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quarta-feira, 6 de maio de 2015

A CIÊNCIA DO MAGNETISMO


Adilson Mota
adilsonmota1@gmail.com

Todos sabem que o Magnetismo era conhecido como ciência entre os magnetizadores clássicos. A intenção desse artigo, porém, é analisar o quanto ainda  falta para fazermos dele, na atualidade, uma verdadeira ciência. Durante cerca de cento e cinquenta anos após o seu surgimento, o Magnetismo conseguiu produzir provas e evidências dos seus efeitos. As doenças eram curadas e os resultados eram visíveis, o que esclarecia os estudiosos dedicados e confundia os orgulhosos que, não querendo observar o que não acreditavam, tinham como fraude ou ilusão tudo que destoava da sua maneira de entender as coisas.

O verdadeiro pesquisador não procura confirmar os seus pontos de vista, ele busca a verdade, mesmo que tenha que admitir que estava em erro. O orgulhoso, por sua vez, anseia em encontrar confirmações das suas ideias, distorcendo a verdade muitas vezes. Falta-lhe humildade como sobra o desprezo pelos que não pensam como ele.

Depois de um hiato em que o Magnetismo praticamente desapareceu, agora ele retorna aliado ao Espiritismo, num crescimento lento, mas vigoroso, envolvendo as mentes e também os corações das pessoas sensíveis que vislumbraram naquele um grande potencial para a cura das diversas doenças físicas, psíquicas ou espirituais. Esse movimento ainda é tímido, insipiente, quase completamente restrito aos atendimentos das Casas Espíritas. Talvez por que seus adeptos não estejam convencidos da grandeza do recurso que têm nas mãos e do quanto esta ciência pode fazer pela Humanidade. A visão parece enxergar apenas o agora, sem vislumbrar as possibilidades vindouras que se abrirão desde que compreendamos o seu objetivo verdadeiro. Sem esta macrovisão estaremos fadados a manter o Magnetismo no rol das crenças particulares sem que ele nunca consiga influir verdadeiramente nos rumos da Humanidade, o que é o seu destino.
Barão Jules Denis du Potet de Sennevoy.
(1796-1881)
Fundador do Journal de Magnétisme e dirigente da
 Socieade Mesmeriana.
icionar legenda

Em carta enviada a Napoleão III, Imperador da França, o Barão du Potet ressalta a importância do Magnetismo.

Uma descoberta brilhante como o sol, fecunda como a natureza se expande hoje pelo mundo inteiro, sem o concurso dos sábios e apesar da poderosa liga que organizaram contra ela. Trata-se do magnetismo, força medicamentosa a qual nada se compara. Como agente de fenômenos, supera e mui-to a eletricidade e o galvanismo, como princípio de ciência moral, nossos conhecimentos atuais nada tem a lhe opor. Que espera então, Sua Majestade, para fazer prevalecer a verdade sobre a mentira? A sanção dos sábios? Nunca a terá plenamente, pois os fatos novos desarranjam seus cálculos e contrariam a fé que tem nas afirmações solenemente procla-madas por eles mesmos. Eles o enganaram sobre o valor real do magnetismo assim como enganaram seu tio, de gloriosa memória, a respeito do vapor.1

Mais adiante solicita o empenho do imperador para a criação de uma “cátedra de ensinamento do Magnetismo”. Seria uma forma dessa  ciência ser melhor estudada e compreendida, estar mais protegida dos ataques dos inimigos, servir à verdade, triunfar sobre a má vontade dos homens e ser preservada para o futuro.

O Magnetismo no período clássico tinha os seus dignos estudiosos, sinceros amantes da verdade, que buscavam o seu desenvolvimento com inteligência e amor. Utilizavam métodos científicos que não deixassem dúvidas quanto aos resultados que ele podia produzir e almejavam a disseminação dessa arte que tantos benefícios trazia, e continua trazendo.

