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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A AURA E OS CHACRAS NO ESPIRITISMO


Esses dois temas, geralmente, são considerados como alheios à Doutrina Espírita, aceitos como pertencentes exclusivamente ao esoterismo. O que temos visto é que, quando determinada coisa tem alguma semelhança com crenças esotéricas, muitos espíritas logo a rechaça, mesmo que não tenham feito qualquer pesquisa nas obras da Codificação para saber se nelas há algo a respeito.

O nosso propósito neste estudo é exatamente esse, ou seja, pesquisar nas obras da Codificação para confirmarmos ou não se nelas podemos encontrar apoio para aceitar, doutrinariamente, a aura e os chacras como integrantes dos postulados espíritas, ou, quem sabe, abrir portas para isso.

Aura

Encontramos, no Dicionário Houaiss, a definição da aura para a Parapsicologia como sendo: "suposto campo de energia que irradia dos seres vivos".

Ao se pesquisar, nas obras da Codificação, é fato que a palavra aura, não a encontramos mencionada em nenhuma delas; porém, devemos procurar ver se essa ideia pode ser encontrada em alguma das explicações, das quais não restem dúvidas de que se trata dela.

Na Revista Espírita 1865, mês de outubro, e na Revista Espírita 1867, mês de junho, descobrimos, em trechos de considerações de Allan Kardec (1804-1869), referências ao perispírito, dois que merecem destaques:

Compreende-se, até um certo ponto, o desenvolvimento da faculdade por um meio material, mas como a imagem de uma pessoa distante pode se apresentar no copo? Só o Espiritismo pode resolver este problema pelo conhecimento que dá da natureza da alma, de suas faculdades, das propriedades de seu envoltório perispiritual, de sua irradiação, de seu poder emancipador e de seu desligamento do envoltório corpóreo. […]. (KARDEC, 2000c, p. 295, grifo nosso).

Seria errado, pensamos, que se considerasse o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, tendo em vista que não são senão dois efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma, e tem por órgão o perispírito, cuja irradiação transporta a percepção além dos limites da ação dos sentidos materiais. Propriamente falando, é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual. (KARDEC, 1999, p. 172, grifo nosso).

Embora ele tenha utilizado um termo diferente, entendemos que essa irradiação do envoltório perispiritual, ou seja, do perispírito, não é outra coisa senão aquilo que se entende por aura.

Em Obras Póstumas, vê-se uma explicação bem interessante no artigo "Manifestações dos Espíritos", que vem ao encontro do que estamos falando:

O perispírito não se acha encerrado nos limites do corpo, como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem dilatar mais ou menos. Daí se segue que pessoas há que, sem estarem em contato corporal, podem achar-se em contato pelos seus perispíritos e permutar a seu mau grado impressões e, algumas vezes, pensamentos, por meio da intuição. (KARDEC, 2006a, p. 50, grifo nosso).

Confirma-se, portanto, a irradiação do perispírito, que, para nós, como dito, se trata da aura.

Na obra No Invisível, Léon Denis (1846-1927), fala desse tema:

Os eflúvios do corpo humano são luminosos, coloridos de tonalidades diferentes – dizem os sensitivos – que os distinguem na obscuridade. Certos médiuns os veem, mesmo em plena luz, a escapar-se das mãos dos magnetizadores. Analisados ao espectroscópio, a extensão das suas ondas tem sido determinadas segundo cada uma das cores.

Esses eflúvios formam em torno de nós camadas concêntricas que constituem uma espécie de atmosfera fluídica. É a "aura" dos ocultistas, ou fotosfera humana, pela qual se explica o fenômeno da exteriorização da sensibilidade, estabelecidas pelas numerosas experiências do Coronel De Rochas, do Dr. Luys, do Paul Joire, etc. (102).
__________
(102) […] Já desde 1860 ("Revue Spirite", pág. 81), Allan Kardec afirmava, de acordo com as revelações do Espirito do Dr. Vignal, que os corpos emitem vibrações luminosas, invisíveis aos sentidos materiais, o que mais tarde a Ciência confirmou. O Espiritismo tem, pois, o mérito de haver, em primeiro lugar, sobre esse como sobre tantos outros pontos, apresentado teorias físicas que a Ciência não admitiu senão trinta anos depois, sob a reiterada pressão dos fatos. (DENIS, 1987, p. 177, grifo nosso).

