Esses dois temas,
geralmente, são considerados como alheios à Doutrina Espírita, aceitos como
pertencentes exclusivamente ao esoterismo. O que temos visto é que, quando
determinada coisa tem alguma semelhança com crenças esotéricas, muitos
espíritas logo a rechaça, mesmo que não tenham feito qualquer pesquisa nas
obras da Codificação para saber se nelas há algo a respeito.
O nosso propósito neste estudo é exatamente
esse, ou seja, pesquisar nas obras da Codificação para confirmarmos ou não se
nelas podemos encontrar apoio para aceitar, doutrinariamente, a aura e os
chacras como integrantes dos postulados espíritas, ou, quem sabe, abrir portas
para isso.
Aura
Encontramos, no Dicionário
Houaiss, a definição da aura para a Parapsicologia como sendo:
"suposto campo de energia que irradia dos seres vivos".
Ao se pesquisar, nas
obras da Codificação, é fato que a palavra aura, não a encontramos mencionada
em nenhuma delas; porém, devemos procurar ver se essa ideia pode ser encontrada
em alguma das explicações, das quais não restem dúvidas de que se trata dela.
Na Revista Espírita 1865, mês de
outubro, e na Revista Espírita 1867, mês de junho, descobrimos, em trechos de
considerações de Allan Kardec (1804-1869), referências ao perispírito, dois que
merecem destaques:
Compreende-se,
até um certo ponto, o desenvolvimento da faculdade por um meio material, mas
como a imagem de uma pessoa distante pode se apresentar no copo? Só o
Espiritismo pode resolver este problema pelo conhecimento que dá da natureza da
alma, de suas faculdades, das
propriedades de seu envoltório perispiritual, de sua irradiação, de seu
poder emancipador e de seu desligamento do envoltório corpóreo. […]. (KARDEC,
2000c, p. 295, grifo nosso).
Seria
errado, pensamos, que se considerasse o sonambulismo e a mediunidade como o
produto de dois sentidos diferentes, tendo em vista que não são senão dois
efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos
da alma, e tem por órgão o perispírito,
cuja irradiação transporta a percepção além dos limites da ação dos
sentidos materiais. Propriamente falando, é o sexto
sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual. (KARDEC, 1999, p.
172, grifo nosso).
Embora ele tenha
utilizado um termo diferente, entendemos que essa irradiação do envoltório
perispiritual, ou seja, do perispírito, não é outra coisa senão aquilo que se
entende por aura.
Em Obras
Póstumas, vê-se uma explicação bem interessante no artigo
"Manifestações dos Espíritos", que vem ao encontro do que estamos
falando:
O perispírito não se
acha encerrado nos limites do corpo, como numa caixa. Pela sua natureza
fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o
pensamento e a força de vontade podem dilatar mais ou menos. Daí se segue que
pessoas há que, sem estarem em contato corporal, podem achar-se em contato
pelos seus perispíritos e permutar a seu mau grado impressões e, algumas vezes,
pensamentos, por meio da intuição. (KARDEC, 2006a, p. 50, grifo nosso).
Confirma-se,
portanto, a irradiação do perispírito, que, para nós, como dito, se trata da
aura.
Na obra No
Invisível, Léon Denis (1846-1927), fala desse tema:
Os eflúvios do corpo humano
são luminosos, coloridos de tonalidades diferentes – dizem os sensitivos – que os
distinguem na obscuridade. Certos médiuns os veem, mesmo em plena luz, a
escapar-se das mãos dos magnetizadores. Analisados ao espectroscópio, a
extensão das suas ondas tem sido determinadas segundo cada uma das cores.
Esses eflúvios formam em torno de nós
camadas concêntricas que constituem uma espécie de atmosfera fluídica. É a
"aura" dos ocultistas, ou fotosfera humana, pela qual se explica o fenômeno da
exteriorização da sensibilidade, estabelecidas pelas numerosas experiências do
Coronel De Rochas, do Dr. Luys, do Paul Joire, etc. (102).
__________
(102) […] Já desde
1860 ("Revue Spirite", pág. 81), Allan Kardec afirmava, de acordo com
as revelações do Espirito do Dr. Vignal, que os corpos emitem vibrações
luminosas, invisíveis aos sentidos materiais, o que mais tarde a Ciência
confirmou. O Espiritismo tem, pois, o mérito de haver, em primeiro lugar, sobre
esse como sobre tantos outros pontos, apresentado teorias físicas que a Ciência
não admitiu senão trinta anos depois, sob a reiterada pressão dos fatos.
(DENIS, 1987, p. 177, grifo nosso).
As considerações de
Denis são claras em apontar a irradiação do perispírito como sendo a aura.
