segunda-feira, 26 de maio de 2014

A CIÊNCIA EM KARDEC

                                                     Por: Nubor Orlando Facure

Na segunda metade do Século XIX, quando Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita, a Ciência humana se iluminava produzindo avanços extraordinários, ampliando a compreensão dos fenômenos da natureza. O método científico já estava bastante divulgado e a experimentação se estabelecia como a melhor forma de produzir conhecimento.
Vale a pena fazermos uma revisão histórica desse momento vivido por Kardec e, pinçarmos nos seus textos, a contribuição que a Doutrina Espírita estava trazendo para a Ciência naquela época. Com o que conhecemos hoje, temos certeza de que o cientista daquele século não tinha informações suficientes para compreender tudo que estava sendo revelado mediunicamente. Fica, também, a certeza de que até aos dias de hoje, ainda não temos alcance para abrangermos cientificamente toda a obra da codificação. Há nela informações que a Ciência humana levará tempo para confirmar e compreender.

O Obscurantismo medieval
       
   O Século de Kardec estava saindo definitivamente do ranço medieval que dominava a Ciência. Nessa época, acreditava-se que a “idade da Terra” não passava de 4600 anos; os fósseis  não tinham ligação com o nosso passado; o homem fora criado num paraíso que desrespeitou e, mesmo assim, ocupava um lugar privilegiado entre todos os seres criados por Deus; a vida podia nascer na água empoçada ou no meio de roupas velhas; a madeira se queimava pela presença nela de um “flogístico”; a eletricidade era tida como um fluido que podia se deslocar obedecendo a  forças de atração e repulsão assim como a água se desloca dos lugares mais altos para os mais baixos; a luz se deslocava pelo Éter; a matéria era formada por substâncias, umas elementares outras complexas, que se misturavam obedecendo a leis de afinidade ainda desconhecidas; algumas substâncias, chamadas de “orgânicas” só poderiam ser produzidas pelos organismos vivos; os corpos pesados caiam em decorrência da sua tendência de ficar na Terra.

Inicio das descobertas

Na época de Kardec a Ciência ainda não produzira seus grandes avanços tecnológicos. Até 1834 a maior descoberta feita por um cientista tinha sido o pára-raios de Franklin. Entretanto, as Leis fundamentais que permitiriam o nascimento da Ciência moderna já tinham sido descobertas. Galileu conseguiu comprovar a teoria heliocêntrica de Copérnico e enunciava as primeiras Leis do movimento. Newton descobrira a matemática da gravidade, explicou o vai-vem das marés, a oscilação do pêndulo, a queda dos corpos, a órbita dos astros e fragmentou a luz sugerindo sua propagação por partículas. Lavoisier começava a esclarecer a química da respiração e estabelecia leis de conservação da matéria. Charles Lyell iniciou o estudo da estratificação de áreas geológicas expandindo a idade da Terra alguns milhares de anos e Cuvier inaugurava os estudos da paleontologia. Na filosofia, René Descartes introduziu a reflexão, analisou a conveniência da dúvida, destacou a importância do pensamento racional e separou o estudo do corpo e da alma. Vessálius revolucionou a anatomia do corpo humano que ele dissecava como uma máquina cujas peças podiam ser desmontadas à semelhança dos relógios e dos moinhos. Mesmer defendeu a existência do magnetismo animal e fez surgir o sonambulismo provocado. Galvani se encantara com a eletricidade nas patas de uma rã e Volta compactou a eletricidade numa pilha rudimentar. Na Inglaterra o filósofo Francis Bacon ensinara como observar e experimentar com a natureza reunindo os fatos, organizando as idéias e produzindo leis gerais a partir do raciocínio indutivo.

Vultos iluminados

No mesmo momento em que a espiritualidade inspirava Kardec na produção do seu grande trabalho, a humanidade recebia pela mão de cientistas excepcionais um volume considerável de descobertas. Charles Darwin e Alfred Wallace divulgaram seus trabalhos sobre a origem e a evolução das espécies. Richard Virchow, patologista alemão, afirmava que toda célula viva provém de outra célula. Na Inglaterra, Faraday ampliou nossos conhecimentos sobre a eletricidade e Maxwell reuniu em suas leis, a eletricidade e o magnetismo conseguindo incluir a luz entre os fenômenos eletromagnéticos. No laboratório de fisiologia, na França, Claude Bernard estabeleceu a importância da manutenção equilibrada dos elementos químicos do sangue e Luiz Pasteur iniciou suas pesquisas com a fermentação, invalidou a geração espontânea e, mais tarde inaugurou a vacinação contra a raiva. Em 1804 Franz Gall revolucionou a interpretação do cérebro criando a frenologia (citada em Kardec - Revue Spirite, julho de 1860, pg 198 – Frenologia e fisiognomia) e em 1864, Paul Broca descobriu a área do cérebro relacionada com a fala.