As considerações de Denis são claras em apontar a irradiação do perispírito como sendo a aura. Sobre o que fala na nota, fomos conferir e encontramos na Revista Espírita 1860, mês de março, o artigo "Estudos sobre o espírito de pessoas vivas", no qual se narra a experiência, na Sociedade Espírita de Paris, em 03 de fevereiro de 1860, relativa a evocação de espírito de pessoa viva. No caso em questão foi evocada a alma do Dr. Vignal. Foram-lhe dirigidas várias perguntas, entre elas a de número 15, da qual Denis tirou a informação.

Vemos em algumas descrições de pessoas que têm a capacidade de ver a aura, no estado de vigília, dando-nos conta de que são coloridas e também os sentimentos da pessoa estão como que "impregnados" nela. Pessoas com raiva, ódio, desejo de vingança, por exemplo, são, facilmente, detectadas, por eles, quando veem as suas auras. A bem da verdade, isso não soa bem, parece mesmo ser algo estranho.

Quanto às cores, além do que foi dito por Léon Denis, logo acima, procuramos ver se encontraríamos, nas obras da Codificação, algo a respeito. Nelas nada vimos; porém, na obra publicada após o desencarne de Kardec, fruto de alguns de seus manuscritos particulares – Obras Póstumas –, apareceu-nos explicações que nos levaram a confirmar isso.

O fluido perispirítico é imponderável, como a luz, a eletricidade e o calórico. É-nos invisível, no nosso estado normal, e somente por seus efeitos se revela.

Torna-se, porém, visível a quem se ache no estado de sonambulismo lúcido e, mesmo, no estado de vigília, às pessoas dotadas de dupla vista. No estado de emissão, ele se apresenta sob a forma de feixes luminosos, muito semelhante à luz elétrica difundida no vácuo. A isso, em suma, se limita a sua analogia com este último fluido, porquanto não produz, pelo menos ostensivamente, nenhum dos fenômenos físicos que conhecemos. No estado ordinário, denota matizes diversos, conforme os indivíduos que o emitem: ora vermelho fraco, ora azulado, ou acinzentado, qual ligeira bruma. As mais das vezes, espalha sobre os corpos circunjacentes uma coloração amarelada, mais ou menos forte. (KARDEC, 2006a, p. 121-122, grifo nosso).

Confirma-se, portanto, a sua coloração, e também a irradiação do perispírito provocando uma certa luminosidade, que, um pouco mais à frente, é novamente mencionada:

[…] Cada um de nós tem, pois, o seu fluido próprio, que o envolve e acompanha em todos os movimentos, como a atmosfera acompanha cada planeta. É muito variável a extensão da irradiação dessas atmosferas individuais. Achando-se o Espírito em estado de absoluto repouso, pode essa irradiação ficar circunscrita nos limites de alguns passos; mas, atuando a vontade, pode alcançar distâncias infinitas. A vontade como que dilata o fluido, do mesmo modo que o calor dilata os gases. As diferentes atmosferas individuais se entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem, exatamente como as ondas sonoras que se conservam distintas, a despeito da imensidade de sons que simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte, dizer que cada indivíduo é centro de uma onda fluídica, cuja extensão se acha em relação com a força da vontade, do mesmo modo que cada ponto vibrante é centro de uma onda sonora, cuja extensão está na razão propulsora do fluido, como o choque é a causa de vibração do ar e propulsora das ondas sonoras. (KARDEC, 2006a, p. 123, grifo nosso).

Todos nós vivemos como numa redoma luminosa ou envolto num halo, que nada mais é que a nossa aura irradiando luz e cor.

Quanto aos sentimentos, vamos encontrar em A Gênese, cap. XIV, explicações sobre as qualidades dos fluidos espirituais, das quais transcrevemos estes trechos dos itens 16 e 17, respectivamente:

[…] Sendo esses fluidos [fluidos espirituais] o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. […]. (KARDEC, 2007e, p. 325, grifo nosso).

 […] Como os odores, eles [os fluídos] são designados pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc.

O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem. (KARDEC, 2007e, p. 325-326, grifo nosso).

Diante de tão claras explicações não podemos deixar de levá-las em consideração para aceitar, de forma pacífica, a realidade da repercussão dos sentimentos na aura, influenciando-a positiva ou negativamente.

