HAROLDO DUTRA DIAS
“Para quem está
familiarizado com a história antiga, não deve ser motivo de perturbação o fato
de que as principais datas na vida de Jesus sejam apenas aproximadas. [...]”
O dados cronológicos mais importantes da vida de Jesus encontram-se nas
narrativas da infância (Mateus, 2; Lucas, 1:5, 2:1-40) e nas da Paixão (Mateus,
26-27; Marcos, 14-15; Lucas, 21-23; João, 13-19). Outros dados relevantes podem
ser encontrados nos Evangelhos de Lucas e João (Lc., 3:1-2 e 23; Jo., 2:20).
Os historiadores do
Cristianismo, porém, chamam a atenção para o fato de que os Evangelhos não são
essencialmente obras de história, no sentido atual da palavra. Os Evangelistas não
pretendiam produzir uma biografia completa ou mesmo um sumário da vida de
Jesus. Ao contrário, escreveram com a finalidade de transmitir o ensino do
Mestre, os fatos principais da sua vida, de modo a legar à posteridade o
testemunho da fé.
Nesse sentido, é justo
considerar que os Evangelistas
organizaram o material da tradição (oral e/ou escrita) de acordo com um propósito
redacional. Compilaram e organizaram as narrativas sem se preocuparem com a
ordem histórica dos acontecimentos.
Assim, em se tratando de
cronologia do Cristianismo Nascente, por vezes, é preciso contentar se com o
estabelecimento de intervalos temporais, dentro dos quais há maior
probabilidade de ocorrência de determinado fato. As limitações das fontes
históricas disponíveis justificam essa situação.
Seguindo o relato dos
Evangelistas, entre o nascimento de Jesus e o início de seu ministério público,
houve um período de “cerca de trinta anos” (Lucas, 3:23).
Considerando que seu
nascimento se deu no outono/inverno do ano 5 a.C.,2 é possível estabelecer que
sua missão pública entre os homens desenvolveu-se entre os anos 25 e 45 d.C. O
intervalo é excessivamente extenso, e pode ser reduzido com base em outros dados.
Jesus foi crucificado quando
Pôncio Pilatos era procurador da Judéia (TÁCITO, Anais, XV, 44; FLÁVIO JOSEFO,
Antiguidades Judaicas, XVIII, 63; Relato dos evangelistas), ou seja, entre 26 e
36 d.C. Já conseguimos uma considerável redução no intervalo.
João Batista iniciou seu
ministério no ano décimo quinto de Tibério César (Lucas, 3:1). Levan-do-se em
conta as divergências na fixação desta data,3 tal fato ocorreu entre os anos 27
e 29 d.C.
Jesus, por sua vez, deu início ao seu ministério público após João Batista ter iniciado o seu.
Computando-se um período
razoável de duração do ministério do Cristo, o ano da sua morte, na opinião da
maioria dos pesquisadores, deve se situar entre os anos 29 e 34 d.C. Nesta,
houve uma redução drástica daquele intervalo temporal inicialmente proposto.
Sobre isso, julgamos
oportuna a transcrição de pequeno trecho sobre a crucificação encontrado em
famoso dicionário bíblico:
[...] Dentre as tentativas
feitas para determinar o ano da crucificação, a mais frutífera tem sido feita
com a ajuda da astronomia. De conformidade com todos os
quatro evangelhos, a crucificação teve lugar numa sexta-feira; mas enquanto que
nos sinóticos essa sexta-feira é 15 de Nisã, em João é 14 de Nisã. Portanto, o problema que tem
que ser solucionado com a ajuda da astronomia, é o de determinar em qual dos
anos 26--36 d.C. é que 14 e 15 de Nisã caíram numa sexta-feira. Mas, visto que
nos tempos neotestamentários o mês judaico era lunar, e o tempo de seu início
era marcado pela observação da lua nova, esse problema é basicamente o de
resolver quando a lua nova se tornou visível. Estudando esse problema,
Fotheringham e Schoch chegaram cada qual a uma só fórmula mediante cuja
aplicação descobriram que 15 de Nisã caiu numa sexta-feira somente no ano 27
d.C., e que 14 de Nisã caiu numa sexta-feira somente nos anos 30 e 33. Visto
que o ano de 27 como ano da crucificação está fora de questão, a escolha recai
entre os anos 30 d.C. (7 de abril) e 33 d.C. (3 de abril). [...].4 (Grifo nosso.)
Portanto,
usando todos os recursos e métodos da moderna pesquisa histórica, pode-se
afirmar que a crucificação ocorreu no dia 7 de abril do ano 30 d.C. ou no dia 3
de abril do ano 33 d.C.
A opção por qualquer dessas datas
não isenta o pesquisador de responder a objeções fundadas. É nesse ponto da pesquisa que
julgamos conveniente conjugar esforço humano e revelação espiritual, numa
operação chamada por Allan Kardec de “fé raciocinada”.
Nesse sentido, dois textos
encontrados na obra psicográfica de Francisco Cândido Xavier chamam nossa
atenção:
Nos primeiros dias do ano
30, antes de suas gloriosas manifestações, avistou-se Jesus com o Batista, no
deserto triste da Judéia, não muito longe das areias ardentes da Arábia [...].5 Aproximava-se a Páscoa no
ano 33. Numerosos amigos de Públio haviam aconselhado a sua volta temporária a
Jerusalém, a fim de intensificar os serviços da procura do filhinho, no curso das
festividades que concentravam,na época, as maiores multidões da Palestina
[...].
....................................................
[...] De uma sala contígua
ao seu gabinete, notou que Públio atendia a numerosas pessoas que o procuravam
particularmente, em atitude discreta; e o interessante é que, segundo as suas
observações, todos expunham ao senador o mesmo assunto, isto é, a prisão
inesperada de Jesus Nazareno – acontecimento que desviara todas as atenções das
festividades da Páscoa, tal o interesse despertado pelos feitos do Mestre, em todos
os espíritos. [...]6
Assim, consoante a revelação
espiritual, pelas mãos do respeitável médium Francisco Cândido Xavier, Jesus
iniciou seu ministério no ano 30 d.C. e foi cru-
Fonte: Reformador Ano 126 Nº 2. 154 • Setembro 2008
1MEIER,
John P. Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico. 3. ed. Rio de Janeiro:
Imago, 1993. p. 367.
2Consultar
o artigo intitulado “Nascimento de Jesus”, publicado na revista Reformador, de
junho de 2008, p.
3Alguns
pesquisadores consideram, para contagem
dos quinze anos, o período em que Tibério César se tornou co-regente de Augusto,
ao passo que outros recusam esse método de contagem asseverando que deve ser
contabilizado apenas o período em que ele regeu sozinho, após a morte do
imperador. Visto que Augusto faleceu em 19 de agosto de 14 d.C., a contagem
deveria se iniciar após essa data.
4DOUGLAS,
J. D. O novo dicionário da bíblia. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2006. p.
5XAVIER,
Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. especial.
Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.
6XAVIER,
Francisco Cândido. Há dois milanos. Pelo Espírito Emmanuel. 48. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2007. Primeira Parte, cap. VIII, p. 144, 147 e 148.
7A
festa da Páscoa começa no crepúsculo da sexta-feira (14 de Nisã), ou seja, no
início do sábado (15 de Nisã), uma vez que os judeus contavam o dia a partir
das dezoito horas. Essa festa durava uma semana, findando no sábado seguinte
(22 de Nisã).
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