Apesar de alguns esforços ardentes e sinceros, o Magnetismo permanece ainda isolado em pequenos círculos sem, contudo, conseguir ir além dos limites do Centro Espírita. Carece que compreendamos qual a sua missão na Terra. É um bem da Humanidade que desconhece limites de crença, raça, cor, sexo, idade. É a chama da vida que impregna todo ser vivo e que mantém a vida no nosso planeta. Achá-lo patrimônio do Espiritismo é acreditar que somente nós espíritas temos o direito e as condições de utilizar, quando qualquer pessoa possui essa energia e, em tese, tem condições de aplicá-la em benefício de outrem.
   
Sir William Crookes (1832-1919).
Cientista, químico e estudioso 
do psiquismo,
nascido em Londres, Inglaterra.
Foto do Espírito Katie King (materializado) de
braços com William Crookes.
 
                                                                                                                                                         

Numerosos cientistas de renome, mesmo diante dos fatos mais convincentes, hesitaram em proclamar a verdade, com receio das consequências que isso poderia acarretar aos olhos do povo. Crookes, porém, não agiu assim. Ele penetrou o campo das investigações com o intuito de desmascarar, de encontrar fraudes, entretanto, quando constatou que os casos eram verídicos, insofismáveis, ele rendeu-se à evidência, curvou-se diante da verdade, tornou-se espírita convicto e afirmou: - "Não digo que isto é possível; digo: isto é real!“

(http://www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=278)

 É razoável que hoje o Espiritismo detenha o melhor conhecimento a respeito do magnetismo, mas daí há uma diferença em achar que é o seu proprietário.

Pensando no Magnetismo num sentido universal, podemos entender a nossa responsabilidade no sentido de fazê-lo extrapolar para além das instituições espíritas e fincar bandeira como terapia curativa eficaz. Para isso há um longo caminho a ser percorrido, das experimentações, das exaustivas pesquisas, das frias análises, buscando firmar o Magnetismo em bases sólidas, confiáveis e verificáveis por todos que desejem estudá-lo de maneira séria.

Citei a frieza das análises não me referindo à ausência de paixão e amor pelo que se faz, já que esses são elementos imprescindíveis que geram motivação e que ajudam a superar os desafios que se interpõem no caminho de quem segue algo de bom. Aludi à necessidade de frear a empolgação que nos faz ver a verdade em tudo, até mesmo na mentira, que ilude os olhos e o espírito e desencaminha o pesquisador. É preciso firmar os pés no chão enquanto a emoção nos leva a voar mais alto.

Sir William Crookes, um grande pesquisador dos fenômenos psíquicos e um dos maiores cientistas da sua época é um excelente exemplo. Foi-lhe sugerida uma investigação dos fenômenos espíritas a fim de desvendar de uma vez por todas o que havia por trás daquilo que os espiritistas afirmavam ser a alma dos mortos. Con-ta do livro “Katie King” de Wallace Leal V. Rodrigues a afirmação de Crookes com as características do verdadeiro sábio:

Não posso dizer que tenho pontos de vista ou opiniões sobre um assunto que não tenho a pretensão de entender. Mais tarde voltou a declarar:
Prefiro entrar na questão sem nenhuma noção preconcebida, quanto ao que pode ou ao que não pode ser, mas com todos os meus sentidos alertados e prontos para transmitir informações racionais, acreditando que não temos de modo algum esgotado todo o conhecimento humano ou galgado todos os degraus do conhecimento humano e das forças físicas.

Dir-se-ia que o tiro saiu pela culatra quanto ao que os seus colegas cientistas esperavam como resultado da pesquisa. Agora o renomado físico possuía não uma opinião, mas uma certeza sobre os fenômenos e esta era completamente favorável à tese espírita, pois que se baseava em fatos.

Uma cura magnética pode não deixar dúvidas quanto à sua realidade, no magnetizador e naquele que está em tratamento, mas não servirá de elemento comprobatório, se levarmos em conta os moldes atuais das pesquisas científicas. Exige-se um rigor muito grande para que os resultados alcançados não possam ser explicados em termos de coincidência, acaso ou mesmo como consequência de outros fatores causais.
Miss Florence Cook.
Médium que aos 15 anos de idade submeteu-se às
experiências psíquicas com William Crookes.