Temos na Revista Espírita 1867 algo que corrobora isso:

[…] Segundo os pensamentos que dominam num encarnado, ele irradia raios impregnados desses mesmos pensamentos que os viciam ou os saneiam, fluidos realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis para os sentidos perispirituais, e visíveis para os olhos da alma, uma vez que impressionam fisicamente e tomam aparências muito diferentes para aqueles que estão dotados de visão espiritual. (KARDEC, 1999, p. 130-131, grifo nosso).

Confirma-se que a irradiação vem impregnada dos pensamentos e além disso que podem ser vistas pelos que são dotados de vidência, ou por médiuns sonambúlicos.

Chacras

 Novamente recorremos ao Dicionário Houaiss, agora para ver a definição de chacra:

s.m. FIL REL em certas formas de hinduísmo e no budismo, cada um dos centros de acumulação de energia espiritual distribuídos pelo corpo; xacra [Os chacras principais, situados ao longo do eixo vertical que perpassa o centro do corpo, são em número de sete para a ioga e o tantrismo, e quatro para o budismo; são supostamente ativados através de meditação, ássanas, recitação de mantras etc.].

Essa ligação com o hinduísmo e budismo pode ser o motivo pelo qual não querem citá-los no Espiritismo. Aliás, o termo apropriado para os espíritas seria: centros vitais ou centros vitais perispirituais, segundo alguns estudiosos.

São mais fáceis de identificar na Codificação do que a aura. Vejamos essas duas questões de O Livro dos Espíritos:

140. Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?
"Ainda isto depende do sentido que se empreste a palavra alma. Se se entende por alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se entende por alma o Espirito encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espirito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se dívida."

 a) Entretanto, alguns Espíritos deram essa definição.
"Os Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa."

A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital, que por eles se reparte, existindo em maior abundância nos que são centros ou focos de movimento. Esta explicação, porém, não procede, desde que se considere a alma o Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por ocasião da morte.

146. A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?
"Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles que muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade."

 a) Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
"Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais."

(KARDEC, 2007a, p. 127-129, grifo nosso).

Embora não encontremos nas obras da Codificação a especificação dos Centros Vitais, não há como negar a referência a eles tomando-se o que está dito acima.

Podemos também citar Léon Denis, que, em O Grande Enigma, disse: "A física atual nos demonstra que a matéria se dissocia pela análise, se resolve em centros de forças, e que a força se reabsorve no éter universal." (DENIS, 1988, p. 19).

Em André Luiz, especialmente, na obra Evolução em dois mundos, capítulo "Corpo Humano" (p. 25-30), temos a especificação dos Centros Vitais ou Centros de Força. Também a autora espiritual Joanna de Ângelis, através do médium Divaldo P. Franco (1927- ), fala dos Centros Vitais, conforme se pode comprovar na obra Estudos Espíritas, capítulo 4, Perispírito (p. 39-45). Aos interessados recomendamos a leitura dessas duas obras.

Diante de tudo isso que encontramos, entendemos, que tanto a aura como os chacras (Centros Vitais), são abordados nas obras da Codificação, ainda que sob outras denominações, razão pela qual passamos a aceitá-los como pontos doutrinários.

Claro que, por questão moral, respeitaremos todos aqueles que não comungarem de nossa conclusão, já que estimaríamos que também respeitassem a nossa opinião, que é a de uma pessoa que quer respaldar seus estudos em bases doutrinárias, procurando, na medida do possível, deixar de lado eventuais "achismos".

Fonte; A Era do Espirito;
Paulo da Silva Neto Sobrinho nov/2014.

Referências bibliográficas:

DENIS, L. No invisível. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
DENIS, L. O grande enigma. Rio de Janeiro: FEB, 1988. FRANCO, D. P. Estudos Espíritas. Rio de Janeiro: FEB, 1982. KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC, A. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2006a.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a. KARDEC, A. Revista Espírita 1860. Araras, SP: IDE, 2000a. KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE, 2000c. KARDEC, A. Revista Espírita 1867. Araras, SP: IDE, 1999.
XAVIER, F. C e VIERIA, W. Evolução em dois mundos. Rio de Janeiro: FEB, 1987.