Tópicos de Ciência em Kardec

Vamos fazer agora uma coleta de informações científicas em duas obras da codificação – O Livro dos Espíritos (1857) e A Gênese (1868). A Ciência de hoje está a um século e meio distante dessas obras e, só agora, começamos a atinar com a importância dos seus textos. Vamos abordar alguns tópicos que nos pareceram instrutivos.

A origem do Universo
       
Na época de Kardec a Ciência não tinha qualquer proposta para a origem do Universo. Foi só em 1927 que a teoria da grande explosão – o Big Bang - começou a ser enunciada. Uma grande concentração de energia, surgida do nada, teria provocado ha 13 ou 15 bilhões de anos atrás, a explosão que produziu toda matéria contida no Universo. Um efeito popular dessa teoria é que ela sugere um início ao mundo em que vivemos e satisfaz a visão teológica dos que admitem o momento bíblico da criação quando “Deus fez a luz”.
          Mais recentemente, a física quântica introduziu o conceito de antimatéria e, levantou a possibilidade de existir outros Universos além da realidade física que transitamos.
          Nas lições que os Espíritos nos deixaram a criação é eterna, se renova permanentemente e nossa inteligência não está em condições de apreender qualquer início para o Universo – “não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstruídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno” (A Gênese cap VI item 17).

Elementos do Universo
      
A Ciência de hoje vive alguns dilemas contraditórios. Só admite a existência da matéria, enquanto, suas mais recentes teorias, propõem que o que existe é energia e a matéria é uma de suas transformações. Não aceita a existência de um mundo imaterial, mas, reconhece a necessidade da mente para a percepção da realidade física. E, não sabe de onde se origina essa energia nem consegue ter certeza do que é a mente.
          Na Filosofia, as substâncias do Universo foram sempre uma preocupação importante. Tales de Mileto considerava que tudo procede da água. Empédocles adotou os quatro elementos que passaram a fazer parte do conhecimento ocidental por dois milênios – a Terra, a água, o ar e o fogo. Thomaz de Aquino acrescentou uma substância espiritual. René Descartes considerava dois elementos – o ego cogitans (o sujeito) e o rés extensa (o objeto). Espinosa falava em apenas uma substância e Leibniz criou a idéia de infinitas mônadas, sendo a Alma a maior das mônadas.
          Para a Doutrina Espírita existem “dois elementos, ou, se quiserem, duas forças regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material. Da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais”... (A Gênese – introdução). Acrescenta, ainda, que “não há, em todo o Universo, senão uma única substância primitiva” – o fluido cósmico universal.

A Vida
       
Dois momentos do Século passado marcaram definitivamente nossa compreensão sobre a vida. A conferência sobre “O que é vida?”  que Erwin Schrodinger proferiu em fevereiro de 1943 em Dublin e a publicação de Francis Crick e James Watson sobre a descoberta do DNA em 25 de abril de 1953 – “o oitavo dia da criação”. O genial físico Erwin Shrodinger propôs que a hereditariedade seria transmitida por um cristal aperiódico, o que permitiria seu estudo com métodos radiológicos. A partir daí, Crick e Watson descobriram a química da dupla hélice que contem nossos genes. Shrodinger sugeriu, também, que a vida exige um aporte externo de energia para conservar sua baixa entropia o que corresponde a uma alta organização. A termodinâmica dos seres vivos pressupõe a ordem a partir da desordem.
          O espiritismo ensina que a matéria orgânica assume propriedades especiais quando nela atua o “princípio vital”. É no fluido cósmico universal que reside o princípio vital que tem a capacidade de dar “origem à vida dos seres e a perpetua em cada globo” (A Gênese cap. VI item 18). É nessa matéria “vitalizada” pelo princípio vital que irá se desenvolver o “princípio inteligente”.

A origem do Homem

O Homem atual é classificado como uma espécie única denominada Homo sapiens. Ele habita a Terra há cerca de 200 mil anos e é procedente da evolução de hominídeos e outras espécies do gênero Homo cujos achados fósseis já se contam às dezenas.
          Há duas correntes que tentam explicar a presença da nossa espécie em lugares tão variados da Terra. Para alguns nós tivemos uma origem única em território africano e para outros é possível que tivemos origem em diversos pontos do globo. Kardec, aborda a origem do Homem no capítulo XI de A Gênese, sugere que o corpo humano teria tido origem em diversos pontos da Terra e o Espírito humano se desenvolveu tanto no planeta como migrou de outros mundos do nosso Universo.

