Floriano
Legado do Amaral
Há 94 anos, em 1º de Abril de 1907,
Eurípedes Barsanulfo inaugurava o primeiro Colégio Espírita do Mundo, que tomou
o nome Allan Kardec. O prédio, onde funciona até hoje é um monumento da arte
arquitetônica, feito com alvenaria de primeira qualidade e com muito gosto
artístico.
Não há
história sem referencias numéricas e humanas. Na história do Espiritismo há uma
infinidade delas. Na galeria dos referenciais humanos encontramos Eurípedes
Barsanulfo, que amiúde é citado em palestras, artigos, ensaios, reportagens e
livros, que viveu na cidade de Sacramento, no Estado de Minas Gerais, de 1º de
Maio de 1880 a 1º de Novembro de 1918. Hoje, Eurípedes Barsanulfo é Patrono de
inúmeras instituições espíritas.
Extraordinário
médium e grande educador, cuja Pedagogia semelhava-se à metodologia do Emérito
Professor Pestalozzi, mestre de Allan Kardec. Eurípedes Barsanulfo foi um
herói, pois já em 1º de Abril de 1907, ele inaugurava o primeiro Colégio
Espírita do Mundo, que tomou o nome Colégio Allan Kardec. O prédio, onde
funciona até hoje é um monumento da arte arquitetônica, feito com alvenaria de
primeira qualidade e com muito gosto artístico. Por tudo que Eurípedes
Barsanulfo fez pela educação e pela divulgação da Doutrina Espírita num tempo
em que o Catolicismo imperava e as dificuldades eram imensas para os que não
freqüentavam as sacristias, cheguei a pensar que o Movimento Espírita está a
lhe dever um importante e vistoso monumento. Hoje já não penso assim, porque
vejo que ele em si mesmo é um monumento. Sua obra educacional e mediúnica é
impar. Ela avalia perfeitamente o
Professor e o valoroso espírita que foi, é o
será sempre. Possuidor de várias faculdade paranormais, soube usá-las, com
decoro e disciplina, em benefício do próximo necessitado. Curou muita gente com
os recursos de sua paranormalidade e com remédios homeopáticos que distribuía
graciosamente. "O trabalho mediúnico de Eurípedes Barsanulfo no Grupo
Espírita "Esperança e Caridade" tomava proporções imensas,exigindo
muitas horas de trabalho do médium. Ele quase não tinha tempo para se
alimentar. Pela manhã, tomava dois ovos crus, no almoço comia empadinhas
especiais que sua irmã Mariquinha (Maria Neomísia) lhe preparava. E frutas. E
dormia, tão somente, de quatro a cinco horas por dia; sono, aliás,
constantemente interrompido por pessoas que pediam remédios ou vinham chamá-lo
para fazer um parto ou uma cirurgia mediúnica urgente. Em verdade, nem de
madrugada tinha ele sossego.
"A
Igreja, preocupada com o gigantesco trabalho que o Apóstolo da Caridade vinha
desenvolvendo em nome do Espiritismo procurava, de alguma forma, obstá-lo -
embora, no atendimento aos sofredores, Eurípedes Barsanulfo jamais lhes
perguntasse a que religião pertenciam...
E a campanha
dos padres e beatos começou a ser dirigida aos pais católicos no sentido de
retirarem seus filhos do Liceu Sacramentano (em que Eurípedes Barsanulfo era
professor). A campanha atingiu, inclusive, diretores e professores, os quais se
demitiram em massa no mês de setembro. E Eurípedes Barsanulfo, para não deixar
os alunos perderem um ano de estudos, apressou o exame final - marcado para
novembro - foi realizado em outubro. Watersides Wilson, seu irmão, auxiliou- o
nessa tarefa.
Eurípedes
Barsanulfo já havia deixado a vereança para melhor cumprir sua missão
espiritual e, agora, corria perigo do Liceu Sacramentano fechar suas portas...
A campanha
clerical parecia vitoriosa. Só parecia, porque no lugar do Liceu Sacramentano
surgiria, por iniciativa de Eurípedes Barsanulfo, o Colégio Allan Kardec, que
superou as melhores expectativas e ganhou fama e muitos alunos.