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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO DO MÉDIUM


A educação da mediunidade é um trabalho que começa antes da reencarnação, continua na encarnação e prossegue na vida após o desencarne. Mas enquanto está nesta dimensão, o médium tem como necessidade primeira evangelizar a si mesmo.

Haverá um tempo previsto para a educação do médium? Tempo não há, pois a mediunidade é trabalho para muitas reencarnações na existência do espírito. Na verdade, esta faculdade, em suas mais variadas ramificações, está presente em todos os homens. Todavia, é após o desabrochar na existência atual que o trabalho se efetiva com mais intensidade e, a partir daí, não deve mais parar ou estacionar, sob a possibilidade de um recomeço muito mais árduo e penoso.

Sabemos que a faculdade, estando presente em nós, deve eclodir sozinha, mas isso não quer dizer que não possamos trabalhar na modelação de nosso espírito por meio das atividades evangelizadoras, na doação fraternal de atendimento aos irmãos necessitados.

Identificados os sintomas que caracterizam a faculdade mediúnica, cabe ao sensitivo o dever de educá-la. Somente ele é capaz de se qualificar nessa condição; nenhum sinal externo pode chamar a atenção do observador, a fim de apontar as pessoas que sejam possuidoras de mediunidade.

Mesmo sabendo que a mediunidade é uma faculdade originária no espírito e que se exterioriza através do organismo físico – não apresenta síndromes externas – e mesmo quando algumas destas possam tipificar sua presença, tal conclusão jamais poderá ser infalível.

Propiciando a interferência dos desencarnados na vida humana, a princípio, a mediunidade gera estados particulares na emotividade, porque mais facilmente se registram a presença e o envolvimento de seres negativos ou perniciosos; a irradiação das suas energias produz esses estados anômalos, desagradáveis, que podem ser confundidos com problemas patológicos. Porém, o sensitivo é constantemente chamado para a observação dessas manifestações consigo mesmo, por surgirem em momentos menos próprios ou aparentemente sem causas desencadeadoras. O orientador espírita deve ser capaz de convencê-lo de que o exercício correto da mediunidade não oferece perigo algum a quem quer que seja.

 Nenhum sinal externo pode chamar a atenção do observador, a fim de apontar as pessoas que sejam possuidoras de mediunidade 

Se observarmos o livro O Consolador, por Emmanuel, através de Chico Xavier, nas perguntas 387 e 388, poderemos verificar a grande importância que devemos dar a esses mecanismos de elevação que a natureza nos concede:

387 - Qual a maior necessidade do médium?

- A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo, poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua missão.


388 - Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar, igualmente, os imperativos da especialização?
- O homem do mundo, no círculo de obrigações que lhe competem na vida, deverá sair da generalidade para produzir o útil e o agradável, na esfera de suas possibilidades individuais. Em mediunidade, devemos submeter-nos aos mesmos princípios. A especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande obra de vulgarização da verdade a realizar (a resposta não está em sua totalidade).

Observando bem estas orientações de Emmanuel, vamos ver que o empenho é necessário para o engrandecimento da faculdade, e esse empenho é contínuo na escalada a desempenhar.

Mas, ainda assim, poderíamos nos perguntar: o que é educação ou desenvolvimento da mediunidade? Responderíamos: É o conjunto de ações educativas direcionadas para o exercício correto da mediunidade, educação essa que não se prende às quatro paredes do templo espírita. Mas vai além, no envolvimento das orientações basilares do Mestre, quando diz: “Orai e vigiai, no que concerne às nossas imperfeições, como também nossas ações ainda perniciosas. E vai e não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior”. Diz respeito à mudança de estrutura mental, vibracional e de ação no bem, pois o Mestre não somente diz que deixemos de praticar o mal, mas que pratiquemos, acima de tudo, o bem. Principalmente, modificando a condição interpretada por nós do grande Amor – terapia legada por Jesus para todos nós: não fazer ao próximo aquilo que não queremos para nós. Ao modificar a estrutura negativista desta frase, temos: faça ao próximo aquilo que queres para ti mesmo. Identificamos nossa verdadeira missão como cristãos em qualquer tarefa, transformando essas tarefas, desde as mais simplórias, em tarefas redentoras pela ação do Amor.

A educação da mediunidade é um trabalho para toda a vida. Começa antes da reencarnação, continua nela e prossegue no além-túmulo.

