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quinta-feira, 23 de junho de 2016

História da Era Apostólica - A fé transporta montanhas


HAROLDO DUTRA DIAS
  
“Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém
adorareis o Pai [...] Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade.”1

A passagem acima citada diz respeito ao encontro da mulher de Samaria com Jesus. A samaritana indaga quanto ao verdadeiro local de adoração a Deus, se no monte Gerazim (Samaria) ou, ao contrário, no monte Sião (Jerusalém). O Mestre lhe responde, todavia, que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e verdade, não em pontos geográficos fixos.

Com o Cristo, transportam- se as montanhas sagradas, da tradição bíblica, para o interior da alma. Assim, haverá um santuário espiritual erguido ao Criador em todos os lugares da Terra onde estiver presente um espírito sincero e fervoroso, visto que a adoração terá lugar portas adentro do coração.

A fé transporta montanhas. Mudando o enfoque, urge reconhecer que a edificação do “Reino de  Deus” representa verdadeira obra divina a desdobrar- -se, também, no coração dos seres. No entanto, não raro, exige trabalhos ingentes, inúmeros sacrifícios e lutas acerbas, decorrentes do esforço de superação das nossas deficiências íntimas.

Desse modo, com o propósito de debelar o pessimismo, o desânimo, a incerteza, a hesitação, Jesus nos ensina que: “[...] se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível”.2

 A fé “é força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que é a sabedoria da própria vida [...]”,3 não obstante as adversidades de cada dia. Consoante o ensino de Emmanuel:

Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade.

Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: “eu creio”, mas afirmar: “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude  de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.

Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe  enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça- se no escravo a vontade do Senhor”.4

Sensível aos desafios que o progresso espiritual apresenta, Allan Kardec asseverou:

 [...] As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em  suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade.[...]5

A fé transporta montanhas. Noutro giro, consultando o dicionário constata-se que o vocábulo “fé” cobre um amplo espectro de significados, tais como: “[...] confiança absoluta (em alguém ou algo); [...] crédito, [credibilidade] (um homem digno de fé); [...] asseveração, afirmação, comprovação de algum fato; [...] compromisso assumido de ser fiel à palavra dada, de cumprir exatamente o que se prometeu”.
6 (Destaque do autor.)

A palavra “fé” é utilizada para  traduzir, na Bíblia hebraica (Velho Testamento), o radical “aman” (confirmar, sustentar; estabelecer- se; ser fiel; estar certo, crer em), bem como os seus derivados, em especial, os termos “omen” (verdade, fidelidade) e “emuna” (firmeza, fidelidade).

Vê-se que, no âmago dos significados dessa raiz, está a idéia de certeza, mas também o sentido de “ser fiel” (2 Crônicas 19:9).

Por sua vez, no Novo Testamento, utiliza-se o vocábulo “fé” para traduzir a expressão grega7 “pistis” (fé, confiança depositada nas pessoas ou nos deuses), e especialmente seu derivado “to piston” (confiabilidade ou fidelidade daqueles que se obrigam por um contrato).

Nesse ponto, Humberto de Campos vem em nosso socorro, reproduzindo belíssimo diálogo de Jesus com os discípulos:

– Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejam estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já Ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade de retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação?

 [...] É certo que as forças destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com perseverança e boa vontade. Entrará  em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do Reino que traz no coração plantará uma flor onde haja um espinho; abrirá uma senda, embora  estreita, onde estejam em confusão os parasitos da Terra; cavará pacientemente, buscando as entranhas do solo, para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Do íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o ama e segue com atenção.8

Munidos de fé sincera estaremos em condições de atravessar esses difíceis momentos de transição do orbe terrestre, bem como triunfar nas provas e expiações, rumo à iluminação espiritual.

É preciso procurar “[...] as águas vivas da prece para lenir o coração, mas não nos esqueçamos de acionar os nossos sentimentos, raciocínios e braços, no progresso e aperfeiçoamento de nós mesmos, de todos e de tudo, compreendendo que Jesus reclama obreiros diligentes para a edificação de seu Reino em toda a Terra”.9

A fé transporta montanhas.

Fonte: Reformador Ano 126 • Nº 2. 149 • Abr i l 2008

Referência:

1Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo: PAULUS, 2004. João, 4: 21-24, p. 1851.
2Idem, ibidem. Mateus, 17: 20, p. 1735.
3XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 6, p. 32.
4XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão 354.
5KARDEC, Allan. O Evangelho  segundo o Espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XIX, item 2.
6HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco M. M. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: OBJETIVA, 2007. p. 1317.
 7Todos os manuscritos do Novo Testamento, encontrados e catalogados até o presente momento, estão redigidos na língua grega, excetuando-se os manuscritos referentes às diversas traduções desse mesmo texto. 32 150 Reformador • Abr i l 2008
8XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 6, p. 49-50 e 53-54.
9XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Cap. 69, p. 180-181.


