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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO JEAN-JACQUES ROUSSEAU


Seu nome é lembrado toda vez que ocorrem estudos biográficos do Codificador. Jean Henri Pestalozzi, o educador atento e homem íntegro, assimilou o pensamento de Rousseau, a partir do contato que teve com a sua obra capital: Émile ou de l'Éducation. E foi por intermédio de Yverdun e de Pestalozzi que Rivail abeberou-se na doutrina da natureza de Rousseau.

Esse homem estranho, que tem seu nome estreitamento ligado à área pedagógica, foi romancista, memorialista, teórico social e político e um ideólogo.

Nascido em Genebra, na Suíça, a 28 de junho de 1712, até os seus 38 anos, era conhecido apenas como músico. Órfão de mãe ao nascer, com apenas 10 anos de idade foi entregue aos cuidados de um pastor, em Bossey, retornando a sua cidade natal dois anos depois e ali, foi aprendiz de gravador.

Peregrinando entre a Suíça e a França, tornou-se professor de música em Lausanne e Chambéry, e aos 19 anos, deslumbrou-se com a capital parisiense. Conseguindo quem o amparasse, na qualidade de protetores, entre os quais Mme. de Warens, da cidade de Chambéry, chegou a acompanhar o embaixador da França a Veneza, na qualidade de secretário.

Dedicado à música, teve recusado seu projeto de uma nova notação musical, apresentado na Academia de Ciências, em Paris. O sucesso musical seria alcançado em 1750, quando foi premiado, pela Academia de Dijon, o seu ensaio, Discurso sobre as ciências e as artes. A partir daí, suas novas produções teatrais e musicais são melhor acolhidas. No Discurso premiado, Rousseau responde à pergunta proposta pela Academia de Dijon, em concurso: se o progresso das ciências e das letras concorreu para corromper ou depurar os costumes, onde afirma a primeira alternativa. Foi um contestador da sociedade tal como era organizada.

Quatro anos depois, no seu Discurso sobre a desigualdade entre os homens, afirmaria que a desigualdade e a injustiça eram os frutos de uma hierarquia mal constituída, que a organização social não corresponde à verdadeira natureza humana, corrompendo-a e sufocando o seu potencial.

No campo da música Rousseau escreveu a ópera-balé As musas galantes e a ópera cômica, O adivinho da aldeia.

Foi amigo dos enciclopedistas, entre os quais Diderot e Grimm, com os quais romperia mais tarde, tornando-se objeto de hostilidades tanto do governo como dos seus ex-amigos enciclopedistas, chegando a ter sua prisão decretada, o que o fez refugiar-se na Suíça, depois na Inglaterra.

Rousseau foi a mais profunda influência sobre o pré-romantismo, encontrando-se os traços dessa influência no romantismo francês de Chateaubriand, Lamartine e Victor Hugo, bem assim inspirou personagens de Goethe, de Foscolo, bem como personagens de Byron. Seu romance de amor, A nova Heloísa, publicado em 1761 teve um sucesso extraordinário. Ao mesmo tempo romance filosófico, exalta a pureza em luta contra uma ordem social corrompida e injusta. Descreve um amor irrealizado. Possivelmente o retrato do que ele mesmo viveu.

No ano seguinte, surgiram suas obras mais discutidas: Do contrato social e Emílio ou da Educação. Na primeira, Rousseau apresenta o Estado ideal como resultante de um acordo comum entre os seus membros. Para esse acordo, faz-se necessário se estabeleçam obrigações. Para se tornarem cidadãos, os indivíduos devem ceder algumas de suas prerrogativas. A vontade geral, que é a da coletividade, é a que deve prevalecer. É um Estado que garante os direitos dos cidadãos.

Em Emílio, em forma romanesca, Rousseau imagina a educação de um jovem. É o processo da formação do indivíduo, que deveria ser ensinado a ver com "os próprios olhos". Afirmava ali, o pedagogo francês: "... a educação do homem começa no seu nascimento; antes de falar, antes de escutar, ele já se instrui. A experiência precede as lições; no momento em que ele conhece a sua ama de leite, ele já adquiriu muito."

Se considerarmos a idéia da pré-existência da alma e o Espírito reencarnante presente no processo gestatório, desde a fecundação, o pensamento de Rousseau ganha maior significado. Para ele, a educação é um processo espontâneo, natural, particularizando a necessidade do contato com a natureza. Mais do que conhecer, o ser necessita ser capaz de discernir.

