“(...)
Um Espírito, que não o do médium, pode ser de ordem inferior à deste e, então,
falar menos sensatamente” (O Livro dos Médiuns, Parte II, item 223-5).
O
termo animismo não é novo, sempre permeia discussões de estudos mediúnicos nos
Centros Espíritas – mas o que é o animismo? É um mal que deve ser combatido –
como se ouve vez por outra? Pode ser desenvolvido e ser colocado a serviço do
bem? Pode ajudar no exercício mediúnico?
Animismo
é a denominação geral de todos os fenômenos psíquicos que têm por origem a
alma, ou seja, o Espírito encarnado (vide O Livro dos Espíritos, questão 134),
agente desses fenômenos. Mediunismo, por outro lado, é a designação geral de
todos os fenômenos psíquicos que têm por origem outros Espíritos (encarnados ou
desencarnados) e que se tornam perceptíveis pela ação de um médium, pessoa que
atua como “meio ou intermediário entre os Espíritos e os homens” (vide O Livro
dos Espíritos, introdução IV). Exemplos de fenômenos tipicamente anímicos são a
psicometria (percepção de fatos a partir de objetos), a leitura de pensamentos,
a pirogenia (combustão espontânea), a emancipação da alma e a clarividência.
Por outro lado, podemos citar outros tipicamente mediúnicos como: a
psicografia, a psicofonia, a possessão (ou incorporação), a pneumatografia
(escrita direta), a pneumatofonia (fala direta) e a materialização dos
Espíritos.
Existe
animismo sem mediunismo? “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em
nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de
ordinário, são eles que vos dirigem”. Esta citação é de O Livro dos Espíritos,
questão 459, a partir da qual entendemos que, de ordinário, não há fenômeno
anímico que não tenha a participação efetiva dos desencarnados, o que equivale
a dizer que o animismo puro é uma situação excepcional.
E
mediunismo sem animismo, é possível? “Dessas explicações resulta, ao que
parece, que o Espírito do médium nunca é completamente passivo? É passivo,
quando não mistura suas próprias idéias com as do Espírito que se comunica, mas
nunca é inteiramente nulo. Seu concurso é sempre indispensável, como o de um
intermediário (...)”. Essa colocação é vista em O Livro dos Médiuns, Parte II,
Capítulo XIX, item 223-10. Por ela podemos compreender que não há fenômeno
mediúnico, seja de que natureza for, que não tenha a participação, mais ou
menos forte, do médium, o que, analogamente, significa que o mediunismo puro
também é uma abstração. Em suma, o que existem são fenômenos predominantemente
mediúnicos ou predominantemente anímicos.
Essa
dificuldade de isolar os dois conceitos foi a justificativa dada por
pesquisadores para o uso do termo medianimismo, ou medianimidade, tal qual foi
citado por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XXXII como
sinônimo de mediunidade, mas “no sentido restrito”, ou seja, poderíamos dizer,
no sentido prático do fenômeno mediúnico, mostrando que esta nunca está
desvinculada do animismo.
Em
todos os acontecimentos medianímicos, indistintamente, o médium/anímico entra
num estado especial citado pelos Espíritos em O Livro dos Médiuns, Parte II,
Capítulo XIX, item 223: “No momento em que exerce a sua faculdade, está o
médium em estado perfeitamente normal?” “Está, às vezes, num estado, mais ou
menos acentuado, de crise”. Por conta da acepção negativa do termo “crise”,
modernamente, sem perda de significado, adotou-se o termo “transe”, muito
embora ainda pouco estudado. É, por definição, um movimento anímico, ou seja,
um estado pertinente ao próprio Espírito encarnado, e constitui a base
fundamental de todos os fenômenos psíquicos. Seu estudo e conhecimento seriam
de importância capital para a melhora das práticas medianímicas no Centro
Espírita. Sem buscar esgotar o assunto, vamos tratar de algumas de suas
características.
Podemos
entender o transe como uma série de alterações físicas (principalmente
nervosas) e perispirituais que permitem certo grau de emancipação da alma. Essa
fase, eminentemente anímica, antecede e predispõe o sensitivo a toda uma gama
de fenômenos psíquicos que dela dependem, sejam estes anímicos ou mediúnicos.
Uma descrição desse processo foi dada pelo Espírito Erasto em O Livro dos
Médiuns com respeito aos médiuns de efeitos físicos: “Quem deseja obter
fenômeno desta ordem precisa ter consigo médiuns a que chamarei sensitivos,
isto é, dotados, no mais alto grau, das faculdades mediúnicas de expansão e de
penetrabilidade, porque o sistema nervoso facilmente excitável de tais médiuns
lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar abundantemente, em torno
de si, o fluido animalizado que lhes é próprio”.
O
transe tem diferentes graus de profundidade, o que pode ser facilmente
verificado pelos níveis de consciência física que o médium/anímico mantém
durante a comunicação/percepção. Em O Livro dos Médiuns, Parte II, Capítulo XV,
vemos três níveis de consciência que, podemos dizer, correspondem a três níveis
de transe. O superficial distingue-se pouco do estado normal e corresponde à
mediunidade intuitiva. O intermediário ou mediano permite que o Espírito que se
comunica traga algumas de suas características com a contrapartida da perda
parcial de consciência por parte do médium, correspondendo à mediunidade
semi-consciente, ou semi-mecânica no caso específico da psicografia. O nível
profundo de transe – mais raro hoje em dia – viabiliza uma percepção quase
completa de anulação da personalidade do médium e da presença do comunicante, o
que verificamos pela mudança de letra na psicografia, da voz na psicofonia, dos
gestos na possessão (ou incorporação), permitindo, por exemplo, a passagem de
detalhes e datas, bem como comunicação por meio de línguas estranhas ao médium.
