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terça-feira, 17 de junho de 2014

O ESPIRITISMO E A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Leon Denis em: O Mundo Invisível e a Guerra, Novembro de 1918

Apresentamos, em largos traços, a rápida marcha e o progresso do Espiritismo, durante 50 anos, em todos os domínios do pensamento, isto é, na Ciência, na experimentação psíquica, na Literatura e até no seio das Igrejas. Falta-nos analisar qual foi a sua influência no movimento filosófico contemporâneo, particularmente na filosofia da escola.

Notemos que esses resultados foram obtidos fora de qualquer organização espírita, sem outros meios de ação ou outros recursos, a não ser o próprio poder da verdade e sem qualquer outra direção, a não ser a que promana do Além. Porém, será esta, provavelmente, a mais segura e a mais eficaz, porque, melhor que os recursos humanos, pode vencer os preconceitos, as rotinas e os mais obstinados contraditores.

Na verdade, todos os que trabalharam com persistência pela divulgação do Espiritismo sentiram-se ajudados e amparados pelo mundo invisível.

Quanto à obra filosófica realizada nesse meio século, não passaremos em revista todos os seus sistemas, para não sairmos do limite deste estudo; tão-somente perguntaremos qual a parte que se deve atribuir à idéia espírita no ensino oficial.

Declaremos, inicialmente, que durante esse período as teorias materialistas não pararam de retroceder e que o espiritualismo tende a substituí-las.

Atualmente, o ensino oficial se baseia na filosofia de Henri Bergson, cuja influência aumenta cada vez mais no exterior ao mesmo tempo em que sua ação sobre os espíritos se torna mais intensa em nosso país.

As ciências psíquicas são familiares a Bergson, que seguiu com atenção o seu desenvolvimento. Ele é o autor de um artigo no Boletim do Instituto Geral de Psicologia, de janeiro de 1904, sobre a visão de clarões na obscuridade pelos sensitivos.

Sua filosofia não é um sistema que se junta aos anteriores. É original e profunda, representando uma verdadeira revolução no mundo do pensamento. Desde Spencer estava aceito que a inteligência é a principal faculdade, o mais seguro meio para se conseguir o conhecimento e abranger o domínio da vida e da evolução.

Ora, Bergson prova que a inteligência, que constitui uma emanação da vida, por si só é impotente para abranger a vida e a evolução, porque a parte não pode abranger o todo, nem o fato reabsorver sua causa. Então o que fez ele? No lugar da inteligência coloca a intuição, e isto constitui um acontecimento da mais alta importância na Psicologia, pois a maior parte das faculdades mediúnicas – a clarividência, a premonição e a previsão dos acontecimentos – se prende à intuição. No dia em que a Ciência achar um método prático para desenvolver essa intuição, ela se aproximará dessas faces misteriosas da alma humana, com as quais esta se limita com a presciência divina e pelas quais se revelam sua íntima essência e sua imensa evolução.

Com o desenvolvimento dessas faculdades, podemos entrever o aparecimento de uma raça de homens que nos superará em poder, tanto quanto o homem atual supera o pré-histórico. Então a alma humana se apresentará com toda a sua grandeza; veremos que ela possui profundos mananciais de vida, onde sempre pode retemperar-se, e que possui picos iluminados pela luz da eterna verdade.

A alma humana é um mundo. Conhece o esplendor das alturas e a vertigem dos abismos. Possui precipícios em cujo fundo rugem as torrentes das paixões. Contém filões plenos de riquezas, e seu destino consiste exatamente em valorizar todos esses tesouros escondidos.

O estudo da obra de Bergson nos mostra, em certos pontos, semelhanças notáveis com a Doutrina Espírita. A vida da criatura, afirma ele, é o resultado de uma evolução anterior ao nascimento. Existe um encadeamento, uma continuidade na transformação, no progresso e, ao mesmo tempo, existe uma conservação do passado no presente. Bergson admite, como nós, que esse passado está gravado na consciência profunda e marca a evolução paralela do ser orgânico e do ser consciente. Aqui estão os termos com os quais define essa evolução:

“O progresso é constante e prossegue indefinidamente: o progresso invisível, sobre o qual o ser visível se sobrepõe no espaço de tempo que percorrerá na Terra. Quanto mais mantemos a atenção nesta continuidade de vida, tanto mais veremos a evolução orgânica aproximar-se da evolução consciente, em que o passado atua sobre o presente, para dele fazer brotar uma nova forma, que é a resultante das anteriores.”

Sem dúvida, isso é transformismo, porém de tal forma espiritualizado, que se aproxima de uma maneira perceptível da filosofia das vidas sucessivas. Essa noção das existências anteriores vem afirmada e precisada em numerosas páginas de Bergson das quais vão aqui alguns trechos:

“Que somos nós, que é o nosso caráter senão a condensação da história que temos vivido desde nosso nascimento, e mesmo antes dele, pois que já trazemos conosco disposições pré-natais?”