Há uma grande necessidade de amparo ao candidato ao mediunismo – na presença de problemas psíquicos, emocionais e físicos – recebendo, na casa espírita, orientações de cunho doutrinários. Antes da entrega do neófito ao exercício mediúnico, é necessário que ocorra uma harmonização espiritual.

É importante que seja levado ao conhecimento do médium principiante que, na fase inicial, é natural o surgimento de um clima psicológico inconstante, de altos e baixos. Isso é compreensível, uma vez que a mediunidade propicia a interferência dos desencarnados na vida humana de forma mais próxima. E, geralmente, são seres envolvidos com o mal ou com atos perniciosos, transmitindo assim a irradiação de suas energias, produzindo sensações anômalas, desagradáveis, que perfeitamente podem ser confundidas com problemas patológicos. Tudo isso deve ser bem esclarecido ao irmão que se propõe para a nova tarefa.

Segundo Erasto, em O Livro dos Médiuns (capítulo XXII, item 236), “Médium é o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens”.
 É importante que seja levado ao conhecimento do médium principiante que, na fase inicial, é natural o surgimento de um clima psicológico inconstante, de altos e baixos... Isso é compreensível 
O médium tem, como condição primordial, o estudo, para a busca de compreensão da sua faculdade e do conhecimento da natureza dos espíritos que utilizam sua faculdade mediúnica para um contato mais próximo com os encarnados. O estudo traz ao médium uma condição mais segura de trabalho pois, consciente e entendedor de sua faculdade, ele vai trabalhar colaborando ainda mais com os técnicos espirituais responsáveis pela atividade mediúnica que freqüenta. E, com a segurança obtida com o estudo, ele sintoniza melhor com os entores, como também poderá envolver os comunicantes para que se portem ordenadamente, e não como muitos que chegam transformando as reuniões em perfeitas confusões.

Nesse estudo profundo que o médium deverá realizar em sua caminhada, ele se defrontará com a necessidade de se conhecer, cumprindo-lhe ao mesmo tempo conhecer as qualidades que deve procurar desenvolver em si, assim como os hábitos viciosos e os obstáculos que podem embaraçá-lo no desempenho de sua tarefa. Para uma auto-realização, é necessário o exame permanente de consciência a fim de conhecer sempre, a todo momento, o estado da própria alma.
 A mediunidade é, sem dúvida, poderoso instrumento que pode se converter em lamentável fator de perturbação, tendo em vista o nível espiritual e moral daquele que se encontra investido de tal recurso; ela não é uma faculdade portadora de requisitos morais. A moralização do médium liberta-o das influências dos espíritos inferiores e perversos, que se sentem impossibilitados de maior predomínio.
 Cada dia, o medianeiro se defrontará com sensações novas e viverá emoções que lhe cabem verificar, de modo que possa treinar o controle pessoal, estabelecendo uma linha demarcatória entre a sua personalidade e as personalidades que o utilizam psiquicamente, até mesmo auxiliando-as nas comunicações.
 A compreensão das Leis dos Fluidos, isto é, a identificação fluídica entre o médium e o espírito, constitui fator de altíssima importância para uma comunicação harmônica. Se eles são contrários, se essa relação fluídica se repele, a comunicação mediúnica vai se processar com dificuldades, e o médium deve estar ciente disso.
 Enfim, a educação mediúnica é para toda a existência, pois à medida que o medianeiro se torna mais hábil e aprimorado, melhores requisitos ele tem à sua disposição para a realização do ministério abraçado.
 Buscando novamente o grande manancial de informações, que é O Livro dos Médiuns, na segunda parte, no capítulo XVII, item 211, Formação dos Médiuns, verificamos: “O escolho da maioria dos médiuns iniciantes é ter relações com espíritos inferiores, e devem se considerar felizes quando são apenas espíritos levianos. Toda a sua atenção deve tender a não lhes deixar tomar pé, porque uma vez ancorados não é sempre fácil desembaraçar-se deles. E um ponto tão capital, sobretudo no início, que sem as preocupações necessárias, pode-se perder o fruto das mais belas faculdades”.
 Na verdade, o empenho do médium em se moralizar deverá fazer parte do processo de sua auto-educação, sintonizando profundamente com as palavras do Cristo: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”.
 Por isso, a meta prioritária é a criatura conhecer a si mesma; é preciso permanente exame de consciência, com o fim de se conhecer sempre, em todos os atos praticados por nós. Conhecendo-nos um pouco mais poderemos, com maior facilidade, nos dedicar sem medos ao exercício. O estudo que visa à identidade dos espíritos fala bem alto no processo de educação do médium.

