Todas
as manifestações da Natureza e da vida se resumem em vibrações, mais ou menos
rápidas e extensas, conforme as causas que as produzem. Tudo vibra no Universo:
a luz, o som, o calor, a eletricidade, os raios químicos, os raios catódicos,
as ondas hertzianas, etc., não são mais que diferentes modalidades de ondulação,
graus sucessivos, que em seu conjunto constituem a escala ascensional das
manifestações da energia.
Esses
graus são muito afastados entre si. O som percorre 340 metros por segundo; a
luz, no mesmo tempo, faz o percurso de 300.000 quilômetros; a eletricidade se
propaga com uma rapidez que se nos afigura incalculável. Os nossos sentidos
físicos, porém, não nos permitem perceber todos os modos de vibração. Sua impotência
para dar uma impressão completa das forças da Natureza é um fato suficientemente
conhecido para que tenhamos necessidade de insistir sobre esse ponto.
Só
no domínio da óptica, sabemos que as ondas luminosas não nos impressionam a
retina senão nos limites das sete cores, certas radiações solares escapam à
nossa vista; chamam-se, por isso, raios obscuros.
Entre
o limite dos sons, cujas vibrações alcançam de 24.000 a 60.000 por segundo, e a
sensação de calor, que se mede por trilhões de vibrações, nada percebemos. O
mesmo acontece entre a sensação de calor e de luz, que corresponde, na média, a
500 trilhões de vibrações por segundo. (34)
Nessa
prodigiosa ascensão, os nossos sentidos representam paradas muitíssimo
espaçadas, estações dispostas a consideráveis distâncias uma das outras, uma
rota sem-fim. Entre essas diversas
paradas,
por exemplo, entre os sons agudos e os fenômenos de calor e de luz, destes, em
seguida, até às zonas vibratórias afetadas pelos raios catódicos, há para nós
como que abismos. Para seres, porém, dotados de sentidos mais sutis ou mais
numerosos que os nossos, esses abismos, desertos e obscuros na aparência, não
estariam preenchidos? Entre as vibrações percebidas pelo ouvido e as que nos impressionam
a vista não há mais que o nada no domínio das forças e da vida universal ?
Seria
bem pouco sensato acreditá-lo, porque tudo em a Natureza se sucede, se encadeia
e se desdobra, de elo em elo, por gradativas transições. Em parte alguma há
salto brusco, hiato, vácuo. O que resulta destas considerações é simplesmente a
insuficiência do nosso organismo, demasiado pobre para perceber todas as
modalidades da energia.
O
que dizemos das forças em ação no Universo, aplica-se igualmente ao conjunto
dos seres e das coisas em suas diversas formas, em seus diferentes graus de
condensação ou de rarefação.
O
nosso conhecimento do Universo se restringe ou amplia conforme o número e a
delicadeza de nossos sentidos. O nosso organismo atual não nos permite abranger
mais que limitadíssimo círculo do império das coisas. A maior parte das formas
da vida nos atuais, e imediatamente se há de o invisível revelar, será
preenchido o vácuo, animado o que era soturna insensibilidade.
Poderíamos
mesmo possuir sentidos diferentes que, por sua estrutura anatômica,
modificariam totalmente a natureza de nossas sensações atuais, de modo a nos
fazer ouvir as cores e saborear os sons. Bastaria para isso que no lugar e
posição da retina um feixe de nervos pudesse ligar o fundo do olho ao ouvido.
Nesse
caso ouviríamos o que vemos. Em lugar de contemplar o céu estrelado,
perceberíamos a harmonia das esferas e não seriam por isso menos exatos os
nossos conhecimentos astronômicos. Se os nossos sentidos, em lugar de
separados, estivessem reunidos, não possuiríamos mais que um único sentido
generalizado, que perceberia ao mesmo tempo os diversos gêneros de fenômenos.
Estas
considerações, deduzidas das mais rigorosas observações científicas, nos
demonstram a insuficiência das teorias materialistas. Pretendem estas fundar o
edifício das leis naturais sobre a
experiência
adquirida mediante o nosso atual organismo, ao passo que, com uma organização
mais perfeita, esta experiência seria bem diversa.
Pela
simples modificação dos nossos órgãos, com efeito, o mundo, tal como o
conhecemos, se poderia transformar e mudar de aspecto, sem que de leve a
realidade total das coisas se .alterasse. Seres constituídos de modo diferente
poderiam viver no mesmo meio sem se verem, sem se conhecerem.
E
se, em conseqüência do desenvolvimento orgânico de alguns desses seres, em seus
diversos apropriados "habitat", seus meios de percepção lhes
permitissem entrar em relações com aqueles cuja organização é diferente, nada
haveria nisso de sobrenatural nem de miraculoso, mas simplesmente um conjunto
de fenômenos naturais, regidos por leis ainda ignoradas desses seres, entre os
outros, menos favorecidos no que se refere ao conhecimento.
