Não posso dizer que tenho pontos de vista ou opiniões sobre um assunto que não tenho a pretensão de entender. Mais tarde voltou a declarar:
Prefiro entrar na questão sem nenhuma noção preconcebida, quanto ao que pode ou ao que não pode ser, mas com todos os meus sentidos alertados e prontos para transmitir informações racionais, acreditando que não temos de modo algum esgotado todo o conhecimento humano ou galgado todos os degraus do conhecimento humano e das forças físicas.

Dir-se-ia que o tiro saiu pela culatra quanto ao que os seus colegas cientistas esperavam como resultado da pesquisa. Agora o renomado físico possuía não uma opinião, mas uma certeza sobre os fenômenos e esta era completamente favorável à tese espírita, pois que se baseava em fatos.

Uma cura magnética pode não deixar dúvidas quanto à sua realidade, no magnetizador e naquele que está em tratamento, mas não servirá de elemento comprobatório, se levarmos em conta os moldes atuais das pesquisas científicas. Exige-se um rigor muito grande para que os resultados alcançados não possam ser explicados em termos de coincidência, acaso ou mesmo como consequência de outros fatores causais.
Miss Florence Cook.
Médium que aos 15 anos de idade submeteu-se às
experiências psíquicas com William Crookes.

Uma pesquisa científica envolvendo tratamento por magnetismo teria que excluir qualquer possibilidade de influência de outras formas de tratamento, como medicamentos, sejam naturais ou químicos, terapia psicológica, etc. O paciente teria que ser tratado única e exclusivamente pela energia do magnetizador. Reconhecemos que haveria grandes dificuldades nesse sentido, porém somente assim teríamos certeza do que proporcionou a saúde ao doente.

Não para por aí, entretanto. A quantidade também é importante. Os resultados positivos alcançados com alguns poucos indivíduos é levado à conta de coincidência. É preciso uma quantidade razoável de participantes a fim de que a estatística seja favorável. Além disso, seria interessante comparar os resultados do magnetismo com os de outras formas de tratamento ou mesmo com grupos-controle (grupos sem tratamento algum) ou fazendo uso de placebo.2

O método científico requer precisão e não dá espaço para improvisações ou conclusões precipitadas. Mesmo assim, muitos não se convencerão e procurarão falhas na pesquisa, levados por um orgulho que não se dobra nem mesmo ante as evidências, assim como aconteceu às cautelosas conclusões de William Crookes. Haverá aqueles, todavia, que, seguidores da verdade, a enxer-garão, lamentando não terem estado antes diante dela.As dificuldades podem ser muitas, o caminho longo e pedregoso, mas não devemos desistir. Da mesma forma que nos preparamos para uma viagem, o objetivo do Magnetismo será alcançado se nos prepararmos para ele. As provisões são os conhecimentos, os estudos, aliados ao espírito crítico, à perseverança, à fé e à humildade, mantendo como sustentáculo a caridade que estabelece como regra o bem coletivo acima do individual.

Referências;

1 Publicada no Jornal do Magnetismo, pág. 30 a 32, de 1860.
2 Placebo – Preparado sem nenhuma ação ou efeito, usado em estudos para determinar a eficácia de substâncias medicinais. (Dicionário Michaelis)


JORNAL VÓRTICE ANO VII, n.º 10 - março - 2015


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http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2013/03/ensaio-teorico-das-curas-instantaneas.html

A USINA HUMANA - Estudos de Henri Durville – parte II


Ana Vargas
anavargas.adv@uol.com.br

Costumo dizer que a sala de atendimento magnético, ou a sala de passes, é um solo sagrado. Ali tudo, tudo mesmo, pode acontecer. Os mais incomuns fenômenos podem parar sob nossos olhos, e tanto poderão ser físicos (doenças raras, por exemplo), psicológicos ou espirituais, ou ainda a mescla dos anteriores. Por isso, um conhecimento mínimo das estruturas que compõem o ser humano é imprescindível para que o magnetizador saiba reconhecer com o que está lidando, além dos fenômenos magnéticos que devem ser intimamente conhecidos. A abordagem a respeito do inconsciente e suas manifestações é um alerta oportuno, uma boa e fácil leitura para quem nunca leu a respeito, e um incentivo aos que já o estudam para que se aprofundem mais, acrescentando as contribuições feitas pelo avanço das ciências da mente desde a época desses autores clássicos. Muitos outros fenômenos do inconsciente param em nossas mãos, tenho certeza. 


“O que se entende por  inconsciente, não tem sido compreen-dido em toda sua exatidão. Os filósofos franceses do século XVII, e em particular Descartes, entenderam suprimir esta parte de nós mesmos.