Nenhuma teoria se concretiza bem sem o exercício, sem o trabalho. Podemos ver isso seguindo a orientação dos espíritos que auxiliaram Kardec na Codificação, em O Livro dos Espíritos, pergunta 625: “Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e modelo?” Jesus, é a resposta. Seguindo esse grandioso modelo, verificamos que seus ensinamentos não ficaram sem o aval de sua exemplificação, traçando a base de suas orientações, que nos norteiam até hoje.

Estando a mente vazia, com os pensamentos infelizes à vista, é necessário o trabalho ativo e o preenchimento de nossa mente com coisas edificantes. Assim, é imprescindível enriquecer nosso pensamento, incorporando a ele os tesouros morais e culturais, os únicos que nos possibilitaram direcionar a luz que é jorrada do mais alto para nós.

Em toda a parte, existe a cooperação espiritual com o mundo material. Onde há pensamento, há correntes mentais, e onde há correntes mentais, existem associações. E, como sabemos, toda associação é interdependência e influenciação recíproca. Daí, verificamos a necessidade de ter uma vida nobre, trabalho ativo, compreensão fraterna, serviço ao semelhante, respeito à natureza e oração. Tudo isso constitui alguns meios de assimilar os princípios superiores da vida, porque sempre recebemos de acordo com o que damos. E tratando de mudar o ritmo vibracional de nossos pensamentos e, em seguida, de nossos atos, seguramente também vamos sintonizar com maior facilidade os benfeitores que visam ao engrandecimento humano.

Voltando à pergunta do livro O Consolador, pergunta 387: “Qual a maior necessidade do médium?” Resposta: A primeira necessidade do médium é evangelizar-se”.

Cabe perguntar a nós mesmos o que significa o termo “evangelizar-se”.

Diz-nos André Luiz, em seu livro Missionários da Luz, que "é imprescindível saber que tipo de onda mental assimilamos para conhecer a qualidade de nosso trabalho e ajuizar nossa direção".

A mediunidade é neutra e não basta por si só.

E é ainda André Luiz que nos orienta com bastante clareza no seu livro Nos Domínios da Mediunidade: “Cada médium com a sua mente, cada mente com seus raios, personalizando observações e interpretações, e conforme os raios que arremessamos, erguer-se-á o domicílio espiritual na onda de pensamentos a que nossas almas se afeiçoam”.

Essa energia viva, que é o pensamento, cria em torno de nós forças sutis, criando centros magnéticos ou ondas vibratórias com as quais emitimos nossas situações e recebemos outras. Abriremos comunicação e envolvimento com núcleos e mentes, com os quais nos colocamos em sintonia através de nossos pensamentos.
 Onde há pensamento, há correntes mentais, e onde há correntes mentais, existem associações
Em Evolução em Dois Mundos, André Luiz, na página 129, diz: “A aura é, portanto, a nossa plataforma onipresente em toda comunicação com as rotas alheias, antecâmara do espírito, em todas as nossas atividades de intercâmbio com a vida que nos rodeia, através da qual somos vistos e examinados pelas inteligências superiores, sentidos e reconhecidos pelos nossos afins, e temidos e hostilizados ou amados e auxiliados pelos irmãos que caminham em posição inferior à nossa”.

“Isso porque exteriorizamos, de maneira invariável, o reflexo de nós mesmos, nos contatos de pensamentos a pensamentos, sem necessidade das palavras para as simpatias ou repulsões fundamentais”.

Esclarece ainda, no mesmo livro: “É por essa couraça vibratória, espécie de carapaça fluídica, em que cada consciência constrói o seu ninho ideal, que começaram todos os serviços da mediunidade na Terra, considerando-se a mediunidade como atributo do homem encarnado para corresponder-se com os homens liberados do corpo físico”.

