Nelson
Costa da Silva
A
Doutrina dos Espíritos nos lança a uma ordem tão grandiosa de estudos, que este
só pode ser feito por pessoas sérias, perseverantes, isentas de toda e qualquer
prevenção e com uma vontade firme de se esclarecer. Não o podem aqueles que a
seguem levianamente, que não dão aos estudos seqüência, regularidade ou a
cautela necessária.
Aqueles
que não queiram estudar, ou que aderem por aderir, aceitando tudo que se lhes
apresenta como se espiritismo fosse, apenas para não perder a pose de homens de
espírito, que se empenham em ridicularizar aos que tomam o estudo e as
pesquisas como coisa séria, ou aqueles que tentam tornar como ridículo o
esforço e a dedicação de se apresentar o Espiritismo em seu viés filosófico com
as conseqüências morais, assim como o de demonstrar a utilidade para o avanço
da ciência, que se calem em suas críticas inócuas; ninguém tenciona impor-lhes
a mudança nas suas crenças espiritualistas, ninguém tenciona violentá-los nas
suas convicções, mas que saibam, no entanto, respeitar a convicção dos que
defendem a coerência doutrinária Espiritista.
O
movimento que torna forte a manutenção da Ortodoxia dos Ensinamentos dos
Espíritos é um movimento formado por pessoas comprometidas com a base desses
ensinamentos, em toda a extensão das obras que compõem a Doutrina dos
Espíritos. A coerência será defendida pela convicção de que o que está
postulado ao longo da gênese do Espiritismo foi construído com a mais cuidadosa
lógica e a mais apurada racionalidade, não havendo, até os dias atuais, alguém que
pudesse contestar essa lógica ou que pudesse desacreditá-la com a razão.
Então
dizem que o movimento em prol dessa Ortodoxia e que as pessoas concordantes com
os avanços filosóficos e científicos do Espiritismo não passam de iludidos,
retrógrados e fundamentalistas. Não se pode admitir a pretensão de alguns
críticos que julgam ter o privilégio do bom senso e que, desrespeitando a
decência ou o valor moral das pessoas que se aliam à idéia do movimento pela
coerência e ortodoxia, os tacham, sem nenhuma cerimônia, de tolos todos aqueles
que não estejam de acordo com as suas opiniões espiritualistas.
Aos
olhos de todas as pessoas sensatas, ajuizadas, um movimento dessa natureza
constituirá sempre um resgate aos fundamentos de base da Doutrina Espírita;
constituirá sempre a propagação da coerência para as coisas do espírito,
preservando as suas estruturas doutrinárias. E a esse movimento, faz-se mister
salientar que a seu favor conta a lhe dar rumo e propósito, a atenção de homens
sérios que não se dignam a propagar erros, enganos ou ilusões, e que não têm,
também, tempo para perder com futilidades.
Quando
se fala e se pratica a Ortodoxia Espírita é para combater, no terreno
intelectual, o intenso e nocivo religiosismo e misticismo implantados, ao longo
de mais de um século, ao movimento espírita atual. E combater não quer dizer
atacar as pessoas que professam esse sistema de crença construído tal qual uma
colcha de retalhos, ou rejeitar as pessoas que aderem a um espiritismo híbrido.
O combate está proposto na divulgação e esclarecimentos coerentes com a base
dos ensinamentos ditados pelos espíritos que compuseram a codificação Espírita.
O combate está proposto na demonstração e fundamentação do atraso que causa ao
indivíduo, quando não percebe a essência desses ensinamentos filosóficos, e
quando não percebe o caráter progressista da Doutrina Espírita, ao ignorar o
convite que a doutrina faz para que cada um a entenda em sua profunda filosofia
e científica construção. A filosofia é a que dará ao indivíduo o suporte lógico
e racional, para compreender os valores morais que alavancam a sua evolução e o
seu progresso; e a ciência é a que dará ao indivíduo oportunidades, para que as
experiências e as pesquisas das relações entre os mundos material e espiritual
possam ser mais bem compreendidas.
