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domingo, 17 de agosto de 2014

A FORÇA DOS SENTIDOS

Djalma Santos

 “Os vossos olhos são a luz do corpo, mas se essa luz for trevas, todo o seu corpo estará em trevas“. (Jesus)

Dentre as muitas assertivas do mestre Jesus, no seu Evangelho de amor, talvez essa seja uma das mais importantes para o homem terreno, porque ela adverte que, os nossos sentidos materiais, a visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar, constituem antenas vivas, que mostram com nitidez aqui e do outro lado da vida, o uso que fazemos deles.

Os nossos sentidos são sagrados e com destinações divinas, por isso não podem ser desviados de suas destinações principais, porque isso faria que o corpo físico entrasse em desequilíbrio, comprometendo a consciência imortal, nos levando ao erro e ao ilícito, atrasando consequentemente nossa jornada evolutiva a caminho da luz.

O divino mestre Jesus assinalou os olhos, porque é o sentido de primeiro contato com as coisas externas, mas a observação do maior dispensador de bens eternos do mundo serve também para todos os outros sentidos, a fim de que nos possamos nos acautelar no uso deles, principalmente no relacionamento com os nossos irmãos de luta terrena.

À primeira vista, poderíamos pensar que Deus dotou certas pessoas com olhos maus, mas isso não corresponde à verdade, porque, em realidade, o nosso semblante, a nossa cara fechada, assim como olhos endurecidos, apenas refletem o nosso estado da alma, o teor dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos, que afloram no corpo físico, representando o que realmente somos e desejamos da vida.

Em síntese, Deus é imparcial, neutro e democrático, não tomando nenhum partido, nem a favor nem contra, e sim deixa que cada ser humano utilize do seu livre-arbítrio para realizar as escolhas que melhor convém a cada um de nós, assumindo, é claro, a responsabilidade pelos erros e acertos nas experiências realizadas no campo da carne e do espírito.

Chamando nossa atenção para a qualidade que devemos dar aos nossos olhos materiais, o divino mestre sabe que para se ter um corpo luminoso, sadio e pronto a satisfazer as necessidades do espírito imortal, é necessário um controle diário dos nossos pensamentos e sentimentos, colocando para fora de nós só o que for bom para nós, e principalmente para os outros.

Quando Jesus afirma categoricamente em seu Evangelho que “somos deuses”, ele quis dizer textualmente que já possuímos em estado embrionário as características divinas, mas que só se afloram com trabalho, fé, coragem e determinação, na luta constante no campo do bem.

O corpo físico que ostentamos é o instrumento de apresentação externa do espírito imortal e, pelo simples fato de ainda grosseiro é difícil de ser controlado, e só mesmo uma mente forte, educada espiritualmente, possui condições adequadas para afastá-lo dos vícios, desejos e paixões.

Temos ainda o “corpo espiritual” que é mais sutil, mais rarefeito e que depois da morte passa a ser o novo instrumento do espírito em novas dimensões do espaço, uma vez que o corpo físico, após o fenômeno “morte”, é devolvido à natureza de onde foi tirado. Quem já consegue imprimir sentidos materiais, algum quantum de “luz”, certamente já está preparado para ajudar, para amparar, solidarizar e compartilhar.

É através do corpo físico que mostramos a nossa individualidade, assim como nos relacionamos com as demais criaturas animadas e inanimadas de Deus, e exatamente por isso foi que Jesus tentou passa essa mensagem tão divina: “Os vossos lhos são luz do corpo, mas se essa luz for trevas, todo o seu corpo estará em trevas”, deixando claro de uma forma cabal e completa que devemos passar para os outros o que tivermos de melhor, a fim de que possamos receber também o que os outros tiverem de melhor.

Quando os nossos sentidos são capazes de externar só o que há de melhor, ou só perceber o que é belo e bom, estamos a caminho da perfeição, e somos capazes de iluminar tudo, até mesmo as pequeninas coisas que sem essa luz do corpo passariam despercebidas, pois o nosso discernimento estará ampliado ao infinito, nos levando ao encontro das maravilhas da vida superior, e consequentemente, ao encontro de Jesus. Jesus, sempre...

