Há doentes
sobre os quais se atua em dois ou três minutos; em outros é necessário muitos
dias e em alguns muitos meses. (Koreff, Deleuze)
Há doentes
nos quais os efeitos vão sempre aumentando; outros que sentem desde o primeiro
dia tudo quanto experimentaram no decurso de um longo tratamento; outros,
finalmente, que, depois de manifestarem sintomas notáveis, cessam de manifestar
de repente a menor impressão. (Mesmer, Deleuze, Aubin Gauthier)
A magnetização
produz efeitos puramente físicos; o doente cuja mão seguramos na posição da
relação por contato experimenta geralmente os efeitos seguintes: umidade na
palma das mãos, titilações nos dedos, formigamentos; a sensação encaminha-se às
vezes aos braços, aos ombros até a cabeça, ou vai atacar o epigástrio, e há
então irradiação por todo o corpo, que determina leves calafrios, bocejos, aos
quais sucede a dormência dos membros e do cérebro. Em uns, o pulso diminui, o
rosto empalidece, as pálpebras oscilam e fecham-se, os queixos e os membros se
contraem, há sensação de frio; em outros, o pulso se acelera, sobem ao rosto
fugachos que o avermelham, o olhar aviva-se, há transpiração, acessos de riso
ou pranto.
Quando estes
efeitos parecem querer acentuar-se, podemos, se se tem em vista obter-se o sono
magnético, prolongar a ação que os determina; mas se não quisermos o sono (o
que deve ser o caso mais habitual, por isso que ele não é necessário ao
tratamento) apressemo-nos em romper a relação abandonando as mãos do sonâmbulo
e fazendo-lhe alguns passes à distância.
Acontece
frequentemente que o magnetismo restabelece a harmonia das funções de que
acabamos de falar, isto é: tendência à transpiração, sensação de frio ou de
calor, espasmos, movimentos musculares, contrações, dormência, displicência,
formigamentos, bocejos etc.; e só o percebemos ao efeito produzido pela melhora
da saúde.
O magnetismo
nem sempre se manifesta, pois, por efeitos que anunciam a sua ação; e
procederia mal quem desanimasse muito depressa, ou declarasse que o magnetismo
é impotente só porque ao cabo de oito ou quinze dias, algumas vezes dois meses
ou mais, não tivesse produzido nenhum efeito aparente. (Deleuze, Koreff, Aubin
Gauthier)
As pessoas
que parecem mais rapidamente sensíveis à ação magnética são as que levam uma
vida simples e frugal, que não são agitadas pelas paixões, que não abusaram dos
narcóticos e dos minerais, e que não fazem uso imoderado dos perfumes de
toucador. Os hábitos da alta sociedade, a vida agitada da política e dos negócios,
as preocupações morais, o abuso dos anestésicos e dos narcóticos, os excessos
da mesa e das bebidas alcoólicas ou fermentadas, diminuem cada vez mais a
receptividade magnética; é por isso que os campônios que vivem com toda a
simplicidade e ao ar livre, sem terem habitualmente recorrido às excitações
artificiais dos prazeres da cidade e da terapêutica moderna, têm mais
probabilidade de sentir com maior facilidade e rapidez que os outros os efeitos
da ação magnética, no entanto que os alcoólatras e os morfinomaníacos são quase
insensíveis. Nas crianças em quem o movimento natural não é ainda contrariado
pelos maus hábitos de uma vida mal regulada, a ação magnética é mais notável,
mais pronta e salutar que entre as pessoas adultas; e o mesmo se dá com os
animais. As crianças e os animais são geralmente muito sensíveis ao magnetismo,
e obtém-se sobre eles curas muito rápidas.
É preconceito
acreditar-se que as pessoas de compleição delicada ou enfraquecidas pelas
moléstias crônicas são mais sensíveis que as outras; geralmente, não são os
indivíduos edemaciados ou de temperamento nervoso que dão mais depressa
indícios de sensibilidade magnética; pelo contrário, são antes as naturezas
enérgicas e vivazes que melhor correspondem aos movimentos de reação que se
procura produzir pela magnetização.
Há igualmente
uma opinião segundo a qual a sensibilidade magnética e, consecutivamente, o
efeito curador dependem sobretudo de certas analogias de relação entre o
magnetizador e o paciente; é evidente que se deve levar em conta influências
que resultam dos caracteres, dos temperamentos e dos meios: os climas, as
estações, o regime, os hábitos, a idiossincrasia têm efeitos incontestáveis num
tratamento, e é muito admissível que certas pessoas sejam mais aptas que outras
para produzirem certos efeitos e curarem determinadas moléstias. Não é duvidoso
que os corpos são mais ou menos condutores das correntes, e por conseguinte,
mais ou menos radiantes; que as trocas magnéticas entre os corpos variam
portanto até ao infinito, mas isto é uma questão de mais ou menos em que não
devemos deter-nos por muito tempo.
Em tese,
todos os doentes são sensíveis à ação magnética, e o são mais ou menos
rapidamente; quando não se é bem sucedido, provém isto de mais uma falta de
perseverança no tratamento ou da gravidade da desordem produzida no organismo
por uma moléstia antiga, do que de qualquer outra coisa.
Na maior
parte dos indivíduos nervosos e nas moléstias que mais especialmente afetam o
sistema nervoso, onde a prostração e a anemia alternam com uma grande
superexcitabilidade, o magnetismo atua na maioria dos casos, sem produzir
efeitos aparentes; e se, às vezes, com o correr do tempo, o magnetismo consegue
triunfar dessas perturbações profundas da enervação, acontece frequentemente que
se obtém a produção de fenômenos singulares que não são sempre seguidos dos
resultados curativos que dele se espera. Em suma, seria erro acreditar-se que
as afecções nervosas caem, mais especialmente que as demais moléstias, sob a
competência do magnetismo; a ideia falsa que se fez e ainda se faz do papel
fisiológico do magnetismo e de seus efeitos curadores contribui grandemente
para entreter este preconceito, que a observação e a experiência deveriam ter
há muito tempo desarraigado.
Do livro: “Magnetismo Curador” (Cap. XVIII)
Autor: Alphonse Bue
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