Nos
ensina o Dr Bezerra de Menezes: “A vida, sob qualquer aspecto considerado, é
dádiva de Deus que ninguém pode perturbar. Todos os seres sencientes
desenvolvem um programa na escala da evolução demandando a plenitude, a perfeição
que lhes é meta final.
Preservar
a vida, em todas as suas expressões é dever inalienável, que assume a
consciência humana no próprio desenvolvimento da sua evolução.
Quando
alguém levanta a clava para interromper propositalmente o ciclo da vida, faz-se
um novo Caim, jogando sobre si mesmo a condenação da consciência de culpa e
experimentando, no remorso, hoje ou mais tarde, a necessidade de depurar-se,
reabilitando-se, ao nadar nos rios das lágrimas.”
Adolfo
Bezerra de Menezes Cavalcanti
Nascido
na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias
do mês de agosto de 1831, desencarnou em 11 de abril de 1900 no estado do Rio
de Janeiro.
A
Infância e a Família
Seu
pai, Antônio Bezerra de Menezes, capitão das antigas milícias e então
tenente-coronel da Guarda Nacional, tinha fazendas de criação de gado; sua mãe
chamava-se Fabiana de Jesus Maria Bezerra e era senhora do lar. Antônio era
importante fazendeiro local que “nunca mediu sacrifícios, na hora de socorrer
àqueles que lhe estendiam a mão”. Tanta generosidade acabou por levar sua
fortuna material e em determinada altura as dívidas alcançaram níveis
insuportáveis.
Antônio
foi então procurar cada um de seus credores decidido a entregar seus bens para
saldar as dívidas. Os credores, contudo, reuniram-se e decidiram que o coronel
Bezerra continuaria com seus bens. Assinaram um documento que afirmava com
força legal que o velho Bezerra ficasse com eles e “que gozasse deles e pagasse
como e quando quisesse, que eles, credores, se sujeitariam aos prejuízos que
pudessem ter.” O velho Bezerra, contudo, não aceitou tal decisão.
Depois
de muita discussão, resolveu que daquela data em diante seria simplesmente um
administrador dos bens para seus credores. Retirava apenas o extremamente
necessário para o sustento da família e muitas vezes passou privações. A esta
altura, o menino Adolfo, último filho do casal, já estava terminando o então
chamado curso preparatório. Os dois filhos mais velhos tinham se formado em
direito e o terceiro ainda cursava o segundo ano na Faculdade de Direito de
Olinda, Pernambuco.
O
pequeno Adolfo Bezerra de Menezes tinha sete anos de idade quando foi levado
pela mãe para ser matriculado na escola pública da Vila do Frade. Em dez meses
o menino aprendeu a ler, escrever e fazer contas simples. Quatro anos depois,
quando o pai estava sendo alvo de perseguição política, a família mudou-se para
o Rio Grande do Norte. O pequeno Adolfo “foi matriculado na aula pública de
latinidade, que funcionava na Serra dos Martins e era dirigida por padres
jesuítas” em Maioridade, hoje cidade de Imperatriz. Após dois anos, o rapaz
tornou-se tão bom na matéria que chegou a substituir o professor.
Em
1846, o velho Bezerra voltou para a capital do Ceará, onde o pequeno Adolfo foi
matriculado no Liceu, que era dirigido pelo seu irmão mais velho. Terminando
seus estudos, mostrou a vontade de ser médico, e não advogado como os irmãos.
Como não havia faculdade de medicina no Nordeste do país, o pai foi obrigado a
mandá-lo para a então sede da Corte, a cidade do Rio de Janeiro; contou-lhe
tudo que havia acontecido com os bens da família, explicando a pobreza por que
passavam. Os parentes cotizaram-se e levantaram quatrocentos mil réis para
pagar a viagem até o Rio. Foi assim que Adolfo Bezerra de Menezes pôde pegar o
navio e chegar na então sede do Império.
O
Sacerdócio na Medicina
Aos
vinte e dois anos, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa
de Misericórdia. Doutorou- se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura
abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de
Menezes.
Como
não tinha dinheiro para montar um consultório, entrou em acordo com um colega
de faculdade que possuía mais recursos e passou a dividir uma sala no centro
comercial da cidade. Durante os meses em que o consultório ficou aberto, quase
não houve pacientes. Mas a casa onde morava o médico Bezerra ficava repleta de
doentes. Começou a atender aos componentes da família e depois aos amigos. Sua
fama correu pelo bairro e os clientes apareciam; mas ninguém pagava, pois eram
todos gente pobre e o dinheiro nunca foi mencionado.
