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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Novo Testamento - Redação


“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”1
HAROLDO DUTRA DIAS

Na época de Jesus eram utilizados rolos de papiro ou de pergaminho para o registro de livros, cartas, documentos públicos ou privados. Havendo necessidade de uma cópia do original (autógrafo), recorria-se ao trabalho dos copistas profissionais, que estavam munidos de equipamento e técnica indispensáveis ao êxito da difícil empreitada.
Do contrário, o interessado deveria lançar-se ao trabalho meticuloso e exaustivo de produzir sua própria cópia, correndo o risco de perder o material, papiro ou pergaminho, por falhas no processo de escrita, acondicionamento ou preparo físico das tintas e dos rolos.
Ao longo dos séculos, os livros que compõem a coletânea chamada Novo Testamento (NT) foram copiados por milhares de pessoas nos mais diversos locais ao redor do Mar Mediterrâneo. A maior parte dessas cópias se perdeu, algumas por desgaste natural do material utilizado, papiro ou pergaminho, outras por ignorância do local onde foram guardadas pelos copistas.
Por volta do século XVIII, foram descobertos diversos locais naquela região onde estavam acondicionados manuscritos do Novo Testamento. Essas descobertas desencadearam verdadeira corrida em busca dos “papiros e pergaminhos” antigos.
Atualmente, estão catalogados cerca de 5.500 manuscritos gregos do NT, sem contar os manuscritos das traduções feitas ao longo dos séculos, tais como manuscritos da  Vulgata Latina, da versão Siríaca, Armênia, Egípcia (Copta), além das citações dos Pais da Igreja.
A catalogação e comparação desses manuscritos ganharam fôlego na década de 70, ocasião em que se reuniram os maiores especialistas do mundo para publicarem as duas edições críticas do texto grego do NT, uma, destinada aos tradutores (UBS), e outra, aos especialistas (Nestle-Aland).
As duas adotam o mesmo texto-padrão, variando apenas as notas de rodapé, que no caso da edição Nestle-Aland é mais robusta e completa.
A essa altura o leitor deve estar se perguntando: o que vem a ser uma “edição crítica”?
Antes de responder a essa aparentemente singela pergunta, convém esclarecer alguns pontos.
O ramo do conhecimento que lida com a comparação e catalogação de manuscritos antigos se chama “Crítica Textual”. O estudioso da área, por sua vez, é denominado “Crítico Textual”.
Considerando que a imprensa foi inventada somente no século XVI, não é difícil imaginar que, antes dessa data, há uma profusão de manuscritos, nas mais diversas línguas, de um número incalculável de autores. Existem os manuscritos gregos de Homero, Platão,
Aristóteles; os manuscritos em latim de Virgílio, Horácio, Santo Agostinho; os manuscritos egípcios, hindus, hebreus, chineses, entre outros. Em suma, toda a literatura antiga está preservada em cópias manuscritas.
Desse modo, os críticos textuais acabam se especializando em determinado autor e/ou livro, razão pela qual não devemos nos surpreender com a existência de especialistas em manuscritos do NT.
O primeiro trabalho de um crítico textual consiste na catalogação, datação, determinação da origem de cada manuscrito em particular que contenha determinado livro ou fragmento dele. Uma vez realizado esse trabalho preliminar, compete-lhe a explicação da história da transmissão daquele texto, separando os manuscritos por região, época, tipo de escrita, tradição textual.
Ao reconstruir a história da transmissão do texto, o crítico textual deve especificar quais são os manuscritos mais antigos, os mais completos, os mais bem redigidos, demonstrando como esses ancestrais chegaram até nós e quais cópias derivam deles, numa espécie de construção da árvore genealógica dos manuscritos.
Encerrado o trabalho de catalogação, inicia-se a comparação crítica de cada frase para se descobrir em quais pontos os manuscritos divergem. Essas divergências são conhecidas como “variantes textuais”.
Obtida a lista de variantes para cada frase do texto, no caso do NT para cada versículo, o crítico textual deve ser capaz de explicar a existência de cada uma em particular, apontando quais delas são alterações intencionais e quais são decorrentes de erro ou desatenção do copista.
A edição crítica de um texto  antigo, portanto, representa a definição do texto adequado, ou seja, aquele que melhor reflete o “texto original perdido (autógrafo)”, após catalogação e comparação do maior número possível de cópias manuscritas disponíveis, acompanhadas de notas de rodapé com as variantes textuais mais importantes.
Em se tratando de textos redigidos antes da invenção da imprensa, os especialistas utilizam apenas edições críticas, pois elas constituem um resumo de todo o material manuscrito disponível para determinado livro, possibilitando ao estudioso a comparação das variantes textuais e a reconstituição da história da transmissão daquele texto. É o caso do Novo Testamento, que dispõe de duas edições críticas, como já mencionado, cuja diferença reside apenas nas notas de rodapé, uma contendo mais variantes textuais do que a outra.
Considerando que essas duas edições críticas somente foram publicadas na década de 70, todas as traduções do NT feitas no século XX se baseiam nesse texto crítico da UBS//Nestle-Aland.
O estudo da edição crítica do texto grego do Novo Testamento nos permite compreender as variantes textuais de todos os versículos, para podermos avaliar de forma crítica quais foram introduzidas com interesse teológico e quais são resultado de simples erro dos copistas.
Por outro lado, é muito comum alguém dizer que determinado versículo foi acrescentado, mas sem embasamento da Crítica Textual, ou seja, sem dizer em quais manuscritos aquele texto está ausente, de modo a comprovar suas afirmações. Não vale apenas dizer algo, é preciso demonstrar mediante provas manuscritas a veracidade das afirmações.
Para tanto, é imprescindível conhecer a “edição crítica” a fundo.
É bom lembrar que é ilusão buscar o autógrafo (manuscrito original) dos textos antigos. No caso do Novo Testamento, nenhum original foi encontrado.
Todos os manuscritos que possuímos (5.500) são cópias feitas ao longo de 1.500 anos.
Esse fato, porém, não nos deve preocupar. Há livros antigos de autores famosos cujos manuscritos são escassos. Alguns deles contam com apenas dois ou três manuscritos descobertos, mas nem por isso duvida-se da autenticidade deles.
O Novo Testamento é o único livro antigo que conta com essa infinidade de cópias manuscritas, portanto, é o livro mais bem atestado da Humanidade. A imensidade de cópias, não obstante o trabalho que oferece aos estudiosos, representa nossa maior segurança, pois permite a definição do texto-padrão com muito mais segurança do que qualquer outro livro antigo.
Seguramente, foi a estratégia adotada pela Espiritualidade superior para preservação dos textos da segunda revelação.
Fonte: Reformador  Ano 128  Nº 2. 175 • Junho 2010


1DIAS,Haroldo D. (Tradutor). O novo testamento. Brasília: EDICEI, 2010. João, 8:32.



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