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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

História da Era Apostólica – No trato com a Revelação


“Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o vinho novo estourará os odres, derramar-se-á, e os odres ficarão inutilizados. Põe-se, antes, vinho novo em odres novos.” 1

HAROLDO DUTRA DIAS

Reunidos na modesta residência de Simão Pedro, em Cafarnaum, comentavam os presentes a sublimidade da nova revelação, quando Sara, esposa de um criador de cabras da região, expôs ao Mestre suas dificuldades para vencer o egoísmo, o ciúme eo apego, não obstante reconhecesse a grandeza do Evangelho.

O Mestre, reconhecendo a legitimidade das suas dúvidas e a sinceridade da sua confissão espontânea, utiliza elementos do cotidiano daquela nobre senhora, que vivia da venda do leite de cabras, encarecendo a necessidade de se lavar, cautelosamente, o vaso em que ele seria depositado, sob pena de azedume de todo o líquido, recolhido com enorme esforço.

Transpondo o ensino para o domínio das realidades espirituais, Jesus alerta os ouvintes para a necessidade de se adotar o mesmo cuidado no trato com a revelação divina, e acrescenta:

– Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher. Em verdade, Moisés e os profetas foram valorosos portadores de mensagens divinas, mas os descendentes do povo escolhido não purificaram suficientemente o receptáculo vivo do Espírito para recebê-las. É por isto que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos, bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho.Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus.

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– O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta.

Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.2

Findo o encontro com Nicodemos, em conversa íntima com Tiago a respeito do escândalo e do resgate das faltas, o Mestre voltou ao tema da dificuldade humana em lidar com as revelações divinas:

O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu aos discípulos, perguntando:

– Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção?

Tiago meditou um instante e respondeu:

– Também na lei está escrito que o homem pagará “olho por olho,  dente por dente”.

– Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos – replicou Jesus com generoso sorriso. – Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da Lei é uma determinação de amor. Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”,está o “amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração e de todo o entendimento”. Como poderá alguém amar o Pai, aborrecendo-lhe a obra? Contudo, não estranho a exiguidade de visão espiritual com que  examinaste o texto dos profetas. Todas as criaturas hão feito o mesmo. Investigando as revelações do Céu com o egoísmo que lhes é próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados. [...].3 (Grifo nosso.)

Não são raros os comentaristas que se debruçam sobre o texto de Lucas, naquela passagem que trata do vinho novo em odres velhos, na tentativa de opor a revelação do Velho Testamento ao Evangelho, asseverando, equivocadamente, que os odres velhos representam o trabalho dos profetas.

No entanto, é preciso reconhecer que, sob a direção e assistência de Jesus, “[...] os homens receberão sempre as revelações divinas de conformidade com a sua posição evolutiva”.4 Sendo assim, não há problema com o “vinho” da revelação divina, nossos desafios dizem respeito aos recipientes,“odres”, que simbolizam o coração do aprendiz.

A misericórdia do Cristo envia, de tempos em tempos, missionários e benfeitores, desde as mais remotas eras. O próprio Cristo desceu ao Orbe, espalhando bênçãos e consolações, mas o coração humano permanece atado ao egoísmo e ao orgulho.

Os Espíritos superiores que conduziram o trabalho do Codificador adotaram um emblema para a Revelação Espírita:

Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é a seiva; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que é somente pelo trabalho do corpo que o espírito adquire conhecimentos.5

Não deve causar admiração o fato de Jesus ter escolhido o vinho para simbolizar a revelação espiritual.

Urge renovar o coração, libertando-o das sombras do egoísmo destruidor, para que o vinho celeste não se transforme no vinagre das criações puramente humanas. A Doutrina Espírita é orvalho límpido e reluzente, ofertado pelos céus. É imprescindível, porém, purificar os vasos da alma, sob  pena de misturarmos a bênção do Cristo aos velhos enganos, que insistem em dominar nossos corações.

Expressando, talvez, sua preocupação com esse quadro desalentador, afirmou o Benfeitor Emmanuel:

Asseveram muitos que o Céu estancou a fonte das dádivas, esquecendo-se de que a generalidade dos crentes entorpeceu a capacidade de receber.