Fonte; http://www.correioespirita.org.br/


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sexta-feira, 27 de junho de 2014

A DEGENERAÇÃO DO ESPIRITISMO

Dalmo Duque dos Santos

Comparando a história do Espiritismo com a do Cristianismo Primitivo, podemos tirar algumas conclusões importantes para a o futuro da nossa doutrina e o do seu movimento social.

O Cristianismo, cuja pureza doutrinária do Evangelho e simplicidade de organização funcional dos primeiros núcleos cristãos foi conquistando lenta e seguramente a sociedade de sua época, sofreu com o tempo um desgaste ideológico. Corrompeu-se por força dos interesses políticos, financeiros e institucionais. Os novos adeptos e seus líderes, não conseguindo penetrar na essência do Evangelho, que é regeneração, ou seja, o mergulho doloroso no mundo interior e a reversão das atitudes exteriores, adaptaram o mesmo às suas conveniências psico-sociais, atacando suas idéias mais contundentes à moral animalizada, alimentando os mecanismos de defesa da mente, fazendo concessões às fraquezas dos adeptos e desviando-os para o comodismo dos disfarces rituais exteriores. Repressão de forças espirituais espontâneas e idéias consideradas ameaçadoras ao clero, como a mediunidade e a reencarnação; a falsificação de tradições e a adoção do sincretismo do costumes bárbaros, foram as principais estratégias dessa clericalização do cristianismo.

O resultado de tudo isso é bem conhecido: dois milênios de intolerâncias, violências, atraso espiritual, perpetuação das injustiças sociais, agravamento de compromissos com a lei de ação e reação e forte comprometimento da regeneração do nosso planeta.

Com o Espiritismo não está sendo muito diferente.

Apesar das advertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec quanto aos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritas insistem em cometer os mesmos erros do passado. Os mesmos erros porque provavelmente somos as mesmas almas que rejeitaram e desviaram o Cristianismo da sua vocação e agora posamos de puristas ortodoxos, inimigos ocultos do Espírito da Verdade.

Negligentes com a oração e a vigilância, cedemos constantemente aos tentáculos do poder e da vaidade. Desprezamos a toda hora a idéia do “amai-vos e instruí-vos”, entendendo-a egoisticamente, ora como fortalecimento intelectual competitivo, ora como o afrouxamento dos valores doutrinários. Não conseguindo nos adaptar ao Espiritismo, compreendendo e vivenciando suas verdades, vamos aos poucos adaptando a doutrina aos nosso limites, corrompendo os textos da codificação, ignorando a experiência histórica de Allan Kardec e dos seus colaboradores, trazendo para os centros espíritas práticas dogmáticas das nossas preferências religiosas, hábitos políticos das agremiações que freqüentamos e mais comumente a interferência negativas dos nossos caprichos e vaidades pessoais.

Como os primeiros cristãos, também lutamos pelo crescimento de nossas instituições, deixando-nos seduzir pelo mundo exterior e imitando os grupos já pervertidos, construindo palácios arquitetônicos, cuja finalidade sempre foi causar impressão aos olhos e a falsa idéia de prestígio político; e dentro deles praticamos as mesmas façanhas da deslealdade, das rivalidades, das perseguições aos desafetos, da auto-afirmação e liderança autoritária, de crítica e boicote às idéias que não concordamos.

E, finalmente, cultivamos uma equívoca concepção de unificação, esperando ingenuamente que a nossas idéias e grupos sejam majoritários num Grande Órgão Dirigente do Espiritismo Mundial, do nosso imaginário, e muitas outras tolices e fantasias que nem vale a pena enumerar aqui.

E assim caminhamos, unidos em nossas displicências e divididos nas responsabilidades. Preferimos esquecer figuras exemplares que atuaram na Sociedade Espírita de Paris quando ignoramos nossa história sabiamente registrada na Revista Espírita. Deixamos de lado líderes agregadores – ainda que divergências normais e toleráveis existissem entre eles – para ouvir e nos deixar dominar por um disfarçado clero institucional, comando por vozes medíocres e ciumentas, figueiras estéreis, sofistas encantadores e improdutivos, enfim, velhas almas e velhas tendências, vinho azedo e frutas podres em nossos mais caros celeiros doutrinários.

