“E conhecereis a
verdade e a verdade vos libertará.”1
HAROLDO DUTRA DIAS
Na época de Jesus eram
utilizados rolos de papiro ou de pergaminho para o registro de livros, cartas,
documentos públicos ou privados. Havendo necessidade de uma cópia do original
(autógrafo), recorria-se ao trabalho dos copistas profissionais, que estavam
munidos de equipamento e técnica indispensáveis ao êxito da difícil empreitada.
Do contrário, o
interessado deveria lançar-se ao trabalho meticuloso e exaustivo de produzir sua
própria cópia, correndo o risco de perder o material, papiro ou pergaminho, por
falhas no processo de escrita, acondicionamento ou preparo físico das tintas e dos
rolos.
Ao longo dos séculos,
os livros que compõem a coletânea chamada Novo Testamento (NT) foram copiados
por milhares de pessoas nos mais diversos locais ao redor do Mar Mediterrâneo.
A maior parte dessas cópias se perdeu, algumas por desgaste natural do material
utilizado, papiro ou pergaminho, outras por ignorância do local onde foram
guardadas pelos copistas.
Por volta do século
XVIII, foram descobertos diversos locais naquela região onde estavam
acondicionados manuscritos do Novo Testamento. Essas descobertas desencadearam verdadeira
corrida em busca dos “papiros e pergaminhos” antigos.
Atualmente, estão
catalogados cerca de 5.500 manuscritos gregos do NT, sem contar os manuscritos das
traduções feitas ao longo dos séculos, tais como manuscritos da Vulgata Latina, da versão Siríaca, Armênia,
Egípcia (Copta), além das citações dos Pais da Igreja.
A catalogação e
comparação desses manuscritos ganharam fôlego na década de 70, ocasião em que
se reuniram os maiores especialistas do mundo para publicarem as duas edições
críticas do texto grego do NT, uma, destinada aos tradutores (UBS), e outra, aos
especialistas (Nestle-Aland).
As duas adotam o mesmo
texto-padrão, variando apenas as notas de rodapé, que no caso da edição Nestle-Aland
é mais robusta e completa.
A essa altura o leitor
deve estar se perguntando: o que vem a ser uma “edição crítica”?
Antes de responder a
essa aparentemente singela pergunta, convém esclarecer alguns pontos.
O ramo do conhecimento
que lida com a comparação e catalogação de manuscritos antigos se chama “Crítica
Textual”. O estudioso da área, por sua vez, é denominado “Crítico Textual”.
Considerando que a
imprensa foi inventada somente no século XVI, não é difícil imaginar que, antes
dessa data, há uma profusão de manuscritos, nas mais diversas línguas, de um
número incalculável de autores. Existem os manuscritos gregos de Homero,
Platão,
Aristóteles; os
manuscritos em latim de Virgílio, Horácio, Santo Agostinho; os manuscritos egípcios,
hindus, hebreus, chineses, entre outros. Em suma, toda a literatura antiga está
preservada em cópias manuscritas.
Desse modo, os críticos
textuais acabam se especializando em determinado autor e/ou livro, razão pela
qual não devemos nos surpreender com a existência de especialistas em
manuscritos do NT.
O primeiro trabalho de um
crítico textual consiste na catalogação, datação, determinação da origem de
cada manuscrito em particular que contenha determinado livro ou fragmento dele.
Uma vez realizado esse trabalho preliminar, compete-lhe a explicação da
história da transmissão daquele texto, separando os manuscritos por região,
época, tipo de escrita, tradição textual.
Ao reconstruir a
história da transmissão do texto, o crítico textual deve especificar quais são os
manuscritos mais antigos, os mais completos, os mais bem redigidos, demonstrando
como esses ancestrais chegaram até nós e quais cópias derivam deles, numa espécie
de construção da árvore genealógica dos manuscritos.
Encerrado o trabalho de
catalogação, inicia-se a comparação crítica de cada frase para se descobrir em
quais pontos os manuscritos divergem. Essas divergências são conhecidas como
“variantes textuais”.
Obtida a lista de
variantes para cada frase do texto, no caso do NT para cada versículo, o
crítico textual deve ser capaz de explicar a existência de cada uma em
particular, apontando quais delas são alterações intencionais e quais são
decorrentes de erro ou desatenção do copista.
A edição crítica de um
texto antigo, portanto, representa a
definição do texto adequado, ou seja, aquele que melhor reflete o “texto
original perdido (autógrafo)”, após catalogação e comparação do maior número
possível de cópias manuscritas disponíveis, acompanhadas de notas de rodapé com
as variantes textuais mais importantes.
Em se tratando de
textos redigidos antes da invenção da imprensa, os especialistas utilizam apenas
edições críticas, pois elas constituem um resumo de todo o material manuscrito disponível
para determinado livro, possibilitando ao estudioso a comparação das variantes
textuais e a reconstituição da história da transmissão daquele texto. É o caso do
Novo Testamento, que dispõe de duas edições críticas, como já mencionado, cuja
diferença reside apenas nas notas de rodapé, uma contendo mais variantes
textuais do que a outra.
Considerando que essas duas
edições críticas somente foram publicadas na década de 70, todas as traduções
do NT feitas no século XX se baseiam nesse texto crítico da UBS//Nestle-Aland.
O estudo da edição
crítica do texto grego do Novo Testamento nos permite compreender as variantes textuais
de todos os versículos, para podermos avaliar de forma crítica quais foram
introduzidas com interesse teológico e quais são resultado de simples erro dos
copistas.
Por outro lado, é muito
comum alguém dizer que determinado versículo foi acrescentado, mas sem
embasamento da Crítica Textual, ou seja, sem dizer em quais manuscritos aquele
texto está ausente, de modo a comprovar suas afirmações. Não vale apenas dizer
algo, é preciso demonstrar mediante provas manuscritas a veracidade das
afirmações.
Para tanto, é
imprescindível conhecer a “edição crítica” a fundo.
É bom lembrar que é
ilusão buscar o autógrafo (manuscrito original) dos textos antigos. No caso do
Novo Testamento, nenhum original foi encontrado.
Todos os manuscritos
que possuímos (5.500) são cópias feitas ao longo de 1.500 anos.
Esse fato, porém, não
nos deve preocupar. Há livros antigos de autores famosos cujos manuscritos são
escassos. Alguns deles contam com apenas dois ou três manuscritos descobertos,
mas nem por isso duvida-se da autenticidade deles.
O Novo Testamento é o
único livro antigo que conta com essa infinidade de cópias manuscritas, portanto,
é o livro mais bem atestado da Humanidade. A imensidade de cópias, não obstante
o trabalho que oferece aos estudiosos, representa nossa maior segurança, pois
permite a definição do texto-padrão com muito mais segurança do que qualquer
outro livro antigo.
Seguramente, foi a estratégia
adotada pela Espiritualidade superior para preservação dos textos da segunda
revelação.
Fonte:
Reformador Ano 128 Nº 2. 175 • Junho 2010
1DIAS,Haroldo D.
(Tradutor). O novo testamento. Brasília: EDICEI, 2010. João, 8:32.
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