segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

LEON DENIS, OS FLUIDOS. O MAGNETISMO


O mundo dos fluidos, que se entrevê além do estado radiante, reserva à Ciência muitas surpresas e descobertas. Inumeráveis são as variedades de formas que a matéria, tornando-se sutil, pode revestir para as necessidades de uma vida superior.

Muitos observadores já sabem que, além de nossas especulações, além do véu opaco que a nossa espessa constituição ostenta como um nevoeiro em torno de nós, um outro mundo existe, não mais o dos infinitamente pequenos, mas um universo fluídico que nos envolve, completamente povoado de multidões invisíveis.

Seres sobre-humanos, mas não sobrenaturais, vivem perto de nós, testemunhas mudas de nossa existência e só manifestam a sua em determinadas condições, sob a ação de leis naturais, precisas, rigorosas. Importa penetrar o segredo dessas leis, pois, a partir de seu conhecimento decorrerá para o homem a posse de forças consideráveis, cuja utilização prática pode transformar a face da Terra e a ordem das sociedades. É esse o domínio da psicologia experimental, alguns  diriam, das ciências ocultas, ciências velhas como o mundo.

Já falamos dos prodígios efetuados nos lugares sagrados da Índia, do Egito e da Grécia. Não está nos nossos planos aí retornar, mas há uma questão conexa que não poderíamos deixar passar em silêncio, a do magnetismo.

O magnetismo, estudado e praticado em segredo em todas as épocas da História, vulgarizou-se sobretudo desde o fim do século XVIII. As academias de sábios ainda o têm sob suspeita e é sob o nome de hipnotismo que os mestres da Ciência quiseram descobri-lo um século após sua aparição.

“O hipnotismo, disse o Sr. de Rochas,86 até aqui, só estudado oficialmente, é apenas o vestíbulo de um vasto e maravilhoso edifício já explorado, em grande parte, pelos antigos magnetizadores.”

O mal é que os sábios oficiais — quase todos médicos — que se ocupam do magnetismo ou, como eles mesmos dizem, do hipnotismo, geralmente, apenas experimentam com pessoas doentes, com internos de hospitais. A irritação nervosa e as afecções mórbidas dessas pessoas só permitem obter fenômenos incoerentes, incompletos.

Alguns sábios parecem recear que o estudo desses mesmos fenômenos, obtidos em condições normais, não forneça a prova da existência no homem do princípio anímico. É, pelo menos, o que sobressai dos comentários do doutor Charcot, de quem não se negará a competência.

“O hipnotismo, dizia, é um mundo no qual encontra-se, ao lado de fatos palpáveis, materiais, grosseiros, acompanhando sempre a fisiologia, fatos absolutamente extraordinários, inexplicáveis até aqui, que não respondem a nenhuma lei fisiológica e inteiramente estranhas e surpreendentes.
 Ocupo-me dos primeiros e deixo de lado os segundos.”

Assim, os mais célebres médicos confessam que essa questão ainda está para eles cheia de obscuridade. Nas suas investigações, limitam-se a observações superficiais e desdenham os fatos que poderiam conduzi-los diretamente à solução do problema. A Ciência Materialista hesita em aventurar-se no terreno da Psicologia Experimental; ela sente que, ali, se encontraria na presença das forças psíquicas da alma, em uma palavra, a mesma da qual ela negou a existência com tanta obstinação.

Seja como for, o magnetismo, depois de ter sido repelido durante longo tempo pelas corporações sábias, começa sob um outro nome a chamar sua atenção. Mas os resultados seriam de outro modo fecundos se, ao invés de operar sobre histéricos, experimentasse em pessoas sãs e válidas. O sono magnético desenvolve nos indivíduos lúcidos, faculdades novas, um poder de percepção incalculável. O fenômeno mais notável é a visão a grande distância sem o concurso dos olhos. Um sonâmbulo pode orientar-se durante a noite, ler e escrever de olhos fechados, entregar-se aos trabalhos mais delicados e mais complicados.