Ou nós sentimos clara e nitidamente uma coisa, diziam eles, ou não a sentimos em absoluto. E concluíam assim: a alma é mais fácil de conhecer do que o corpo.

Isto era cometer um perigoso erro por omissão. É fácil provar que sois o teatro de uma porção de fatos semiconscientes, os quais, uma vez passados, deles só guardareis algumas impres-sões. Todas as gradações existem, apesar disso, na consciência, desde a visão deslumbrante de um raciocínio por um espírito seguro de si, até as meias  tintas mais atenuadas e mais fugazes que apresentam os fenômenos obscuros da sensibilidade inter-na, as dores vagas chamadas de doenças do coração, os prazeres obscuros da digestão e muitos outros mais.

Certos exemplos que provam a existência do inconsciente são clássicos. O moleiro dorme ao tic-tac de seu moinho. Acorda quando esse tic-tac cessa e a roda  pára. Há nele, pois, como que um despertador vigilante que acompanha, fora da consciência, durante o sono, este ruído particular. A supressão desse ruído, importante apenas para o moleiro, só afetou a consciência.

Estais em vosso aposento e trabalhais. De repente, durante um momento de descanso, os vossos olhos se fixam, sem que deis por isso, sobre os desenhos do papel que forra as paredes: são ramalhetes de rosas atadas por fitas azuis. Os ramalhetes estão unidos uns aos outros por guirlandas de rosas menores. Analisais todos os detalhes do desenho, observais todos os matizes das flores. Parece-vos que nunca tínheis visto o que agora olhais assim. Entretanto, há longos anos habitais aquele aposento. Quantas e quantas vezes vossos olhos pousaram sobre aquelas rosas! Há quanto tempo as conheceis, vendo-as sem cessar... Elas estão contidas em todas as impressões que recebeis a cada segundo, a cada milésimo de segundo, do mundo exterior a vós. Porque não as víeis? É que desviáveis a sensação recebida, porque ela era inútil. Não existe então? Sim, mas dizeis que dela não tínheis consciência. A impressão consciente pode produzir-se, ela está sempre à vossa disposição, porém foi posta em reserva, como uma cozinheira econômica faz com seus confeitos.

O mesmo sucede com todos os fatos de vossa vida mental; todos os vossos sentidos vos dão, a cada instante, milhões de informações, entre as quais escolheis algumas, muitas vezes uma só, para sobre ela fixar toda atenção. Por outra parte, guardais milhares de recordações, e dentre elas podeis escolher, quando vos apraz, como podeis ir procurar em um álbum uma fotografia entre mil outras. Todas essas recordações estão em reserva em vosso inconsciente.

Uma pessoa que nunca vistes, vos  aparece um dia. Sentis por ela uma  certa atração; ela vos agrada. Experimentastes o desejo de lhe falar, de vos aproximar dela. Por quê? É que vosso inconsciente faz das suas. Tal traço desta pessoa, tal atitude, tal inflexão de voz, vos despertaram, sem que o percebêsseis, uma porção de recordações que se relacionam com pessoas amadas por vós anteriormente. É o olhar de uma irmã, a voz de uma mãe, a atitude de uma mulher que admirastes numa reunião, num teatro, em uma fotografia ou numa gravura.

Todos os sentimentos que experimentastes pelas pessoas que, de perto ou de longe, se pareciam com aquela que vos desperta uma viva e repentina simpatia, se associam à vista, ao pensamento desta pessoa. E esta síntese brusca se opera sem o perceberdes; ser-vos-ia tão difícil descobrir-lhes os elementos como é, de ordinário, remontar às causas de nossos sonhos. A maior parte de nossas sensações, de nossas emoções, de nossos sentimentos tem, no que se chama o inconsciente, suas causas profundas.

O mesmo se dá com os nossos atos involuntários. Eles são preparados por movimentos automáticos, cuja existência foi revelada por experimentalistas.

O Dr. Binet dá um livro a uma pessoa acordada e ordena-lhe que leia em voz alta. Durante esse tempo, ele isola, com um cartão assaz grande, a mão que não segura o livro. A esta mão, que tem um lápis, ele imprime um movimento determinado, de tal modo que ela traça círculos ou retas sobre um papel. Ele continua, durante alguns instantes, o movimento, enquanto que toda atenção do paciente está concentrada na leitura. Depois de certo tempo, ele abandona a mão a si mesma: esta continua automaticamente o movimento que lhe foi imposto e que ela prolonga ainda, durante muito tempo, fora da direção de seu proprietário, absorvido por outros cuidados.

Pode-se ir mais longe e penetrar no pensamento alheio, graças aos indícios que nos fornecem seus movimentos inconscientes. O Dr. d’Allones imaginou um dispositivo que permite adivinhar automaticamente um pensamento não expresso, com a condição de que ele não seja muito com-plicado.