A respeito de Deus, na última parte da obra, resume Rousseau: "Esse Ser que quer e que pode, esse Ser, ativo por si mesmo, esse Ser, enfim qualquer que seja, que move o universo e ordena todas as coisas, eu o chamo Deus. Acrescento a esse nome as idéias reunidas de inteligência, de poder, de vontade, e a de bondade, que é uma conseqüência necessária; apesar disto não conheço melhor o Ser que assim classifico; ele se furta, tanto aos meus sentidos como ao meu entendimento; quanto mais penso nele, mais me confundo; sei com muita certeza que ele existe, e que existe por si mesmo; sei que minha existência é subordinada à sua, e que todas as coisas que conheço se encontram absolutamente no mesmo caso. Percebo Deus por toda parte em suas obras; sinto-o em mim, vejo-o à minha volta; mas tão logo quero contemplá-lo em si mesmo, tão logo quero procurar onde está, o que é, qual a sua substância, ele me escapa, e meu espírito perturbado não percebe mais nada."

A sua obra mais delicada e de emoção mais tranqüila, denomina-se Devaneios de um passeante solitário. Referir-se-ia porventura, o escritor à sua breve passagem pela Terra? Exatamente à transitoriedade da encarnação? Ao escrevê-lo já se encontra enfermo, mas ainda sensível à beleza natural da vida. Queixa-se da incompreensão de todos, afirma-se amigo da Humanidade desprezado pelos homens e dá uma imagem idílica da natureza. É seu testamento final. O dia 2 de julho de 1778 assinala o término da sua jornada terrena na personalidade de Jean-Jacques Rousseau. Contava 66 anos de idade.

Na Doutrina Espírita, que surgiria na Terra, quase 80 anos depois, Rousseau teria saciada sua fome e sede de justiça, igualdade e conhecimento. Eis como ele se expressa em mensagem inserida em O Livro dos Médiuns, pelo Codificador: "Penso que o Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos.

Explica, mais do que desvenda, horizontes novos.

A reencarnação e as provas, sofridas antes de atingir o Espírito a meta suprema, não são revelações, porém uma confirmação importante. Tocam-me ao vivo as verdades que por esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente _ meio _ porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira.

Ressuscitando o espiritualismo, o Espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se elevarem para o Ente supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas criaturas."
   
Fontes de consulta:

Kardec, Allan. O livro dos médiuns. FEB, 1986. pt. 2, cap. XXXI, item 3.
Rivail, Hippolyte Léon Denizard. COMENIUS, 1998.
Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 18.
Moreil, André. Vida e obra de Allan Kardec. EDICEL, 1986.
Incontri, Dora. Pestalozzi, educação e ética. SCIPIONE, 1996.

 Fonte; JORNAL MUNDO ESPÍRITA - MARÇO DE 2001

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sábado, 12 de julho de 2014

SÍNTESE DA CRIAÇÃO DA VIDA


 Jorge Andréa
  
     São motivos de discussões e interpretações a tal almejada questão sobre à criação da vida. Apresentações e teorias científicas ainda oscilam em explicações sem oferecerem as tão aguardadas soluções.

     É teoria quase geral que a criação da vida teve início nos mares quentes do Planeta, quando, em priscas eras, ainda se encontrava em adaptações climáticas. A pesquisadora Lelia Coyne, em estudos e experiências, concluiu que a vida despontou em determinado momento em vários pontos da Terra em características próprias.

     Pietro Ubaldi, em A Grande Síntese, nos apresenta uma hipótese sedutora, pela coerência monística, onde a substância única foi o resultado da forte explosão inicial (Big-Bang). Podemos caracterizá-la, no dizer dos físicos, como sendo um plasma quântico, em cujas expansões carrega todas as potencialidades que se mostram até nas ínfimas partículas de sua constituição.

     A teoria em pauta, de uma substância única formadora de muitas posições dimensionais, alcançaria em nosso planeta sua densificação máxima na matéria; esta carregaria consigo, em sua essência, a totalidade da substância, isto é, os potenciais existentes nos campos da energia e os específicos do espírito. Desse modo, a substância teria em suas mais íntimas condições um aspecto trino, que poderia mostrar-se, ora como a matéria, ora nos campos das energias e ora com a especificidade da energética espiritual.

