quinta-feira, 20 de outubro de 2016

História da Era Apostólica - Os alicerces da Igreja Cristã


“Os filósofos do mundo sempre pontificaram de cátedras confortáveis, mas nunca desceram ao plano da ação pessoal, ao lado dos mais infortunados da sorte. Jesus renovara, com exemplos divinos, todo o sistema de pregação da virtude. Chamando a si os aflitos e os enfermos, inaugurara no mundo a fórmula da verdadeira benemerência social.”1

HAROLDO DUTRA DIAS

A festividades da Páscoa,2 na Palestina do ano 33 d.C.,3 terminaram de forma inesperada, gravando no coração dos Apóstolos as penosas lições do calvário. O Mestre deixara-se imolar, aceitando o supremo sacrifício sem qualquer reprovação ou murmúrio.

De alma envolta em perplexidade e tristeza, o colégio apostólico se dispersou.
Jesus, todavia, compadecendo-se da fragilidade humana, ressurgiu das sombras da morte confirmando a imortalidade da alma.

A notícia espalhou-se rapidamente, nutrindo o coração dos seguidores de imorredoura esperança.

Ao cabo de sete semanas (cinquenta dias),4 na festa de Pentecostes, quando Jerusalém recebia os mais diversos peregrinos, inaugurou-se nova era para a Humanidade sob os auspícios “[...]dos Espíritos redimidos e santificados que cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização terrestre [...]”,5 também conhecidos pelo nome de Espírito Santo. Nesse sentido, o texto de Emmanuel é esclarecedor:

No dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da Mesopotâmia, da Frígia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos se aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do Nazareno anunciaram a Boa Nova, atenden  doa cada grupo da multidão em seu idioma particular.
Uma onda  de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral. Não faltaram os céticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à embriaguez a revelação observada. Simão Pedro destaca-se e esclarece que se trata da luz prometida pelos céus à escuridão da carne.

Desde esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo, incessantemente.Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa hora em diante, quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espírito dos infortunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.
O poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas. Estabelecera-se a era da mediunidade, alicerce de todas as realizaçõesdo Cristianismo, através dos séculos.

Contra o seu influxo, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que avassalam os caminhos do homem, mas é sobre a mediunidade, gloriosa luz dos céus oferecida às criaturas, no Pentecostes, que se edificam as construções espirituais de todas as comunidades sinceras da Doutrina do
Cristo e é ainda ela que, dilatada dos apóstolos ao círculo de todos os homens, ressurge no Espiritismo cristão, como a alma imortal do Cristianismo redivivo. 6 (Grifo nosso.)

Doravante, guiado pela Espiritualidade superior, Simão Pedro transfere-se para Jerusalém, no segundo semestre do ano 33 d.C., fundando a instituição conhecida como “Casa do Caminho”, posto avançado de atendimento a inúmeros necessitados, além de foco irradiador da Boa Nova.

A descrição de Emmanuel da veneranda instituição é insuperável:

Desde que viera do Tiberíades para Jerusalém, Simão transformara-se em célula central de grande movimento humanitarista.[...]
_______________________________
Era por esse motivo que a residência de Pedro, doação de vários amigos do “Caminho”, regurgitava de enfermos e desvalidos sem esperança. Eram velhos a exibirem úlceras asquerosas, procedentes de Cesaréia; loucos que chegavam das regiões mais longínquas, conduzidos por parentes ansiosos de alívio; crianças paralíticas, da Iduméia, nos braços maternais, todos atraídos pela fama do profeta nazareno, que ressuscitava os próprios mortos e sabia restituir tranquilidade  aos corações mais infortunados do mundo.

Natural era que nem todos se curassem, o  que obrigava o velho pescador a agasalhar consigo todos os necessitados, com carinho de um pai. Recolhendo-se ali, com a família, era auxiliado particularmente por Tiago, filho de Alfeu, e por João; mas, em breve, Filipe e suas filhas instalavam-se igualmente em Jerusalém, cooperando no Grande esforço fraternal.[...]7

Vê-se que o ano 33 d.C. representa um marco inicial para o Cristianismo Nascente. O retorno do Mestre ao mundo espiritual implicaria a distribuição de encargos e responsabilidades graves, tendo em vista a necessidade de concretização no plano físico do prometido “Reino de Deus”, fruto da vivência plena do Evangelho.

Jerusalém nunca mais seria a mesma. As sementes do Cristo,  quais minúsculos grãos de mostarda, se transformariam em frondosas árvores de amor e sabedoria.
Em meio ao pântano das mais pervertidas paixões, desabrochariam lírios de pura espiritualidade.

O Espiritismo, na sua feição de Cristianismo Redivivo, repete o esforço dos primeiros cristãos, procurando conjugar, na intimidade da “Casa Espírita”, os verbos amar, estudar, compreender, perdoar, buscando a legítima caridade. Nesse esforço de aperfeiçoamento, encontra nas primeiras instituições do Cristianismo Nascente um modelo de vivência cristã à altura dos ensinos de Jesus.

A “Casa do Caminho” é exemplo vivo, não obstante o transcurso dos séculos. Por esta razão, urge estudar e refletir sobre os grandes acontecimentos que marcaram o primeiro século do Cristianismo, não somente pelos vultos que trabalharam pela causa do Mestre, mas também pela experiência registrada por estes pioneiros, que jamais pode ser esquecida, sob pena de cometermos antigos e graves erros capazes de comprometer nossa ascensão espiritual.

Irmãos de jornada, avancemos!
Luz acima!

Fonte: Reformador  Ano 126 Nº 2. 156 • Novembro 2008

1XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira parte, cap. III, p. 72.
2A festa da Páscoa começa no crepúsculo da sexta-feira (14 de Nisã), ou seja, no início do sábado (15 de Nisã), uma vez que os judeus contavam o dia a partir das dezoito horas. Essa festa durava uma semana, findando no sábado seguinte (22 de Nisã).
3Consultar o artigo intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revista Reformador, de setembro de 2008, p. 33, no qual se demonstrou que a crucificação ocorreu por volta do dia 3 de abril de 33 d.C.
4A festa de Pentecostes, palavra grega que significa cinqüenta, é celebrada sete semanas após a Páscoa, ou seja, no quinquagésimo dia após o sábado Pascal. Os hebreus a denominam “festa de Shavuot” ou festa das semanas, na qual celebram o recebimento da Torah no monte Sinai, razão pela qual é também conhecida como a festividade do “dom da Torah”. Nesse caso, o pentecostes descrito no livro “Atos dos Apóstolos”ocorreu por volta do dia 24 de maio de 33 d.C.
5XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 312.
6XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 1a reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 10, p. 35.
7XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito  Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira parte, cap. III, p. 72-73.


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