Trata-se de um cilindro rotativo, onde estão inscritas ordenadas ou linhas verticais a intervalos sempre iguais. Cada ordenada é marcada por um algarismo ou uma letra inscrita sobre ela.
O paciente de quem se quer adivinhar o pensamento fica  sentado, de costas voltadas para o cilindro, segurando uma pera de borracha como as que são usadas pelos fotógrafos. A pera é adaptada a um tubo delgado que comunica com um tambor inscritor de Marey. A menor contração do paciente que aperta a pera verifica-se, sem que ele o perceba, um sinal sobre o tambor.

Dizei ao paciente que pense um algarismo ou uma letra, nomeie todas as letras ou todos os algarismos, à medida que forem passando diante da ponta. Quando tiverdes enunciado o algarismo ou a letra que o paciente pensou, sem que ele o perceba, a sua mão se contrairá e esta contração se inscreverá quase sem erro possível.

Se desejardes obter uma frase inteira, procure adivinhar sucessivamente as letras de cada palavra. Que vosso paciente pense, antes de tudo, na primeira letra da primeira palavra. Soletrai, em voz alta, todo o alfabeto e o paciente contrairá a mão, involuntariamente, à passagem da letra que ele tiver pensado

Chegareis, assim, facilmente, a formar a frase inteira. Estas experiências são bem sucedidas não só com os grandes nervosos, mas também com a grande maioria das pessoas.

Pelo mesmo processo, pode se  adivinhar os números e as operações aritméticas. Pedi ao vosso paciente para operar mentalmente uma subtração de dois números compreendidos entre 7 e 41. Se ele reage em 16, em 24 e em 40, é, evidentemente, porque terá pensado que 40 menos 24, igual a 16.

Pedi, depois, ao paciente que pense em uma multiplicação, cujos algarismos não ultrapassem 10. Se ele reage em 2, em 4 e em 8, concluireis que ele pensou: 2 multiplicado por 4, igual a 8.

Podereis ainda adivinhar o que a vontade daquele que serve para a experiência quereria ocultar-vos, uma vez que se trata de um grande nervoso. O Dr. d’Allones foi levado a tentar esta experiência porque havia observado que quando um paciente tem consciência de suas reações involuntárias e procura suprimi-las, acontece-lhe reagir mais fortemente ainda do que de costume.

Uma rapariga de vinte anos, criminosa, não alienada, tinha envenenado sua rival. Simulando histeria, ela conseguira obter da justiça uma declaração de que não havia motivo para prosseguir-se a causa, subterfúgio que o seu advogado, dizia ela, não havia desaprovado. O Dr. d’Allonnes, por meio de seu dispositivo, obteve confissões escritas

Reproduzimos uma figura que mostra esta curiosa experiência. O traçado contém a confissão: gai voler por j’ ai volé (eu roubei). O francês está estropiado porque a paciente é semianalfabeta.

Estas contrações involuntárias dos músculos foram utilizadas por todos os pseudoledores de pensamento. Um deles, Bellini, fazia ocultar um objeto em uma sala e afirmava descobri-lo, penetrando o pensamento de um espectador que percorria a sala com ele, dando-lhe a mão. Na reali-dade, ele sentia, quando passava diante da fila de cadeiras onde o objeto estava oculto, uma ligeira resistência de seu guia involuntário. Ele estacava e não ia mais longe. Para empregar a expressão das crianças em um brinquedo semelhante, “tinha farejado”. Então, penetrando pela fila de cadeiras, continuava sua pesquisa, animado pelos murmúrios de admiração dos vizinhos e pelos fracos movimentos da mão que ele segurava.

Da mesma forma, Pickmann, o leitor de pensamentos bem conhecido, dizia a um espectador, que não era absolutamente um comparsa:

‘O Sr. vai pensar um número; eu o lerei em seu cérebro e escreverei depois em um quadro negro. Não haverá, assim, nem truque, nem compadrismo  possível.’

Pickmann dizia uma parte da verdade: ele não tinha nenhum guia. Entretanto, sem o perceber, o espectador, por seus movimentos inconscientes, servia de comparsa.

Para fazer a experiência, Pickmann colocava alguém diante de um quadro negro e fazia-o segurar na mão direita um pedaço de giz. Segurava, depois, esta mão e, à medida que ia pronunciando rapidamente e em voz bem alta os algarismos 0, 1, 2, etc., agarrava a mão direita do espectador, fazendo o simulacro de escrever cada um dos algarismos, ao mesmo tempo, que os enunciava. Quando o algarismo pensado era pronunciado, o espectador tinha um ligeiro movimento que o levava, sem que ele se apercebesse, a escrever, ele mesmo, o algarismo.