Ora,
é o que precisamente se produz em nossas relações, com os Espíritos dos homens
falecidos, em todos os casos em que é possível a um médium servir de
intermediário entre as duas humanidades, visível e invisível. Nos fenômenos
espíritas, dois mundos, cujas organizações e leis conhecidas são diferentes,
entram em contacto, e assomando a essa linha divisória, a essa fronteira que os
separava
mas
que desaparece, o pensador ansioso vê desdobrarem-se perspectivas infinitas. Vê
bosquejarem-se os elementos de uma ciência do Universo muito vasta e mais
completa que a do passado, conquanto seja o seu prolongamento lógico; e essa
ciência não vem destruir a noção das leis atualmente conhecidas, mas ampliá-la
em vastas proporções, pois que traça ao espírito humano a rota segura que o
conduzirá à aquisição dos conhecimentos e dos poderes necessários a firmar em
sólidas bases sua tarefa presente e seu destino futuro.
*
Acabamos de aludir ao papel dos médiuns. O
médium é o agente indispensável, com cujo auxílio se produzem as manifestações
do mundo invisível.
Assinalamos
a impotência dos nossos sentidos, desde que são aplicados aos estudos dos
fenômenos da vida. Nas ciências experimentais, não tardou a ser preciso
recorrer a instrumentos para suprir essa deficiência do organismo humano e
ampliar o nosso campo de observação. Vieram assim o telescópio e o microscópio revelar-nos
a existência do infinitamente grande e do infinitamente pequeno.
A
partir do estado gasoso, a matéria escapava aos nossos sentidos. Os tubos de
Crookes, as placas sensíveis nos permitem prosseguir os estudos no domínio, por
muito tempo inexplorado, da matéria radiante.
Aí,
por enquanto, se detêm os meios de investigação da Ciência. Mais além, todavia,
se entrevêem estados da matéria e da força que um instrumento aperfeiçoado,
mais dia menos dia, nos tornará familiares.
Onde faltam ainda os meios artificiais, vêm
certos indivíduos trazer ao estudo dos fenômenos vitais o concurso de preciosas
faculdades.
É assim que o sensitivo hipnótico representa o instrumento que tem permitido
sondar as profundezas ainda misteriosas do "eu humano", o proceder a
uma análise minuciosa de todos os modos de sensibilidade, de todos os aspectos
da memória e da vontade.
O
médium vem, por sua vez, desempenhar um papel essencial no estudo dos fenômenos
espíritas. Participando simultaneamente, por seu invólucro fluídico, da vida do
Espaço e, pelo corpo físico, da vida terrestre, é ele o intermediário
obrigatório entre dois mundos.
O
estudo, pois, da mediunidade prende-se intimamente a todos os problemas do
Espiritismo; é mesmo a sua chave. O mais importante, no exame dos fenômenos, é
distinguir a parte que é preciso atribuir ao organismo e à personalidade do
médium e a que provém de uma intervenção estranha, e determinar em seguida a natureza
dessa intervenção.
O
Espírito, separado da matéria grosseira pela morte, não pode mais sobre ela
agir; nem se manifestar na esfera humana sem o auxilio de uma força, de uma energia,
que ele haure no organismo de um ser vivo. Toda pessoa suscetível de fornecer,
de exteriorizar essa força, é apta para desempenhar um papel nas manifestações
físicas. deslocação de objetos sem contacto, transportes, sons de pancadas, mesas
giratórias, levitações, materializações. É essa a mais comum, a mais
generalizada forma da mediunidade; não requer nenhum desenvolvimento
intelectual, nem adiantamento moral. É uma simples propriedade fisiológica,
observada em pessoas de todas as condições. Em todas as formas inferiores da
mediunidade o indivíduo é comparável, quer a um acumulador de força, quer a um aparelho
telegráfico ou telefônico, transmissor do pensamento do operador.
A
comparação é tanto mais exata quanto a força psíquica se esgota, como todas as
forças não renovadas; a intensidade das manifestações está na razão direta do
estado físico e mental do médium. Seria um erro considerar este como um
histérico ou um
doente;
é simplesmente um indivíduo dotado de capacidades mais extensas ou de mais
sutis percepções que outro qualquer.
A
saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua faculdade. Conhecemos
um grande número de médiuns, que gozam perfeita saúde; temos notado mesmo um
fato significativo, e é quequando a saúde se lhes altera, os fenômenos se
enfraquecem e cessam até de se produzir.
A
mediunidade apresenta variedades quase infinitas, desde as mais vulgares formas
até as mais sublimes manifestações. Nunca é idêntica em dois indivíduos, e se
diversifica segundo os caracteres e os temperamentos. Em um grau superior, é
como uma centelha do céu a dissipar as humanas tristezas e esclarecer as
obscuridades que nos envolvem.
A
mediunidade de efeitos físicos é geralmente utilizada por Espíritos de ordem
vulgar. Requer continuo e atento exame. É pela mediunidade de efeitos
intelectuais - inspiração escrita - que habitualmente nos são transmitidos os
ensinos dos Espíritos
elevados.