Mas como evitar esse processo de corrupção e, em alguns casos notórios, de contaminação e má conduta? Como reverter a situação para reconduzir essas experiências para os rumos verdadeiramente espíritas? O que fazer com as más instituições, com os maus dirigentes, os maus médiuns, maus comunicadores, enfim os maus espíritas? Devemos identificá-los e expulsá-los dos nossos quadros? Devemos denunciá-los e discriminá-los como fazia a Inquisição com os acusados de heresia?

O que fazer com os livros que consideramos impuros ou inconvenientes ao movimento?: devemos queimá-los em praça pública, censurá-los em nossas bibliotecas ou então deixar que a própria comunidade espírita pratique o livre arbítrio e aprenda a fazer escolhas corretas e adequadas às suas necessidades?

O Espiritismo foi certamente uma doutrina elaborada por Espíritos Superiores e isto nos deixa tranqüilos quanto ao seu futuro doutrinário. Mas o seu movimento vem sendo feito por seres humanos, espíritos ainda imaturos e inexperientes. Isso realmente tem nos deixado muito preocupados, pois sabemos que, hoje, os inimigos do Espiritismo estão entre os próprios espíritas.

Fonte; http://www.espirito.org.br/portal/artigos/dalmo/a-degeneracao.html

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COMO PODEMOS INTERPRETAR A FRASE DE JESUS: "A tua fé te curou"?
http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2012/12/como-podemos-interpretar-frase-de-jesus.html

domingo, 7 de abril de 2013

AS MULHERES DO EVANGELHO


As páginas do Evangelho, que relatam a sublime caminhada de Jesus pelas
terras da Palestina, há dois mil anos, é marcante a presença da figura feminina,
ensejando formosos ensinos do Mestre, exemplos de fé e perseverança das mulheres
citadas e esclarecimentos oportunos para todos os cristãos.

Não obstante a estrutura social israelita não favorecesse à mulher maior presença
e atividade em público, cita o evangelista Lucas que algumas mulheres seguiam
Jesus e os apóstolos em suas andanças, prestando-lhe, certamente, apoio logístico
e assistência com os seus bens (Lc 8:1/3). Demonstravam-lhe, assim, a mais vívida gratidão, porque as havia curado de espíritos malignos e enfermidades, como, entre outras, Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana.

Listamos algumas passagens em que é evidente a compreensão e compaixão de Jesus para com a mulher sofredora. Uma adúltera perseguida pela turba justiceira encontrou em Jesus a defesa, aparentemente silenciosa a princípio, que se fez eloquente e decisiva ao sentenciar: Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra. E, ao vê-la isentada, pelo afastamento de todos, disse-lhe compreensivo: Nem eu tampouco te condeno; vai, e não peques mais (Jo 8: 1/11).

Da pecadora que, arrependida, lhe regava os pés com suas lágrimas, os enxugava com os seus cabelos e os ungia com o unguento que levara, assegurou o Mestre a Simão, o fariseu hospedeiro, que seus muitos pecados lhe eram perdoados, porque muito amou. (Lc 7: 36/50). Seu amor, seu arrependimento e desejo de recuperação, era veementemente demonstrado naquele ato singelo.

Mas aquele a quem pouco se perdoa, é que pouco ama, disse ainda Jesus. Pouco ama quem ainda não percebeu o quanto tem recebido da bondade divina; não reconhece estar em erro, nem manifesta qualquer vontade de recuperação, nada faz para compensar o mal que tenha causado. Como poderá alcançar o perdão,
redimir-se perante a lei divina?

A mulher hemorrágica, movida pela fé ardente, aproximando-se de Jesus, pensava intimamente: Se eu apenas lhe tocar as vestes, fi carei curada. E, quando o fez, agiu como uma bomba aspirante, captando a virtude curadora de Jesus, mesmo em estando ele em meio à multidão, que o envolvia e pressionava (Ver Cap. XV, item 11, de A gênese, de Allan Kardec). E logo se lhe estancou a hemorragia e sentiu no corpo estar curada de seu flagelo. Jesus percebeu o acontecido: Quem me tocou?
Porque senti que de mim saiu poder. E, quando a mulher se revelou, lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre do teu mal (Mc 5: 25/34, Lc 8:43/48).
Mas, na sinagoga, compadecido da mulher que, há dezoito anos andava encurvada, sem se poder endireitar, Jesus agiu como uma bomba calcante: impondo as
mãos sobre ela e, com seus fluidos salutares, vontade firme e autoridade moral,libertou-a do assédio de um “espírito de enfermidade” (Lc 13:10/13).

