Se
procedermos por analogia, diremos que o fluido magnético, disseminado por toda
a Natureza e cujos focos principais parece que são os corpos animados, é o
veículo da clarividência sonambúlica, como o fluido luminoso é o veículo das
imagens que a nossa faculdade visual percebe.
Ora, assim como o fluido luminoso
torna transparentes corpos que ele atravessa livremente, o fluido magnético,
penetrando todos os corpos sem exceção, torna inexistentes os corpos opacos
para os sonâmbulos. Tal a explicação mais simples e mais material da lucidez,
falando do nosso ponto de vista. Temo-la como certa, porquanto o fluido magnético
incontestavelmente desempenha importante papel nesse fenômeno; ela, entretanto,
não poderia elucidar todos os fatos.
Há outra que
os abrange todos; mas, para expô-la, fazem-se indispensáveis algumas
explicações preliminares.
Na visão a
distância, o sonâmbulo não distingue um objeto ao longe, como o faríamos nós
com o auxílio de uma luneta. Não é que o
objeto, por uma ilusão de ótica, se aproxime dele, ELE É QUE SE APROXIMA DO
OBJETO. O sonâmbulo vê o objeto exatamente como se este se achasse a seu lado;
vê-se a si mesmo no lugar que ele observa; numa palavra: transporta-se para
esse lugar. Seu corpo, no momento, parece extinto, a palavra lhe sai mais
surda, o som da sua voz apresenta qualquer coisa de singular; a vida animal
também parece que se lhe extingue; a vida espiritual está toda no lugar aonde o
transporta o seu próprio pensamento: somente a matéria permanece onde estava.
Há pois uma certa porção do ser que se lhe separa do corpo e se transporta
instantaneamente através do espaço, conduzida pelo pensamento e pela vontade.
Evidentemente, é imaterial essa porção; a não ser assim, produziria alguns dos
efeitos que a matéria produz. É a essa parcela de nós mesmos que chamamos: a
alma.
É a alma que
confere ao sonâmbulo as maravilhosas faculdades de que ele goza. A alma é quem,
dadas certas circunstâncias, se manifesta, isolando-se em parte e
temporariamente do seu invólucro corpóreo.
Para quem
quer que haja observado com atenção os fenômenos do sonambulismo em toda a sua
pureza, é patente a existência da alma, tornando-se-lhe uma insensatez
demonstrada até à evidência a ideia de que tudo em nós acaba com a vida animal.
Pode-se, pois, dizer com alguma razão que o magnetismo e o materialismo são
incompatíveis.
Se alguns magnetizadores se afastam desta regra e professam as doutrinas materialistas, é sem dúvida que se hão cingido a um estudo muito superficial dos fenômenos físicos do Magnetismo e não procuram seriamente a solução do problema da visão a distância. Como quer que seja, nunca vimos um único sonâmbulo que não se mostrasse penetrado de profundo sentimento religioso, fossem quais fossem suas opiniões no estado vígil.
Jornal
Vórtice ANO III, n.º 06, novembro/2010
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