"Durante
seis anos consecutivos pode Eurípedes Barsanulfo desenvolver com relativo
sossego sua dupla missão: a mediúnica e a de educador, ambas a exigir total
abnegação. Dir-se-ia que os perseguidores o haviam esquecido..."
"Em
1913, porém, estando com trinta anos de idade viu-se, pela primeira vez,
obrigado a defender, publicamente, as verdades espirituais. Duas polêmicas teve
ele de sustentar quase ao mesmo tempo com líderes católicos; uma pela imprensa,
outra em praça pública - e em ambas Eurípedes Barsanulfo, amparado pela
Espiritualidade Superior, fez a Doutrina Espírita sair vitoriosa".
"O
primeiro debate foi com o padre Feliciano Yague, de Campinas, missionário do
Imaculado Coração de Maria e considerado notável pregador. Era homem de muita
cultura e consta que dirigia o Colégio Saleziano. Veio ele a Sacramento a
convite dos padres da Igreja Matriz com um único objetivo: destruir com sua
poderosa dialética a influência de Eurípedes Barsanulfo e, pois, o famoso
Colégio Allan Kardec..."
"Padre
Yague chegou apoiado por intensa publicidade. E, no domingo pela manhã, a
Igreja Matriz estava superlotada de curiosos. Compareceram, inclusive, chefes
políticos da região. Terminada a missa, padre Yague subiu ao púlpito e,
apoplético, fez desabar sobre o Espiritismo uma tempestade de inverdades,
classificando os espíritas de "adeptos do diabo".
"A
figura de Eurípedes Barsanulfo o padre deixou para o fim do sermão".
Arrasou-a, inclusive, com impropérios e, para provar que a Doutrina Espírita
era diabólica, cometeu um grave erro: desafiou o médium para um debate em praça
pública..."
"Ora,
Eurípedes Barsanulfo desdobrava-se com muita facilidade e fora, em Espírito,
ouvir a pregação do padre. Quando os amigos vieram contar-lhe sobre o desafio o
apóstolo, tranqüilo, respondeu:
- O nosso
irmão pregador está exaltado. Mas não posso silenciar neste caso. Não que me
sinta ofendido, mas porque a Doutrina Espírita foi desfigurada, publicamente.
Digam ao padre Feliciano Yague que desejo encontrar- me com ele na casa do coronel
José Afonso de Almeida para acertarmos o dia, local, hora e outros detalhes que
se fizeram necessários.”
"Quem
levou o recado foi o espírita João Gonçalves Rios. E, logo depois, José Afonso
de Almeida, um dos homens mais respeitados de Sacramento (era coronel da Guarda
Nacional e presidente da Câmara Municipal) recebia em sua sala de visitas o
padre Feliciano Yague, Eurípedes Barsanulfo, Watersides Wilson, Orígenes Tormim
e o padre Julião Nunes. O coronel aceitou a proposta de dirigir o debate e determinou
que seria realisado no dia vinte e oito de outubro (1913), a uma hora da tarde,
no coreto da Praça da Matriz. E mais ficou estipulado: os oradores fariam uso
da palavra, alternadamente - trinta minutos cada um pelo espaço de duas
horas."
- E o tema? perguntou
o coronel, alisando o cavanhaque. O tema central?"
"O padre
Feliciano, então, prontificou-se a provar que o Espiritismo é o ateísmo; que os
fenômenos de Espiritismo não se podem explicar sem a intervenção diabólica; que
o Espiritismo não é religião e nem ciência... Cinco pontos capitais. E o
coronel José Afonso de Almeida, a pedido de Eurípedes Barsanulfo e com a
concordância do padre Yague mandou que se lavrasse uma ata da reunião, o que
foi feito, imediatamente. Leu-a em seguida em voz alta e pediu aos presentes
que assinassem. Era uma medida de precaução: com a ata nenhuma das partes
poderia fugir ao compromisso...