Uma pesquisa científica envolvendo tratamento por magnetismo teria que excluir qualquer possibilidade de influência de outras formas de tratamento, como medicamentos, sejam naturais ou químicos, terapia psicológica, etc. O paciente teria que ser tratado única e exclusivamente pela energia do magnetizador. Reconhecemos que haveria grandes dificuldades nesse sentido, porém somente assim teríamos certeza do que proporcionou a saúde ao doente.

Não para por aí, entretanto. A quantidade também é importante. Os resultados positivos alcançados com alguns poucos indivíduos é levado à conta de coincidência. É preciso uma quantidade razoável de participantes a fim de que a estatística seja favorável. Além disso, seria interessante comparar os resultados do magnetismo com os de outras formas de tratamento ou mesmo com grupos-controle (grupos sem tratamento algum) ou fazendo uso de placebo.2

O método científico requer precisão e não dá espaço para improvisações ou conclusões precipitadas. Mesmo assim, muitos não se convencerão e procurarão falhas na pesquisa, levados por um orgulho que não se dobra nem mesmo ante as evidências, assim como aconteceu às cautelosas conclusões de William Crookes. Haverá aqueles, todavia, que, seguidores da verdade, a enxer-garão, lamentando não terem estado antes diante dela.As dificuldades podem ser muitas, o caminho longo e pedregoso, mas não devemos desistir. Da mesma forma que nos preparamos para uma viagem, o objetivo do Magnetismo será alcançado se nos prepararmos para ele. As provisões são os conhecimentos, os estudos, aliados ao espírito crítico, à perseverança, à fé e à humildade, mantendo como sustentáculo a caridade que estabelece como regra o bem coletivo acima do individual.

Referências;

1 Publicada no Jornal do Magnetismo, pág. 30 a 32, de 1860.
2 Placebo – Preparado sem nenhuma ação ou efeito, usado em estudos para determinar a eficácia de substâncias medicinais. (Dicionário Michaelis)


JORNAL VÓRTICE ANO VII, n.º 10 - março - 2015


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terça-feira, 1 de julho de 2014

AOS AMIGOS DO MAGNETISMO - REFORMA, PROGRESSO, FUTURO!

 MAGNETISMO CLÁSSICO

 Aos amigos do Magnetismo - Reforma, Progresso, Futuro!
Felizes e cheios de esperança saudamos a nova era que começa, pois as mudanças políticas que se operam só podem ser favoráveis ao progresso dos princípios que nós defendemos¹.

Por tão longo tempo corporações de sábios, sustentados por um poder retrógrado, nos tem sido opressivas ou contrárias; ao longo de 70 anos uma verdade magnífica não pôde ocupar o lugar que lhe pertence nas ciências.
Os déspotas mais teimosos, mais perseguidores do que reis vetaram o magnetismo; e cheios de insolência e de orgulho eles gritam também:  nada, nada para vocês!
O tempo da justiça chegou para nós como chegou também para todas as outras coisas. A Academia de Medicina e a de Ciências vão prestar suas contas e estes sábios, em sua maior parte cúpidos ou corrompidos, vão atentar para a reação poderosa que se opera contra todos os que foram injustos.

Nós tínhamos necessidade desta liberdade para desenvolver e produzir grandes coisas; os fatos que destroem a hipocrisia porque desmascaram o poder mentiroso; os fatos que destroem as doutrinas apoiadas apenas em raciocínios vãos.
Cada passo que nós queríamos dar era impedido pelos interessados em sustentar a mentira, pelos homens sem entranhas, que preferiam ver seus irmãos em sofrimento em lugar de aceitar uma verdade fecunda, própria a lhes trazer o alívio.

Quantos esforços, quantas tentativas fizemos! E quantas vezes  a indignação fez saltar o coração em nosso peito pois recebíamos ultrajes lançados pelas bocas dos acadêmicos! Em nosso desespero nós apelamos ao tempo! E ele veio, o tempo no qual as associações poderosas vão se formar.

Regozijem-se, magnetizadores! Eis a aurora de um belo e grande dia! Vocês desfrutarão do triunfo reservado a tudo que é justo e legítimo; a verdade desta vez vencerá,  pois ela terá como apoio um mundo novo.