Temos
hoje o que identificamos como espiritismo híbrido, que é uma variação
equivocada do Espiritismo como doutrina. Este [o Espiritismo] não se sustenta
sob os pilares de nenhuma religião formal conhecida ou desconhecida. Ele é,
especificamente, Filosofia de conseqüências morais e Ciência. Já aquele [o
espiritismo híbrido] tem a lhe sustentar um pilar religioso, formal e
sincrético, cuja base é a Igreja Católica Apostólica Romana. A criação do
espiritismo híbrido, sincrético, com a fusão de dois elementos culturais
antagônicos, na intenção de formar uma base de pensamento e prática sustentada
num terceiro elemento, acabou formando uma mistura heterogênea, contraditória e
paradoxal em si mesma. Enquanto um elemento [cultural] diz não à idolatria, o
outro diz sim; enquanto um elemento diz não aos rituais, o outro diz sim;
enquanto um elemento diz não à hierarquia, o outro diz sim; enquanto um
elemento diz não às imagens e adorações personalizadas, o outro diz sim. O
antagonismo cultural e filosófico só não é trágico, porque os interesses dos
seus idealizadores superaram o desvio moral com a consciência doutrinária e
ideológica.
Esse
foi um passo fundamental e antidoutrinário de transformar o Espiritismo em
religião – o espiritismo híbrido -, e fez com que os seus seguidores passassem
a adorar e idolatrar Jesus e seus prepostos “santos”, colocando-os em patamar
inalcançável, fazendo-os acreditar que assim encontrariam o caminho para a cura
do sofrimento e das tragédias humanas. Num reduto cultural como o nosso, onde a
religiosidade é latente, foram falácia e sofismas muito convenientes para
agregar adeptos e lotar auditórios. É mais cômodo entregar os problemas nas
"mãos" de Deus e crer que “Jesus salva". Entre todas as
religiões podem-se distinguir, nesse panorama universal, quatro grandes
tendências, na seguinte classificação: religiões de Integração, religiões de
Servidão, religiões de Libertação e religiões de Salvação. Não é difícil saber
e entender o porquê da escolha da religião de Salvação, para o sincretismo na
Doutrina dos Espíritos. Para séculos de dominação religiosa, nada melhor do que
se aliar. E o Espiritismo e a coerência são vilipendiados nos seus alicerces,
pois não há movimentos significativos para a crítica e os consequentes
esclarecimentos necessários aos adeptos menos esclarecidos.
Como
se chegou a essa hibridez é um estudo que será apresentado em outra
oportunidade. O interesse e o foco deste ensaio é o de demonstrar de que forma
podemos e devemos entender a ortodoxia dos ensinamentos dos Espíritos, ou seja,
a coerência da base doutrinária do Espiritismo. E para isso devemos considerar
em primeira mão como análise dessa coerência, a fundamentação e a demonstração
de o Espiritismo NÃO ser uma religião. E ao mesmo tempo e na mesma
demonstração, fundamentar o equívoco perpetrado ao se concretizar, propagar e
divulgar o espiritismo híbrido.
Quando
Allan Kardec escreveu: "O Espiritismo é o futuro das religiões",
muitas pessoas, notadamente aquelas que produziram e praticam o espiritismo
híbrido, entenderam e defendem, ainda hoje e erradamente, que o codificador
quisera dizer que o Espiritismo “é a religião do futuro”, porém Allan Kardec
não tinha por hábito tropeçar intelectualmente na condução das suas idéias. Ele
não poderia querer dizer aquilo que não dissera e não escrevera.
O
codificador teve um cuidado muito grande para que as pessoas, ao terem contato
com os postulados espíritas, entendessem que ali não se criava uma nova
religião. E mesmo que não tivesse esse cuidado, a razão já levaria a essa
conclusão. Os postulados da Doutrina são inconfundíveis. Mas Allan Kardec ia
mais além; toda a vez que tinha oportunidade ou quando era confrontado com a
afirmação de que o Espiritismo surgia como mais uma religião, ele, prontamente,
rebatia a equivocada compreensão da Doutrina dos Espíritos. Uma das provas nós
encontramos na Revista Espírita de maio de 1859, quando da refutação de um
artigo do jornal O Universo, no número de 13 de abril daquele mesmo ano, que
continha o artigo do senhor abade Chesnel onde a questão do Espiritismo foi longamente
discutida, mas que não deixou de ter um erro grave, segundo Allan Kardec, que
ele tratou, prontamente, de refutar. O codificador reportava à parte onde o
artigo intitulava o Espiritismo como “Uma religião nova em Paris”, e como
resposta disse ao longo de sua explanação ao abade:
“Seu
verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião, e a prova
disso é que conta, entre seus adeptos, com homens de todas as crenças, e que
por isso não renunciaram às suas convicções: os católicos fervorosos que não
praticam menos todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas,
israelitas, muçulmanos e até budistas e brâmanes; há de tudo, exceto
materialistas e ateus, porque essas idéias são incompatíveis com as observações
espíritas.”