Podemos verificar que refletimos o que sentimos e pensamos em nós mesmos, e é essa aura que nos apresenta como verdadeiramente somos. Principalmente reforçando o ditado “A raiva é um veneno que tomamos e esperamos que outros morram”, ou seja, essa mesma raiva ficará impregnada em nós, transparecendo aquilo que sentimos e afetando principalmente o nosso próprio tônus vibratório.

Plasmamos em torno de nós, através da força do pensamento nessas zonas vibratórias que nos constituem, nosso “eu” verdadeiro, e assim somos conhecidos por todos no mundo espiritual, ligando-nos ao bem ou a ignorância.

Envolvemo-nos em uma onda vibratória que modifica nosso tônus de vibração, ligando-nos imediatamente àqueles que conosco comungam os mesmos pensamentos e atos. E, quando dormimos, temporariamente, distanciamo-nos de nossa aparelhagem física, indo ter com os mesmos com os quais nos ligamos mentalmente; aí nos vêm os sonhos temerosos e “pesados”, principalmente no que concerne ao sexo, brigas, mortes, etc. Passamos os dias direcionando energias em prazeres ou pensando fortemente em tais prazeres, dessa forma criando-os fluidicamente, manifestando nossas intenções no mundo espiritual.

Conclamamos nossos irmãos leitores que revisem o livro A Gênese - capítulo XIV, Os Fluidos, item 13, Criação Fluídica - para, numa análise mais profunda, verificarem a importância de nossos pensamentos nessas criações emanadas de nós mesmos.

Lembremos sempre: praticando tanto o bem como o mal, estaremos sempre respirando na mesma faixa, intimamente associados, com as mentes ligadas ao bem ou às trevas.

Conforme já sabemos, o espiritismo não é o "dono" da mediunidade; esta é inerente ao espírito e projetada ao corpo físico, como uma faculdade orgânica. Encontra-se em quase todos os indivíduos, como um meio imensurável de progresso.

Observando algumas palavras de André Luiz, psicografadas por Chico Xavier, poderemos compreender uma poderosa observação feita por esse nosso irmão: “Deus ajuda a criatura através das criaturas”. E completamos: desencarnadas ou encarnadas, ou seja, vamos verificar que o intercâmbio estará presente em todas as etapas da natureza, e em várias e diferentes condições vibracionais.

Entre os espíritos já desencarnados também há médiuns que exercem fraternalmente o labor, facultando que entidades do mais alto, das esferas mais elevadas, possam também trazer palavras de consolo e orientação àquelas que se encontram na retaguarda da evolução, ainda que o meio mais difundido seja o intercâmbio entre encarnados com os desencarnados.

A mediunidade não poderá ser utilizada como uma profissão por aquele que já se encontra revestido por ela pois, como processo de crescimento e purificação do próprio ser em caminhada estagiária no plano em que vive, a mediunidade deve sempre ser precedida pelo amor, pela sintonia, buscando acima de tudo galgar resultados mais profundos.
 A raiva é um veneno que tomamos esperando que o outro morra, ou seja, essa mesma raiva ficará impregnada em nós 

Vemos a medicina ser utilizada por médicos que objetivam simplesmente o ganho. Todavia, dia chegará em que os médicos utilizarão essa faculdade para o bem maior, provocando assim o aparecimento de uma medicina vibracional bem mais profunda e comprometida com a causa humana; mais envolvida com o amor conseguirá, enfim, tratar do ser como um todo e não simplesmente como um corpo.

A mediunidade deve ser canalizada para fins nobres, evitando-se transformá-la em motivo de profissionalização ou espetáculos que buscam gerar emoções passageiras.

Independentemente da vontade de seu possuidor, funciona quando acionada pelos espíritos que a manipulam, sendo, portanto, credora de assistência moral.

Sabemos que todos somos médiuns, pois todos sofremos influências dos espíritos e, na seara do Cristo, há muitas mediunidades. E ainda que não sejam ostensivas, não são menos importantes.

Se por enquanto não temos em nosso quadro de tarefas a mediunidade ostensiva, sejamos então médiuns do bem, das palavras de carinho, do consolo, da ajuda, do bom conselho, da caridade, pois mesmo aí estaremos sendo envolvidos por aqueles do lado invisível que também trabalham para o engrandecimento da humanidade e o consolo dos corações aflitos.

POR: ALUNEY ELFERR 

Fonte: Revista Espiritismo & Ciência (edição 17)
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