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“Eu sou o Caminho.”1
HAROLDO DUTRA DIAS
Àvésperas da sua prisão
no Getsêmani, o Mestre reuniu a pequena comunidade dos seus discípulos diletos,
com desvelado carinho, revelando os ásperos testemunhos que os aguardavam,
apontando as diretrizes do trabalho apostólico e consolando o coração aflito e
temeroso dos seus seguidores.
Naquele
momento,
entregaria o Cristo aos homens a revelação inesquecível acerca da sua pessoa e
missão: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser
por mim”.1 O emissário celeste, com vistas à implantação do Reino de Deus no mundo,
estabelecia o sublime roteiro, consubstanciado no seu Evangelho de Amor.
A presença
do Cristo no Orbe era prova de que o Céu descera à Terra, vencendo gigantesco abismo,
para revelar e provar a bondade e a misericórdia infinitas de Deus. Pelo
trabalho infatigável de suas mãos augustas, surgira para a Humanidade o
luminoso caminho entre o coração humano e o Pai. A comunhão da criatura com o
Criador tornara-se uma realidade.
A comunidade
cristã
primitiva, incluindo os apóstolos, costumava utilizar em suas citações do Antigo
Testamento uma versão grega, elaborada no século II a.C., conhecida como
Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX).
Na
Septuaginta, o vocábulo grego hodos (caminho) traduz a palavra
hebraica derek (caminho). No sentido comum, esse termo indica o lugar no qual
se anda, dirige ou marcha. Porém, desde a Antiguidade, a expressão é empregada em
sentido figurado, significando “medidas, procedimentos, o meio de atingir o
alvo, o estilo e modo de realizar algo”, ou ainda “o modo pelo qual se vive”.
Assim, hodos
(caminho) pode significar os atos ou o comportamento dos homens, a forma como a
vida é conduzida (Êxodo, 18:20). A vida como um todo, ou nos seus aspectos
individuais, pode ser chamada “um caminho” (Salmos, 119:105; Isaías, 53:6).
Nesse
contexto,
a vida de uma pessoa pode ser qualificada de um modo positivo (Jeremias, 6:16; Provérbios,
8:20) ou de um modo negativo (Jeremias, 25:5; Provérbios, 8:13). O ponto de
referência, no Antigo Testamento, para avaliar o caminho que o homem segue, é a
vontade de Deus. Se o homem permite que a vontade Divina seja o fator
determinante das suas ações, significa que anda no caminho de Deus. Caso
contrário, ele apenas segue um caminho que escolheu para si (Jeremias,
7:23-24), que é o “caminho dos pecadores” (Salmos, 1:1).
Por esta
razão,
os textos dos Profetas constituem um verdadeiro chamamento ao arrependimento dos
maus caminhos (Jeremias, 25:5; Isaías, 55:7).
É nesse sentido que pode ser entendido o trabalho de João Batista como
precursor, ou seja, aquele que prepara o caminho para Jesus, mediante o anúncio
da vinda do Messias, e também, mediante o chamamento ao arrependimento.
Expressando
esse ângulo do ensinamento, asseverou o Benfeitor Emmanuel:
Se o
determinismo divino é o do bem, quem criou o mal?
– O
determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para a comunidade
universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, o homem
transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a essa mesma lei,
efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na harmonia divina.
Eis o
mal.
Urge
recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime.
Eis o
resgate.
[...]
O Criador é
sempre o pai generoso e sábio, justo e amigo, considerando os filhos
transviados como incursos em vastas experiências.
Mas, como
Jesus e os seus prepostos são seus cooperadores divinos, e eles próprios instituem
as tarefas contra os desvios das criaturas humanas, focalizam os prejuízos do
mal com a força de suas responsabilidades educativas, a fim de que a Humanidade
siga retamente no seu verdadeiro caminho para Deus.2 (Grifo nosso.)
Não é por
outra razão que a expressão “andar nos caminhos do Senhor” significa, no Antigo
Testamento, agir de acordo com a vontade de Deus, revelada em seus mandamentos,
estatutos e ordenanças (1Reis, 2:3; 8:58).
A lei de Deus
é chamada “o caminho do Senhor” (Jeremias, 5:4), e os Profetas se esforçam para
convencer as pessoas da necessidade de sua observância, porque Israel sucumbe,
vezes sem conta, à tentação de evitar as admoestações Divinas (Êxodo, 32:8;
Malaquias, 2:8). Considerando-se as enormes dificuldades encontradas para
manter-se fiel aos desígnios divinos, pode-se entender a euforia do salmista:
“Guardei os caminhos do Senhor” (Salmos, 18:21).
Nessa linha
interpretativa, Emmanuel assim se expressa:
A vida
deveria constituir, por parte de todos nós, rigorosa observância dos sagrados
interesses de Deus.3
É por essa
razão
que vemos o Messias coroando sua obra com o sacrifício extremo, tomando a cruz
da ignomínia sem uma queixa, deixando-se imolar, sem qualquer reprovação aos
seus algozes. Do cimo do madeiro, exemplificava a sua fidelidade a Deus,
aceitando serenamente os desígnios do Céu, em testemunho sublime do seu
inexcedível amor pelos rebeldes tutelados.
Na hora
sombria da cruz, caminha humilde, coroado de espinhos, ensinando a renúncia por
amor ao Reino de Deus, revelando à Humanidade o caminho da redenção.
Emmanuel,
enfocando essa nuance do ensino, relata:
A localização
histórica de Jesus recorda a presença pessoal do Senhor da Vinha. O Enviado de Deus,
o Tutor Amoroso e Sábio, veio abrir caminhos novos e estabelecer a luta
salvadora para que os homens reconheçam a condição de eternidade que lhes é própria.4
Por fim, no
Evangelho de João, a palavra hodos (caminho) se aplica à pessoa de Jesus, de
modo sem igual no Novo Testamento. O discípulo amado registra para a
posteridade as suaves exortações do Senhor, nos últimos instantes de sua
presença física entre eles.
Mais uma vez,
Emmanuel esclarece o tema:
Jesus é o
nosso caminho permanente para o Divino Amor.
Junto dele
seguem, esperançosos, todos os espíritos de boa vontade, derentes sinceros ao roteiro santificador.
Dessa via
bendita e eterna procedem as sementes da Luz Celestial para os homens [...]5
Não podemos nos
esquecer.
Fonte:
Reformador Ano 127 • Nº 2. 161 • Abr i l
2009
1Bíblia de Jerusalém.
3. ed. São Paulo: PAULUS, 2004. João, 14:6, p. 1879.
2XAVIER, Francisco C. O
consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2008. Q. 135.
3Idem. Caminho, verdade
e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 21.
4Idem, ibidem. Cap.
133, p. 282.
5Idem. Pão nosso. Pelo
Espírito Emmanuel. 29. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 25
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