     O primeiro elemento químico, o hidrogênio (H), portador de um único elétron em sua órbita, à medida que se vai desenvolvendo a evolução no campo material, novos elementos vão surgindo, tal como se seguem com a chegada de novos elétrons, obedecendo a famílias bioquímicas bem caracterizadas, até o elemento urânio, com 92 elétrons em sua órbita.

     A energia inicial (gravitação), resultante das irradiações do urânio e outros elementos de sua própria classe, se mostrará com ondas de freqüência bastante acentuada, pelo avanço e respectivas vivências apropriadas desta fase, e se vai transformando em novos campos energéticos. Assim, teremos, respectivamente, a energia de gravitação, seguindo-se a radioatividade (raios X), radiações químicas (ultravioleta), luz (aspecto visível), infravermelho e eletricidade em ondas de freqüências variáveis, correspondendo ao final das formas dinâmicas.

     Por tudo, podemos dizer que a substância com sua essência de totalidade (aspecto trino), expressa-se na dimensão-tempo e, no campo espiritual, na dimensão consciência.

     Dando um salto ao passado, no século sexto a.C., Buda ( o iluminado ) já tinha traçado para o homem um código de libertação, baseado em quatro verdades, como condição de ascensão espiritual.

     Dizia que o fato estava no sofrimento causado pelo desejo, porém o remédio estaria num processo de libertação, cujo modo encontrava-se na meditação, a fim de buscar a sublimação. A meditação seria condição ativa, um autêntico processo introspectivo de análise do comportamento do ser, a fim de alcançar o conhecimento do SI (estrutura psicológica individual).

     É na compreensão da vida e no desenvolvimento de um autêntico estado de amor, com desapego, embora podendo trafegar nos mecanismos vitais sem ser possuído pelas coisas materiais, que haveria uma espécie de plenificação da consciência a refletir-se em um estado de sublimação.

     Os impulsos da vida com novos e iluminados valores, despontam no advento da Doutrina Espírita que encontrou, na capacidade de Allan Kardec, a personalidade que soube retificar e iluminar as ideias de seu tempo, envolvidas na herança filosófica de conteúdo moral de J.J. Rousseau e, principalmente, de seu mestre Pestalozzi, de quem colheu, cultivou e ampliou os mais belos conceitos educacionais.

     O mestre Allan Kardec, poliglota, professor e bom conhecedor das ciências humanas, em plena maturidade e experiência de vida, soube oferecer para os dias futuros a pureza do código crístico com o elemento indispensável ao ideário monístico, propiciando acentuado avanço da psicologia que, nos dias atuais, está se transferindo para o modelo transpessoal após atravessar as fases do comportamento da psicanálise e da humanística.

     Com esta visão evolutiva percebemos, através das variadas civilizações que conviveram com suas próprias idéias filosóficas, os reflexos de suas construções de pensamento. O Edito, da época pré-cristã, demarcou no homem o culto da imortalidade. A Grécia, principalmente no século de Péricles, retratou no homem o estado devocional, enquanto que a civilização romana formava o cidadão

     No desfile do tempo, a Idade Média criou o cristão submisso ao lado de suas raízes escravocratas. Com conceitos da época iluminista, desponta o gentil-homem diante da criação de uma nova sociedade exigente de requintes e afetado maneirismo, tentando fortificar uma preconceituosa realeza que iniciava seu apagamento.

     No momento de sua nova condição, saberá avaliar e buscar o Cristo-Cósmico nos arcanos do seu psiquismo e, em dignificantes realizações, participará de um amor firme e qualificado em suas naturais e nobres expressões, definindo a vivência de um estado cosmocrático.


Fonte; Correio Espírita


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terça-feira, 20 de novembro de 2012

RIVAIL E O MAGNETISMO


O magnetismo animal, também conhecido por mesmerismo, visto ter sido Franz Anton Mesmer, doutor pela Universidade de Viena, o seu célebre renovador nos tempos modernos, esteve em voga nos fins do século XVIII, adquirindo maior impulso na primeira metade do XIX. Na França, sobretudo, sumidades médicas e ilustres prelados confirmavam a veracidade dos fenômenos magnéticos, principalmente no que diz respeito a curas psíquicas, a diagnósticos e prescrições terapêuticas fornecidos por sonâmbulos, com quem igualmente se observavam incontestáveis fatos de clarividência ou lucidez, de visão a distância, de visão através de corpos opacos, de previsão etc.

