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domingo, 19 de janeiro de 2014

ERASTO

Com o respeitável nome de Erasto, cujas comunicações traziam sempre o "cunho incontestável de profundeza e lógica", como disse o próprio Codificador, encontramos duas personalidades, em momentos diferentes da História da Humanidade.

A primeira, afirmativa do próprio Codificador, é de que ele seria discípulo de Paulo de Tarso (O livro dos médiuns, cap. V, item 98). A afirmativa tem procedência.
Na segunda epístola a Timóteo, escrita quando prisioneiro em Roma, relata o Apóstolo dos Gentios: "Erasto ficou em Corinto." ( IV,20). Segundo consta na epístola aos Romanos, na saudação final, este mesmo Erasto tinha cargo na cidade, pois se encontra no cap. 16, vers. 23: "Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade".

Em Atos dos Apóstolos (XIX,22) lemos que Paulo enviou à Macedônia "...dois dos que lhe assistiam, Timóteo e Erasto..." , enquanto ele próprio, Paulo, permaneceu na Ásia. Interessante observar a proximidade dos dois discípulos de Paulo, pois em O Livro dos Médiuns, cap. XIX, encontramos longa mensagem assinada por ambos, a respeito do papel do médium nas comunicações (item 225). Juntos no século I da era cristã, juntos na tarefa da Codificação.

Ainda em O livro dos médiuns são de sua lavra os itens 98, cap. V, algumas respostas a perguntas constantes no item 99, itens 196 e 197 do cap. XVI, itens 230 do cap. XX, onde se encontra a célebre frase: "Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea." Finalmente, na comunicação de nº XXVII. Em O Evangelho segundo o espiritismo, lê-se várias mensagens assinadas por Erasto. A primeira se encontra no cap. I, item 11, a segunda no cap. XX, item 4 e se intitula: Missão dos espíritas, trazendo a assinatura de Erasto, anjo da guarda do médium, aditando oportunamente o Codificador de que o médium seria o sr. d'Ambel.

As demais compõem os itens 9 (Caracteres do verdadeiro profeta) e 10 (Os falsos profetas da erraticidade), ambas datadas de 1862, sendo que na última é o próprio espírito que se identifica como "discípulo de São Paulo", o que igualmente faz no cap. I, item 11 de O evangelho segundo o espiritismo e cap. XXXI, nº XXVII de O livro dos
médiuns.

A outra referência a esse espírito se encontra na Revista Espírita, ano de 1869, da Edicel, no índice Biobibliográfico, onde é apresentado como tendo sido Thomaz Liber, dito Erasto, médico, filósofo e teólogo alemão, nascido em 1524 e morrido em 1583. Foi professor de Medicina em Heidelberg e de Moral, em Basiléia.

No campo da Teologia, combateu o poder temporal da Igreja e se opôs à disciplina calvinista e à ordem presbiteriana. Sua posição lhe valeu uma excomunhão, sob suspeita de heresia, sendo reabilitado algum tempo depois.
Suas teorias tiveram muitos partidários, sobretudo na Inglaterra. Legou somas consideráveis aos estudantes pobres, sendo especialmente respeitado por seus gestos de benemerência.

De qualquer forma, o que resta incontestável, segundo Kardec, é que "...era um Espírito superior, que se revelou mediante comunicações de ordem elevadíssima..."(O
livro dos médiuns, cap. XIX, item 225)

O que importa realmente é a tarefa desenvolvida à época de Paulo de Tarso e ao tempo de Kardec, por um espírito.

Encarnado, o seu grande trabalho pela divulgação das idéias nascentes do Cristianismo, em um ambiente quase sempre hostil. Desencarnado, ombreando com tantas outras entidades espirituais, apresentando elucidações precisas em favor da Codificação da Doutrina Espírita, respondendo a questões de vital importância para uma também doutrina nascente, a Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus.
Fonte: Revista Reformador (FEB), outubro de 1993
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terça-feira, 23 de julho de 2013

MÉDIUNS CURADORES

                                                                                    

Entre o magnetizador e o médium curador há, pois, esta diferença capital: o primeiro magnetiza com o seu próprio fluido, e o segundo com o fluido depurado dos Espíritos; donde se segue que estes últimos dão o seu concurso a quem querem e quando querem; que podem recusá-lo e, por conseguinte, tirar a faculdade daquele que dela abusasse ou a desviasse de seu fim humanitário e caritativo, para dela fazer comércio. Quando Jesus disse aos apóstolos: “Ide! expulsai os demônios, curai os enfermos”, acrescentou: “Dai de graça o que de graça recebestes”.

