Desde antes
da Antiguidade Clássica, conhece o homem encarnado a energia que emana e
permeia os seres vivos; cada cultura a ela se referiu por termos próprios (ki
ou chi no Japão, por exemplo) e a utilizou por métodos particulares, quase
sempre incorrendo a utilização das mãos para a interação desta energia entre
doadores - aqueles que doavam as energias - e receptores - aqueles que recebiam
as energias. Diante do conhecimento recebido da Doutrina Espírita, torna-se
fácil imaginar que por meios mediúnicos diretos ou indiretos, tal método
terapêutico foi revelado nalguma comunidade ancestral, talvez do oriente
próximo, espalhando-se com as migrações para as outras regiões do globo.
Heinrich
Cornelius Agrippa
Apesar do que
há acerca disto nas culturas orientais,
não é deste que iremos tratar aqui, mas da tradição histórica ocidental acerca
do conhecimento e emprego desta energia. Para agilizar os estudos, torna se
confortável salientar o contexto de um tempo pela figura mais eminente que nele
havia. Desta forma, pode-se destacar inicialmente o vulto de Agrippa (Heinrich
Cornelius Agrippa Von Nettesheim. Encarnou em Colônia em 1486 e desencarnou em
Grenoble em 1535). Era médico, filósofo, alquimista e cabalista cristão.
Descendente de nobre família alemã de Nettesheim, Agrippa tornou-se doutor em
Leis e Física; escreveu o livro Filosofia das Artes Ocultas, obra em três
volumes, que o pós na mira da Santa Inquisição. Seus conceitos refletiam certas
idéias dos filósofos da época, como a crença de que os elementos constitutivos
do universo possuíam uma alma ou espírito. Também acreditava na relação e
dependência de tais elementos: “O mundo é triplo, isto é, elementar, sideral e espiritual.
Tudo que está mais básico é governado pelo que está mais alto e recebe dai a
sua força. Assim, o arquiteto do Universo deixa o poder de sua onipotência
fluir através do mineral, das plantas, dos animais e, dai para o homem...”.
Paracelso
Em seguida,
podemos encontrar historicamente aquele que tornou-se o detentor direto de seu
legado, o afamado Paracelso (do grego Para, acima, alem + Celso – Aulus
Cornelius Celsus, médico e erudito grego (30a.C. - 38 d.C.); escreveu De Arte
Médica, quadro preciso da medicina antiga e daquela praticada em seu tempo).
Paracelso ou Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim encarnou
em Einsiedein em 1493 e desencarnou em Salzburgo em 1541.
Alquimista
suíço. Cursou a Universidade da Basileia e após partiu em viagem de 20 anos
pela Europa e Ásia. Teria estudado ciências herméticas com Johames Trithemius,
teólogo e ocultista alemão e tido aulas com Slomon Trismosin, alquimista autor
da obra Splendor Sollis. Segundo Jean Baptiste Van Helmont, Paracelso teria
sido iniciado nos segredos herméticos e alquímicos por um colégio de sábios de
Constantinopla. Ele é mais lembrado hoje por ser o precursor da moderna
quimioterapia, mais do que por seus estudos do magnetismo humano. Contudo, sua
importância nesse sentido é inconteste, haja vista ter sido ele o formulador do
vocábulo magnetismo. Para Paracelso, o magnetismo é a vida universal - tudo
estaria vivo em graus diferentes e esta vida (magnetismo) presente em rochas,
animais e plantas poderia ser transferida para o homem. Assim como seus
contemporâneos, ele via o homem como “imãs animados”, e sua terapêutica
compreendia o corpo humano como microcosmo refletindo o macrocosmo - o homem
como espelho da totalidade. Para ele a ciência tinha a impostergável missão de
libertar o homem dos males que o afligem.
Franz
Anton Mesmer
Embora
figuras-chave em seu tempo, Agrippa e Paracelso, não foram os únicos a se
dedicar ao estudo do magnetismo animal, mas certamente os que mais se
destacaram, tanto pelo volume de seu intelecto quanto pelas obras que deixaram.