A origem e evolução das espécies.

Charles Darwin publicou “A origem das espécies” dois anos após a primeira edição do Livro dos Espíritos. Darwin sugere a evolução biológica para explicar a variedade das espécies, enquanto Kardec apresenta a evolução espiritual como princípio fundamental para justificar os propósitos da vida.
          Darwin comprovava que todas as espécies vivas têm uma origem comum. O Homem deixa de ser criatura que já nasce pronta nos jardins do Éden, para percorrer junto com todas as outras espécies, a mesma árvore da vida, obedecendo no percurso de milênios às transformações adaptativas.
          Já ensinam, claramente, os Espíritos superiores que orientavam Kardec, que “o Espírito não chega a receber a iluminação divina que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização” (A Gênese capVI-19).     

Idéias inatas
      
   Essa discussão esteve provocando os filósofos durante milênios. Platão considerava que a Alma ao nascer já traz conhecimentos que adquiriu no mundo das idéias. No mito da caverna ele sugere que nossa vida material é apenas o reflexo de um mundo verdadeiro pré-existente, e fonte de todo conhecimento. Seu discípulo, Aristóteles, atribuía o aprendizado à experiência e acreditava que todo conhecimento provém dos sentidos. John Locke, também via a mente como uma “tabula rasa”. René Descartes, pelo contrário defendia a existência de idéias que nos são inatas como a noção de Deus, as idéias matemáticas e as verdades eternas.
          Atualmente essa polêmica envolve, principalmente, a biologia e a neuropsicologia. As descobertas dos genes nos permitiram conhecer mais profundamente a extensão das nossas heranças e a discussão se estabeleceu em torno do quanto nosso conhecimento é aprendido, através da experiência e, o quanto os genes programam nossos comportamentos. O dilema ganhou fama dividindo ambientalistas e geneticistas na expressão “nature versus nurture” (ambiente versus hereditariedade; aprendizado versus instinto). Nos dias de hoje, ninguém mais duvida da participação tanto dos genes como da estimulação do ambiente na produção do conhecimento.
          Na questão 218 – a, do Livro dos Espíritos, Kardec, pergunta se a teoria das idéias inata não seria apenas uma quimera. Os Espíritos nos ensinaram que “os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém, a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar constantemente”.

Percepção da dor e visão
         
Nós já sabemos desde o século passado quais são os neurônios envolvidos na percepção da dor e das imagens visuais. O neurologista conhece todo o trajeto percorrido pela sensação de uma espetada na pele e que provoca dor. A mesma coisa para os objetos registrados pela retina e que o cérebro codifica em imagem. O que nós já sabemos também, é que todo esse trajeto de vias nervosas representa apenas uma pequena porcentagem nos dois fenômenos, a percepção de dor e a visão dos objetos.
          Nos dois casos, o mais importante é o processo mental que interpreta a dor e que dá significado às imagens. Dizem os neurologistas que esse fenômeno mental depende de uma série de fatores. A maneira como expressamos a nossa dor e damos significado ao que estamos vendo, está fortemente ligada à nossa cultura, a personalidade, as experiências anteriores, as memórias, ao ambiente. Na verdade, tanto a dor como a visão, são processos mentais interpretativos, ou como dizem neurologistas mais liberais, tudo não passa de “uma opinião pessoal”.
          É surpreendente o que podemos aprender no Livro dos Espíritos que nos ensina como esses dois fenômenos afetam o espírito: “A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa”. “A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo... porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores” (Livro dos Espíritos pergunta 257).
          Quanto à visão (perguntas 245,246 e 247) “ela reside em todo ele. Vêem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo”.
          A Neurologia deverá confirmar no futuro essas duas informações que Kardec nos legou para estudo. Precisará, inicialmente, considerar a mente como sinônimo de alma.