Sobre o que fala na nota, fomos conferir e encontramos na Revista Espírita 1860, mês de março, o artigo "Estudos sobre
o espírito de pessoas vivas", no qual se narra a experiência, na Sociedade
Espírita de Paris, em 03 de fevereiro de 1860, relativa a evocação de espírito
de pessoa viva. No caso em questão foi evocada a alma do Dr. Vignal. Foram-lhe
dirigidas várias perguntas, entre elas a de número 15, da qual Denis tirou a
informação.
Vemos em algumas
descrições de pessoas que têm a capacidade de ver a aura, no estado de vigília,
dando-nos conta de que são coloridas e também os sentimentos da pessoa estão
como que "impregnados" nela. Pessoas com raiva, ódio, desejo de
vingança, por exemplo, são, facilmente, detectadas, por eles, quando veem as
suas auras. A bem da verdade, isso não soa bem, parece mesmo ser algo estranho.
Quanto às cores, além
do que foi dito por Léon Denis, logo acima, procuramos ver se encontraríamos,
nas obras da Codificação, algo a respeito. Nelas nada vimos; porém, na obra
publicada após o desencarne de Kardec, fruto de alguns de seus manuscritos
particulares – Obras Póstumas –, apareceu-nos explicações que nos levaram a
confirmar isso.
O fluido
perispirítico
é imponderável, como a luz, a eletricidade e o calórico. É-nos invisível, no
nosso estado normal, e somente por seus efeitos se revela.
Torna-se, porém,
visível a quem se ache no estado de sonambulismo lúcido e, mesmo, no estado de
vigília, às pessoas dotadas de dupla vista. No estado de emissão, ele se
apresenta sob a forma de feixes luminosos, muito semelhante à luz elétrica
difundida no vácuo.
A isso, em suma, se limita a sua analogia com este último fluido, porquanto não
produz, pelo menos ostensivamente, nenhum dos fenômenos físicos que conhecemos.
No estado ordinário, denota matizes
diversos, conforme os indivíduos que o emitem: ora vermelho fraco, ora azulado,
ou acinzentado, qual ligeira bruma. As mais das vezes, espalha sobre os corpos
circunjacentes uma coloração amarelada, mais ou menos forte. (KARDEC,
2006a, p. 121-122, grifo nosso).
Confirma-se,
portanto, a sua coloração, e também a irradiação do perispírito provocando uma
certa luminosidade, que, um pouco mais à frente, é novamente mencionada:
[…] Cada um de nós
tem, pois, o seu fluido próprio, que o envolve e acompanha em todos os movimentos,
como a atmosfera acompanha cada planeta. É muito variável a extensão da
irradiação dessas atmosferas individuais.
Achando-se o Espírito em estado de absoluto repouso, pode essa irradiação ficar
circunscrita nos limites de alguns passos; mas, atuando a vontade, pode
alcançar distâncias infinitas. A vontade como que dilata o fluido, do mesmo
modo que o calor dilata os gases. As diferentes atmosferas individuais se
entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem, exatamente como as ondas
sonoras que se conservam distintas, a despeito da imensidade de sons que
simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte, dizer que cada indivíduo é centro de uma onda
fluídica, cuja extensão se acha em relação com a força da vontade, do mesmo
modo que cada ponto vibrante é centro de uma onda sonora, cuja extensão está na
razão propulsora do fluido, como o choque é a causa de vibração do ar e
propulsora das ondas sonoras. (KARDEC, 2006a, p. 123, grifo nosso).
Todos nós vivemos
como numa redoma luminosa ou envolto num halo, que nada mais é que a nossa aura
irradiando luz e cor.
Quanto aos
sentimentos, vamos encontrar em A Gênese, cap. XIV, explicações sobre as
qualidades dos fluidos espirituais, das quais transcrevemos estes trechos dos
itens 16 e 17, respectivamente:
[…]
Sendo esses fluidos [fluidos espirituais] o veículo do pensamento e podendo
este modificar-lhes as propriedades, é evidente
que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos
que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os
maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas
deletérios corrompem o ar respirável. […]. (KARDEC, 2007e, p. 325, grifo
nosso).
[…] Como
os odores, eles [os fluídos] são designados pelas suas propriedades, seus
efeitos e tipos originais. Sob o ponto
de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de
orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência,
de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes,
calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos,
narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão,
de propulsão, etc.
O quadro dos fluidos
seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e
das propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem.
(KARDEC, 2007e, p. 325-326, grifo nosso).
Diante de tão claras
explicações não podemos deixar de levá-las em consideração para aceitar, de
forma pacífica, a realidade da repercussão dos sentimentos na aura,
influenciando-a positiva ou negativamente.