Estando Jesus pela região de Tiro e Sidon, uma mulher cananeia lhe pediu ajuda para sua filha que estava terrivelmente endemoniada. Apesar da oposição dos discípulos, ela, com rogos insistentes, seguia Jesus pelo caminho, demonstrando a grande confiança que tinha de que ele lhe poderia curar a filha. Quando o Mestre informou que só fora até ali em busca das “ovelhas perdidas da casa de Israel”, com humildade ela reconheceu não ter maior merecimento, mas perseverou no pedido, argumentando com inteligência: “Sim, senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”, conseguindo, enfim, o atendimento pleiteado (Mt 15:21/28).

Cenas instrutivas encontramos no Evangelho, com Marta e Maria, irmãs de Lázaro. Jesus amava essa família e várias vezes esteve com eles em Betânia, onde moravam. Ali, certa vez, se encontrava hospedado e Maria, assentada aos seus pés, ouvia-lhe os ensinamentos. Marta, que se agitava de um lado para outro, ocupada em muitos serviços, pediu a Jesus que ordenasse a Maria fosse ajudá-la, mas ele respondeu: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada. (Lc 10: 33/42). Serve o episódio para nos alertar quanto ao equilíbrio que devemos manter entre os afazeres necessários à vida corpórea e os interesses do espírito, atendendo a uns sem descurarmos dos outros. Em outra oportunidade, Maria teve, novamente, o destaque e a aprovação de Jesus por seu agir. Foi após a ressurreição de Lázaro e pouco antes da última páscoa do Senhor. Lázaro e suas irmãs recepcionavam Jesus com uma ceia e Maria ungiu com bálsamo de nardo puro, mui precioso, os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. A casa toda se encheu do perfume.

Judas Iscariotes, um dos discípulos, comentou que teria sido melhor vender o caro erfume e doar seu valor aos pobres, ao que lembrou Jesus: os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes (Jo 12-1/8).
Jesus afastara de um homem o espírito que o deixava mudo e deu explicações sobre como exercem os invisíveis a ação perturbadora. Admirando-lhe a capacidade e o valor de seu ensino, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou: Bemaventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! Esse jeito popular de aplaudir e exaltar a quem se admira, ainda é encontrado em alguns povos (Lc 11:27/28). Jesus respondeu:

“Antes bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”, porque o
que nos confere mérito espiritual não são os feitos de outros, mas os nossos próprios
atos. A cada um é dado segundo as suas obras.

No gazofilácio, onde se recolhiam as ofertas destinadas aos serviços do templo e as oferendas, pobre viúva depositara duas pequenas moedas. Sua doação foi imediatamente destacada por Jesus aos olhos dos discípulos, esclarecendo que os outros haviam ofertado do que lhes sobrava, enquanto ela, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento. Da sábia observação de Jesus, aprendemos que o valor de uma dádiva é tanto maior quanto a mais se renuncia para poder doar (Mc 12:42, Lc 21:2/4).

Caminhando para o Gólgota, sob o peso da cruz, seguido por grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam no peito, e o lamentavam, Jesus ainda encontrou forças para alertá-las e aconselhar:

Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos
filhos. E visualizando o futuro, quando a cidade de Jerusalém seria sitiada e invadida
pelos  romanos, continuou: Porque dias virão em que se dirá: bem-aventuradas as estéreis, que não geraram nem amamentaram.

Nesses dias dirão aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que será no lenho seco (Lc 23: 27/32)? Jesus era madeiro verde, a “videira verdadeira”, estava pleno de vitalidade espiritual.

Se sofria, era para o cumprimento de sua santa missão. E o fazia exemplificando
serenidade, não violência. Quando ressurgisse glorioso, testemunharia a imortalidade.
Os que o observavam e ainda não tinham aderido à sua mensagem vivificadora, eram lenho seco, sem maior vivência espiritual. Prosseguiriam errando no seu agir comum, acarretando para si mesmos merecidas dores e sofrimentos.