Esta influência do inconsciente se revela plenamente na escrita. É desta observação que nasceu a grafologia. Se a nossa saúde se altera, nós vemos os finais das palavras, as terminações das linhas abaixarem-se da maneira mais desalentada. Ao contrário, linhas ascendentes revelam uma saúde florescente, uma excelente moral e perspectivas ambiciosas, confessadas ou não.

Da mesma forma, aquele que a vida tornou concentrado, fechará seus o e seus a, afivelando-os mesmo, se ele se tornou de todo desconfiado. Aquele que é voluntário, corta fortemente seus t. O fato de pontuar corretamente revela hábitos de ordem. Mil outros indícios podem nos revelar o estado de saúde ou de espírito daqueles com quem tratamos.

É ao inconsciente ainda que se deve atribuir o medo do fiasco e os sonhos. O medo do fiasco, isto é, a timidez, é o temor exagerado do público. A força de se dizer que ele vai falar mal, mal cantar ou mal representar, o infeliz medroso põe-se em um tal estado que se realiza suas mais sinistras predições. Sua memória se paralisa, suas ideias não têm mais nenhuma coerência, as palavras que ele deve proferir fogem-lhe. E quando ele dá fé desses desfalecimentos, seus temores duplicam. Seu corpo amolece, suas pernas se recusam a sustentá-lo, sente um aperto na laringe e no estômago e, não raro, torna-se presa da afonia e de penosas vertigens.

O medo do fiasco exerce uma influência nefasta sobre os rins e os intestinos, que ele impede de funcionar. Suores abundantes e gelados cobrem o corpo do infeliz que experimenta tão rude provação. Vamos procurar demonstrar que nossos sonhos são o produto de nosso inconsciente, que, neste caso, age sozinho. Alfred Maury1 provou que a causa de certos sonhos reside em fatos psicológicos que precedem ou acompanham o sono ou nas associações inconscientes. M. Foucault insistiu sobre este último ponto2.

Um exemplo deste gênero de sonho, dado por Maury, é característico. O distinto psicólogo tinha-se dedicado a registrar suas impressões. Uma noite, ele se vê bruscamente diante de um tribunal revolucionário. Reconheceu o terrível Fouquier-Tinville e, dentro em pouco, viu-se condenar à morte. Passa para a prisão, ouve chamarem-no pelo nome, sobe para a carreta fúnebre; chega ao cadafalso, é impelido sobre a báscula e sente nitidamente sobre a nuca o pavoroso choque da lâ-mina. Desperta bruscamente e verifica que o dossel do leito acabara de cair-lhe sobre a nuca e de provocar seu retorno à plena consciência.
Assim é que, as múltiplas imagens que haviam desfilado em seu espírito tinham sucedido à queda do dossel. Vê-se com que rapidez assombrosa elas se produziram, pois que não havia certamente decorrido mais de um segundo entre o choque do pedaço de madeira do dossel e o despertar. Vê-se também que a inteligência do observador havia inconscientemente procurado uma explicação do fenômeno físico e psicológico, e que uma influência secreta tinha levado Maury a dizer para si mesmo:

‘Eu devo estar na época do Terror, pois que recebo sobre minha cabeça a lâmina da guilhotina.’

Começai a imaginar que lugar considerável ocupa o inconsciente em vossa vida mental. Pode-se dizer que os fatos conscientes são, em proporção aos fatos inconscientes, muito pouco numerosos. Nós o admitimos sem dificuldade, se considerarmos que são eles que presi-dem a tudo o que é em nós automático, invariável, sempre idêntico a si mesmo. Os fatos inconscientes se organizam e é de sua própria ordem que nasce a consciência. Ela é como a chama que se produz de uma vez no fogão, mas que não poderia iluminar, se o fole não tivesse atuado sobre as brasas.

A consciência não é, como julgou Maudsley, um luxo sem importância; ela é o resultado necessário de todo este encadeamento que passamos em revista convosco. Da mesma forma que nossa usina fisiológica tem por fim fabricar a força nervosa que, segundo a forte expressão de Th. Ribot,  se acumula em nosso inconsciente, assim também esta força, quando seu potencial é suficiente, se manifesta sob a forma consciente que nos resta estudar.”

Seguiremos, no nosso próximo encontro, aqui no Vórtice, compartilhando o estudo de Henri Durville sobre a consciência, encerrando o conhecimento básico do organismo material, da nossa usina humana, conforme esse autor denomina.

Referências;


1 Maury, Alfred – O sono e os sonhos.
2 Foucault, Marcel – O sonho; Paris, 1906.


JORNAL VÓRTICE ANO VII, n.º 09 - fevereiro - 2015


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