Homem semelhante surgiria apenas trezentos anos mais tarde, e este foi Franz
Anton Mesmer, encarnado em Iznang, Sonabe em 1734 e desencarnado em Meersburg
em 1815. Médico alemão, após mudar-se para Paris, ainda jovem redescobriu o
magnetismo animal e adotou-o como remédio para todas as enfermidades. Seus
pacientes eram, via de regra, mulheres neuróticas, algumas desequilibradas
mentais e outras obsedadas; o tratamento fazia os pacientes caírem em
convulsões acompanhadas de gritos, lágrimas, soluços e gargalhadas
descontroladas, seguidas de prostração e estupor. Essas crises nervosas,
desencadeadas pelos métodos pouco ortodoxos de Mesmer, levavam a cura. O
mesmerismo correspondeu de imediato às idéias racionais do iluminismo francês
da época, de tal conta que não era incomum referirem-se a ele como a “epidemia
que ganhou toda a França’. O mesmerismo era discutido nas academias, salões e
cafés, era investigado pela polícia, protegido pela rainha, ridicularizado no
palco, satirizado em canções e caricaturas, praticado em sociedades secretas e
divulgado em livros e folhetos. A despeito desta enorme popularidade, Mesmer
escreveu: “O magnetismo ocupa todas as mentes. As pessoas estão aturdidas com
seus prodígios, e se se permite ainda duvidar dos efeitos, não se ousa negar
pelo menos a sua existência. O grande objeto das conversas da capital é sempre
o magnetismo animal”. Mesmer sintetizou sua teoria do magnetismo animal em 27
proposições que publicou no final de sua obra Memoire sur la Découvert du
Magnétisme Animal (Genebra, 1779), e as principais dentre elas podem ser assim
resumidas: Há uma influência entre os corpos e os seres existentes; o meio pelo
qual essa influência se propaga é um fluido universal sutil, contínuo e presente
em toda criação; esse fluido sensibiliza a substância de que é composto os
nervos do corpo físico afetando-o de imediato; o corpo do homem apresenta, à
semelhança do imã, pólos opostos que podem ser manipulados direta e/ou
indiretamente por esse fluido, cabendo-lhe portanto o termo de magnetismo
animal; essa descoberta pode esclarecer e auxiliar nos estudos das ciências
físicas como também causar a cura imediata de uma infinidade de doenças.
Marques
de Puysègur
Mesmer
possuía um discípulo que foi além nas experimentações e descobriu uma nova
espécie de mesmerismo, este foi o Marques de Puysègur, ou A. M. J. Castenet,
encarnado em Paris em 1751 e desencarnado em Buzancy em 1825. Pesquisador de
fenômenos psíquicos, militar e filantropo, apaixonou-se pelas teorias do fluido
magnético de Mesmer, descobrindo o que denominou Sonambulismo Magnético (ou
Sonambulismo Mesmérico), o que veio a ser conhecido mais tarde como Hipnose.
Puysègur seria o primeiro a reconhecer, durante o sonho hipnótico, autênticos
fenômenos supranormais, tais como a telepatia, a autoscopia, o diagnóstico e a
prescrição de uma terapêutica em estado sonambúlico e a comunicação com
espíritos.
Barão
Du Potet
Quando a
Revolução Francesa tomou a Europa, o mesmerismo foi quase esquecido e o frenesi
das ultimas décadas do século XVIII apagou-se quase por completo. Nas primeiras
décadas do século XIX, contava ainda o magnetismo animal com praticantes,
estudiosos e centenas de obras publicadas que esmiuçavam os fenômenos e as
curas cada vez mais extraordinárias que se operavam. Não tardou, contudo, para
que os detratores lançassem um contra-ataque que pôs em xeque a própria crença
em sua existência. O Barão Du Potet - devido a pouca documentação disponível
crê-se ter encarnado na França no ano de 1796 - então, em colaboração com
médicos de destaque operou curas maravilhosas em duas ocasiões, o que trouxe
nova luz ao magnetismo animal.
Estas
apresentações despertaram o interesse de médicos ilustres, entre eles o famoso,
à época, Dr. Foissac que solicitou, em
1826, a Faculdade de Medicina da França, novos exames dos fenômenos. Junto de
outros ilustres facultativos, formou-se uma comissão cujo relatório conclusivo
só foi entregue a Faculdade em 1831, ou seja, cinco anos de muitos estudos
após.
O Dr. Foissac
escreveu de forma concludente no relatório:”Considerando o magnetismo como
agente de fenômenos fisiológicos ou como elemento terapêutico, é
nossa opinião
que deveria entrar no quadro do ensino da medicina e ser empregado,
exclusivamente, por médicos ou, sob sua orientação, por especialistas
comprovados.”
De forma que
esta opinião se encontrava contrária as convicções pré-concebidas da direção da
Faculdade de Medicina, este lhes mandou em prepotente resposta: “Não duvidamos
da boa fé dos comissionados; contudo cremos que foram vitimas de várias
habilidades...”. Tal reação gerou descrédito na Faculdade de Medicina da França
e na Academia de Ciências de Paris, que comungava com tal opinião acerca do
magnetismo animal.