(...)
“O
Espiritismo não é, pois, uma religião: de outro modo teria seu culto, seus
templos, seus ministros. Cada um, sem dúvida, pode se fazer uma religião de
suas opiniões, interpretar ao seu gosto as religiões conhecidas, mas daí à
constituição de uma nova Igreja, há distância, e creio que seria imprudente
dar-lhe a idéia.”
(...)
“A
Sociedade, da qual falais, definiu seu objetivo por seu próprio título; o nome
de: Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se parece com nada de uma
seita; tem-lhe tampouco caráter, que seu regimento lhe interdita ocupar-se de
questões religiosas; ela está alinhada na categoria de sociedades científicas
porque, com efeito, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos que
resultam das relações entre o mundo visível e o mundo invisível;”
Allan
Kardec ainda disse mais: que o Espiritismo não formava homens ateus, mas isso
não implicava, de modo algum, que aqueles que o seguissem fossem novos
formandos religiosos. (grifo meu)
Como
conseqüência filosófica o Espiritismo não nega Deus, não nega a alma, nem a sua
individualidade após a morte do corpo físico, nem nega o livre arbítrio do
homem, não nega as penas ou as recompensas futuras e, se os negasse, poderia
ser considerada uma doutrina imoral. Ao contrário, o Espiritismo prova, não
pela fé cega, mas pelos fatos, todas as bases fundamentais da religião, para
demonstrar que o mais perigoso inimigo do homem é o materialismo. Ele ensina,
pela resignação, a suportar dores e misérias da vida, minorando o desespero; ensina
sobre o perdão e sobre o amor.
Então
percebemos o acerto na afirmativa de Allan Kardec quando vaticinou ser o
Espiritismo “o futuro das religiões”, pois, sem ser este uma religião vem para
desempenhar o papel que as religiões omitiram, ao enunciar todas as
consequências reservadas ao Espírito com clareza, raciocínio e lógicas
irrefutáveis. Tornou claro aquilo que estava obscuro e tornou evidente aquilo
que era duvidoso. O Espiritismo, sem ser uma religião, deveria ser uma
ferramenta de conhecimento obrigatória para todas elas, pois ao invés de
acompanhar impotente a perdição de almas, ele salva almas.
Deixar
a Doutrina dos Espíritos em seu estado genésico e básico é de fundamental
importância para o resgate do processo de evolução e progresso dos espíritos.
Seguir a coerência com que o compêndio Espírita foi formulado é demonstrar
sabedoria e lucidez intelectual. O Espiritismo é progressista pela natureza das
suas bases e pelos seus objetivos, já que se sustenta nas Leis Divinas e
Naturais. Aquilo que a ciência revelar, o Espiritismo dará curso, conforme
orientações e esclarecimentos dos Espíritos da codificação, ao sugerirem que
muitas coisas ainda não nos foram dadas conhecer, mas que a ciência se ocupará
delas. E é para isso que devemos trabalhar, pelo esclarecimento e pelas
pesquisas, e acima de tudo pela compreensão correta do que é o Espiritismo, ou
a Doutrina dos Espíritos.
Fonte; NEFCA - NÚCLEO ESPÍRITA DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS APLICADAS
Leitura Recomendada;
A
AURA E OS CHACRAS NO ESPIRITISMO (NOVO)
AS
PAIXÕES: UMA BREVE ANÁLISE FILOSÓFICA E ESPÍRITA [1] (NOVO)
COMO
ENTENDER A ORTODOXIA - PARTE I (NOVO)
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A EDUCAÇÃO1 (NOVO)
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FUNDADA NO MONT-JURA (NOVO)
DA
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- Termos traduzidos do francês (NOVO)
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PIRÂMIDES DO EGITO E O MUNDO ESPIRITUAL (NOVO)
LITERATURA
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CARTA
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PIONEIRISMO
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O
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O
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SEXUAL, MAGNETISMO, HOMOSSESUALIDADE E PRECONCEITO
RECORDANDO
A VIAGEM ESPÍRITA DE ALLAN KARDEC, EM 1862
OS
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DE PERFEIÇÃO
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KARDEC
REFLEXÃO
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AUTO
DE FÉ DE BARCELONA
ACERCA
DA AURA HUMANA
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