"Uma
hora depois a população ficou a par da polêmica religiosa. No centro da cidade
e na periferia não se falava de outro assunto. A notícia atravessou as
fronteiras e vieram de outras cidades caravanas espíritas. E, no dia marcado,
agruparam-se na Praça da Matriz aproximadamente duas mil pessoas! No coreto já
se viam Eurípedes Barsanulfo ao lado de seu desafiante padre Yague, o coronel
José Afonso de Almeida, padre Julião Nunes e o padre Pedro Ludovico de Santa
Cruz; este último, é preciso que se diga, por força das circunstâncias, possuía
um clube de jogo de baralho, era banqueiro do jogo do bicho e carregava dentro
da batina dois revólveres."
"O
ambiente era nefasto; mas a presença do coronel José Afonso de Almeida
representava uma garantia. E a palavra foi franqueada ao padre Feliciano Yague,
o qual, quase freneticamente, entrou direto no tema inicial. Mas, sua dialética
aplicada contra o Espiritismo em nada o ajudou porque o padre partia de uma
inverdade, ou seja; o Espiritismo é o ateísmo. Os intelectuais de Sacramento
sentiram logo que ele perderia a polêmica. Suas divagações tornaram-se por
demais tortuosas e, como era de esperar-se, trouxe à baila o
"Inferno" e, assim, fugiu do tema, certamente para confundir
Eurípedes Barsanulfo...
"Deus
(disse o padre, gesticulando para a multidão) declara existir o inferno; o
Espiritismo o nega; logo, o Espiritismo acha Deus ignorante, porque ignora a
existência do inferno ou mentiroso, porque, em sabendo, declara ser irreal a
sua existência.
"E,
assim, com um sofisma silogístico o padre Yague viu o coronel apontar-lhe o
relógio; trinta minutos se haviam passados. As duas mil pessoas entreolharam-se.
Eurípedes Barsanulfo, então, sempre cavalheiro, cumprimentou o seu opositor e
pediu aos presentes que pensassem em Deus - e, arrebatado, com sua voz
atenorada e com timbre cristalino fez de improviso uma prece, sem esquecer de
implorar a proteção para o padre Feliciano Yague e todos os que não
compreendiam, ainda, as Verdades Divinas. E deu início ao seu discurso sob a
inspiração de Santo Agostino.
"As
frases fluíam de sua boca vertiginosamente, cheias de sabedoria e bondade. E
mais: eram eles compreendidas, inclusive, pelos homens mais simples. Então,
todos os andaimes do edifício construído pelo padre Yague com sofisma e
expressões violentas começaram a ruir: o Espiritismo é o ateísmo... os
fenômenos do Espiritismo não se podem explicar sem a intervenção diabólica... O
Espiritismo não é religião... O Espiritismo não é ciência... Foi em vão a
réplica do padre.
"No
final da polêmica Eurípedes Barsanulfo estava, ainda, como que transfigurado. A
multidão, então, aplaudi-o e quis carregá-lo em triunfo pelas ruas. Mas, o
médium pediu calma e rodeado por parentes e amigos regressou, rápido, à sua
casa.
"No dia
seguinte, sem que ninguém notasse, o padre Feliciano Yague tomou o caminho para
Campinas, enquanto os beatos mais exaltados de Sacramento espalhavam pelas
esquinas, armazéns e bares dúvidas a respeito da derrota do pregador
campineiro... Eurípedes Barsanulfo, então, mandou imprimir um boletim com a síntese
da polêmica e distribuiu-o entre o povo e cidades vizinhas. E encerrou a
questão."
Que pena,
tenho tanto ainda para falar de Eurípedes Barsanulfo, mas o espaço acabou.
Remeto, então, os que quiserem saber mais sobre essa figura maravilhosa à obra
Eurípedes Barsanulfo, O Apóstolo da Caridade, de Jorge Rizzini, publicado por
Edições Correio Fraterno. Jorge Rizzini, fez ampla pesquisa de campo em
Sacramento e pôs tudo no papel, para que a posteridade saiba quem foi Eurípedes
Barsanulfo.
(Publicado no Correio
Fraterno do ABC Nº 367 de Agosto de 2001)
Fonte; http://www.espirito.org.br/portal/artigos/cor
Fonte; http://www.espirito.org.br/portal/artigos/cor
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