HAROLDO DUTRA DIAS
A simplicidade
e
humildade do Benfeitor espiritual Emmanuel pode levar o estudioso iniciante a
crer que haja erros nas informações trazidas pelo romance histórico Paulo e Estêvão.
Na época em que essa extraordinária obra veio a lume (1942), é certo que a
maioria dos dados históricos, sobretudo aqueles relacionados à cronologia,
estavam em discordância com as pesquisas bíblicas publicadas na primeira metade
do século XX.
Ainda hoje,
enciclopédias, dicionários bíblicos, artigos esparsos, produzidos
por autores daquele período ou por pessoas que não atualizaram seus estudos, contêm
dados, datas, informes diametralmente opostos ao daquela obra mediúnica. Por
outro lado, a mais recente pesquisa acadêmica (1980-2009) parece confirmar cada
detalhe deste romance espiritual, como se pode constatar do trabalho de John P.
Meier, E. P. Sanders,
W. D. Davies, Craig Evans, Bruce Chilton, James H. Charlesworth, Joseph Fitzmyer,
Barth Ehrman, David Flusser, Geza Vermes, Haroldo Hoehner, para citar apenas os
mais conhecidos.
Temos
abordado
nesta coluna, ainda que de forma resumida e simples, as datas mais
significativas do primeiro século do Cristianismo, conjugando essa recente pesquisa
histórica com as revelações espirituais presentes na obra Paulo e Estêvão, no
intuito de fornecer um quadro cronológico desse período, capaz de auxiliar o leitor
na leitura e compreensão do Novo Testamento, em especial do livro Atos dos
Apóstolos.
Nesse
sentido,
transcorridos mais de um ano desse esforço, sentimos necessidade de fornecer um
resumo dos dados apresentados até o presente momento, na esperança de que essa
“tabela cronológica” seja útil a todos que anseiam por uma compreensão mais precisa
da “História da Era Apostólica”, com vistas a uma melhor apropriação do
conteúdo espiritual da mensagem evangélica.
Naturalmente,
não
poderemos explicar meticulosamente todas as datas apresentadas, remetendo o leitor
aos números anteriores da revista Reformador, onde poderão ser encontrados
informes mais detalhados, com a dedução de cada data específica.
Todas essas
datas são apresentadas com a menção da estação do ano
correspondente, tendo em vista a impossibilidade, na maioria dos casos, de se
fixar o dia e o mês exato do evento. Por esta razão, cumpre lembrar que nos
países banhados pelo Mar Mediterrâneo o clima é muito semelhante, com verões
secos e quentes e invernos moderados e chuvosos.
As estações do ano se
dividem em dois grandes blocos: primavera–verão (abril–setembro) e outono inverno
(outubro–março).
É importante
ressaltar que o romance mediúnico Paulo e Estêvão representa uma
espécie de “bastidores”, making-off do livro bíblico Atos dos Apóstolos, razão
pela qual é indispensável sua leitura e citação. O fio condutor de toda a
história apostólica se encontra em Atos dos Apóstolos e Emmanuel irá seguir
esse roteiro de forma rigorosa.
A
crucificação de Jesus se deu em abril/maio do ano 33 d.C.,2 ao passo
que Pentecostes (Atos, 2) ocorreu cinquenta dias depois daquela data. Ainda
nesse ano, Pedro discursou no Templo de Jerusalém (Atos, 3:1; 4:31).
No ano 34
d.C., Pedro fixa residência na cidade de Jerusalém, fundando a
“Casa do Caminho”, primeiro núcleo cristão de assistência aos necessitados e divulgação
do Evangelho. Por essa época, ocorreu a pitoresca morte de Ananias e Safira
(Atos, 4:32; 5:11).
Os primeiros
acontecimentos descritos no romance Paulo e Estêvão ocorreram na primavera/verão
do ano 34 d.C., ocasião em que Jeziel (Estêvão) é levado cativo para as galeras
romanas (outono de 34 d.C.), e acaba aportando doente em Jerusalém, sendo
conduzido para a “Casa do Caminho” no inverno de 34/35 d.C., ou seja, final
daquele ano e início do outro.
Nesse mesmo
período,
talvez, Pedro foi preso e discursou no Sinédrio (Atos, 5:12-42), sendo
libertado em função da célebre intervenção de Gamaliel.
Na primavera
do ano
35 d.C., Estêvão é nomeado para ser um dos sete trabalhadores que cooperariam com
os Apóstolos nos trabalhos da igreja nascente (Atos, 6:1-7), sendo preso e
apedrejado pouco tempo depois, no verão do ano 35 d.C.3 (Atos, 6:8; 7:60).