O Tempo

         Na teoria mecanicista de Newton, o Tempo precisava ser uma grandeza absoluta, caso contrário, os cálculos que mediam as distâncias entre os planetas dariam errados. Einstein, entretanto, perverteu essa relação, comprovando a relatividade do Tempo, aumentando a precisão dessas medidas.        
          Independente das proposições científicas, os filósofos sempre conjeturaram sobre a natureza do Tempo. Henri Bérgson deu-nos a afirmação poética de que “o Tempo da consciência não é o mesmo Tempo da Ciência”. Para o senso comum, todos nós já constatamos que o passar do Tempo é circunstancial. Basta esperar o ano para os alunos da escola, os meses para a mulher grávida, os dias  para quem paga o aluguel, as horas para quem marcou um encontro, os minutos para o trem passar e os milésimos de segundos para a fórmula um.
          A neurologia vê a noção de tempo como uma experiência nitidamente mental, ocupando diversas áreas do cérebro ao mesmo tempo.
          Kardec recebeu dos Espíritos a informação de que “o tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitória; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo é presente” (A Gênese – cap. VI item 2) Precisamos destacar essa afirmação de conseqüências e complexidade extraordinárias - para o Espírito tudo é presente.

As propriedades da matéria

          No Livro dos Espíritos (perguntas 29 à 34) ficamos sabendo sobre a existência de um só elemento primitivo que dá origem a todas as propriedades da matéria. Estando presos à realidade material do nosso mundo, conseguimos identificar as propriedades químicas e físicas da matéria grosseira que compõe nossa dimensão física. Entretanto, o elemento primitivo (fluido cósmico)  que se expande por todo universo, tem propriedades especiais que ainda não conhecemos e que dá à matéria a capacidade de experimentar todas as modificações e adquirir todas as propriedades. Dizem então os Espíritos “que tudo está em tudo”.
          Só assim poderemos entender as expressões extraordinárias dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos quando as leis de ponderabilidade são pervertidas. Uma pedra, tão sólida como a conhecemos, pode atravessar um telhado e se acomodar dentro de um armário fechado. São essas mudanças nas propriedades da matéria que o fluido cósmico realiza e que a Ciência ainda não conhece os princípios de sua atuação.
            Ainda não temos alcance, também, para compreendermos a extensão da ligação espiritual que esse fluido universal permite a matéria submeter-se ao pensamento de Deus. Em A Gênese (capítulo II) dizem os Espíritos que “cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à suas solicitude”. “A natureza inteira está mergulhada no fluido divino”.

O pensamento criativo e as idéias fixas

          O imaterialismo de Berkeley (Donald Bekerley, filósofo irlandês,1685-1753)  propunha  que o “existir não é mais do que  ser percebido”. “A matéria só existe quando percebida”. “As percepções visuais não são de coisas externas, mas simplesmente idéias na mente”. Sócrates afirmava que “as coisas existem em virtude de como as percebemos”. No Livro dos Espíritos (Pergunta 32) os Espíritos ensinam que as qualidades dos corpos (“os sabores, os odores, as cores, as qualidades venenosas ou salutares”) só existem devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las. É bem assim que a neurologia de hoje compreende a percepção que fazemos de um objeto que atinge nossos sentidos.
          Os físicos da atualidade estão afirmando que a matéria só se manifesta como interação mental. Entretanto, os neurologistas ainda não conseguem compreender a natureza da criação mental, a não ser quando um comportamento expressa uma resposta a um estímulo sensorial. O pensamento intuitivo ou o pensamento abstrato estão longe de qualquer experimento laboratorial
          Na doutrina espírita aprendemos que o pensamento procede do Espírito, fonte de energia criadora que usa o cérebro como instrumentos de suas idéias.
          No campo do pensamento os Espíritos acrescentaram conhecimento inédito e tão extraordinário que até hoje a Ciência siquer tem instrumentos para estudo. Dizem os Espíritos que o pensamento atua sobre o fluido universal criando nele “imagens fluídicas”, o pensamento se reflete no nosso envoltório perispirítico, como num espelho; ...e aí de certo modo se fotografa.
          “Esse fluido (perispirítico) não é o pensamento do Espírito; é, porém o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido” (A Gênese Capítulo II item 23)
          Daí a gravidade de nos escravizar os pensamentos persistentes que nos aprisionam; a desejos que nos perturbam; a vinganças que não se justificam; a ódios que não se apagam; a paixões que nos desequilibram; a projetos que não temos alcance. São todas elas, “idéias fixas”, que se “materializam” em nossa esfera mental, criando “idéias-formas”, “imagens fluídicas”, “miasmas mentais” que justificam as inúmeras expressões de neuroses e psicoses comuns na  psicopatologia humana.