Observamos, também, no nível mais profundo, a perda total de consciência física
por parte do médium, correspondendo à mediunidade inconsciente, sonambúlica ou
mecânica.
A
origem do transe pode ser também variada, podendo este ser provocado ou
natural. Dizemos que o transe é provocado quando a causa principal de seu
acontecimento não reside na própria alma – por exemplo, por efeito de ação
magnética, de ação de Espíritos desencarnados ou do uso de algumas drogas
(neste último caso, desequilibrado, imperfeito, perigoso e inútil em função do
entorpecimento gerado). Natural quando nasce da concentração do Espírito
encarnado numa direção bem definida, em atitudes naturais da vida, ou sob seu
direto controle. Recomendamos fortemente o estudo detido da obra: “Transe e
mediunidade” para maiores esclarecimentos (ver recomendações bibliográficas ao
fim).
Será
que animismo e mediunismo podem andar de mãos dadas? Dia 01/10/2005, no Centro
Espírita Cristófilos, no Rio de Janeiro, o Espírito Ayres de Oliveira nos
trouxe essa reflexão, situando o movimento anímico como importante para a
qualidade da prática mediúnica: “É de fundamental importância que compreendam,
de forma correta, as fases por que passam todos vocês em uma reunião como essa.
Podemos dividi-las em três: preparação, busca e vibração. (...) A próxima fase
é a da busca, ou a fase predominantemente anímica, é aquela que deve ser melhor
desenvolvida ainda se quisermos dar maior ganho à reunião. O foco da maioria
dos problemas que se observa nos médiuns está nesta fase. Este momento é o do
movimento da alma do médium encarnado. Ele, na hora que um nome é chamado, deve
fazer um movimento de ir buscar, no Plano Espiritual, as causas e as
circunstâncias que envolvem a pessoa que foi chamada. (...) Com esse movimento
anímico de todos vocês, o canal para que possamos trazer os Espíritos até aqui
torna-se muito mais simples e os médiuns tornam-se muito mais preparados para o
exercício da sua função”.
A
Casa Espírita está preparada para lidar com o animismo? Deveria, mas
aparentemente não é esse, infelizmente, o caso geral. Muito se tem ouvido, nos
Centros Espíritas, que o animismo é um mal que precisa ser extirpado e as
percepções anímicas em suas reuniões condenadas, perdendo-se, assim, não apenas
a possibilidade do uso racional do animismo como da melhora do próprio
mediunismo. Trabalhos interessantíssimos com o uso das potencialidades anímicas
podem ser desenvolvidos e colocados a serviço das pessoas, tais como os citados
nas obras “Laudos espíritas da loucura” e “Evocando os Espíritos” (vide
recomendações bibliográficas). Por que não fazê-lo? A questão é de suma
importância e merece a reflexão de todos nós.
Para
aqueles que ainda pensam no animismo como um mal, resta-nos recorrer à obra A
Gênese, de Allan Kardec, em seu Capítulo XV, item 2, onde o maior anímico de
todos os tempos é apresentado: “Agiria [Jesus] como médium nas curas que
operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o
médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos
desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia
os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem
fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito,
ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os
transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir.
Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.”
Finalmente,
para mais esclarecimentos sobre o assunto, são recomendados, em ordem, os
títulos a seguir:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos, LAKE.
2. KARDEC, Allan. O Livro dos
Médiuns, LAKE.
3. PALHANO, Lamartine (Jr.).
Transe e mediunidade, Lachâtre.
4. AKSAKOF, Alexander. Animismo e
Espiritismo (2 volumes), FEB.
5. BOZZANO, Ernesto. Animismo ou
Espiritismo?, FEB.
6. PALHANO, Lamartine (Jr.).
Laudos espíritas da loucura, Lachâtre.
7. PALHANO, Lamartine (Jr.).
Evocando os Espíritos, Lachâtre.
8. SCHUBERT, Suely Caldas. Os
poderes da Mente, EBM Editora.
9. DELANNE, Gabriel. A evolução
anímica, FEB.
10. BOZZANO, Ernesto. Os enigmas
da psicometria, FEB.
11. BACELLI, Carlos A.;
FERNANDES, Odilon (Espírito). Mediunidade e Animismo, LEEP.Fonte;
espiritismo.net
Leitura Recomendada;
A
MEDIUNIDADE
NOVO ESTUDO
COM MÉDIUNS OBTÉM FORTÍSSIMAS EVIDÊNCIAS DA SOBREVIVÊNCIA DA ALMA
MEDIUNIDADE
NO TEMPO DE JESUS
MÉDIUNS DE
ONTEM E DE HOJE
EVOLUÇÃO E
MEDIUNIDADE
INTELIGÊNCIA
E MEDIUNIDADE
PROCESSOS
DA MEDIUNIDADE
MÉDIUNS
CURADORES
A
MEDIUNIDADE DE SANTA BRÍGIDA
DIVULGAÇÃO
DE MENSAGENS MEDIÚNICAS
ESTUDOS DA
MEDIUNIDADE ANTES DA CODIFICAÇÃO KARDEQUIANA
MEDIUNIDADE
NA BÍBLIA
TRANSE E
MEDIUNIDADE
O FENÔMENO
MEDIÚNICO
MEDIUNIDADE,
ESTUDO CLÍNICO
A EDUCAÇÃO
DO MÉDIUM
A
MEDIUNIDADE, POR LÉON DENIS
MEDIUNIDADE
E ANIMISMO
MESMER FALA
SOBRE MEDIUNIDADE E MAGNETISMO
O FENÔMENO
MEDIÚNICO
MEDIUNIDADE
CURADORA
PALAVRAS DO
CODIFICADOR - MEDIUNIDADE CURADORA