“A vida é o prosseguimento da evolução pré-natal e a prova disso é que muitas vezes fica impossível afirmar se estamos tratando com um organismo que envelhece ou com um embrião que continua a progredir.”

Voltamos a encontrar em Bergson a concepção espírita da vida universal:

“O Universo não está feito, porém se faz sem cessar, crescendo, sem dúvida, indefinidamente, pela junção de novos mundos… É possível que a vida se manifeste noutros planetas e também em outros sistemas solares, sob formas que não imaginamos, em condições físicas que nos parecem, no ponto de vista de nossa fisiologia, inteiramente desconhecidos.”

Segundo Bergson, o princípio da evolução não está na matéria visível e sim na invisível. Ele declara:

“Todos os novos dados científicos tendem a transpor a evolução, elevando-a do visível para o invisível.”

Pode-se observar que Bergson, na sua obra, fala constantemente da vida e muito pouco da morte. Nenhum filósofo parece ter se preocupado menos com esse passageiro acidente que não põe fim a nada. Para ele, como para nós, a vida triunfa e reina, soberanamente, tanto antes como depois da morte.

Também sobre o livre-arbítrio, a opinião de Bergson está de acordo com o que sempre sustentamos. Afirma ele:

“A finalidade da vida é colocar a indeterminação na matéria. Indeterminadas (quero dizer imprevisíveis) são as formas que ela cria no correr de sua evolução. Também cada vez mais indeterminada (isto é, cada vez mais livre) é a atividade para a qual essas formas devem servir de veículo.”

Mais adiante acrescenta:

“A liberdade não é absoluta: admite graus… Somos livres enquanto somos nós mesmos, isto é, em nosso estado de personalidade profunda, porém somos determinados enquanto pertencemos à matéria e à extensão. A personalidade humana é um jato vivo de incontrolável liberdade… A liberdade constitui um fato de experiência interna, uma coisa sentida e vivida, não raciocinada.”

Em síntese, nota-se que o bergsonismo, como a doutrina dos espíritos, dá ao homem mais força para viver e para agir, ligando-o mais intimamente a tudo quanto vive, ama e sofre no mundo.

O materialismo isolava inteiramente o homem: na engrenagem da máquina cega do mundo o homem se sentia reduzido a nada. Porém a idéia muda: assim como o menor grão de pó é solidário com imenso sistema solar, assim também todos os seres vivos, desde as origens da vida, através dos tempos e lugares, não fazem outra coisa senão tornar mais perceptível uma direção única e invisível.

Estão sujeitos uns aos outros, interligam-se e obedecem a um formidável impulso, como uma imensa caravana que marcha através do tempo e do espaço, transpondo os obstáculos e desdobrando-se para além de todas as mortes.

Não existe aí algo de novo na filosofia oficial que, até agora totalmente impregnada de intelectualismo, estava tolhida diante do problema da criatura?

Félix Le Dantec e sua escola buscavam a vida somente na matéria, porém Bergson, colocando mais alto a inteligência e a vida, reabilita, de algum modo, o mundo vivo, encontrando o laço que prende as doutrinas ocidentais às da Grécia e do Oriente, às crenças de nossos pais, àquela filosofia celta, resumida nas Tríades e às quais se terá de voltar, sem dúvida, algum dia.

E, quer Bergson tenha conseguido suas ideias nos seus estudos psíquicos, quer nas inspirações de seu próprio gênio, o fato não é menos notável, no ponto de vista da semelhança das doutrinas, principalmente no que toca às suas vastas consequências morais e sociais.

*

Terminando sua magistral obra A Evolução Criadora, Bergson insiste na relatividade dos fatos e na sua impotência para nos darem apenas uma concepção parcelada da natureza. Ataca com vigor os pontos de vista arbitrários de Herbert Spencer, que a Ciência adotou:

“Não se pode raciocinar sobre as partes como se raciocina sobre o todo. O filósofo deve ir mais além do que o sábio. A inteligência extrai os fatos desse todo que é a realidade. No lugar de afirmar que as relações entre os fatos formaram as leis do pensamento, posso bem imaginar que a forma do pensamento é que determinou a configuração dos fatos percebidos e, conseqüentemente, suas relações entre si.”

Termina da seguinte forma:

“A filosofia não é somente a volta do espírito para si mesmo, a coincidência da consciência humana com o princípio vivo de onde ela emana, um contato com o esforço criador; ela é o aprofundamento da transformação em geral, o verdadeiro evolucionismo e, por conseqüência, o verdadeiro prolongamento da Ciência, com a condição de que se compreenda por esta última palavra um conjunto de verdades constatadas ou demonstradas, e não certa escolástica nova que apareceu, durante a segunda metade do século XIX, em torno da física de Galileu, assim como a antiga escolástica o havia feito em torno de Aristóteles.”