Pouco depois que o jovem discípulo de Pestalozzi chegou a Paris, teve a sua curiosidade despertada para o magnetismo animal, a que o marquês de Puységur, juntamente com d'Eslon, professor e regente da Faculdade de Medicina de Paris, e com o sábio naturalista Deleuze, haviam imprimido nova feição, ao modificarem os métodos de Mesmer, disso resultando na descoberta do sonambulismo provocado. Rivail refere-se elogiosamente a esses magnetistas franceses, colocando ao lado deles os nomes de dois outros grandes vultos: o barão Du Potet e o sr. Millet.

A iniciação de Rivail nesse novo ramo dos conhecimentos humanos deu-se aproximadamente em 1823, segundo ele próprio o afirmou. E nos anos que se seguiram aplicaria parte do seu tempo, mas sem prejuízo de suas tarefas educacionais, no estudo criterioso e equilibrado, teórico e prático, de todas as fases ou graus do sonambulismo, testemunhando muitos prodígios provocados pela ação do agente magnético. Suas leituras não se circunscreveram às obras favoráveis ao magnetismo. No propósito de aquilatar o valor das objeções, leu, igualmente, conforme frisou na página 277 da Revue Spirite de 1858, grande número de livros contra essa ciência, “escritos por homens em evidência”.

O barão Du Potet, que mais tarde seria amigo dos espíritas, tornara-se desde 1825 o chefe da escola magnética na França, tendo ido mais longe que seus predecessores na aplicação do magnetismo à terapêutica. Este justamente o lado que mais impressionou a Rivail, que com o tempo pôde inteirar-se bem da força magnética que todos os seres humanos possuem em graus diversos, vindo a ser, ele próprio, “experimentado magnetizador”, segundo escreveu seu amigo pessoal e discípulo Pierre-Gaëtan Leymarie, na Revue Spirite de 1871. Este valoroso espírita lembraria ainda, pela Revue Spirite de 1886, página 631, que o mestre lionês conheceu as pesquisas do padre português José Custódio Faria (o abbé Faria dos franceses) e lhe rendia as devidas homenagens. O padre Faria, iniciado nas práticas do Magnetismo pelo marquês de Puységur, a quem dedicou seu livro De la cause du somneil lucide, ou étude de la nature de l'homme (1819), considerando-o seu mestre, foi o precursor do hipnotismo de Braid. Lecionou em liceus e academias de várias cidades francesas.

Despido dos preconceitos dominantes na época, o padre Faria pôs por terra o caráter sobrenatural com que a Igreja cercava o magnetismo, iniciando em 1813 as suas concorridas conferências na rua de Clichy (Paris), seguidas de demonstrações práticas.

A Igreja condenava o Magnetismo. Tudo provinha da ação de fluidos de origem infernal. Um teólogo francês escreveu que “o sonambulismo e o magnetismo eram sobrenaturais e diabólicos, anticristãos, anticatólicos e antimorais”. O padre Faria estudou as práticas magnéticas e convenceu-se da inanidade de tais interpretações. Crente e padre, não teve dúvida em afrontar as iras dos teólogos do seu tempo, para afirmar que nada havia de sobrenatural em tais fenômenos e que o sono hipnótico era, afinal, uma “modalidade da sugestão.” (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira , Lisboa – Rio de janeiro, vol. X, p.919)

Diz Anna Blackwell, no prefácio à sua tradução inglesa (1875) de O Livro dos Espíritos, que Rivail tomou parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris, a mais importante da França. Ele, porém, ficaria eqüidistante das rivalidades doutrinárias que haviam surgido entre os magnetizadores parisienses. Soube fazer amigos nessa e naquela corrente de idéias, e um deles, o magnetizador Fortier, a quem conhecia desde muito tempo, foi quem, em 1854, lhe falaria pela primeira vez das chamadas mesas falantes.

Tendo, assim, adquirido sólidos conhecimentos de magnetismo, ciência que ele mais tarde, em diferentes ocasiões, demonstrou possuir em profundidade ao elaborar o corpo doutrinário do Espiritismo, foi capaz de perceber, logo ao início de suas observações pessoais junto às mesas girantes e falantes a íntima solidariedade entre o Espiritismo e Magnetismo, o que o levaria a afirmar: “Dos fenômenos magnéticos do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas, não há senão um passo; sua conexão é tal, que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar do ouro.”

(WANTUIL, Zeus e THIESEN, Francisco. ALLAN KARDEC. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Vol. I, cap. 17. P. 102 a 105)



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