Du Potet,
contudo, não deixou-se intimidar e juntamente com médicos ilustres que
acreditavam no magnetismo animal, prosseguiu com os experimentos e curas. Ao
tomar posse do Instituto de Cultura de Paris, ele proferiu entusiástico
discurso onde se podem destacar os seguintes trechos: “(...)Todos vós
recordais, certamente, da grande querela que se promoveu em 1778, quando Mesmer
chegou a Paris e enunciou ao mundo o seu sistema.
A maior parte
dos sábios da época tomou parte no litígio; as Academias de Ciências e de
Medicina receberam o encargo de examinar o que Mesmer pretendia ter descoberto
e de informar ao governo e ao mundo sobre as aplicações do mesmerismo ao
tratamento das doenças: Bailly, Lavoisier, Franklin, Jusieu e outros sábios
ilustres tomaram, a seu cargo, esta missão; e a que resultado chegaram? Vós
conheceis, senhores, o juízo que esta comissão emitiu sobre o magnetismo
animal. Examinou primeiro o sistema de Mesmer, em todos os seus detalhes, e
achando-o pouco sólido, argumentou contra ele. Esses argumentos ficaram, porém,
sem réplica e, desde então o sistema de Mesmer se foi desmoronando pouco a
pouco.(...) Com o tempo, tornou, porém, a reaparecer a verdade entre nós e a
França viu-se, pela segunda vez agitada de norte a sul pelo magnetismo animal.
Por essa altura - É certo - o entusiasmo não foi tamanho; mas foi, em
compensação, muito mais ponderado e científico. (...) Apesar de tudo isso, a
maioria dos sábios, certamente receando as condenações do passado, permaneceram
indiferentes à eloquência dos fatos. Atidos a opinião dos seus antepassados,
limitaram-se a servir-se dela como de um escudo de aço e procederam assim
porque se tratava de uma arma forjada por homens notáveis, por homens de
reputação verdadeiramente universal. Mas, senhores, que pode a autoridade dos
homens contra a realidade dos fatos? (...) Eu não duvido, senhores, que vós
acolheríeis a verdade logo que ela se vos apresente claramente demonstrada;
(...) Vou explicar-me com maior clareza: se os numerosos fenômenos de que fui
investigador e testemunha durante longo tempo não me enganaram, eles devem
proporcionar a prova incontroversa de que o nosso cérebro pode dispor de uma
força que ainda não foi dimensionada e que, dirigida pela vontade sobre um
individuo organizado como nós, pode produzir na sua organização fenômenos que
não se manifestam senão quando a causa se põe em jogo e cessam tão depressa
como ela deixa de agir. (...) Se justifico o que afirmo e vós comprovais o que
demonstro, abriremos um novo caminho aos observadores e acharemos explicação
natural de numerosos fenômenos que já não se podem negar, mas que se
consideram, não se sabe porque, como produto de causas inteiramente
acidentais.(...) Este exame não exige de vós, senhores, nem o abandono de
vossas crenças, nem a renúncia de nenhuma de vossas opiniões nem o sacrifício
da vossa razão; não exige outra coisa que não seja um migalinho de tempo e um
pouco de boa-vontade. Podereis recusar-me o que vos peço?”
O convite do
Barão Du Potet dividiu a opinião dos acadêmicos gerando uma das maiores
discussões científicas de que se tem registro no século XIX. Amainados os
ânimos, uma erudita comissão investigadora foi formada, dando origem a um
relatório admirável que alicerçava cientificamente o magnetismo animal e,
certamente por isto foi, talvez criminosamente, mantido secreto. Três meses de
espera mais tarde, o Barão fatigou-se e foi atender aos inumeráveis pedidos
para lecionar em diversas cidades francesas.
Ainda na
primeira metade do século XIX, muitos foram os pesquisadores que deram
continuidade ao legado de Du Potet e seus predecessores; estudiosos como Aubin
Gauthier, Dr. J. W. Teste, La Fontaine, Alphonse Cahagnet - este último, de
cuja obra intitulada Magia Magnética encontra-se o seguinte: “Escolher uma
nuvem bem isolada das outras, antes perpendicular do que oblíqua ao operador, e
de diâmetro de um a dois metros.