Todos os espíritos abalizados se impressionarão com a concordância que há nesse ponto entre as maneiras de ver de Bergson e as expostas por Allan Kardec.

Realmente, em matéria de Espiritismo, o Codificador nunca desejou separar a doutrina dos fatos, mas ainda há entre nós quem desejasse limitá-lo a um campo experimental. Isto nos leva a considerações especiais quanto à doutrina dos espíritos.

Ninguém discute que os fatos sejam a base do Espiritismo, a prova da sobrevivência da alma após a morte. Todavia, atrás deles existe toda uma revelação. No Espiritismo o fato não se produz sem um ensinamento, sempre que o fenômeno obtido seja de ordem um tanto elevada.

Os espíritos não procuram comunicar-se conosco a não ser para nos instruírem e nos iniciarem nas grandes leis do mundo espiritual, cujo conhecimento é muito importante, principalmente nos momentos de provação. Foi assim que Allan Kardec compreendeu e sentiu o Espiritismo e porque, em sua obra, ele reúne intimamente a doutrina à ciência. Procedendo assim, ele não atendia a uma vontade pessoal, porém a uma necessidade e à própria natureza do que ele estudava.

O poder de ação, o papel social do Espiritismo não se deve a que ele atende, simultaneamente, a todas as necessidades da alma humana, às múltiplas e importantes urgências do momento atual. O Espiritismo se dirige, ao mesmo tempo, ao cérebro e ao coração, à inteligência, à consciência e à razão.

O que forma o poder e a eficácia do Espiritismo é que as satisfações intelectuais e morais que ele nos apresenta e os ensinamentos que nos proporciona formam, no seu conjunto, majestosa unidade e uma soberba síntese científica, filosófica, moral e social.

Qualquer doutrina que não busque esses diferentes fins carecerá de equilíbrio.

A moral que provém do cérebro é estéril; só a do sentimento e do coração pode tornar o homem realmente humano, acessível à piedade, compassivo para com todas as dores e dedicado a seu próximo.

Não há dúvida de que devemos estudar os fatos dando-lhes a merecida importância, porém, como pretende Bergson, mais além e bem mais alto que os fatos, deve-se verificar a meta para a qual, por seu intermédio, nos conduzem as forças invisíveis pelas ásperas sendas do destino.

Portanto, o Espiritismo não é apenas o fenômeno físico, a dança das mesas, como ainda parecem acreditar alguns homens. Ele é todo um esforço do Além para tirar da alma humana suas dúvidas e suas enfermidades morais, obrigando-a a ter plena consciência de si mesma, realizando seus gloriosos fins.

O Espiritismo é o raio de esperança que vem aclarar nosso sombrio Universo, nossa Terra de lama, sangue e lágrimas; é o raio luminoso que vem clarear as habitações miseráveis, penetrando nas residências tristes onde a desgraça habita e onde gemem os que padecem.

O Espiritismo é o chamado do Infinito; são as vozes que chegam para proclamar o mais nobre e mais poderoso ideal que o gênio humano já sonhou.

Atendendo a esses apelos, a essas vozes, as frontes curvadas sob o peso da vida se levantam e os desesperados, os náufragos da existência cobram ânimo, vendo, no sombrio céu de seu pensamento, brilhar uma aurora que anuncia novos tempos, tempos bem melhores para a humanidade.

O Espiritismo é a comunhão das almas que se chamam e se respondem através do espaço. Graças a ele chegam até nós notícias dos que foram nossos companheiros de lutas na Terra. Pensávamos tê-los perdido e eis que nos sentimos ligados a eles novamente!

É uma grande alegria saber e sentir que estamos vinculados àqueles a quem amamos, unidos através dos séculos, porque a morte é apenas uma ilusão da vista e toda separação é só passageira e aparente.

Não nos sentimos apenas ligados a eles, porém a todas as almas que povoam a imensidão, porque o Universo é uma grande família.

Nos milhares de mundos que giram nos espaços, por toda parte, possuímos irmãos e irmãs que estamos destinados a encontrar e conhecer algum dia e por toda parte existem almas com as quais continuaremos nosso progresso, debaixo de leis sábias, profundas e eternas!

O sentimento e o poderoso instinto da vida e da solidariedade universais despertarão, aos poucos, em nós.

Através desse meio, sentir-nos-emos vinculados aos mais humildes como aos mais nobres espíritos; sentir-nos-emos na mesma categoria dos heróis, dos sábios e dos gênios, teremos a possibilidade de nos reunirmos com eles na luz, quando também houvermos trabalhado, lutado, padecido e merecido.