Ó Mesmer! Tu que amavas a República, tu que traçaste com tuas mãos as primeiras bases!
Em tua sabedoria já avaliavas o quanto as corporações seriam contrárias aos interesses do povo. Tu pressentias o tempo, mas como acontece aos homens avançados, não foste compreendido. Voltas para nos animar. Tua alma generosa vem para animar as nossas para sustentar dignamente não tua reputação, pois ela se estabelecerá por si mesma e crescerá em todas as raças, mas para desenvolver tuas idéias, para cultivar o que espalhaste nesta terra da França. Tu quiseste gerações sadias e robustas tanto quanto virtuosas e os homens te infamaram e diminuíram a cada dia, não sabendo ou não querendo seguir o que traçaste.

Agora estes homens não encontrarão mais apoio. É preciso que eles se ofereçam à discussão e que suportem o exame que se fará dos títulos que usurparam. A verdade se colocará frente ao erro; cadeiras novas serão criadas; todas as leis que se prestavam para favorecer uma corporação não mais verão o dia. Os princípios fecundos não encontrarão mais entraves para serem ensinados.

A medicina magnética e sonambúlica não mais será impedida e não nos baterão mais com as armas feitas para combater criminosos. Tudo o que é bom e justo poderá se produzir sem medo e um dia nos lembraremos com horror das perseguições que experimentamos. Nossos sábios não querem o magnetismo. Em breve, porém, ele estará em toda parte para cobri-los de vergonha. Para nós foi preciso mais de cem anos para obter este resultado. Sejam abençoados vocês todos que morreram pela Pátria pois não somente asseguraram a liberdade mas sua morte terá preparado para as gerações o que a liberdade não pode dar sozinha, o que a falsa ciência lhe recusou: os princípios da conservação dos seres.

Abençoados sejam! Seu sangue, como o daqueles outros mártires, nos livrou de uma dupla servidão. As argolas da corrente despótica que a ciência não quis romper se quebraram e nós lhes devemos homenagens e um reconhecimento ilimitado, pois sem vocês, por tanto tempo isolados, nós teríamos curvado a cabeça a quem combatíamos para libertar os homens.

Que todos os magnetizadores se preparem! É necessário que uma resolução se efetive que uma demanda coletiva apele ao poder a fim de que um hospital seja fundado para justificar diante do mundo inteiro os resultados que cada um de nós obteve em silêncio. A divina filosofia que se revela ao coração de todos os magnetizadores se expandirá a partir de um lugar consagrado.
Não escutam partir do coração de todos aqueles a quem a sociedade tinha esquecido estas palavras: reforma, nova organização social. Inscrevam em seu pendão: justiça para a natureza ultrajada, criação de uma cadeira onde se ensinará suas verdades, leis e os deveres de todo o homem que quiser ser seu ministro.

Basta de sangue, basta de mortes. A medicina atual deve ser reformada. A humanidade assim como a verdade o exigem aos brados. Magnetizadores ajudemos no nosso empreendimento, batam neste corpo que dispõe da vida do homem; mas que seja para apelar à partilha de seus gozos. Vocês confraternizarão com ela quando, perpassada por seus sentimentos, ela terá reconhecido a justiça da causa que como eu, vocês defendem!
Barão du Potet

1 Ao longo do artigo, o Barão du Potet fará referência às modificações políticas e sociais ocorridas na França, em decorrência da Revolução de  1848, marcada por violentos  conflitos e muitas mortes, que pôs fim à monarquia e instaurou a República. Nesta  nova ordem, os  magnetizadores tinham  esperança de não sofrer as perseguições que sofreram durante a monarquia. (nota da tradutora)

Jornal Vórtice ANO II, n.º 09, fevereiro/2010   


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quinta-feira, 6 de março de 2014

MAGNETISMO CLÁSSICO (Jornal do Magnetismo critica o Espiritismo)

 Mais uma tradução da nossa irmã Lizarbe de texto extraído do Jornal do Magnetismo, págs 162 a 168 de 1858, dirigido pelo grande magnetizador e amigo de Kardec, Barão Du Potet. O artigo dá uma pequena mostra das muitas críticas que o codificador teve que suportar para que a Humanidade pudesse ter os conhecimentos espíritas à sua disposição. De início incrédulo, mais tarde o Barão du Potet se torna espírita, diante dos inúmeros fatos da realidade espiritual constatados durante as sessões de sonambulismo que ele presenciou.