Decorridos
oito meses da morte do primeiro Mártir, Saulo procura Abigail
na pequena propriedade rural situada na estrada de Jope, surpreendendo-a em
grave estado de saúde. Esse dramático encontro entre Saulo e Abigail só pode
ter ocorrido no início do ano 36 d.C.4
Adentrando em
Damasco, acometido de temporária cegueira, após a gloriosa visão do Cristo, o
jovem Saulo sente que “grossos pingos de chuva caíam, aqui e ali, sobre a
poeira ardente das ruas”.5 A primavera tem início no mês de abril, quando
cessam as chuvas.
Nesse caso, é
plausível postular, com base nos informes de Emmanuel, que a
conversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre do
ano 36 d.C.6
Paulo
pregando em Atenas (desenho animado para a Capela Sistina)
|
Após breve estada em Damasco, Paulo se retira para o deserto (Atos, 9:8-25; Gálatas, 1:15-18). O tempo de permanência do antigo doutor da lei no deserto de Palmira foi estabelecido de forma precisa: três anos (Gálatas, 1:17-18). Emmanuel confirma e esclarece detalhes sobre esse período. Durante sua estada no Oásis de Dan, Paulo foi surpreendido com a notícia da morte do seu grande orientador, Gamaliel.7
Ao retornar
do Oásis
de Dan, no deserto da Arábia, Paulo passa por Damasco (Gálatas, 1:17), de onde
se retira às pressas, escondido em um cesto, tendo em vista a ordem de prisão
contra ele expedida (Atos, 9:19-25).
A chegada de
Paulo em Jerusalém (Atos, 9:26-29; Gálatas, 1:18--20)
verificou-se num dia quente de verão, três anos após sua conversão em Damasco,
ou seja, no verão do ano 39 d.C. Sua permanência na Judeia foi extremamente curta,
pois se viu obrigado a fugir da perseguição dos membros da Sinagoga dos
cilícios, após ter feito ardorosa pregação naquele local.8
Aconselhado
por Simão Pedro, o tecelão fixou residência em sua
cidade natal, Tarso (Atos, 9:30; Gálatas, 1:21), pelo período de três anos.
Essas informações podem ser encontradas no romance Paulo e Estêvão:
[...] Saulo
de Tarso, agora resistente como um beduíno, depois de agradecer a generosidade do
benfeitor e despedir-se dos amigos com lágrimas nos olhos, tomou novamente o
rumo de Damasco, radicalmente transformado pelas meditações de três anos
consecutivos,passados no deserto.9 (Grifo nosso.)
Assim,
durante três anos, o solitário tecelão das vizinhanças do Tauro exemplificou a
humildade e o trabalho, esperando devotadamente que Jesus o convocasse ao
testemunho.10 (Grifo nosso.)
Desse modo,
a permanência de Paulo em Tarso se estendeu do verão do ano 39 d.C. ao verão do
ano 42 d.C., “até que Barnabé o convidasse para os trabalhos promissores na
Igreja de Antioquia”.11
Em resumo,
da data de sua conversão em Damasco até sua chegada em Antioquia, transcorreram
seis longos anos (primeiro trimestre do ano 36 d.C. até o verão do ano 42
d.C.), nos quais o Apóstolo dos Gentios consolidou as profundas transformações
que o encontro com Jesus lhe provocou.
Fonte: Reformador Ano 128 •
Nº 2. 170 • Janeiro 2010
1XAVIER, Francisco C.
Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel.
44. d. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Breve notícia, p. 10.
2Consultar o artigo
intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revista Reformador, ano 126,
n. 2.154, setembro de 2008, p. 33(351)-35(353).
3Consultar o artigo
intitulado “O primeiro Mártir”, publicado na revista Reformador, ano 127, n.
2.158, janeiro de 2009, p. 29(27)-31(29).
4Consultar o artigo
intitulado “A conversão de Saulo”, publicado na revista Reformador, ano 127, n.
2.160, março de 2009, p. 36(114)-37(115).
5XAVIER, Francisco C.
Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB,
2009. P. 1, cap. 10, p. 250.
6Consultar o artigo
intitulado “A conversão de Saulo”, publicado na revista Reformador, ano 127, n.
2.160, março de 2009, p. 36(114)-37(115)
7Consultar o artigo
intitulado. “A preparação no deserto”, publicado a revista Reformador, ano 127,
n. 2.162, maio de 2009, p. 34(192)-36(194).
8Consultar o artigo
intitulado “O regresso a Tarso”, publicado na revista Reformador, ano 127,n.2.164,julho
de 2009,p.34(272)-35(273).
9XAVIER, Francisco C.
Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 39. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. P.
2, cap. 2, p. 320.
10Idem, ibidem. p. 385.
11Consultar o artigo intitulado “O regresso a Tarso”, publicado na revista
Reformador, ano 127, n. 2.164, julho de 2009, p. 34(272)-35(273).
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