Finalmente, o Espiritismo é toda a movimentação da vida invisível; um universo vivo – até bem pouco ignorado, exceto por alguns poucos – e que sabemos e sentimos que existe, agita-se, palpita, vibrando em nosso derredor e enchendo o espaço com radiosos pensamentos, pensamentos de amor e inspirações geniais.

Cada vez mais, iremos senti-lo vivendo e agindo, graças ao desenvolvimento de faculdades que se multiplicarão, crescerão e se tornarão comuns a um grande número de pessoas.

Dessa forma, conseguiremos também a valiosa certeza da proteção, do amparo que do Além estende-se sobre nós; a prova de que a solicitude do Alto envolve todos os peregrinos da existência no seu penoso jornadear terreno.

Na luta que está sendo travada para o progresso da humanidade – a grandiosa batalha das idéias – o Espiritismo é o mais forte dos combatentes, porque nele se reencontram a vida e a morte, a Terra e o Céu se reúnem e se ligam para as lides do pensamento.

Lutemos, portanto, com nobreza, habilidade e prudência, porque o mundo invisível está conosco.

Elevemos o nosso brado de esperança e confiança na justiça eterna e consciente que governa os mundos.

Acreditemos, esperemos e trabalhemos.
Leon Denis
Fonte; http://espiritismoparainiciantes.blogspot.com.br/


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domingo, 8 de junho de 2014

A MEDIUNIDADE

Todas as manifestações da Natureza e da vida se resumem em vibrações, mais ou menos rápidas e extensas, conforme as causas que as produzem. Tudo vibra no Universo: a luz, o som, o calor, a eletricidade, os raios químicos, os raios catódicos, as ondas hertzianas, etc., não são mais que diferentes modalidades de ondulação, graus sucessivos, que em seu conjunto constituem a escala ascensional das manifestações da energia.

Esses graus são muito afastados entre si. O som percorre 340 metros por segundo; a luz, no mesmo tempo, faz o percurso de 300.000 quilômetros; a eletricidade se propaga com uma rapidez que se nos afigura incalculável. Os nossos sentidos físicos, porém, não nos permitem perceber todos os modos de vibração. Sua impotência para dar uma impressão completa das forças da Natureza é um fato suficientemente conhecido para que tenhamos necessidade de insistir sobre esse ponto.

Só no domínio da óptica, sabemos que as ondas luminosas não nos impressionam a retina senão nos limites das sete cores, certas radiações solares escapam à nossa vista; chamam-se, por isso, raios obscuros.

Entre o limite dos sons, cujas vibrações alcançam de 24.000 a 60.000 por segundo, e a sensação de calor, que se mede por trilhões de vibrações, nada percebemos. O mesmo acontece entre a sensação de calor e de luz, que corresponde, na média, a 500 trilhões de vibrações por segundo. (34)

Nessa prodigiosa ascensão, os nossos sentidos representam paradas muitíssimo espaçadas, estações dispostas a consideráveis distâncias uma das outras, uma rota sem-fim. Entre essas diversas
paradas, por exemplo, entre os sons agudos e os fenômenos de calor e de luz, destes, em seguida, até às zonas vibratórias afetadas pelos raios catódicos, há para nós como que abismos. Para seres, porém, dotados de sentidos mais sutis ou mais numerosos que os nossos, esses abismos, desertos e obscuros na aparência, não estariam preenchidos? Entre as vibrações percebidas pelo ouvido e as que nos impressionam a vista não há mais que o nada no domínio das forças e da vida universal ?

Seria bem pouco sensato acreditá-lo, porque tudo em a Natureza se sucede, se encadeia e se desdobra, de elo em elo, por gradativas transições. Em parte alguma há salto brusco, hiato, vácuo. O que resulta destas considerações é simplesmente a insuficiência do nosso organismo, demasiado pobre para perceber todas as modalidades da energia.

O que dizemos das forças em ação no Universo, aplica-se igualmente ao conjunto dos seres e das coisas em suas diversas formas, em seus diferentes graus de condensação ou de rarefação.

O nosso conhecimento do Universo se restringe ou amplia conforme o número e a delicadeza de nossos sentidos. O nosso organismo atual não nos permite abranger mais que limitadíssimo círculo do império das coisas. A maior parte das formas da vida nos atuais, e imediatamente se há de o invisível revelar, será preenchido o vácuo, animado o que era soturna insensibilidade.

Poderíamos mesmo possuir sentidos diferentes que, por sua estrutura anatômica, modificariam totalmente a natureza de nossas sensações atuais, de modo a nos fazer ouvir as cores e saborear os sons. Bastaria para isso que no lugar e posição da retina um feixe de nervos pudesse ligar o fundo do olho ao ouvido.

Nesse caso ouviríamos o que vemos. Em lugar de contemplar o céu estrelado, perceberíamos a harmonia das esferas e não seriam por isso menos exatos os nossos conhecimentos astronômicos. Se os nossos sentidos, em lugar de separados, estivessem reunidos, não possuiríamos mais que um único sentido generalizado, que perceberia ao mesmo tempo os diversos gêneros de fenômenos.