Foi
então que um amigo e médico militar, Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho,
chefe do corpo de saúde do Exército, resolveu contratá-lo como médico militar.
Dr. Feliciano era chefe da clínica cirúrgica do Hospital da Misericórdia,
hospital este onde o Dr. Bezerra tinha sido praticante e interno em 1852,
quando ainda cursava o segundo ano de faculdade. Ainda em 1856, o governo
imperial fez a reforma do Corpo de Saúde do Exército e nomeou o Dr. Feliciano
como cirurgião-mor. Ele, então, chamou Bezerra para ser seu assistente e foi
assim que, com um emprego remunerado estável, começou o caminho do médico dos
pobres.
Bezerra
continuava atendendo gratuitamente aqueles que não podiam pagar. Sua fama
continuava a se espalhar e o consultório do centro da cidade começou a ficar
movimentado, também com clientes que pagavam. O dinheiro que recebia no
consultório era gasto com os seus pobres em remédios, roupas ou simplesmente
auxílio em dinheiro.
Bezerra
de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia
ele: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de
perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O
que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar- se
fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe
ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a
receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro -- esse não é
médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros
dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da
caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia
saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos
vaivens da vida."
O
Casamento e a Iniciação Política
Com
a vida mais organizada, resolveu casar tendo encontrado o amor na pessoa de D.
Maria Cândida Lacerda; casaram-se em 6 de novembro de 1858. Nesta época, tinha
posição social: além de médico, era jornalista, escrevendo para os principais
jornais da cidade; no meio militar era muito respeitado. Não demorou muito até
que lhe oferecessem um lugar na chapa de um partido para as eleições do Poder
Legislativo.
D.
Maria foi uma das maiores incentivadoras da candidatura de Bezerra de Menezes.
Os habitantes de São Cristóvão, bairro onde morava e clinicava, também queriam
tê-lo como representante na Câmara Municipal; foi assim que em 1860 foi eleito
por um grupo de São Cristóvão. Mas houve uma tentativa de impugnar seu diploma
sob o pretexto de que um militar não poderia ser eleito. Bezerra teve então de
escolher entre a carreira militar e a política. Seguindo os conselhos de sua
esposa, renunciou à patente militar e abraçou a vida política de vez.
Contudo,
o destino reservava-lhe uma difícil provação para o ano de 1863. Depois de uma
doença rápida e repentina, sua esposa desencarnava em menos de vinte dias no
outono deste ano. Deixava o marido com dois filhos: um com três anos e outro
com um ano de idade.
O
golpe da viuvez moveu os sentimentos religiosos que a dor sempre traz à tona.
Em busca de consolação, Dr. Bezerra passou a ler a Bíblia com freqüência.
Verificava a expansão vertical que a dor oferece às almas dos que sofrem,
ligando-os a Deus.
Re-Conhecendo
Doutrina Espírita
No
mundo, o Espiritismo estava a se expandir. Em 1869 desencarnava Allan Kardec em
Paris , deixando consolidada para a humanidade a Codificação Espírita. As
idéias de Kardec eram revolucionárias e atraíam a atenção de sérios
investigadores e cientistas mundo afora. Desencarnado o Codificador, restava a
Obra a arregimentar novos espíritas.
No
Brasil, principalmente na Capital, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
as influências européias modificavam a vida local. A homeopatia popularizava-se
aos poucos, principalmente nos meios espíritas. Teve como um dos seus primeiros
experimentadores o baluarte da República José Bonifácio de Andrada e Silva ;
“Desde 1818, o Brasil principiara a ouvir falar da homeopatia. O Patriarca da
Independência correspondia-se com Hahnemann” , o criador da Homeopatia . Como
médico, as discussões sobre a terapêutica homeopática também interessaram ao
Dr. Bezerra de Menezes e notícias de curas creditadas a essa terapêutica
chegaram a seus ouvidos.
O
Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan
Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos
Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao
deputado Bezerra de Menezes, entregando- o com dedicatória. O episódio foi
descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu- mo na
cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o
livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora,
adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo
confessar- me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas
filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi- me a ele, como acontecera
com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito.
Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o
que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei- me seriamente
com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita
inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".
Medicina
e Espiritismo
A
Doutrina Espírita difundia-se, em muito ajudada pelas práticas de médicos
homeopatas e espíritas, que passaram a prestar a Caridade também através de sua
mediunidade . Um desses médicos era João Gonçalves do Nascimento ; muitos
colegas de Bezerra de Menezes falavam das curas operadas através deste médium e
tanto falaram que um dia Bezerra resolveu pedir-lhe uma receita enviando um
pedaço de papel que dizia: “Adolfo, tantos anos, residente na Tijuca”). Logo recebeu
uma resposta com o diagnóstico correto de seu problema de estômago.
Ficou
tão impressionado que resolveu pedir receitas também para pessoas que
apresentavam problemas psíquicos — a loucura foi uma das áreas que Dr. Bezerra
mais estudou. Acompanhou o desenvolvimento do tratamento em seus pacientes e
depois de simplesmente assistir aos trabalhos desobsessivos, resolveu
participar ativamente nesse tipo de tratamento. Na visão da Doutrina Espírita,
os portadores de doenças psíquicas são pessoas que podem apresentar problemas
mentais devido às causas biológicas detectáveis pela ciência humana e também
devido à influência de espíritos de desencarnados , também doentes.
Segundo
Casamento e a Carreira Política
Em
1864, Bezerra foi reeleito vereador e casou-se com D. Cândida Augusta de
Lacerda Machado , irmã materna da sua primeira esposa. Com ela, sua esposa até
o leito de morte, teve sete filhos.
Deu
continuidade à sua carreira política. Em 1867 foi aclamado e eleito deputado
geral. Em 1878 foi reeleito deputado, tornou-se presidente da Câmara Municipal
(correspondente ao atual cargo de Prefeito Municipal) e líder do seu partido,
permanecendo no cargo até 1881. Manteve diversas lutas políticas, sendo conhecido
como homem público que não comprometia seus princípios para colher favores ou
posições.
A
exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias
que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma
deu- se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, onde
houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de
bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e
generosa.
Desviado
interinamente da atividade política e dedicando- se a empreendimentos
empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então
província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou- se na construção da via férrea
de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de
levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em
1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila
Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente
da Companhia Carril de S. Cristóvão.
Retornando
à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi
ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro,
no ano de 1880.
A
Organização do Movimento Espírita
O
amor e dedicação de Bezerra pela Doutrina Espírita deram bons frutos e ele veio
a exercer papel fundamental no Movimento Espírita brasileiro. Nessa época o
Espiritismo no Brasil buscava organizar-se: em 1876 surgia a primeira sociedade
espírita no Rio de Janeiro; em 1883, Augusto Elias da Silva , interessado na
difusão dos ensinos espíritas, fundava a revista O Reformador e punha-se a
procurar colaboradores.
O
espiritismo sofria perseguições e era combatido veementemente. A imprensa era
fonte diária de críticas ferozes; os sermões enchiam os púlpitos de insultos e
insinuações contra a Doutrina. Elias da Silva foi então buscar em Bezerra de
Menezes conselhos sobre como revidar toda a animosidade contra o Movimento
Espírita. A resposta dada pelo Dr. Bezerra foi o de não seguir o caminho do
ataque, de não combater o ódio com o ódio, mas antes combater o ódio com o amor
. A tônica deste conselho norteou toda a vida e o trabalho de Bezerra, dentro e
fora do Movimento Espírita brasileiro.
Pela
Unificação do Movimento Espírita
Em
1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo
brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a
necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se
tornasse mais indestrutível.
A
cisão era profunda entre os chamados "místicos" e
"científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu
aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e
filosófico.
No
dia 27 de dezembro de 1883, Augusto Elias da Silva faz uma reunião com os 12
companheiros que o ajudavam no REFORMADOR. Nesse encontro, eles decidem fundar
uma nova instituição, que não fosse nem mística, nem científica, deveria ser
ideologicamente neutra.