Para produzir bons resultados, exige conhecimentos muito extensos. Quanto mais
instruído e dotado de qualidades morais é o médium, maiores recursos facilita
aos Espíritos. Em todos os casos, contudo, o indivíduo não é mais do que um
instrumento; este, porém, deve ser apropriado à função de que é encarregado. Um
artista, por mais hábil que seja, nunca poderá tirar de um instrumento
incompleto mais que medíocre partido. O mesmo se dá com o Espírito em relação
ao médium intuitivo, no qual um claro discernimento, uma lúcida inteligência, o
saber mesmo, são condições essenciais.
Verdade
é que se têm visto sensitivos escreverem em línguas desconhecidas ou tratar de
questões cientificas e abstratas, muito acima de sua capacidade. São raros,
porém, esses casos, que exigem grandes esforços da parte dos Espíritos. Estes
preferem recorrer a intermediários maleáveis, aperfeiçoados pelo estudo,
suscetíveis de os compreender e lhes interpretar fielmente os pensamentos.
Nessa
ordem de manifestações, os invisíveis atuam sobre o intelecto do sensitivo e
lhes projetam na esfera mental suas idéias. Às vezes os pensamentos se
confundem; os dois Espíritos revestem uma forma, uma expressão, em que se acham
reproduzidos o estilo e a linguagem habitual do médium. Ainda aí se requer
escrupuloso exame. Será, todavia, fácil ao observador destacar, da
insignificância de inúmeros ditados e do contingente pessoal dos sensitivos, o
quepertence aos Espíritos adiantados, cujas comunicações revestem um caráter
grandioso, um cunho de verdade muito acima das possibilidades do médium.
Nos
fenômenos de transe ou do sonambulismo em seus diversos graus, os sentidos
materiais vêm a ser pouco a pouco substituídos pelos sentidos psíquicos, os
meios de percepção e de atividade aumentam em proporções tanto mais
consideráveis quanto mais profundo é o sono e mais completo o desprendimento
perispirituais.
Nesse
estado, nada percebe o corpo físico; serve simplesmente de transmissor, quando
o médium ainda pode exprimir suas sensações. Já na exteriorização parcial se
produz esse fenômeno. No estado de vigília, sob a influência oculta, a tal
ponto o invólucro fluídico do sensitivo se desprende e irradia que,
permanecendo embora intimamente ligado ao corpo, começa a perceber as coisas ocultas
aos nossos sentidos exteriores; é o estado de clarividência, ou dupla vista, de
visão à distância através dos corpos opacos, audição, psicometria, etc.
Em
mais elevadas graduações, no estado de hipnose, a exteriorização se acentua até
ao desprendimento completo. A alma, liberta de sua prisão carnal, paira nas alturas;
seus modos de percepção, subitamente recobrados, lhe permitem abranger um vasto
círculo e se transporta com a rapidez do pensamento. A essa ordem de fenômenos
pertence o estado de transe, que torna possível a incorporação de Espíritos
desencarnados ao envoltório do médium, deixado.livre, semelhante a um viajante
que penetra em casa devoluta.
Os
sentidos psíquicos, inativas no estado de vigília na maior parte dos homens,
podem, entretanto, ser utilizados. Basta, para isso, abstrair-se das coisas
materiais, cerrar os sentidos físicos a todo ruído e toda visão exterior, e,
por um esforço de vontade, interrogar esse sentido profundo em que se resumem
todas as nossas faculdades superiores e que denominamos o sexto sentido, a intuição,
a percepção espiritual. E por ele que entramos em contacto direto com o mundo
dos Espíritos, mais facilmente que por qualquer outro meio; porque esse sentido
constitui atributo da alma, o próprio
fundo
de sua natureza, e acha-se fora do alcance dos sentidos materiais, de que
difere inteiramente.
A
Ciência menosprezou até hoje esse sentido - o mais belo de todos; e é por isso
que se tem conservado ignorante de tudo o que se refere ao mundo do invisível.
As regras que ela aplica ao plano físico serão insuficientes, sempre que as
quiserem aplicar ao mundo dos Espíritos. Para penetrar neste, é preciso antes
de tudo compreender que nós mesmos soros espíritos, e que não podemos entrar em
relação com o universo espiritual senão pelos sentidos do espírito.
Referência:
Referência:
34O grande físico Willian Crookes organizou uma classificação, segundo a qual as vibrações sonoras se
acham distribuídas do 5º ao 15º graus,
conforme a intensidade e a tonalidade.
A eletricidade e a imantação do 20º
ao 35º graus. Do 45º ao 50º
encontramse o calor e a luz. Além
do 58º grau, manifestam se as ondulações catódicas.Nos intervalos, porém, extensas regiões de energias permanecem
inexploradas, inacessíveis aos nossos sentidos.
Fonte;
Livro No Invisível - Leon Denis
Fonte;
Livro No Invisível - Leon Denis
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