Vitalismo

          Para Cláudio Galeno, médico do Século II, existiriam forças de atração e repulsão para manterem os órgãos em funcionamento. Para ele, a vida seria mantida por um elemento imaterial denominado pneuma vital situado no coração, difundindo-se pelo sangue existente nas veias. No cérebro, ele é transformado em pneuma animal permitindo reagirmos aos estímulos dos sentidos e, no fígado, em pneuma natural com a propriedade de assimilar os alimentos. As teorias de Galeno foram aceitas por mais de 12 séculos.
          No início do Século XVI Georg Sthal reviveu o vitalismo defendendo a existência de uma “alma sensitiva” necessária para a manutenção da vida. Nessa ocasião Sthal sofreu uma ferrenha oposição a custas das teorias mecanicistas defendidas principalmente por Frederich Hoffman. Excluindo a existência da alma, Hoffman via nos processos vitais apenas fenômenos de fermentação de substâncias e combustão de gases, explicando, assim, a digestão e a respiração.
          A doutrina espírita revive com força o vitalismo. Ensina que existe um elemento imaterial que mantém a vida na matéria orgânica (Livro dos Espíritos perguntas de 60 a 67) e, “sem falar do princípio inteligente, que é questão a parte, há na matéria orgânica, um principio especial, inapreensível e que ainda não pode ser definido: o princípio vital” (A Gênese capítulo X item 16).

O sonambulismo

         Na atualidade o sonambulismo já não desperta o mesmo interesse e prestígio que desfrutava no tempo de Kardec. Tratados com casuística volumosa foram escritos por Ambrose-August Liébeaut, Abade Faria e Charles Richet. A escola de Charcot em Paris o acolhia como forma de terapia em suas pacientes histéricas.
          Kardec dá notícia de ter estudado o sonambulismo em todas as suas fases durante 35 anos (introdução do Livro dos Espíritos). No Livro dos Espíritos ele escreve várias páginas fazendo um “resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla vista”. Deixa claro que “para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto”.
          Nesse resumo Kardec discorre sobre o sonambulismo natural e o magnético e destaca a clarividência como um atributo da alma, permitindo ao sonâmbulo ver em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se. Nessa visão à distância, “o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está” (Livro dos Espíritos  455).

O sono e os sonhos

         Já conhecemos muito da fisiologia do sono. Ele ocorre em ritmos com determinados padrões que são identificados pelo eletrencefalograma. A idade, o sexo, o ambiente, a alimentação, a profissão, são parte dos inúmeros fatores que interferem na quantidade e na qualidade do sono. Já sabemos o quanto ele nos faz falta, mas, ainda não podemos dizer tudo sobre porque realmente precisamos dormir. Os sonhos estão nitidamente ligados às experiências vividas no decorrer do dia, têm relação íntima com a aquisição de memórias, mas, também, desconhecemos o seu real significado.
          Freud afirmava ter percebido que seus pacientes lhe procuravam não só para fazerem suas queixas, mas, também, para lhes relatar seus sonhos. Isso lhe despertou a idéia de que os sonhos teriam algum sentido oculto. Seu livro de 1900 “A interpretação dos sonhos” desencadeou a mais extraordinária revolução sobre a mente humana. Os sonhos revelam um conteúdo insuspeitado, já que sinalizam desejos contidos no inconsciente.
          Platão em sua “República”, antecipara-se à Freud ao afirmar que no sono a Alma tenta retirar-se das influências externas e internas e, que são expressos nos sonhos, desejos que geralmente não se expressam no estado de vigília.
          Kardec, no Livro dos Espíritos inicia o Capítulo sobre a Emancipação da Alma estudando o sono e os sonhos. Os Espíritos esclarecem que durante o sono a alma se vê liberta parcialmente do corpo e “entra em relação mais direta com os Espíritos”. Nessas circunstâncias pode a alma manter contato com Espíritos familiares que o orientam e aconselham e tomam conhecimento do seu passado e algumas vezes do futuro. Esse é um campo de futuras investigações que precisam ser desenvolvidas e confirmadas no meio espírita.

Tributo necessário

         Abordamos catorze tópicos de interesse científico relevante extraídos de duas obras básicas da codificação espírita. Após um século e meio algumas das suas afirmações aguardam aprovação da Ciência oficial enquanto outras estão se confirmando gradativamente. De algum tempo para cá, o meio espírita vem de dedicando mais sistematicamente ao estudo do Espiritismo como ciência, aliado ao seu conteúdo filosófico e suas conseqüências morais. Só assim conseguiremos que a Ciência humana registre o nome de Allan Kardec como um de seus grandes vultos. É um tributo que precisamos retribuir pelo legado científico que ele nos deixou.

Fonte; Letra Espírita


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