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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Profecias bíblicas


“O resultado final de um acontecimento pode, portanto, ser certo, por se achar nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os detalhes e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais os caminhos e os meios.”1

HAROLDO DUTRA DIAS

Ao discorrer sobre o fenômeno da predição do futuro, em sua magnífica obra A Gênese, o Codificador esclarece que a Providência Divina regula os acontecimentos que envolvam interesses gerais da Humanidade, salientando que os homens concorrem para a execução dos desígnios divinos, mas nenhum deles é indispensável ao seu cumprimento, visto não estar o Criador à mercê de suas criaturas.

Por esta razão, “os detalhes e os modos de execução” constituem estratégias da Providência Divina, que podem variar segundo o grau de adesão da Humanidade aos propósitos celestes, que buscam invariavelmente o progresso e o aperfeiçoamento intelectual e moral dos seres humanos.

O livre-arbítrio do homem, relativo e sempre subordinado à vontade soberana do Criador, pode opor inúmeros obstáculos ao progresso individual e coletivo, como também pode representar poderosa alavanca na execução desses desígnios.

Em matéria de predição dos acontecimentos concernentes ao futuro da Humanidade, ou seja, no tocante à profecia bíblica, urge compreender e meditar a respeito das questões acima mencionadas, de modo a não incorrer em falsas interpretações ou em alarmismo inconveniente.

Nunca é demais lembrar que o amor e a misericórdia Emmanuel mais uma vez nos socorre na tarefa de interpretação deste versículo:

Muita gente insiste pela rigidez e irrevogabilidade das determinações de origem divina, entretanto, compete-nos reconhecer que os corações inclinados a semelhante interpretação, ainda não conseguem analisar a essência sublime do amor que apaga dívidas escuras e faz nascer novo dia nos horizontes da alma.
Se entre juízes terrestres existem providências fraternas, qual seja a da liberdade sob condição, seria o tribunal celeste constituído por inteligências mais duras e inflexíveis?
A Casa do Pai é muito mais generosa  que qualquer figuração de magnanimidade apresentada, até agora, no mundo, pelo pensamento religioso. Em seus celeiros abundantes, há empréstimos e moratórias, concessões de tempo e recursos que a mais vigorosa imaginação humana jamais calculará.3 (Grifo nosso.)

O Altíssimo conjuga todas as providências e recursos para que o progresso das almas se efetue em clima de harmonia e paz, sob os auspícios do seu infinito amor. A tormenta, o desajuste, o desequilíbrio e a expiação decorrem do abandono voluntário do Amor Divino.

Não há determinações rígidas e irrevogáveis nos códigos celestes. Se o condenado4 pela justiça humana é acompanhado durante o cumprimento de sua pena, tendo em vista a possibilidade da concessão de diversos benefícios, dependendo do seu comportamento na prisão, não há razão para aguardar comportamento diverso da Providência Divina, no curso das nossas expiações e provas.

Pelo contrário, a programação espiritual de uma existência ou de um iclo de progresso da civilização humana é sempre feita com base em cálculos de probabilidade.

Os caminhos são tão intricados e dependem de tantas variáveis que lembram uma teia de aranha, com suas vigorosas ramificações.

Nessa linha interpretativa, Emmanuel assim se expressa:

Cada homem possui, com a existência, uma série de estações e uma relação de dias, estruturadas em precioso cálculo de probabilidades. [...]5
Nesse contexto, podemos asseverar que todas as predições/profecias da Bíblia se acham subordinadas a um paradoxo, que pode ser expresso nos seguintes termos: “A profecia é revelada para que não se cumpra”.

A afirmação pode causar certa estranheza ao leitor. Pensando nisto, transcrevemos a seguir o trecho de uma entrevista concedida pelo médium Francisco Cândido Xavier sobre o assunto em estudo, que muito tem nos auxiliado na compreensão desse palpitante tema:
Jonas pregando para o ninivitas

O Célebre Nostradamus assinala os meses de julho e outubro de 1999 como sendo o período final do tempo que estamos atravessando; com a ocorrência de imensos cataclismos astronômicos e sociais. Nostradamus deve ser levado a sério?

– Com respeito às profecias de Nostradamus que, aliás, devemos estudar com o maior respeito ao mensageiro humano dos vaticínios conhecidos, pede-nos Emmanuel para lermos com meditação a Parábola de Jonas no Antigo Testamento.6(Grifo nosso.)

Sendo assim, no tocante ao cumprimento das profecias, sobretudo as bíblicas, o paradigma deve ser a Parábola de Jonas, encontrada no Antigo Testamento (Jonas, 3-4), segundo nos orienta o Benfeitor Emmanuel.

O profeta Jonas foi encarregado de transmitir à cidade de Nínive tenebrosos vaticínios de destruição e morte, caso os cidadãos daquele local não se arrependessem dos seus erros.

Todavia, contrariando as expectativas do profeta, os habitantes de Nínive se arrependeram, passando a viver segundo as determinações da Lei Divina, motivo pelo qual a profecia foi anulada, não obstante a revolta de Jonas, que se sentiu humilhado pelo suposto fracasso da sua missão.

Quando o profeta descansava do Sol ardente, sob a sombra de uma mamoneira, Deus enviou vermes que destruíram a planta, expondo o profeta novamente ao calor escaldante.

Diante da revolta de Jonas, Deus exclamou, na instrutiva parábola do Velho Testamento:

“Tu tens pena da mamoneira, que não te custou trabalho e que não fizeste crescer, que em uma noite existiu e em uma noite pereceu. E eu não terei pena de Nínive, a grande cidade, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos, que não distinguem entre direita e esquerda, assim como muitos animais!”7

Sendo assim, considerando-se o infinito amor de Deus por todas as suas criaturas, bem como o caráter pedagógico de toda revelação acerca dos acontecimentos futuros, individuais ou coletivos, é lícito asseverar que “a profecia é revelada para que não se cumpra”.

Fonte: Reformador  Ano 128  Nº 2. 172 • Março 2010

1KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 16, item 14.
2Ap., 2:21. Tradução do articulista.
3XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 92, p. 199-200.
4Na legislação brasileira, o condenado, durante a execução de sua pena, é chamado de “reeducando”, o que revela a nova visão humanista do Direito Penal.
5XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 113, p. 258.
6XAVIER, Francisco C.; ARANTES, Hércio M. C. Autores diversos. Encontros no tempo. São Paulo: IDE, 1979. Cap. 1, q. 6.
7Bíblia de Jerusalém. 3. imp. São Paulo: PAULUS, 2004. Jonas, 4:10-1, p. 1.633.


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