Estas considerações, deduzidas das mais rigorosas observações científicas, nos demonstram a insuficiência das teorias materialistas. Pretendem estas fundar o edifício das leis naturais sobre a
experiência adquirida mediante o nosso atual organismo, ao passo que, com uma organização mais perfeita, esta experiência seria bem diversa.

Pela simples modificação dos nossos órgãos, com efeito, o mundo, tal como o conhecemos, se poderia transformar e mudar de aspecto, sem que de leve a realidade total das coisas se .alterasse. Seres constituídos de modo diferente poderiam viver no mesmo meio sem se verem, sem se conhecerem.

E se, em conseqüência do desenvolvimento orgânico de alguns desses seres, em seus diversos apropriados "habitat", seus meios de percepção lhes permitissem entrar em relações com aqueles cuja organização é diferente, nada haveria nisso de sobrenatural nem de miraculoso, mas simplesmente um conjunto de fenômenos naturais, regidos por leis ainda ignoradas desses seres, entre os outros, menos favorecidos no que se refere ao conhecimento.

Ora, é o que precisamente se produz em nossas relações, com os Espíritos dos homens falecidos, em todos os casos em que é possível a um médium servir de intermediário entre as duas humanidades, visível e invisível. Nos fenômenos espíritas, dois mundos, cujas organizações e leis conhecidas são diferentes, entram em contacto, e assomando a essa linha divisória, a essa fronteira que os separava
mas que desaparece, o pensador ansioso vê desdobrarem-se perspectivas infinitas. Vê bosquejarem-se os elementos de uma ciência do Universo muito vasta e mais completa que a do passado, conquanto seja o seu prolongamento lógico; e essa ciência não vem destruir a noção das leis atualmente conhecidas, mas ampliá-la em vastas proporções, pois que traça ao espírito humano a rota segura que o conduzirá à aquisição dos conhecimentos e dos poderes necessários a firmar em sólidas bases sua tarefa presente e seu destino futuro.

*
 Acabamos de aludir ao papel dos médiuns. O médium é o agente indispensável, com cujo auxílio se produzem as manifestações do mundo invisível.

Assinalamos a impotência dos nossos sentidos, desde que são aplicados aos estudos dos fenômenos da vida. Nas ciências experimentais, não tardou a ser preciso recorrer a instrumentos para suprir essa deficiência do organismo humano e ampliar o nosso campo de observação. Vieram assim o telescópio e o microscópio revelar-nos a existência do infinitamente grande e do infinitamente pequeno.

A partir do estado gasoso, a matéria escapava aos nossos sentidos. Os tubos de Crookes, as placas sensíveis nos permitem prosseguir os estudos no domínio, por muito tempo inexplorado, da matéria radiante.

Aí, por enquanto, se detêm os meios de investigação da Ciência. Mais além, todavia, se entrevêem estados da matéria e da força que um instrumento aperfeiçoado, mais dia menos dia, nos tornará familiares.

 Onde faltam ainda os meios artificiais, vêm certos indivíduos trazer ao estudo dos fenômenos vitais o concurso de preciosas
faculdades. É assim que o sensitivo hipnótico representa o instrumento que tem permitido sondar as profundezas ainda misteriosas do "eu humano", o proceder a uma análise minuciosa de todos os modos de sensibilidade, de todos os aspectos da memória e da vontade.

O médium vem, por sua vez, desempenhar um papel essencial no estudo dos fenômenos espíritas. Participando simultaneamente, por seu invólucro fluídico, da vida do Espaço e, pelo corpo físico, da vida terrestre, é ele o intermediário obrigatório entre dois mundos.

O estudo, pois, da mediunidade prende-se intimamente a todos os problemas do Espiritismo; é mesmo a sua chave. O mais importante, no exame dos fenômenos, é distinguir a parte que é preciso atribuir ao organismo e à personalidade do médium e a que provém de uma intervenção estranha, e determinar em seguida a natureza dessa intervenção.

O Espírito, separado da matéria grosseira pela morte, não pode mais sobre ela agir; nem se manifestar na esfera humana sem o auxilio de uma força, de uma energia, que ele haure no organismo de um ser vivo. Toda pessoa suscetível de fornecer, de exteriorizar essa força, é apta para desempenhar um papel nas manifestações físicas. deslocação de objetos sem contacto, transportes, sons de pancadas, mesas giratórias, levitações, materializações. É essa a mais comum, a mais generalizada forma da mediunidade; não requer nenhum desenvolvimento intelectual, nem adiantamento moral. É uma simples propriedade fisiológica, observada em pessoas de todas as condições. Em todas as formas inferiores da mediunidade o indivíduo é comparável, quer a um acumulador de força, quer a um aparelho telegráfico ou telefônico, transmissor do pensamento do operador.