Assim,
no dia 1° de janeiro de 1884 foi fundada a Federação Espírita Brasileira (FEB),
que promoveria a doutrinação, a disciplina e o intercâmbio de experiências
entre os diversos centros já existentes. Bezerra foi um dos primeiros a ser
convidado para assumir a posição de presidente da organização, mas não aceitou
por não se considerar capaz de tamanha responsabilidade. Seu primeiro
presidente foi o Marechal Ewerton Quadros e o O REFORMADOR torna-se o órgão
oficial da FEB.
Em
1887, o Médico dos Pobres passou a escrever uma série chamada “Espiritismo —
Estudos Filosóficos”, que saía aos domingos no jornal “O País ”, com o
pseudônimo de Max . Vale lembrar que na época esse era o jornal mais lido no
Brasil. Continuaria a série de artigos até o Natal de 1894. Escreveria depois,
com o mesmo pseudônimo, em outros dois jornais sempre em defesa dos postulados
do Cristo Jesus, calcado na visão espírita .
Em
1888, logo no início da série de artigos, Dr. Bezerra perdeu dois filhos.
Reagiu e continuou trabalhando. Durante cinco anos, escreveu sobre a Doutrina,
elucidou muitas pessoas e arrebanhou outras tantas para as fileiras espíritas.
Em
1889, o Marechal Ewerton Quadros foi transferido para Goiás, ficando
impossibilitado de permancer à frente da FEB.
Para
seu lugar, foi eleito o famoso médico e deputado Adolfo Bezerra de Menezes,
que, há cerca de três anos, havia chocado a sociedade carioca com a sua
conversão ao Espiritismo. A intenção dos febianos era colocar um elemento de
grande prestígio e força moral na presidência, a fim de fortalecer o processo
de unificação.
Em
1889, o Dr. Bezerra tornou-se presidente da Federação Espírita, onde tentou a
todo custo promover a união de todos os espíritas, inspirado principalmente por
mensagem ditada mediunicamente por Allan Kardec em janeiro do mesmo ano,
através do médium Frederico Júnior , chamada “Instruções de Allan Kardec aos
Espíritas do Brasil ”.
Bezerra
lutou muito para apaziguar as diferenças dentro do meio espírita e tinha como
objetivo promover uma liderança que abrigasse todos os espíritas do Brasil.
Quanto mais aumentavam as dissensões, mais aumentava também seu esforço e
trabalho.
Na
falta de pregadores espíritas cristãos, assumiu ele mesmo a função. Iniciou uma
sessão semanal na Federação para o estudo de O Livro dos Espíritos no dia 23 de
maio de 1889 e os resultados obtidos foram os melhores possíveis, com o grande
número de pessoas que lá compareciam.
Além
disto, realizava conferências e reuniões em uma casa espírita chamada União. Em
outra casa chamada “Centro ”, que ele mesmo fundara para promover o estudo do
Evangelho e de O Livro dos Espíritos, tentava conciliar as diferentes correntes
de pensamento espírita. E ainda em um outro grupo, participava dos trabalhos de
desobsessão .
A
mensagem “Instruções”, de Kardec, fornecia as diretrizes para o trabalho do Dr.
Bezerra . A certa altura Kardec pergunta: “Onde está a escola de médiuns?” e
esse ponto ficou gravado na mente de Bezerra. Na realidade, ele não encontrou
uma escola de médiuns em parte alguma. A solução encontrada foi fundar ele
mesmo a tal escola.
Muitos
se opuseram à idéia, mas ele terminou por instalar a “Escola de Médiuns ” no
“Centro ”. Foi quando se viu só, pois nem mesmo os próprios membros da
diretoria desta instituição freqüentavam a escola. Chamou a todos, mas ninguém
comparecia.
Contudo,
a Doutrina ganhava terreno em outras áreas. “A Federação inaugurava o seu
período áureo, preparando-se para a projeção formidável que iria ter no
futuro”. Instituiu-se o serviço filantrópico de “Assistência aos Necessitados”,
que atraiu muita gente.
Bezerra
continuava esquecido no “Centro ”, mas mesmo assim manteve firme seus
propósitos. A situação chegou a um ponto em que a despesa e os gastos da
instituição tornaram-se insustentáveis, e Bezerra já não podia usar de seus
próprios recursos. Convocou por carta cada um dos membros da diretoria, para
buscar a solução do problema. Ninguém atendeu ao chamado.