Coloca-se
contra a direção que segue ou acioná-la neste sentido. Fixar esta nuvem, juntar
as mãos com as pontas dos dedos voltadas para o centro ou seus limites,
conforme o ponto que se quer atacá-la. Concentrar fortemente o pensamento sobre
esta ação, desejando dissolver a nuvem, dividi-la, fazê-la dispersar-se. Fazer
essa experiência em pleno campo e não em lugar próximo a edifícios. Três ou
cinco minutos bastam para levar a operação a termo.” - Cahagnet é considerado
um dos precursores do magnetismo espiritualista devido aos experimentos
realizados com a médium Adeile Maginot, que notavelmente anteciparam os estudos
de Allan Kardec.
Barão
Karl Von Reichenbach
Em 1854, o
Barão Karl Von Reichenbach (encarnado em 1788, desencarnado em 1869), químico
famoso, descobridor do creosoto e da parafina pôs-se a pesquisar as pessoas que
se afirmavam possuidoras de poderes psíquicos.
Dez anos mais
tarde, seus estudos resultaram na obra Pesquisa Sobre Magnetismo, Eletricidade,
Luz, Cristalização e Sua Relação Com a Força Vital, onde afirma ter descoberto
a Força Ódica, ou apenas ODILE. O ODILE, afirma, é uma propriedade universal da
matéria; os homens são recipientes de ODILE e são iluminados por essa força em
especial na fronte. A Força Ódica é polarizada em positivo e negativo, sendo o
primeiro capaz de criar uma luminosidade azul e o segundo uma luminosidade
amarela-avermelhada.
Desacreditado
e ridicularizado em seu tempo, Reichenbach encontraria o respeito apenas cerca
de cem anos após sua morte, com o início dos estudos da aura humana e dos
campos vitais. Diante das perspectivas abertas por ele, o químico
norte-americano George Starr tornou-se o introdutor moderno da cultura
cosmo-elétrica em seu país, afirmando ser capaz de aumentar e acelerar o
crescimento de plantas, flores, frutas e alimentos de origem vegetal através de
um método de energização, que retornaria em benefícios ao ser humano.
Posteriormente,
o Dr. L. E. Herman, cientista inglês, afirmou após estudos da energia curativa
da natureza que esta é polarizada, como afirmara o Barão Reichenbach,
sustentando ainda que o pólo direito do corpo é positivo, e o esquerdo é
negativo. Ele conseguiu manipular tal energia segurando objetos nas mãos como a
fechar um circuito, o que, aplicado as pessoas, desencadeava relaxamento.
Allan
Kardec
No mesmo ano
a que o Barão Reichenbach dera início a seus estudos, o professor francês
Hippolyte Leon Denizard Rivail - vulgo Allan Kardec (encarnado em 3 de outubro
de 1804, desencarnado em 31 de março de 1869), pedagogo ilustre punha-se a
estudar os segredos do magnetismo, que conhecia desde 1820. Em 1858 escreveu
que o magnetismo preparou o caminho da Doutrina Espírita e, o rápido progresso
desta se fez graças à vulgarização das idéias da primeira. Dos fatos e
fenômenos magnéticos as manifestações espíritas há apenas um passo. Acerca do
magnetismo, Kardec concluiu que: o corpo e o perispírito (envoltório
semimaterial do espírito) são transformações do fluido universal; estando este
fluido condensado no perispírito pode reparar o corpo; o agente desencadeador é
a vontade do espírito encarnado ou desencarnado que infiltra num corpo
deteriorado ou enfermo parte de seu envoltório fluídico; a cura depende da
pureza deste fluido e da força de vontade do agente emissor (espírito); os
efeitos da ação fluídica são variados, podendo esta ação ser lenta e continua
ou mesmo rápida, ou ainda instantânea, como se dera com Jesus; a ação magnética
pode se produzir de três modos principais: 1º pelo próprio fluido do
magnetizador (este é o magnetismo aplicado em seu modo primitivo, como o
entendiam a época de Mesmer); 2º pelo fluido do espírito desencarnado, sem
concurso de um magnetizador encarnado; 3º pela ação conjunta do espírito
desencarnado e do magnetizador encarnado. Kardec acrescentou ainda que a
faculdade de curar por influência fluídica é comum e pode ser desenvolvida por
exercício, o que veio desmistificar o magnetismo como habilidade milagrosa de
poucos eleitos.
Continua.....
Apostila: O
Magnetismo Animal Seus Precursores e Fenômenos Correlatos
Associação
Jauense de Estudos Espíritas
Fonte; http://www.batuiranet.com.br/
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