A comparação é tanto mais exata quanto a força psíquica se esgota, como todas as forças não renovadas; a intensidade das manifestações está na razão direta do estado físico e mental do médium. Seria um erro considerar este como um histérico ou um
doente; é simplesmente um indivíduo dotado de capacidades mais extensas ou de mais sutis percepções que outro qualquer.

A saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua faculdade. Conhecemos um grande número de médiuns, que gozam perfeita saúde; temos notado mesmo um fato significativo, e é quequando a saúde se lhes altera, os fenômenos se enfraquecem e cessam até de se produzir.

A mediunidade apresenta variedades quase infinitas, desde as mais vulgares formas até as mais sublimes manifestações. Nunca é idêntica em dois indivíduos, e se diversifica segundo os caracteres e os temperamentos. Em um grau superior, é como uma centelha do céu a dissipar as humanas tristezas e esclarecer as obscuridades que nos envolvem.

A mediunidade de efeitos físicos é geralmente utilizada por Espíritos de ordem vulgar. Requer continuo e atento exame. É pela mediunidade de efeitos intelectuais - inspiração escrita - que habitualmente nos são transmitidos os ensinos dos Espíritos
elevados. Para produzir bons resultados, exige conhecimentos muito extensos. Quanto mais instruído e dotado de qualidades morais é o médium, maiores recursos facilita aos Espíritos. Em todos os casos, contudo, o indivíduo não é mais do que um instrumento; este, porém, deve ser apropriado à função de que é encarregado. Um artista, por mais hábil que seja, nunca poderá tirar de um instrumento incompleto mais que medíocre partido. O mesmo se dá com o Espírito em relação ao médium intuitivo, no qual um claro discernimento, uma lúcida inteligência, o saber mesmo, são condições essenciais.

Verdade é que se têm visto sensitivos escreverem em línguas desconhecidas ou tratar de questões cientificas e abstratas, muito acima de sua capacidade. São raros, porém, esses casos, que exigem grandes esforços da parte dos Espíritos. Estes preferem recorrer a intermediários maleáveis, aperfeiçoados pelo estudo, suscetíveis de os compreender e lhes interpretar fielmente os pensamentos.

Nessa ordem de manifestações, os invisíveis atuam sobre o intelecto do sensitivo e lhes projetam na esfera mental suas idéias. Às vezes os pensamentos se confundem; os dois Espíritos revestem uma forma, uma expressão, em que se acham reproduzidos o estilo e a linguagem habitual do médium. Ainda aí se requer escrupuloso exame. Será, todavia, fácil ao observador destacar, da insignificância de inúmeros ditados e do contingente pessoal dos sensitivos, o quepertence aos Espíritos adiantados, cujas comunicações revestem um caráter grandioso, um cunho de verdade muito acima das possibilidades do médium.

Nos fenômenos de transe ou do sonambulismo em seus diversos graus, os sentidos materiais vêm a ser pouco a pouco substituídos pelos sentidos psíquicos, os meios de percepção e de atividade aumentam em proporções tanto mais consideráveis quanto mais profundo é o sono e mais completo o desprendimento perispirituais.

Nesse estado, nada percebe o corpo físico; serve simplesmente de transmissor, quando o médium ainda pode exprimir suas sensações. Já na exteriorização parcial se produz esse fenômeno. No estado de vigília, sob a influência oculta, a tal ponto o invólucro fluídico do sensitivo se desprende e irradia que, permanecendo embora intimamente ligado ao corpo, começa a perceber as coisas ocultas aos nossos sentidos exteriores; é o estado de clarividência, ou dupla vista, de visão à distância através dos corpos opacos, audição, psicometria, etc.

Em mais elevadas graduações, no estado de hipnose, a exteriorização se acentua até ao desprendimento completo. A alma, liberta de sua prisão carnal, paira nas alturas; seus modos de percepção, subitamente recobrados, lhe permitem abranger um vasto círculo e se transporta com a rapidez do pensamento. A essa ordem de fenômenos pertence o estado de transe, que torna possível a incorporação de Espíritos desencarnados ao envoltório do médium, deixado.livre, semelhante a um viajante que penetra em casa devoluta.

Os sentidos psíquicos, inativas no estado de vigília na maior parte dos homens, podem, entretanto, ser utilizados. Basta, para isso, abstrair-se das coisas materiais, cerrar os sentidos físicos a todo ruído e toda visão exterior, e, por um esforço de vontade, interrogar esse sentido profundo em que se resumem todas as nossas faculdades superiores e que denominamos o sexto sentido, a intuição, a percepção espiritual. E por ele que entramos em contacto direto com o mundo dos Espíritos, mais facilmente que por qualquer outro meio; porque esse sentido constitui atributo da alma, o próprio
fundo de sua natureza, e acha-se fora do alcance dos sentidos materiais, de que difere inteiramente.