Os médiuns curadores tendem a multiplicar-se, como anunciaram os Espíritos, e isto em vista de propagar o Espiritismo, pela impressão que esta nova ordem de fenômenos não deixará de produzir nas massas, porquanto não há quem não ligue para a sua saúde, mesmo os maiores incrédulos. Desse modo, quando virem obter com o concurso dos Espíritos o que a Ciência não pode dar, forçoso será convir que há uma força fora do nosso mundo. Assim a Ciência será levada a sair da via exclusivamente material em que ficou até hoje. Quando os magnetizadores antiespiritualistas ou antiespíritas virem que existe um magnetismo mais poderoso que o seu, serão forçados a remontar à verdadeira causa.

Importa, todavia, precaver-se contra o charlatanismo, que não deixará de tentar explorar em proveito próprio esta nova faculdade. Para isto, há um meio muito simples: lembrar-se de que não há charlatanismo desinteressado, e que o desinteresse absoluto, material e moral, é a melhor garantia de sinceridade. Se há uma faculdade dada por Deus com um objetivo santo, sem sombra de dúvida é esta, pois que exige imperiosamente o concurso dos Espíritos superiores, e este não pode ser adquirido pelo charlatanismo. É para que se fique bem edificado quanto à natureza toda especial desta faculdade que nós o descrevemos com alguns detalhes. Embora tenhamos podido constatar-lhe a existência por fatos autênticos, muitos dos quais passados sob os nossos olhos, pode dizer-se que ainda é rara, e só existe parcialmente nos médiuns que a possuem, seja por não terem todas as qualidades requeridas para possuí-la em sua plenitude, seja por estar ainda em começo. Eis por que, até hoje, os fatos não tiveram muita repercussão; mas não tardarão a tomar desenvolvimentos capazes de chamar a atenção geral. Dentro de poucos anos ela se revelará nalgumas pessoas predestinadas para isto, com uma força que triunfará de muitas obstinações. Mas não são os únicos fatos que o futuro nos reserva, e pelos quais Deus confundirá os orgulhosos e os convencerá de sua impotência. Os médiuns curadores são um dos mil meios providenciais para atingir este objetivo e acelerar o triunfo do Espiritismo. Compreende-se facilmente que esta qualificação não pode ser conferida aos médiuns escreventes, que obtêm receitas médicas de certos Espíritos.

Não encaramos a mediunidade curadora senão do ponto de vista fenomênico e como meio de propagação, e não como recurso habitual.

REVISTA ESPÍRITA JANEIRO DE 1864

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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TOMÉ - O APÓSTOLO DESCRENTE


Entre os doze Apóstolos selecionados por Jesus, consta Tomé. O nome vem do aramaico "toma", que significa gêmeo que, em grego, é Dídimo. E é como o nomina o Evangelista João, o que nos leva a crer que devia ser seu apelido.



 A ele são atribuídos alguns escritos apócrifos, como os Atos de Tomé, escritos em siríaco e conservados em tradução grega; o Apocalipse de Tomé, escrito em grego, conservado apenas em latim e ainda O Evangelho de Tomé, cujo texto cóptico foi descoberto em 1945, no Egito.

 Desse, escritores eclesiásticos gregos afirmam que fazia parte de uma coleção de obras a respeito de Jesus, cuja descoberta se reporta aos anos 140-150.
Tomé era descendente de um antigo pescador de Dalmanuta, território de Magedan, cidade para onde foi Jesus, após a segunda multiplicação dos pães, conforme relatos dos cronistas do Evangelho, Marcos e Mateus.