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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

COMO PODEMOS INTERPRETAR A FRASE DE JESUS: "A tua fé te curou"?


JACOB MELO responde

Coisa desagradável é tirar pirulito da boca de criança. Mas nem sempre só isso o é. Entretanto, quantas vezes passamos anos e anos na vida com verdadeiros bombons deliciando nosso paladar e, um dia, descobrimos um diabetes ou alguma gordurinha localizada a nos pedir reflexão acerca daquilo que é tão doce, tão delicioso! Não é que o docinho mude de sabor, mas a forma como nos relacionaremos com ele precisa mudar.
Muitas vezes, verdades evangélicas e morais são assimiladas de forma tão singela que chegam a não pedir maiores reflexões, principalmente quando favorecem às acomodações. Todavia, quando precisamos de verdades mais eloquentes em nosso íntimo percebemos ser necessário repensar, revalorizar o que temos acrisolado.
Sempre ouvimos que “a tua fé te curou” e, pensando bem, quase nunca nos damos conta de que esta frase não tem aí seu ponto final. Costuma ser acrescida de “e não tornes a pecar, para que não te suceda algo pior”.
É meio parecido com bula de remédios que diz como e para que serve aquilo, ao tempo em que previne das reações adversas e contra-indicações.
E a maior semelhança está exatamente no fato de buscarmos saber para que serve e costumarmos dar pouca atenção aos riscos envolvidos. Mas, por que será que Jesus usou tanto essa exclamação?
Seguramente, ele estava dizendo que a cura é um processo que tem seu disparo inicial dentro de quem quer ser ou precisa ser curado. E ele disse isso de outra forma também: “conhecerás a verdade e esta te libertará”. Libertará do quê? Será que eu sabendo de uma coisa estarei livre dela? Se alguém fuma e sabe dos perigos daí advindos, simplesmente estará livre do fumo ou de seus efeitos só por conhecer os malefícios associados? Dá para se perceber que o entendimento disso tudo não é apenas um chupar de balinhas, mas de processar tudo o que lhe é decorrente e consequente.
Lógico que alguém já pode disparar: e quem está em coma? E quem não acredita? E quem não quer?
Não tem vezes que a cura os atinge igualmente enquanto que outros que querem e fazem por onde atingir a cura, não parece que ela deles foge desbragadamente?
A fé é sentimento íntimo, inato e que se desenvolve com o avanço intelecto-moral do ser humano.
Intelecto-moral porque se fundamenta nos sentimentos mais íntimos e profundos do ser e vai se robustecendo à medida em que a confrontação com a razão amplia-lhe a base. Significa dizer que essa fé não se liga necessariamente a uma crença ou doutrina em particular e sim à maneira com que se lida com o plausível e o impalpável, o real e o imaginável, o denso e o sutil. Assim há quem verbalize não ter fé, porem, no modo de vida, expresse exatamente o oposto; de igual forma ocorre o reverso.

É de se destacar o caso da mulher hemorroíssa (Matheus, 9, 20-22) que apenas tocou a veste de Jesus e se curou. Ele disse a ela que foi a fé que agiu, mas fica a questão: por que será que a fé não atuou desde o momento em que se instalou em seu coração, mas apenas quando ela Lhe tocou as vestes? Este é um caso por demais significativo. A fé funcionou ou fez funcionar uma atração fluídica surpreendentemente eficaz, mas, ainda aí, foi necessário um toque, um quê de detalhe adicional para que a manifestação material se desse. Ou seja: a fé a curou sim, mas não a fé da crença ou de uma espera inativa e sim a fé que levou-a a mover-se até a fonte, até o “campo energético” por excelência que a curaria.
Por fim, quando Jesus assevera que se tivermos uma fé do tamanho de um grão de mostarda, ao tempo em que sinaliza que ainda estamos com uma fé absurdamente pequena em nossas almas, Ele nos conclama a uma percepção mais rica e profunda desse sentimento. A fé verdadeira pede movimento, ação, retirada de obstáculos, empenho, esforços constantes e vitórias. É assim que a doce fé do simples crer que é e será deverá ser substituída pela fé da ação, da perseverança, da busca, da luta, do mergulho interior levando-nos grandiosos para o exterior.
A nossa fé nos curará sim. Mas precisaremos ir além de comer docinhos. Precisamos nos alimentar de vida para a Vida nos presentear com as curas reais.
  
Jornal Vórtice ANO II, n.º 10, março/2010


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