O espiritualismo faz grandes progressos já há alguns anos, sobretudo na América; os prodígios os quais se atribui tem excitado vivamente a curiosidade pública, os grandes feitos do famoso médium Home tem tido tanta repercussão que era de se esperar o surgimento de um órgão especialmente consagrado ao sobrenatural. O Sr. Allan Kardec, diretor da Revista Espírita, é autor de obra notável intitulada “Livro dos Espíritos”, tem a modéstia de tomar apenas o título de secretário dos Espíritos os quais ditaram aos médiuns; ele declara que teve somente a tarefa de colocar em ordem os materiais obtidos. Nós vemos com prazer esta nova tribuna aberta à discussão de questões tão controversas e cuja solução interessa grandemente à humanidade. O debate é bem animado, a luta, das mais ardentes. É bom que cada lado tenha seus campeões e faça valer todos os seus talentos. A ciência não pode ficar indiferente quanto a esses fatos bizarros, maravilhosos, cujas narrações nos chegam diariamente. É preciso um exame aprofundado para apreciá-los.

Os dois números publicados contêm dissertações interessantes, algumas narrações de fenômenos espiritualistas e trechos apresentados como obra de espíritos ditadas aos médiuns. Os autores parecem animados por uma convicção perfeita e por um zelo ardente de proselitismo; seria desejável que eles trouxessem uma crítica severa na admissão de fatos tão mais difíceis de fazer aceitar por se tratar de coisas maravilhosas.

A revista discute com certo azedume a história do famoso desafio cujo resultado causou algum enfado no campo espiritualista.

Uma oferta de 500 dólares (2500 francos) foi feita pelo intermediário do Correio de Boston a toda pessoa que, na presença de certo número de professores da Universidade de Cambridge, reproduzisse alguns desses fenômenos misteriosos que os espiritualistas dizem ter sido produzidos comumente pelos intermediários desses agentes, chamados médiuns.
O desafio foi aceito pelo doutor Gardner e por várias pessoas que se gabaram de estar em comunicação com os espíritos. Os concorrentes se reuniram nos edifícios de Albion, em Boston; entre eles destacamos as senhoritas Fox, que se tornaram tão célebres neste gênero. A comissão encarregada de examinar as pretensões dos aspirantes ao prêmio se compunha dos professores Pierce, Agassiz, Gonld e Horzford, todos os quatro sábios distintos. As tentativas espiritualistas duraram vários dias; eles foram infrutíferos, assim como constatou o seguinte trecho do relatório da comissão: “A comissão declara que o Sr. Gardner não conseguiu lhe apresentar um agente ou médium que revelasse a palavra confiada aos espíritos num quarto vizinho; que lesse a palavra inglesa escrita no interior de um livro sobre uma folha de papel dobrado, que respondesse a uma questão que só as inteligências superiores podem saber; que fizesse ressoar um piano sem tocá-lo ou avançar uma mesa de um pé sem impulsão das mãos; se mostrando incapaz de dar à comissão testemunho de um fenômeno que se pudesse, mesmo usando de uma interpretação larga e benevolente, ver como equivalente às provas propostas, de um fenômeno que exigisse para a sua produção a intervenção de um espírito, supondo ou implicando ao menos esta intervenção; de um fenômeno desconhecido até aqui pela ciência ou cuja causa não fosse imediatamente assinável pela comissão, palpável por ela, ninguém pode exigir do Correio de Boston a entrega da soma proposta de 500 dólares”.