 Traços de sua personalidade no-lo apresentam como alguém rápido para pensar e rápido para desacreditar. Andava segundo a lógica. Parecia desconfiar de tudo e de todos.
 Alguns autores o apontam como portador de um certo pessimismo, que o levava a separar-se da convivência dos demais companheiros, por vezes.
 De todos, era o que mais se preocupava em que Jesus dilatasse a sua zona de influenciação junto aos homens importantes e mais ricos. Sob seu ponto de vista, era necessário atender algumas das exigências dos fariseus bem aquinhoados de autoridade e de riqueza. Disso dependia a vitória ampla e fácil do Evangelho, pensava. Por que, pois, Jesus não mostrava o seu poder perante eles, para os convencer?
 Alguns meses antes da prisão, julgamento e morte de Jesus, quando se encontrava o grupo de Apóstolos e Jesus, na Peréia, ele deu mostras de grande heroísmo, influenciando positivamente os demais, o que nos diz que, entre os doze, gozava de certa autoridade.
 Quando chegam a Jesus as notícias de que Lázaro, o amigo da cidade de Betânia, se encontra enfermo, Jesus prossegue a pregar por mais dois dias, após o que informa que voltará para a Judéia.

 As palavras caem sobre os Apóstolos como um raio. No conceito deles, era um ato temerário apresentar-se Jesus na Judéia, onde os fariseus estavam à espreita para O prender.
Recordam eles ao Mestre dos perigos de há bem pouco, do desejo dos judeus de O apedrejarem.
 Contudo, o Galileu começa a caminhar resolutamente, pondo-se rumo a Jerusalém. Os discípulos se entreolham, hesitantes e apreensivos. Mas, foram seguindo o Mestre, com o coração acabrunhado.
Subitamente, num impulso de heroísmo, ouve-se a voz de Tomé:
"Vamos também nós e morramos com Ele." O brado de intrepidez sugestionou os demais, que seguiram a Jesus, com novo ânimo.
 Ao ensejo da prisão do Mestre, debandou Tomé, espavorido. Depois de algum tempo, contudo, sentiu o coração cheio de remorsos.
 Segundo apontamentos de Humberto de Campos, Espírito, ele se teria disfarçado e acompanhado o cortejo até o Gólgota. O coração batia descompassado e ele procurou romper a massa popular, aproximando-se um pouco mais de Jesus.
 O Carpinteiro seguia a passos vacilantes, seguido de perto pelos soldados. Tomé pôde observar a serenidade do Mestre, apesar do martírio daquela hora. E vendo Suas mãos como duas rosas vermelhas, gotejando sangue, sua fronte aureolada de espinhos, os pés ensangüentados, chorou discretamente.
 O olhar de Jesus o descobriu entre tantas criaturas reunidas no Calvário. Tomé O sentiu sobre si e esperou que os lábios do Modelo e Guia se abrissem em reprovação sincera ao seu condenável e covarde procedimento.

 Mas, de forma imperceptível, a voz Dele se lhe fez ouvir, alertando de que "no Evangelho do Reino, o sinal do céu tem de ser o completo sacrifício de nós mesmos!" (11)
 Mesmo assim, o discípulo continuou em sua atitude de dúvidas. Para ele, o Cristo era a mais alta figura da Humanidade, em se falando do amor. No entanto, no que se referia ao raciocínio, mantinha certas restrições.
 Após a Ressurreição, quando o Mestre aparece aos discípulos reunidos, assustados e aflitos, Tomé não se encontrava entre eles. Possivelmente, se ocultara, ainda temeroso das represálias dos inimigos da Luz.
 Quando se reencontra com os amigos, é recebido com exclamações jubilosas e a informação de que Jesus ressuscitara e estivera com eles.
 Havia alegria em todos os olhares. Tomé sorriu um sorriso céptico e desdenhoso. Sem dar maior importância à sensacional notícia, respondeu:
 "Se eu não lhe vir as marcas dos cravos e não lhe introduzir a mão no seu lado, onde está a ferida aberta pela lança, digo-vos francamente que de maneira nenhuma o crerei."
 Oito dias depois, estando ainda os onze reunidos, na mesma casa do pai de Marcos, com as portas fechadas, Jesus se apresenta:
 "A paz seja convosco!"
 E, voltando-se para Tomé, demonstrando ter ciência total do que ia na alma do Apóstolo ainda descrente, diz:
 "Vem, Tomé! Põe aqui o teu dedo e vê as marcas dos cravos. Chega a tua mão e mete-a do meu lado."
 O Apóstolo executa automaticamente as ordens que recebe. Tocado pela humildade do Mestre, ajoelhou-se e chorou. Suas lágrimas eram, agora, de ventura. Na batalha entre cérebro e coração, o sentimento que lhe extravasava do peito, era fé.
Jesus o ergue e fala:
"Porque me viste, Tomé, creste. Bem-aventurados os que não viram e creram."
Partiram depois os onze para a Galiléia, segundo determinações de Jesus. Entregam-se à pesca.
 No lago de Genesaré, Simão Pedro, Natanael, João, Tiago e Tomé tripulam um barco, aproximando-se da Terra. Não trazem nenhum peixe. Noite infrutífera.
 Da praia, um homem lhes pergunta se algo têm para comer, e à negativa azeda de Pedro, lhes diz que lancem a rede para a banda direita do barco.
 Foram 153 os peixes retirados do mar da Galiléia. João reconhece que Aquele é Jesus. Quando chegam à praia, o Mestre já preparara um monte de brasas e lhes serve peixe assado e pão.