Examinando as mulheres do Evangelho, é preciso destacar, ainda, a admirável figura da samaritana, que mereceu de João quase todo o capítulo 4 do seu relato e à qual dediquei o capítulo 2 de meu livro Na luz do Evangelho. Já ao início do seu diálogo com Jesus, notamos que, apesar de estranhar que ele, sendo judeu, dirija a palavra a ela, uma samaritana, pois usualmente não eram amigáveis as relações entre judeus e samaritanos, essa mulher de mente ampla não se nega à conversação.

Ao ouvir Jesus falar que lhe poderia dar “água viva”, comenta, observadora, que ele não tem com que tirar água do poço, que é fundo, mas demonstra estar aberta para novas possibilidades, indagando, curiosa, onde teria ele a água que lhe oferece.

Anuncia-lhe o Mestre que a água que der passará a jorrar na pessoa como fonte para a vida eterna. É que o conhecimento espiritual, quando adquirido, faz-se base inicial de compreensão que abrirá, para a pessoa, perspectivas admiráveis e cada vez mais amplas quanto à vida imortal. A samaritana ainda não alcança o inteiro sentido da afirmativa de Jesus, mas, raciocinando de modo prático, pede para receber daquela  água e, assim, não ter mais sede, nem precisar ir ao poço para buscar o líquido precioso. Jesus, então, revela algo de suas possibilidades espirituais, demonstrando conhecer-lhe a vida, mesmo nunca a tendo encontrado antes. Por esse sinal, ela lhe percebe a qualidade de “profeta”, de ser um porta-voz do Alto. E, ante alguém com poderes especiais, essa samaritana, revelando admirável desprendimento, não solicita nada material, mas pede que lhe esclareça quanto a algo espiritual: a adoração a Deus. E Jesus ensina não haver um lugar físico especial para isso, pois Deus é espírito e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade, isto é, em ação espiritual e sincera. Eu sei que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier nos anunciará todas as coisas... A afirmativa que a samaritana faz parece soar como tímida e indireta pergunta: És o Messias?

Deve ter sido por isso que Jesus, que geralmente se ocultava, para se proteger de eventuais adversários, a ela se revela confi ante: Sou eu, o que fala contigo. Chegam os apóstolos e o diálogo se interrompe, mas, fraterna, a samaritana pensa nos outros de sua comunidade e vai até eles, procurando interessá-los para que também conhecessem Jesus e ouvissem sua mensagem. E conseguiu bom êxito, pois, atraídos pelo seu testemunho, muitos samaritanos saíram da cidade e foram ter com Jesus, e muitos acreditaram nele.

Quando Jesus foi crucificado, com exceção de João, os demais apóstolos lá não estavam, haviam se escondido, receosos de perseguição. Mas seguiam-no, fiéis, as mulheres que, desde a Galiléia, o acompanhavam e serviam, e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele para Jerusalém (Mc 15:40/41 e 45, e Lc 23:49).

Elas viram quando Jesus foi colocado no túmulo cedido por José de Arimateia e se retiraram para preparar aromas e bálsamos necessários ao preparo do corpo para o sepultamento, o que fariam no domingo de manhã (Lc 23:55/56). Foram elas as primeiras que deram com o túmulo vazio, ali viram os mensageiros espirituais, deles ouvindo a notícia feliz: Ele não está aqui, mas ressuscitou, e levaram aos apóstolos o primeiro alerta sobre a ressurreição de Jesus, embora os apóstolos não lhes dessem crédito, porque tais palavras lhes pareciam um como delírio” (Lc 24:1/11). Madalena, que viu o Mestre  ressurgido e com ele falou, conseguiu atrair Pedro e João ao túmulo para que  constatassem que não estava mais ali (Jo 20: 1/18) e, certamente, transmitiu a eles a orientação que Jesus lhes mandara dizer. Depois, o próprio Mestre começou a aparecer e se materializar ante apóstolos e discípulos, em várias ocasiões e locais, ao longo de quarenta dias, até que se despediu, elevando-se à vista de todos e se desmaterializando, deixando, porém, consolidada neles a certeza da sua imortalidade e de que continuaria a assisti-los pessoalmente e pela presença do Paráclito, através dos tempos.

