Adilson
Mota
adilsonmota1@gmail.com
Quando
se fala em sonambulismo logo se vem à mente a ideia de pessoas que caminham
pela casa, usam o banheiro, conversam, comem ou mesmo saem de casa, tudo isso
enquanto dormem. Este fenômeno é tido pela Medicina como “parassonia”, ou seja,
fenômeno que acompanha o sono e envolve atividade muscular esquelética ou
mudanças do sistema nervoso autônomo, ou ambas (segundo o Dr. José Roberto
Pereira Santos, em matéria publicada na Folha Espírita de março de 2005).
Na
verdade, esses são sinais de uma faculdade que pode ir muito mais além. Se o
sonambulismo rudimentar, como descrito acima, pode servir de estudo a respeito das
possibilidades psicofisiológicas humanas, há outras características do
sonâmbulo necessitando de pesquisa, como a capacidade de ver a distância ou
através de corpos opacos, ler pensamentos, descrever enfermidades suas ou de
outras pessoas, receitar medicamentos ou formas de tratamento, ter premonições,
etc. Bem estudada pelo Sr. Allan Kardec na Doutrina Espírita, a faculdade
sonambúlica seria ainda uma forma de se comprovar a existência da alma e a sua
independência com relação ao corpo. Em matéria veiculada na Revista Espírita de
julho de 1863 sob o título “Dualidade do Homem Provada pelo Sonambulismo”, o
codificador da Doutrina Espírita assim se expressou: “A visão a distância, as
impressões que o sonâmbulo sente segundo o meio que vai visitar, provam que uma
parte de seu ser é transportada; ora, uma vez que não é seu corpo material,
visível, que não muda de lugar, esse não pode ser senão o corpo fluídico,
invisível e sensitivo. Não é o fato mais patente da dupla existência corpórea e
espiritual?”.
O
Codificador inseriu o sonambulismo entre os fenômenos de emancipação da alma,
capacidade que todos os encarnados têm de, em certos momentos especiais,
libertar-se temporária e parcialmente dos laços que prendem o Espírito à
matéria.
No
sonambulismo natural ou provocado por efeito de emissão magnética (energias
vitais humanas), o Espírito consegue desvincular-se do organismo material e
deslocar-se a outros lugares, penetrar os pensamentos alheios de encarnados e
desencarnados e ainda expressar conhecimentos que podem estar muito além da sua
capacidade intelectual na presente existência. É que os sonâmbulos, em vidas
passadas, podem ter adquirido conhecimentos que na atual existência não têm a
possibilidade de manifestar e desenvolver devido às circunstâncias que se apresentam
(influência do meio em que vivem, falta de acesso à educação escolar etc.).
Entretanto,
liberando-se parcialmente do corpo físico, reduzindo as limitações impostas
pelo organismo material, encontra os recursos para expressar os conhecimentos
que se encontram gravados na sua memória espiritual. De outra sorte, ocorrendo
o desprendimento do Espírito do sonâmbulo, este pode sentir a presença, ver e
ouvir outros Espíritos transmitindo-lhe mensagens, sendo o sonâmbulo, neste
caso, o veículo das comunicações, o que o torna um médium sonâmbulo.
Pouco
estudado na atualidade, o sonambulismo serviu muitas vezes aos magnetizadores
do passado como forma de diagnóstico e indicação de tratamento de pessoas enfermas.
Numerosos exemplos foram descritos pelo Prof. Rivail nas suas obras e, antes
dele, esta característica da faculdade já era bastante conhecida e estudada
pelos seguidores de Mesmer. Diversos magnetizadores descreveram em seus livros
as experiências realizadas, bem como os procedimentos sonambúlicos levados a
efeito durante as magnetizações.
Em
Magnetismo Curativo, Alphonse Bué relata um caso de cura onde a paciente, de
nome Blanche H., 24 anos, era sonâmbula e como tal participou ativamente de
todo o tratamento magnético. “(...) Não somente a minha sonâmbula tinha seguido
passo a passo a marcha da sua moléstia, determinar-lhe a origem e natureza, ver
o estado dos órgãos e predizer a época das suas crises, como ainda, embora não
tivesse conhecimento algum da medicina homeopática, havia indicado os remédios
que convinham ao seu estado e deviam favorecer a cura”.
Na
mesma obra, o autor apresenta o tratamento de Luíza C., que há doze anos sofria
de atrofia muscular progressiva. Diz Bué: “Luíza, em sono magnético, seguia
diariamente este trabalho de reorganização da Natureza, com interesse
crescente; como via perfeitamente o interior do corpo, tinha prazer em pôr-me ao
corrente das flutuações que o tratamento imprimia ao seu estado; o que lhe
chamava principalmente a atenção era o aspecto dos seus músculos. Não possuindo
nenhuma no-ção de anatomia, limitava-se simplesmente a explicar-me a seu modo
aquilo que via”.
Pôde
também descrever a vida voltando gradativamente aos seus músculos, bem como a
crise próxima da qual sairia melhor.
Sendo
o Magnetismo e o Espiritismo ciências irmãs, como escreveu Allan Kardec, vale a
pena estudar mais a respeito do sonambulismo magnético e, quem sabe,
utilizando-o junto aos trabalhos de magnetização, apro-veitar os diversos
recursos que ele oferece, contribuindo mais decisivamente para a saúde e o
bem-estar do próximo.
JORNAL
VÓRTICE ANO IX, n.º 02 - julho - 2016
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