Outros indivíduos veem no interior do corpo humano, discernem seus males e suas causas, leem o pensamento no cérebro,87 penetram, sem o concurso dos sentidos, nos domínios mais ocultos e até no limiar de um outro mundo. Eles auscultam os mistérios da vida fluídica, entram em contato com os seres invisíveis dos quais falamos, transmitem-nos seus avisos, seus ensinos. Voltaremos, mais tarde, sobre esse último ponto; mas, desde agora, podemos considerar estabelecido o fato que decorre das experiências de Puységur, Deleuze, du Potet e seus inúmeros discípulos: o sono magnético, imobilizando o corpo, anulando os sentidos, restitui a liberdade ao ser psíquico, centuplica-lhe os meios íntimos de percepção e o faz entrar num mundo vedado aos seres corporais.

Esse ser psíquico que, durante o sono, vive, pensa, age fora do corpo, que afirma sua personalidade independente por uma maneira de ver e dos conhecimentos superiores àqueles possuídos no estado de vigília, o que é ele, senão a própria alma, revestida de forma fluídica? Essa alma, que não é apenas uma resultante de forças vitais, do jogo dos órgãos, mas uma causa livre, uma vontade atuante, afastada momentaneamente da sua prisão, planando sobre a Natureza inteira e desfrutando da integridade das suas faculdades inatas? Assim, os fenômenos magnéticos tornam evidentes, não somente a existência da alma, mas também, sua imortalidade; pois se, durante a existência corporal, essa alma se desliga do seu invólucro grosseiro, vive e pensa fora dele, com mais forte razão achará na morte, a plenitude de sua liberdade.

A ciência do magnetismo coloca o homem na posse de maravilhosos recursos. A ação dos fluidos sobre o corpo humano é imensa; suas propriedades são múltiplas, variadas. Numerosos fatos têm provado que, com sua ajuda, pode-se aliviar os sofrimentos mais cruéis. Os grandes missionários não curavam pela imposição das mãos? Aí está todo o segredo dos seus pretensos milagres. Os fluidos, obedecendo a uma vontade poderosa, a um desejo ardente de fazer o bem, penetram em todos os organismos débeis e restituem, gradualmente, o vigor nos fracos, a saúde nos enfermos.

Pode-se objetar que uma legião de charlatães abusa, para explorá-lo, da credulidade e da ignorância do público, gabando-se de um poder magnético imaginário. Esses fatos entristecedores são a consequência inevitável do estado de inferioridade moral da Humanidade. Uma coisa nos consola: a certeza de que não há homem animado de uma simpatia profunda pelos deserdados, de um verdadeiro amor por aqueles que sofrem, que não possa aliviar seus semelhantes através de uma prática sincera e esclarecida do magnetismo.

86 Os Estados Profundos da Hipnose, pelo coronel de Rochas d’Aiglun. (N.A.)
87 “Ele vê (o indivíduo) vibrar as células cerebrais sob a influência do pensamento e as compara às estrelas que se dilatam e se contraem sucessivamente.” (Os Estados Profundos da Hipnose, pelo coronel de Rochas, ex-administrador da Escola Politécnica.)
Desde então o professor Th. Flournoy, da Universidade de Genebra, escrevia: “Basta folhear a literatura médica mais recente para ali encontrar, pela pena de utores insuspeitos de misticismo, exemplos de visão interna. De um lado, psiquiatras franceses acabam de publicar alguns casos de alienados que apresentaram, poucos dias antes do seu fim, uma melhora tão súbita quanto inexplicável, ao mesmo tempo que o pressentimento de sua morte próxima. Do outro lado, o fato de que os sonâmbulos que têm a clara visão de suas vísceras, às vezes, até da sua estrutura íntima; esse fato vem pela primeira vez franquear os limites da Ciência sob o nome de autoscopia interna ou autorrepresentação do organismo; e, por uma divertida ironia da sorte, os padrinhos desse recém-chegado encontram-se entre os que pertencem a uma escola que pretende rejeitar qualquer explicação psicológica desses fatos.” (Arquivos de
Psicologia, agosto de 1903). (N.A.)


 Referencias;

LIVRO;
DEPOIS DA MORTE DE LÉON DENIS CAP. XVII - 3A  EDIÇÃO CELD - RIO DE JANEIRO, 2011 - TRADUÇÃO DE  MARIA LUCIA ALCANTARA DE CARVALHO

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