Como vemos, do começo ao fim de sua sublime missão, Jesus contou com a presença e cooperação de muitas mulheres, que o entenderam e seguiram fiéis, ficando imortalizadas nas páginas dos evangelistas e na lembrança e respeito de todos nós.

Therezinha Oliveira é expositora e escritora

ICEB - Instituto de Cultura Espírita do Brasil / Ano IV - no 38 - Março / 2012


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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

TRATAR OU NÃO TRATAR: EIS A QUESTÃO


Adilson Mota

Mais uma vez a necessidade nos chama a abordar um tema com vistas à análise das palavras de Kardec e de Jesus com relação a tópicos que, ao longo do tempo, geraram uma interpretação equivocada nascida muito mais do  ouvir dizer  do que propriamente do estudo das obras espíritas.

Afinal, um centro espírita pode se dedicar ao tratamento de doenças físicas? As opiniões são opostas e esquecemos de perguntar o que fala a Doutrina Espírita sobre isso, a despeito do que pensamos.

Analisemos primeiramente os argumentos daqueles que defendem que centro espírita só deve tratar as doenças morais.

Observam, estes argumentadores, que as nossas doenças são causadas pelo desequilíbrio do Espírito, ou seja, uma consequência dos nossos sentimentos e pensamentos dessintonizados com o bem. Desta forma, segundo eles, devemos realizar a nossa reforma íntima, pois esta, sendo alcançada, reabilitará a nossa saúde física.

Sendo assim, o centro espírita não deve realizar tratamentos de enfermidades orgânicas, devendo se preocupar apenas em dar orientação moral e espiritual às pessoas.

Pois bem! Sabemos que o encarnado é composto de três partes, espírito, perispírito e corpo físico, e que os três agem e reagem continuamente um sobre os outros causando bem estar ou desarmonia. Apesar da assertiva acima ser verdadeira, sabemos também que existem doenças que têm a sua origem no organismo físico. Tais são as doenças causadas pela fome, pela falta de higiene, pelos efeitos colaterais de determinados medicamentos ou pelo seu uso indiscriminado, por acidentes, por maus tratos corporais, por condições insalubres de vida e de trabalho, por drogas lícitas ou ilícitas, etc.

Existem também aquelas que surgem devido ao acúmulo de fluidos deletérios provenientes de Espíritos obsessores e que, em se demorando a causa, acaba se revertendo em doença nos órgãos físicos.

Todas estas doenças acontecem, é claro, seguindo leis universais criadas pela Divindade e que alcançam o indivíduo atendendo a certos padrões de necessidade evolutiva, cármica ou provacional.

No livro  Paulo e Estevão,  o Espírito Emmanuel diz, reproduzindo a fala do apóstolo Paulo a Lucas que era médico: “Sempre acreditei que a medicina do corpo é um conjunto de experiências sagradas, de que o homem não poderá prescindir, até que se resolva a fazer a experiência divina e imutável, da cura espiritual.”
Isto é correto e corrobora com as lições kardequianas, ou seja, a cura definitiva da alma trará como consequência a cura do corpo físico. Além disto, as pesquisas de vanguarda têm mostrado o quanto os sentimentos de egoísmo, orgulho, prepotência, além do descontrole emocional, deprimem o nosso sistema imunológico deixando o nosso organismo propenso ao ataque de microorganismos causadores das mais diversas doenças, como também, tais desequilíbrios da alma acarretam problemas nos centros vitais os quais passarão a carrear fluidos em padrões desarmônicos para o corpo físico, gerando as disfunções.

Contudo, não significa que devemos cruzar os braços diante da doença sem buscarmos os recursos necessários para a sua solução, pois Paulo também afirma que, por enquanto, necessitamos do auxílio da medicina do corpo e entendo esta como sendo todas as terapias que objetivam a cura de moléstias orgânicas, incluindo o Magnetismo. Há aqueles que afirmam não receber passes pois que devese, em primeiro lugar, buscar a reforma íntima, ao mesmo tempo em que não se furtam ao uso das substâncias químicas recomendadas pela prática médica, a fim de reabilitar as suas funções orgânicas.

Na verdade, todas as nossas dificuldades (fome, desgostos, desemprego, etc.), não apenas as enfermidades, têm como causa primária a imperfeição da nossa alma, o que a reforma moral viria solucionar.