O Sr. Kardec, longe de ser abalado por este revés, alega que os fenômenos do espiritualismo não são daqueles que se possa reproduzir à vontade, que os espíritos é que são seus autores agindo quando melhor lhes pareça e não às nossas ordens, que eles escolhem seus gêneros de manifestações, que as desconfianças lhes irritam, que eles têm antipatias por certas pessoas, sobretudo, pelos incrédulos e que o incentivo de um prêmio pecuniário, longe de facilitar as comunicações, devia, antes, prejudicá-las.
Todos estes argumentos têm um vício capital que é supor resolvido o que ainda está em questão, ou seja, a partir da realidade dos fatos é que se trataria de verificar, e em seguida, a produção destes fatos pelos espíritos. Enquanto estes dois pontos não forem provados será se perder no vazio, dissertar a perder de vista sobre o costume e o caráter de espíritos cuja própria existência é problemática. Vocês nos alegam fatos prodigiosos, vocês pretendem que nada seja mais comum, que eles se apresentem diariamente em suas reuniões e vocês admoestam rudemente a incredulidade daqueles que recusam admitir e, quando nós lhes pedimos para ver, tudo desaparece; resta apenas sua asserção, que não é suficiente para nós; é apenas nos mostrando testemunhos destes feitos que vocês poderão nos convencer.

Os espiritualistas se contradizem quando afirmam que seus fenômenos não são de natureza a se reproduzir sob seu comando, pois eles colocam na classe das manifestações espirituais os fenômenos dos médiuns escreventes; ora, é notório que cada um desses médiuns pode, a seu grado, pôr em ação a faculdade da qual é dotado e tem somente que pegar uma pena com a intenção de médium para que sua mão se ponha logo a escrever os ditados reputados espiritualistas. Se os espíritos que conduzem a mão dos médiuns estão assim, à disposição deles, por que não estariam os espíritos que movem as mesas, tocam acordeon, mostram as mãos, etc. ?
Que os espíritos escolham seus gêneros de comunicação, que seja; mas por pouco sensatos que sejam, eles devem escolher manifestações inequívocas, capazes de trazer a convicção a todos os expectadores. E quando se responde, em nome destes espíritos, que eles não querem se submeter às provas, é um reconhecimento de impotência ou o abandono da missão e eles atribuída, de esclarecer a humanidade.

Espíritos elevados, como se supõe, não podem se ofender com suspeitas perfeitamente legítimas da parte de pessoas que não tem motivo algum para crer em semelhantes intervenções e às quais a prudência cumpre o dever de estar em guarda contra as fraudes e ao arrastamento cego.
Quanto à pretendida antipatia dos espíritos contra os incrédulos, é impossível de ver, nesta alegação outra coisa que uma maneira cômoda de evitar o olhar vigilante de observadores atentos. Um espiritualista que mora no quarto andar me assegurou que bastava eu por os pés no primeiro degrau da escada para fazer cessar, na casa dele, todas as manifestações. Se for assim, eu sou o senhor dos espíritos, pois minha presença lhes tira subitamente da inércia e eu sou o maior dos exorcistas. É lamentável que não tenha sido encontrado um homem como eu para trazer à razão todos os diabos de Loudun; ter-se-ia evitado de recorrer aos pobres jesuítas que suaram sangue durante mais de dois anos e terminaram eles mesmos possuídos pelos diabos que queriam caçar.

Quanto à questão pecuniária, certamente o desapego é uma bela virtude e desejamos, como o Sr. Kardec, encontrá-la entre todos os médiuns. Mas aqueles, em se apresentando ao concurso, podiam ter em vista apenas o triunfo da verdade e nada os teria impedido, em caso de sucesso, de empregar nem os médiuns, nem os espíritos; uns e outros deviam, ao contrário, sair vitoriosos de uma prova que tinha como juízes excelentes observadores e que teria sido decisiva.
Além disso, uma multidão de médiuns, tanto na América como na França e, notadamente as senhoritas Fox, fazem pagar por suas sessões e não lhes reprovamos visto que o padre, ele mesmo, deve viver do altar. Bem, a remuneração que recebem estes médiuns não lhes retira suas faculdades as quais entram em ação a seu comando, cada vez que um cliente se apresenta.

Vê-se que as razões dadas pelo Sr. Kardec não valem grande coisa. Ele teria sido mais sábio se dissesse que um fato negativo nada prova, que ele é isolado, que a questão permanece e que aqueles que buscam sinceramente a verdade devem estudar com perseverança e multiplicar as tentativas para conseguir arrancar da natureza seus segredos.