A Ciência menosprezou até hoje esse sentido - o mais belo de todos; e é por isso que se tem conservado ignorante de tudo o que se refere ao mundo do invisível. As regras que ela aplica ao plano físico serão insuficientes, sempre que as quiserem aplicar ao mundo dos Espíritos. Para penetrar neste, é preciso antes de tudo compreender que nós mesmos soros espíritos, e que não podemos entrar em relação com o universo espiritual senão pelos sentidos do espírito.


Referência:
34O grande físico Willian Crookes organizou uma classificação, segundo a qual as vibrações sonoras se  acham  distribuídas  do  5º  ao  15º  graus,  conforme  a  intensidade  e  a  tonalidade.  A  eletricidade  e  a imantação  do  20º  ao  35º  graus.  Do  45º  ao  50º  encontram­se  o  calor e  a  luz.  Além  do  58º  grau,  manifestam­ se as ondulações catódicas.Nos intervalos, porém, extensas regiões de energias permanecem  inexploradas, inacessíveis aos nossos sentidos.

Fonte;
Livro No Invisível - Leon Denis 


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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

LEON DENIS, OS FLUIDOS. O MAGNETISMO


O mundo dos fluidos, que se entrevê além do estado radiante, reserva à Ciência muitas surpresas e descobertas. Inumeráveis são as variedades de formas que a matéria, tornando-se sutil, pode revestir para as necessidades de uma vida superior.

Muitos observadores já sabem que, além de nossas especulações, além do véu opaco que a nossa espessa constituição ostenta como um nevoeiro em torno de nós, um outro mundo existe, não mais o dos infinitamente pequenos, mas um universo fluídico que nos envolve, completamente povoado de multidões invisíveis.

Seres sobre-humanos, mas não sobrenaturais, vivem perto de nós, testemunhas mudas de nossa existência e só manifestam a sua em determinadas condições, sob a ação de leis naturais, precisas, rigorosas. Importa penetrar o segredo dessas leis, pois, a partir de seu conhecimento decorrerá para o homem a posse de forças consideráveis, cuja utilização prática pode transformar a face da Terra e a ordem das sociedades. É esse o domínio da psicologia experimental, alguns  diriam, das ciências ocultas, ciências velhas como o mundo.

Já falamos dos prodígios efetuados nos lugares sagrados da Índia, do Egito e da Grécia. Não está nos nossos planos aí retornar, mas há uma questão conexa que não poderíamos deixar passar em silêncio, a do magnetismo.

O magnetismo, estudado e praticado em segredo em todas as épocas da História, vulgarizou-se sobretudo desde o fim do século XVIII. As academias de sábios ainda o têm sob suspeita e é sob o nome de hipnotismo que os mestres da Ciência quiseram descobri-lo um século após sua aparição.

“O hipnotismo, disse o Sr. de Rochas,86 até aqui, só estudado oficialmente, é apenas o vestíbulo de um vasto e maravilhoso edifício já explorado, em grande parte, pelos antigos magnetizadores.”

O mal é que os sábios oficiais — quase todos médicos — que se ocupam do magnetismo ou, como eles mesmos dizem, do hipnotismo, geralmente, apenas experimentam com pessoas doentes, com internos de hospitais. A irritação nervosa e as afecções mórbidas dessas pessoas só permitem obter fenômenos incoerentes, incompletos.

Alguns sábios parecem recear que o estudo desses mesmos fenômenos, obtidos em condições normais, não forneça a prova da existência no homem do princípio anímico. É, pelo menos, o que sobressai dos comentários do doutor Charcot, de quem não se negará a competência.

“O hipnotismo, dizia, é um mundo no qual encontra-se, ao lado de fatos palpáveis, materiais, grosseiros, acompanhando sempre a fisiologia, fatos absolutamente extraordinários, inexplicáveis até aqui, que não respondem a nenhuma lei fisiológica e inteiramente estranhas e surpreendentes.
 Ocupo-me dos primeiros e deixo de lado os segundos.”

Assim, os mais célebres médicos confessam que essa questão ainda está para eles cheia de obscuridade. Nas suas investigações, limitam-se a observações superficiais e desdenham os fatos que poderiam conduzi-los diretamente à solução do problema. A Ciência Materialista hesita em aventurar-se no terreno da Psicologia Experimental; ela sente que, ali, se encontraria na presença das forças psíquicas da alma, em uma palavra, a mesma da qual ela negou a existência com tanta obstinação.