Tomé, como os demais, sente amor e temor, confiança e respeito. Um respeito diferente. Jesus ressurgira da morte. Ele está ali, mas num corpo diferente. Um corpo de surpreendentes propriedades que Lhe permite entrar nas casas de portas fechadas, desaparecer de forma instantânea.
 Após o repasto, Jesus caminha ao longo da praia, convidando Pedro a segui-Lo. Mais atrás, segue João. A alguns passos marcham Tomé, Natanael e Tiago.
 Jesus sai caminhando, enquanto sua túnica, batida pelo vento, brilha, como uma bandeira branca. Tomé se esforça por acompanhá-Lo. Jesus lhe dá a impressão de não tocar o solo, parece flutuar. Todo seu corpo e as vestes, adquirem a leveza de uma nuvem e a claridade de uma luz suave. Desaparece na tarde...

 E numa outra tarde de azul profundo, junto às cinco centenas de corações amigos, Tomé ouviu, no Monte das Oliveiras, as derradeiras exortações de Jesus, conclamando-os à missão de fazerem discípulos da Boa Nova a todas as gentes.
 Sua alma agora se enchia de coragem e ilimitada confiança. "Eu estarei convosco todos os dias..."

 E Tomé saiu a pregar, tendo estendido seu apostolado à Índia, onde é reconhecido como fundador da Igreja dos Cristãos Sírios Malabares, ou Igreja dos Cristãos de São Tomé.
 Consta que, no ano 53 da era cristã, teria sido martirizado pelo rei de Milapura, na cidade indiana de Madras, a flechadas, que lhe provocaram intensa hemorragia, dissolvendo-se sua vida pouco a pouco. A dor e o sangue não lhe destruíram os sonhos. Ele sonhava com a eternidade.

Bibliografia:

01. BÍBLIA, N.T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica, 1966. cap. 10, vers. 2-4.

02. ______. Marcos. Op. cit. cap. 3, vers. 13-19.

03. ______. Lucas. Op. cit. cap. 6, vers. 13-16.

04. ______. João. Op. cit. cap. 11, vers. 16; cap. 20, vers. 24-29 e cap. 21,vers. 2.

05. CURY, Augusto. A personalidade dos discípulos. In:___.O mestre inesquecível. São Paulo: Academia de Inteligência, 2003. cap. 3.

06. ROHDEN, Huberto. Aparição na praia de Genesaré. In:___. Jesus Nazareno. 6. ed. São Paulo: União Cultural. v. II, pt. 3, cap. 200.

07. ______. Jesus e Tomé. Op. cit. v. II, pt. 3, cap. 199.

08. SALGADO, Plínio. A ascensão. In:___. Vida de Jesus. 21. ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1978. pt. 5, cap. LXXXIII.

09. ______. "Eu sou a ressurreição e a vida". Op. cit. pt. 5, cap. LXXX.
10.VAN DER OSTEN, A . Tomé. In:___. Dicionário enciclopédico da bíblia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
11. XAVIER, Francisco Cândido. O testemunho de Tomé. In:___. Boa nova. Pelo espírito Irmão X. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1963. cap. 16.
12. ______. Os discípulos. Op. cit. cap. 5

Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - março/2005


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