Esse
homem estranho, que tem seu nome estreitamento ligado à área pedagógica, foi
romancista, memorialista, teórico social e político e um ideólogo.
Nascido
em Genebra, na Suíça, a 28 de junho de 1712, até os seus 38 anos, era conhecido
apenas como músico. Órfão de mãe ao nascer, com apenas 10 anos de idade foi
entregue aos cuidados de um pastor, em Bossey, retornando a sua cidade natal
dois anos depois e ali, foi aprendiz de gravador.
Peregrinando
entre a Suíça e a França, tornou-se professor de música em Lausanne e Chambéry,
e aos 19 anos, deslumbrou-se com a capital parisiense. Conseguindo quem o
amparasse, na qualidade de protetores, entre os quais Mme. de Warens, da cidade
de Chambéry, chegou a acompanhar o embaixador da França a Veneza, na qualidade
de secretário.
Dedicado
à música, teve recusado seu projeto de uma nova notação musical, apresentado na
Academia de Ciências, em Paris. O sucesso musical seria alcançado em 1750,
quando foi premiado, pela Academia de Dijon, o seu ensaio, Discurso sobre as
ciências e as artes. A partir daí, suas novas produções teatrais e musicais são
melhor acolhidas. No Discurso premiado, Rousseau responde à pergunta proposta
pela Academia de Dijon, em concurso: se o progresso das ciências e das letras
concorreu para corromper ou depurar os costumes, onde afirma a primeira
alternativa. Foi um contestador da sociedade tal como era organizada.
Quatro
anos depois, no seu Discurso sobre a desigualdade entre os homens, afirmaria
que a desigualdade e a injustiça eram os frutos de uma hierarquia mal
constituída, que a organização social não corresponde à verdadeira natureza
humana, corrompendo-a e sufocando o seu potencial.
No
campo da música Rousseau escreveu a ópera-balé As musas galantes e a ópera
cômica, O adivinho da aldeia.
Foi
amigo dos enciclopedistas, entre os quais Diderot e Grimm, com os quais
romperia mais tarde, tornando-se objeto de hostilidades tanto do governo como
dos seus ex-amigos enciclopedistas, chegando a ter sua prisão decretada, o que
o fez refugiar-se na Suíça, depois na Inglaterra.
Rousseau
foi a mais profunda influência sobre o pré-romantismo, encontrando-se os traços
dessa influência no romantismo francês de Chateaubriand, Lamartine e Victor
Hugo, bem assim inspirou personagens de Goethe, de Foscolo, bem como
personagens de Byron. Seu romance de amor, A nova Heloísa, publicado em 1761
teve um sucesso extraordinário. Ao mesmo tempo romance filosófico, exalta a
pureza em luta contra uma ordem social corrompida e injusta. Descreve um amor
irrealizado. Possivelmente o retrato do que ele mesmo viveu.
No
ano seguinte, surgiram suas obras mais discutidas: Do contrato social e Emílio
ou da Educação. Na primeira, Rousseau apresenta o Estado ideal como resultante
de um acordo comum entre os seus membros. Para esse acordo, faz-se necessário
se estabeleçam obrigações. Para se tornarem cidadãos, os indivíduos devem ceder
algumas de suas prerrogativas. A vontade geral, que é a da coletividade, é a que
deve prevalecer. É um Estado que garante os direitos dos cidadãos.
Em
Emílio, em forma romanesca, Rousseau imagina a educação de um jovem. É o
processo da formação do indivíduo, que deveria ser ensinado a ver com "os
próprios olhos". Afirmava ali, o pedagogo francês: "... a educação do
homem começa no seu nascimento; antes de falar, antes de escutar, ele já se
instrui. A experiência precede as lições; no momento em que ele conhece a sua
ama de leite, ele já adquiriu muito."
Se
considerarmos a idéia da pré-existência da alma e o Espírito reencarnante
presente no processo gestatório, desde a fecundação, o pensamento de Rousseau
ganha maior significado. Para ele, a educação é um processo espontâneo,
natural, particularizando a necessidade do contato com a natureza. Mais do que
conhecer, o ser necessita ser capaz de discernir.
A
respeito de Deus, na última parte da obra, resume Rousseau: "Esse Ser que
quer e que pode, esse Ser, ativo por si mesmo, esse Ser, enfim qualquer que
seja, que move o universo e ordena todas as coisas, eu o chamo Deus. Acrescento
a esse nome as idéias reunidas de inteligência, de poder, de vontade, e a de
bondade, que é uma conseqüência necessária; apesar disto não conheço melhor o
Ser que assim classifico; ele se furta, tanto aos meus sentidos como ao meu
entendimento; quanto mais penso nele, mais me confundo; sei com muita certeza
que ele existe, e que existe por si mesmo; sei que minha existência é
subordinada à sua, e que todas as coisas que conheço se encontram absolutamente
no mesmo caso. Percebo Deus por toda parte em suas obras; sinto-o em mim,
vejo-o à minha volta; mas tão logo quero contemplá-lo em si mesmo, tão logo
quero procurar onde está, o que é, qual a sua substância, ele me escapa, e meu
espírito perturbado não percebe mais nada."
A
sua obra mais delicada e de emoção mais tranqüila, denomina-se Devaneios de um
passeante solitário. Referir-se-ia porventura, o escritor à sua breve passagem
pela Terra? Exatamente à transitoriedade da encarnação? Ao escrevê-lo já se
encontra enfermo, mas ainda sensível à beleza natural da vida. Queixa-se da
incompreensão de todos, afirma-se amigo da Humanidade desprezado pelos homens e
dá uma imagem idílica da natureza. É seu testamento final. O dia 2 de julho de
1778 assinala o término da sua jornada terrena na personalidade de Jean-Jacques
Rousseau. Contava 66 anos de idade.
Na
Doutrina Espírita, que surgiria na Terra, quase 80 anos depois, Rousseau teria
saciada sua fome e sede de justiça, igualdade e conhecimento. Eis como ele se
expressa em mensagem inserida em O Livro dos Médiuns, pelo Codificador:
"Penso que o Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas
dos movimentos interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos.
Explica,
mais do que desvenda, horizontes novos.
A
reencarnação e as provas, sofridas antes de atingir o Espírito a meta suprema,
não são revelações, porém uma confirmação importante. Tocam-me ao vivo as
verdades que por esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente _ meio _
porquanto, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da
cegueira.
Ressuscitando
o espiritualismo, o Espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará
a dignidade interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se
elevarem para o Ente supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas
criaturas."
Fontes
de consulta:
Kardec, Allan. O livro dos médiuns. FEB, 1986. pt. 2, cap. XXXI, item 3.
Rivail, Hippolyte Léon Denizard. COMENIUS, 1998.
Enciclopédia
Mirador Internacional, vol. 18.
Moreil,
André. Vida e obra de Allan Kardec. EDICEL, 1986.
Incontri, Dora.
Pestalozzi, educação e ética. SCIPIONE, 1996.
Fonte; JORNAL MUNDO ESPÍRITA - MARÇO DE 2001
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