Temos na Revista Espírita 1867 algo que
corrobora isso:
[…]
Segundo os pensamentos que dominam num encarnado, ele irradia raios impregnados desses mesmos pensamentos que os
viciam ou os saneiam, fluidos realmente materiais, embora impalpáveis,
invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis para os sentidos
perispirituais, e visíveis para os olhos da alma, uma vez que impressionam fisicamente e tomam aparências muito diferentes para
aqueles que estão dotados de visão espiritual. (KARDEC, 1999, p. 130-131,
grifo nosso).
Confirma-se que a
irradiação vem impregnada dos pensamentos e além disso que podem ser vistas
pelos que são dotados de vidência, ou por médiuns sonambúlicos.
Chacras
Novamente recorremos ao Dicionário Houaiss, agora para ver a definição de chacra:
s.m.
FIL REL em certas formas de hinduísmo e no budismo, cada um dos centros de
acumulação de energia espiritual distribuídos pelo corpo; xacra [Os chacras
principais, situados ao longo do eixo vertical que perpassa o centro do corpo,
são em número de sete para a ioga e o tantrismo, e quatro para o budismo; são
supostamente ativados através de meditação, ássanas, recitação de mantras
etc.].
Essa ligação com o
hinduísmo e budismo pode ser o motivo pelo qual não querem citá-los no
Espiritismo. Aliás, o termo apropriado para os espíritas seria: centros vitais
ou centros vitais perispirituais, segundo alguns estudiosos.
São mais fáceis de identificar na Codificação
do que a aura. Vejamos essas duas questões de O Livro dos Espíritos:
140.
Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são
os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?
"Ainda
isto depende do sentido que se empreste a palavra alma. Se se entende por alma
o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se entende por alma o Espirito
encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espirito é indivisível. Ele imprime
movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se
dívida."
a) Entretanto, alguns Espíritos deram essa
definição.
"Os
Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa."
A alma atua por intermédio dos órgãos e os
órgãos são animados pelo fluido vital, que por eles se reparte, existindo em
maior abundância nos que são centros ou
focos de movimento. Esta explicação, porém, não procede, desde que se
considere a alma o Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por
ocasião da morte.
146.
A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?
"Não;
porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais
particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles
que muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade."
a) Que se deve pensar da opinião dos que
situam a alma num centro vital?
"Quer
isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo,
por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a
confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede
da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações
intelectuais e morais."
(KARDEC, 2007a, p. 127-129, grifo nosso).
Embora não
encontremos nas obras da Codificação a especificação dos Centros Vitais, não há
como negar a referência a eles tomando-se o que está dito acima.
Podemos também citar Léon Denis, que, em O
Grande Enigma, disse: "A
física atual nos demonstra que a matéria se dissocia pela análise, se resolve
em centros de forças, e que a força se reabsorve no éter universal."
(DENIS, 1988, p. 19).
Em André Luiz, especialmente,
na obra Evolução em dois mundos, capítulo "Corpo Humano" (p.
25-30), temos a especificação dos Centros Vitais ou Centros de Força. Também a
autora espiritual Joanna de Ângelis, através do médium Divaldo P. Franco (1927-
), fala dos Centros Vitais, conforme se pode comprovar na obra Estudos
Espíritas, capítulo 4, Perispírito (p. 39-45). Aos interessados recomendamos a
leitura dessas duas obras.
Diante de tudo isso que encontramos,
entendemos, que tanto a aura como os chacras (Centros Vitais), são abordados
nas obras da Codificação, ainda que sob outras denominações, razão pela qual
passamos a aceitá-los como pontos doutrinários.
Claro que, por
questão moral, respeitaremos todos aqueles que não comungarem de nossa
conclusão, já que estimaríamos que também respeitassem a nossa opinião, que é a
de uma pessoa que quer respaldar seus estudos em bases doutrinárias,
procurando, na medida do possível, deixar de lado eventuais
"achismos".
Fonte; A Era do Espirito;
Paulo da Silva Neto Sobrinho nov/2014.
Referências
bibliográficas:
DENIS, L. No invisível.
Rio de Janeiro: FEB, 1987.
DENIS, L. O grande enigma.
Rio de Janeiro: FEB, 1988. FRANCO, D. P. Estudos Espíritas. Rio de Janeiro:
FEB, 1982. KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC, A. Obras Póstumas.
Rio de Janeiro: FEB, 2006a.
KARDEC, A. O Livro dos
Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a. KARDEC, A. Revista Espírita 1860.
Araras, SP: IDE, 2000a. KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE,
2000c. KARDEC, A. Revista Espírita 1867. Araras, SP: IDE, 1999.
XAVIER, F. C e VIERIA, W.
Evolução em dois mundos. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
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