Devemos permanecer impassíveis diante destas necessidades também? Os Espíritos nos orientam à resignação, mas não à estagnação. Até por que, muitas vezes, as dificuldades têm também o propósito de exercitar as nossas faculdades espirituais e intelectuais, proporcionando o seu desenvolvimento através da busca e da aplicação de soluções.

Voltemos à proposta inicial. Como ficam então os nossos irmãos que chegam à casa espírita solicitando ajuda para curar-se das suas enfermidades orgânicas? Devemos dizer-lhes que não podemos ajudá-los pois ali só se fornece a orientação moral para a transformação da sua alma?

Se assim fosse, deveríamos fechar os olhos também para a necessidade daqueles que tremem de frio pedindo um cobertor, dos que sentem fome e pedem um pedaço de pão e de todos os demais que solicitam ajuda material no centro espírita. Deveríamos acabar com as campanhas do agasalho, campanhas de arrecadação de alimentos e todos os movimentos filantrópicos que visem a arrecadação de ajuda material aos necessitados. Das preces realizadas na instituição espírita, devemos excluí-los, pedindo apenas pela sua reforma moral.

Seria absurdo se fizéssemos isto, muitos dirão. Concordo com estes, seria absurdo. Porém, há tanta diferença assim entre matar a fome de alguém e curar a sua doença?
Jesus disse: Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; – porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; – estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver. Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? – Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? – E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? – O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes. (S. MATEUS, 25:34-40)

Jesus, no trecho acima, se refere à caridade material como um dos meios de se alcançar o Reino dos Céus, ou seja, a salvação. Ao longo do Evangelho há diversas narrativas de curas realizadas por Jesus em cegos, mudos, paralíticos, surdos. Não deixou Ele de exemplificar às multidões como deveria ser a sua conduta, passaporte para este Reino de paz e felicidade, entretanto, nunca deixou escapar uma oportunidade de auxiliar a quem quer que fosse, seja ouvindo, esclarecendo ou curando as suas limitações físicas. Ao final complementava com o “vais e não peques mais”, somando a caridade material com a caridade da orientação moral necessária à evolução do Ser.

O fato de que o Espírito é o responsável maior pelo que ocorre no nosso organismo físico não pode servir de justificativa para a acomodação e a falta de caridade, achando-se alguém dispensado de auxiliar o próximo nas suas necessidades imediatas por pensar que se deve apenas orientá-lo.

Alguns argumentam que não se deve tratar doenças físicas pois se a causa vem do Espírito imperfeito, qualquer cura será temporária, pois a doença reincidirá, já que só foi tratada a consequência, ou seja, a expressão física da verdadeira doença. É preciso esclarecer, primeiramente, que o tratamento magnético não dispensa o tratamento moral através do estudo da Doutrina Espírita. Em segundo lugar, não se pode afirmar que a doença física retornará até por que não sabemos o grau de implicação cármica da mesma, nem até quando deve o doente carregar aquela enfermidade. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Espírito Bernardino respondeu da seguinte maneira à questão formulada por Kardec: Dever-se-á por termo às provas do próximo? “(…) Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas.

Grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.”  (Capítulo V, item 27)

Grifei o trecho acima para ressaltar que Deus age no homem através do próprio homem. Um paciente curado pelo Magnetismo ou pela química médica não significa que irá adoecer no futuro, visto que o médico ou o magnetizador podem ser os instrumentos de que Deus está se servindo para dizer a esta doença: daqui não passarás. E resume o Espírito, dizendo: “todos estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade”.

Este último trecho diz tudo. Ao procurar alguém a casa espírita não podemos ficar a questionar se ele vai ou não se reformar moralmente, se a doença vai ou não se instalar outra vez. Apenas devemos, por obrigação caritativa, acolhê-lo, orientá-lo, consolá-lo e envidar todos os esforços a fim de que ele possa se curar, seja qual for a sua dificuldade: orgânica, emocional, mental, espiritual ou moral. Cabe a nós plantar a semente e esta também está simbolizada na cura pelos passes, além da orientação.

Quanto à colheita e ao aproveitamento do que foi plantado, só cabe a Deus fazê-lo e ao livre-arbítrio de cada um.

Jornal Vortice ANO III, n.º 01, junho/2010  


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