Leopoldo
Machado foi um dos iniciadores e
concretizadores
de teses de
educação e de
teatro espírita
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CEZAR
BRAGA SAID
O “Espiritismo
de vivos” tornou-se uma das bandeiras de um dos maiores espíritas que o Brasil
já conheceu. Referimo-nos ao baiano Leopoldo Machado (1891-1957), nascido em
Cepa Forte, hoje Jandaíra, completando-se este ano 50 anos de sua desencarnação.
Para
fundamentar melhor este lema, Leopoldo chegou a escrever um livro intitulado Cruzada
do Espiritismo de Vivos (1942)1 que, apesar do tempo, ainda permanece bastante
atual pelo enfoque e pelo conteúdo. Nele, declara por meio de dez pontos, o que
pretendia com semelhante bandeira.
Desejava
e propunha um Movimento Espírita voltado principalmente para os encarnados, sem
qualquer demérito para as práticas mediúnicas e para as relações estabelecidas
com o mundo espiritual. Mas questionava o fato de a mediunidade, que ignifica“meio”,
ser encarada e vivida com um fim em si mesma por alguns companheiros.
Acreditava ser necessário se cultivar o intercâmbio sério e salutar com os
Espíritos, mas não cultuá-los, reforçando os atavismos que trazemos do passado,
muitas vezes ratificados na atual existência.
Entendia
a evangelização da criança e do jovem como priori prioridade nas atividades do Centro Espírita
e que as mesmas deveriam se dar por meio da música, da poesia, da literatura,
do teatro, da arte espírita de um modo geral. Educador que era, reconhecia que
sem alegria, dinamismo e criatividade, não teríamos uma ação evangelizadora
genuinamente prazerosa e verdadeiramente educativa.
Valorizava imensamente os movimentos confraternativos
onde todos podemos estreitar laços, aprender
juntos por meio de conversas edificantes, em horas construtivas de convivência
e de apreciação da arte espírita.
Foi um dos grandes entusiastas das juventudes
espíritas, do processo de Unificação que teve como marcos maiores o “Pacto
Áureo” e a Caravana da Fraternidade, da qual foi integrante ativo juntamente
com Lins de Vasconcellos, Francisco Spinelli, Carlos Jordão da Silva e Ary
Casadio.
Afirma Antonio Cesar Perri, em livro
de Eduardo Carvalho Monteiro, que no campo da Unificação Leopoldo teve uma ação
pioneira que antecede mesmo a assinatura do “Pacto Áureo”, pois “participou do
Congresso Brasileiro de Unificação Espírita (São Paulo, 1948) e, na seqüência,
foi responsável pelo I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil (Rio de
Janeiro, 1948). O dinâmico divulgador foi um dos iniciadores e concretizadores
de teses de educação e de teatro espírita. Atuou como filantropo, expositor, polemista
e autor de vários livros. Os reflexos de obras de Leopoldo estão presentes em
todas as partes do país até quando se entoa a ‘Canção da Alegria Cristã’, pois
é co-autor desta difundida música espírita”.2
A
Caravana da Fraternidade percorreu 11 Estados do Norte e Nordeste, colhendo
adesões ao “Pacto Aúreo” e divulgando os objetivos da Unificação. Em seu
programa constavam conferências para o grande público, mesas-redondas com o
objetivo de se chegar a consensos em torno do ideal unificacionista,
visitas às instituições espíritas de assistência social, levando estímulos aos
seus fundadores e colaboradores, além de programas sociais organizados pelos
confrades que os recebiam.
De
acordo com Clóvis Tavares,3 Leopoldo Machado publicou cerca de 30 livros e
deixou mais 20 que, infelizmente, não vieram a lume. Escreveu por 24 anos para
a revista Reformador, publicando poesias, crônicas, artigos e
conferências.
Foi
também colaborador assíduo dos periódicos O Clarim e Revista
Internacional de Espiritismo, além de inúmeros outros jornais espíritas.
Espírito ativo fundou uma escola que
até hoje é dirigida por seu sobrinho (Colégio Leopoldo, 1930), um lar destinado
inicialmente ao abrigo de velhinhos e crianças (Lar de Jesus, 1942), um albergue
noturno e uma escola de alfabetização na instituição espírita onde militou
durante muitos anos, o Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, na cidade de
Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
A seu respeito, disse Carlos Imbassahy
que “[...] dificilmente encontraremos nas fileiras do Espiritismo outro
propagandista com tanta energia, com tanta coragem, com tanta personalidade. Tal ou qual festividade corria mais ou menos
fraca. Nisso aparecia Leopoldo; tudo se modificava, o seu gênio alegre,
comunicativo, logo se transmitia a todos. O ambiente se enchia de vibração nova.
Ele emprestava vida a tudo a que se associava”.4
Também o lúcido pensador, autor e
divulgador espírita Deolindo Amorim
afirmou que Leopoldo era um espírita muito ativo, inconformado com a
displicência, não compreendia o Espiritismo de “câmara mortuária” e por isso
era vibrante e contagiante. Disse ainda Deolindo que ambos tinham lá suas diferenças, mas isso não
impedia que um e outro se quisessem bem e se olhassem como amigos: “Divergimos,
mais de uma vez, em determinados pontos de vista, e
nunca lhe escondi a minha objeção a esta ou aquela de suas opiniões, mas a
nossa amizade nunca se rompeu, felizmente. Leopoldo Machado deixou, nas
fileiras espíritas, um claro dificilmente preenchível. Que ele possa, do outro lado,
na espiritualidade, continuar a nos dar estímulo [...]”.5
Decerto que este grande
companheiro desaprovaria qualquer culto em torno da sua personalidade, mas
muitas vezes vivemos à cata de novidades, novos autores, novas práticas e vamos
seguindo esquecidos dos pioneiros, dos que pavimentaram o caminho para que
pudéssemos ter um movimento mais liberto, arejado, valorizando o estudo e as
relações mais cristãs, realmente fraternas.
Recordar Leopoldo Machado
e conhecer o seu legado é fazer um tributo a todos os pioneiros do Espiritismo
que, enfrentando dificuldades sem conta, souberam erseverar abrindo clareiras contra
o preconceito e o divisionismo, em prol de um movimento onde possamos estar sempre
ombro a ombro e sempre lado a lado, como companheiros, amigos e irmãos que
vivem alegres não apenas pensando, mas fazendo o bem e nos querendo uns aos
outros, também muito bem.
Referências:
1MACHADO, Leopoldo. Cruzada
do espiritismo de vivos. Matão: O Clarim, 1942.
2MONTEIRO, Eduardo
Carvalho. Leopoldo Machado em São Paulo. São Paulo: USE, 1999.
3RAMOS, Clóvis. Leopoldo
Machado. Idéias e ideais. Rio de Janeiro: CELD, 1995.
4 Jornal A Voz da União.
5AMORIM, Deolindo.
“Algumas palavras sobre Leopoldo Machado”. Revista Internacional
de
Espiritismo. Matão: O Clarim, 1957.
Fonte; Reformador Ano 125 / Maio, 2007
/ N o 2.138