Na
semana seguinte, convocou-os novamente. Ninguém veio. Foi à casa de um por um
para convocar uma última reunião que fosse. Nem mesmo assim eles queriam
comparecer. Bezerra foi então sozinho procurar abrigo em outra casa espírita,
onde foi bem recebido. Mas a boa acolhida não durou muito tempo, já que
apareceriam novamente as dissensões entre as correntes de pensamento espírita.
O Movimento Espírita carecia de união.
A
Proibição do Espiritismo
O
Brasil seguia em frente fazendo sua História. Em 1889, a República foi
proclamada. Nosso país não mais seria governado por um imperador, mas por um
presidente eleito pelo voto.
Em
outubro de 1890, entrou em vigor o então Novo Código Civil . A recém proclamada
República vivia com receio de conspiração daqueles contrários ao novo regime e
por isso o Código Civil impunha limites às associações das pessoas, dentre as
quais as reuniões espíritas. Reuniões de qualquer natureza eram denunciadas à
polícia sob suspeita de conspiração.
O
Reformador teve sua publicação suspensa; as casas espíritas chegaram a fechar.
O
receio fez com que as diversas organizações espíritas se unissem e tomassem uma
atitude, encabeçadas pela Federação . No final de 1890, enviaram todas unidas
uma “Carta Aberta” ao Ministro da Justiça e um grupo de representantes ao
Governo, que entrou com recursos à Constituinte.
Na
Europa, o Espiritismo vivia um clima muito voltado à pesquisa dos fenômenos
mediúnicos, tendência que chegou também ao Brasil. Todos os estudos ficaram
voltados para o fenômeno , dando uma menor importância aos princípios morais
enfocados pela doutrina codificada por Kardec. E o Evangelho ficou relegado a
um segundo plano.
Dr.
Bezerra , “que não podia compreender Espiritismo sem fé religiosa”, manteve-se
no seu trabalho devocional, totalmente isolado das tendências da moda.
Continuava escrevendo os artigos doutrinários no “País”, ia ao “Centro Ismael
”, e trabalhou até mesmo em um romance chamado “Lázaro, o Leproso”, publicado
em 1892.
Em
1893, a situação ficou crítica. Dr. Bezerra estava só e desprovido de recursos
materiais. Nunca havia se preocupado muito com suas finanças e assim chegou ao
fim de suas reservas. Por sua vez, a situação política do país estava muito
conturbada no final daquele ano pela Revolta da Armada, e as tropas estavam
acampadas nas ruas. Já em setembro, houve o fechamento de todas as sociedades,
espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de
"Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O Paiz".
Reconstruindo
o Movimento Espírita
Em
1894, apesar das divergências, as diferentes correntes restauraram a Federação,
e em seguida, retomaram a publicação do Reformador. As novas diretrizes
tencionavam alcançar o meio termo entre Fé e Ciência , Amor e Razão ; mas as
lutas entre os irmãos espíritas continuavam.
Com
as desavenças, Dias da Cruz, o então presidente da Federação, deixou o cargo.
Em 1895, o presidente seguinte, Júlio Leal , também o deixou. Restaram o cargo
vago e a dúvida sobre quem convocar para ocupar a presidência.
O
único nome que surgiu como consenso foi o de Bezerra de Menezes, e, em julho de
1895, um grupo de membros da diretoria da Federação bateu à sua porta. Bezerra
estava cansado, doente, abatido pela dissensão entre os irmãos espíritas;
apesar de todos os argumentos apresentados, não aceitou o convite. “Com a
perspectiva de poder conciliar a grande família espírita em torno do ideal
cristão, o venerando ancião prometeu pensar”.
No
dia seguinte, foi como sempre à sessão das sextas-feiras do Grupo Ismael , onde
dirigia os trabalhos. Abriu os trabalhos, mas parecia aflito, com a cabeça
entre as mãos. Depois da prece de abertura, feita por Bittencourt Sampaio,
permaneceu na mesma posição. Quando por fim se levantou, estava transtornado e
ficou assim durante a primeira etapa dos trabalhos, que consistia do
recebimento de mensagens psicografadas. No momento da explanação dos temas
evangélicos, Bezerra falou visivelmente emocionado das desavenças no Movimento
Espírita e sobre o convite que havia recebido. Confessou-se fraco para assumir
a posição àquela altura dos acontecimentos.