Seja como for, o magnetismo, depois de ter sido repelido durante longo tempo pelas corporações sábias, começa sob um outro nome a chamar sua atenção. Mas os resultados seriam de outro modo fecundos se, ao invés de operar sobre histéricos, experimentasse em pessoas sãs e válidas. O sono magnético desenvolve nos indivíduos lúcidos, faculdades novas, um poder de percepção incalculável. O fenômeno mais notável é a visão a grande distância sem o concurso dos olhos. Um sonâmbulo pode orientar-se durante a noite, ler e escrever de olhos fechados, entregar-se aos trabalhos mais delicados e mais complicados.

Outros indivíduos veem no interior do corpo humano, discernem seus males e suas causas, leem o pensamento no cérebro,87 penetram, sem o concurso dos sentidos, nos domínios mais ocultos e até no limiar de um outro mundo. Eles auscultam os mistérios da vida fluídica, entram em contato com os seres invisíveis dos quais falamos, transmitem-nos seus avisos, seus ensinos. Voltaremos, mais tarde, sobre esse último ponto; mas, desde agora, podemos considerar estabelecido o fato que decorre das experiências de Puységur, Deleuze, du Potet e seus inúmeros discípulos: o sono magnético, imobilizando o corpo, anulando os sentidos, restitui a liberdade ao ser psíquico, centuplica-lhe os meios íntimos de percepção e o faz entrar num mundo vedado aos seres corporais.

Esse ser psíquico que, durante o sono, vive, pensa, age fora do corpo, que afirma sua personalidade independente por uma maneira de ver e dos conhecimentos superiores àqueles possuídos no estado de vigília, o que é ele, senão a própria alma, revestida de forma fluídica? Essa alma, que não é apenas uma resultante de forças vitais, do jogo dos órgãos, mas uma causa livre, uma vontade atuante, afastada momentaneamente da sua prisão, planando sobre a Natureza inteira e desfrutando da integridade das suas faculdades inatas? Assim, os fenômenos magnéticos tornam evidentes, não somente a existência da alma, mas também, sua imortalidade; pois se, durante a existência corporal, essa alma se desliga do seu invólucro grosseiro, vive e pensa fora dele, com mais forte razão achará na morte, a plenitude de sua liberdade.

A ciência do magnetismo coloca o homem na posse de maravilhosos recursos. A ação dos fluidos sobre o corpo humano é imensa; suas propriedades são múltiplas, variadas. Numerosos fatos têm provado que, com sua ajuda, pode-se aliviar os sofrimentos mais cruéis. Os grandes missionários não curavam pela imposição das mãos? Aí está todo o segredo dos seus pretensos milagres. Os fluidos, obedecendo a uma vontade poderosa, a um desejo ardente de fazer o bem, penetram em todos os organismos débeis e restituem, gradualmente, o vigor nos fracos, a saúde nos enfermos.

Pode-se objetar que uma legião de charlatães abusa, para explorá-lo, da credulidade e da ignorância do público, gabando-se de um poder magnético imaginário. Esses fatos entristecedores são a consequência inevitável do estado de inferioridade moral da Humanidade. Uma coisa nos consola: a certeza de que não há homem animado de uma simpatia profunda pelos deserdados, de um verdadeiro amor por aqueles que sofrem, que não possa aliviar seus semelhantes através de uma prática sincera e esclarecida do magnetismo.

86 Os Estados Profundos da Hipnose, pelo coronel de Rochas d’Aiglun. (N.A.)
87 “Ele vê (o indivíduo) vibrar as células cerebrais sob a influência do pensamento e as compara às estrelas que se dilatam e se contraem sucessivamente.” (Os Estados Profundos da Hipnose, pelo coronel de Rochas, ex-administrador da Escola Politécnica.)
Desde então o professor Th. Flournoy, da Universidade de Genebra, escrevia: “Basta folhear a literatura médica mais recente para ali encontrar, pela pena de utores insuspeitos de misticismo, exemplos de visão interna. De um lado, psiquiatras franceses acabam de publicar alguns casos de alienados que apresentaram, poucos dias antes do seu fim, uma melhora tão súbita quanto inexplicável, ao mesmo tempo que o pressentimento de sua morte próxima. Do outro lado, o fato de que os sonâmbulos que têm a clara visão de suas vísceras, às vezes, até da sua estrutura íntima; esse fato vem pela primeira vez franquear os limites da Ciência sob o nome de autoscopia interna ou autorrepresentação do organismo; e, por uma divertida ironia da sorte, os padrinhos desse recém-chegado encontram-se entre os que pertencem a uma escola que pretende rejeitar qualquer explicação psicológica desses fatos.” (Arquivos de
Psicologia, agosto de 1903). (N.A.)


 Referencias;

LIVRO;
DEPOIS DA MORTE DE LÉON DENIS CAP. XVII - 3A  EDIÇÃO CELD - RIO DE JANEIRO, 2011 - TRADUÇÃO DE  MARIA LUCIA ALCANTARA DE CARVALHO