O Sr. Kardec expõe a hierarquia dos espíritos, suas funções, seu caráter, etc. e procede à maneira dos reveladores, sem discutir, como se estivesse persuadido de que todos devem se inclinar com respeito diante de sua palavra. Temos o direito de lhe perguntar de onde ele tirou essas afirmações. Só pode ser das “jóias” que são seus oráculos. Sem examinar qual é o valor destas comunicações, nos contentaremos em lhes objetar a enorme divergência que se encontra nos resultados assim obtidos. Os médiuns nos dão sistemas contraditórios que não podem ser todos verdadeiros. Para discernir a verdade, nos dizem eles, é preciso escutar somente os bons espíritos; mas por qual sinal podemos reconhecê-los? Eles nos respondem que é pela natureza de seus ditados. Este procedimento serve apenas para eliminar os ditados evidentemente grosseiros, imorais, ineptos. Porém, entre os outros, nos quais se encontra uma moral pura, uma linguagem nobre, nobres sentimentos, há desacordo sobre a doutrina. Escolher caprichosamente o sistema que mais nos apraz não é agir filosoficamente, visto que este sistema não desfruta de nenhum caráter de superioridade que estabeleça entre ele e os outros, uma diferença nítida. Então se está reduzido a adotar somente o que confirma a razão e a relegar todo o resto para o domínio das hipóteses. Lamentamos que o Sr. Kardec não tenha procedido com esta sábia reserva, que tenha acolhido precipitadamente sistemas sem justificada exatidão e que, em lugar de trabalhar, como ele poderia, pelo progresso da ciência, ele tende (talvez sem saber) a fundar uma seita de iluminados, uma pequena igreja, na qual as “jóias” substituiriam a sagrada trindade.

Eles nos dão ditados de São Luís*. Nós já tivemos ocasião de assinalar a quais riscos de erros se expõe quem aceita assim as declarações dos médiuns sobre a origem de suas comunicações. Mesmo se admitindo a intervenção dos espíritos, a identidade deles não pode ser constatada e os mais eminentes espiritualistas confessaram ter sido enganados por espíritos que se atribuíam, falsamente, o nome de grandes personagens. Nenhum critério conhecido pode servir para controlar estas declarações. Neste caso particular, o ditado consiste em banalidades sobre a avareza; certamente não há nada, nem no fundo e nem na forma, que denote a personalidade do bom rei, nada que ultrapasse o portal intelectual do médium; o Sr. Kardec não se culpa por rejeitar arbitrariamente nos ditados espiritualistas, tudo o que não concordar com as idéias dele. Assim, o espírito de São Luís, tendo ensinado a eternidade das penas do inferno, o Sr. Kardec, que não admite este dogma, isentou-se de nos dizer que este espírito tem cientemente afirmado uma falsidade, mas que seus ditados são destinados aos espíritos de terceira classe (precisamente terceira, nem mais nem menos) a fim de aumentar seus sofrimentos fazendo-os acreditar que não terão fim. Esta explicação está longe de ser satisfatória, pois este ditado é feito não pelos espíritos incorpóreos de uma ordem qualquer, mas pelos homens terrestres e tem o grave inconveniente de lhes inculcar o que se reconhece como um erro. Este fato vem apoiar nossas observações sobre a impossibilidade de reconhecer alguma autoridade a semelhantes produções que se contradizem e sobre a necessidade de tudo submeter ao julgamento da razão. Além disso, se um espírito, por um motivo qualquer, se permite alterar a verdade, ele perde toda a confiança e não pode ser acreditado mesmo na qualidade a qual se atribui. Como então admitir a identidade do pretenso São Luís?

Nós não prolongaremos mais estas observações críticas. Saudamos a aparição de uma coletânea consagrada ao espiritualismo; ela tem um campo imenso a explorar e pode prestar importantes serviços. Mas nós lhes aconselhamos a tomar sempre a razão como guia, a não descartar a via experimental e a resistir ao impulso que leva os adeptos para um iluminismo perigoso e a não prestar seu concurso para restabelecer a semente do fanatismo e das velhas superstições.

A. S. MORIN
Fonte; http://tdmmagnetismobatuira.blogspot.com.br/2012/07/magnetismo-classico-jornal-do.html



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