Terminou
a explanação pedindo auxílio à Espiritualidade e prometeu seguir o que lhe
fosse indicado. Pouco depois, o espírito Agostinho manifestou-se pelo médium
Frederico Júnior , o mesmo médium que anos antes havia sido instrumento de
Allan Kardec (Espírito) para ditar as “Instruções de Allan Kardec aos Espíritas
do Brasil ”. Agostinho instruiu que Bezerra tomasse o cargo da presidência e se
pusesse como elemento conciliador capaz de unir e erguer a família espírita,
prometendo auxiliá-lo em mais esta tarefa. Naquela mesma noite Bezerra de
Menezes anunciou aceitar o cargo, permanecendo presidente até 1900, quando
voltou a pátria espiritual.
Desencarne
Em
janeiro de 1900, Dr. Bezerra sofreu violento derrame cerebral, que o prostrou
em uma cama. Durante três meses Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti agonizou
sem poder falar ou se movimentar. Só os olhos ainda se moviam. A notícia correu
a cidade e causou verdadeira peregrinação à casa do médico, no subúrbio
modesto. Assim como acontecia no seu consultório, pobres e ricos misturaram-se
em sua casa para visitar o doente.
A
cena era singular: cada pessoa entrava uma a uma no quarto onde estava Bezerra
, sentava-se em uma cadeira, não falava nada,— já que ele não poderia responder
— ficava alguns minutos e saía comovida pelo olhar que Bezerra lhe dirigia. A
procissão seguiu-se dia e noite.
No
dia 11 de abril de 1900, na casa da Rua 24 de maio, Bezerra passou suavemente
para a Vida Maior. A cidade agitou-se com o seu desencarne, esteve presente no
sepultamento do Médico dos Pobres e prestou-lhe homenagens.
Na
Espiritualidade, Bezerra foi recebido pelas hostes do bem com louros de amor .
Os anos de trabalho como verdadeiro servo do Cristo encarnado na terra
transformaram-se em luzes para seu espírito, conferiram-lhe verdadeiro galardão
espiritual. “Bezerra desprendeu-se do orbe, tendo consolidado a sua missão”.
Um
“Causo” do Dr. Bezerra
Digno
de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era
estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras,
precisando da quantia de cinqüenta mil réis (antiga moeda brasileira), para
pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua
habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo.
Desesperado
- uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida - e como não fosse
incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus.
Poucos
dias após bateram- lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que
pretendia tratar algumas aulas de Matemática.
Bezerra
recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava,
entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando- se de sua situação
desesperadora, resolveu aceitar.
O
moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu
licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma
relutância, convencido, acedeu. O moço entregou- lhe então a quantia de
cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o
visitante despediu- se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim
pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública
para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.
No
ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo
brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio,
resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação
Espírita Brasileira.
Em
vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou- se a
seguinte conversação:
Bezerra
- Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade
está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre
Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a
alimentar o espírito de hegemonia.
Bittencourt
Sampaio - O trabalhador da vinha é sempre amparado. A Federação pode estar
errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos
Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos
do Senhor.
Bezerra
- De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a
Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu
tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser,
entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades,
tornando- me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e
aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão.
Bittencourt
- E por que não te tornas médico homeopata?
Bezerra
- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.
Nessa
altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S. Agostinho, deu
um aparte:
S.Agostinho
- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos
irmãos.
Bezerra
- Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?
S.Agostinho
- Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu
saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso
companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo- te, quando
precisares, novos discípulos de Matemática...
Referências
Bibliográficas:
Xavier, Chico; “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho”
Acquarone, Francisco; “Bezerra de Menezes o Médico dos
Pobres”, Aliança. Abreu, Canuto; “Bezerra de Menezes”, FEESP.
Soares, Sylvio; “Vida e Obra de Bezerra de Menezes”, FEB.
GAMA, R. “lindos Casos de Bezerra de Menezes”. São Paulo,
Lake.
Movimento Espírita Kardecista:
http://www.movimentoespirita.hpg.ig.com.br/
Portal do
Espírito
http://www.espirito.org.br/portal/biografias/adolfo-bezerra.html
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ResponderExcluirHá 11 anos fui operado espiritualmente pelo Dr;Bezerra de Menezes e pelo seu auxiliar Dr.Samuel Andrade para me curar de um alcoolismo que já vinha há 62 anos, hoje me considero curado, Graças a Deus.
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