Onde a coragem que revestia corações humildes, à frente dos leões do circo? onde a fé que punha afirmações imortais na boca ferida dos mártires anônimos? onde os sinais públicos das vozes celestiais? onde os leprosos limpos e os cegos curados?
As oportunidades do Senhor  continuam fluindo, incessantes, sobre a Terra.

A misericórdia do Pai não mudou. A Providência Divina é invariável em todos os tempos.

A atitude dos cristãos, na atualidade, porém, é muito diferente. Raríssimos perseveram na doutrina dos apóstolos, na comunhão com o Evangelho, no espírito de fraternidade, nos serviços da fé viva.A maioria prefere os chamados “pontos de vista”, comunga com o personalismo destruidor, fortalece a raiz do egoísmo e raciocina sem iluminação espiritual.6

Não podemos nos esquecer de que os puros de coração verão a Deus.

Fonte: Reformador  Ano 127 • Nº 2. 159 • Fevereiro 2009

1Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo: PAULUS, 2004. Lucas 5:37-38.
2XAVIER, Francisco Cândido. Jesus no lar. Pelo Espírito Neio Lúcio. 37. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 3, p. 21-22.
3XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. especial. 1a reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 14, p.118-119.
4XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 271.
5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Ed. Comemorativa. Rio de Janeiro: FEB, 2007. “Prolegômenos”, p. 71.

6XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 39, p. 97-98.


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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A CURA PELA FÉ



O Espiritismo vem ao Homem, como revelação de Deus, com duas propostas distintas e complementares. A primeira surge como auxílio às criaturas que padecem as dores do corpo e da alma, proporcionando alívio e cursa de muitas enfermidades, que nascem na alma doente e se manifestam na estrutura orgânica, ou somática. 

Assim é que, compadecido da dor de seus filhos, Deus  envia seus mensageiros, os "Espíritos do Senhor" de que nos fala o prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, a fim de socorrerem os infortunados, através da ação benfazeja, voluntária e gratuita  dos médiuns que, alistados nas hostes do Espírito de Verdade, que é o próprio Cristo, realizam a doação espontânea de fluidos salutares aos enfermos de toda sorte, confiando em que, pela ação misericordiosa da Providência, todos experimentem o bem estar desejado, o que algumas vezes se configura como cura.

Para tanto, isto é, para que a cura se faça efetiva, é preciso que se atente para a segunda proposta que a Doutrina Espírita estabelece na Terra junto a seus profitentes: o esclarecimento das criaturas acerca das causas de seus males, sejam espirituais ou físicos. 



Cabe ao Espiritismo, como continuador da obra do Cristo no mundo, disseminar as informações sobre a real condição ou natureza do ser humano, de forma a torná-lo consciente da realidade espiritual - que é a sua - e assim capacitar-se para o convívio o mais constantemente possível com a dimensão divina, que vibra no íntimo de cada um de nós. Tudo isto quer dizer que o grande dever do Homem é reconhecer sua essência espiritual e, instruindo-se nessa verdade, exercer todos os esforços que resultarão na cura efetiva de seus males. Não é por outra razão que as casas espíritas falam em reforma íntima, correspondendo a Kardec e a Jesus, o que só é possível pelo conhecimento que cada um tenha de si mesmo, identificando as mazelas que o prendem à inferioridade e despertando o potencial renovador que o elevará às esferas das realizações superiores.

É certo que a fé, ou seja, a confiança e a certeza de que Deus age sempre em benefício de seus filhos bem amados, tem papel preponderante nos processos de cura. O próprio Jesus, que realizou, conforme observamos no Evangelho, vários fenômenos de cura, referiu-se à fé como o mecanismo indispensável para se alcançar esse melhoramento relativo à saúde. No entanto, Ele deixou claro que nenhuma daquelas curas foi feita por ato único de Sua vontade, mas todas corresponderam á manifestação do potencial de fé das criaturas beneficiadas. "A tua fé te curou", dizia ele, alertando, contudo, para o fato de que cabe a nós mesmos curarmos nossas enfermidades, ao explicar que, ajudando-nos, o Céu nos ajudará, sendo imperioso, portanto, buscar o Reino de Deus para que tudo o mais nos seja dado por acréscimo de misericórdia.

Tudo isto, entretanto, exige um aprendizado e até lá é justo e válido que se recorra a terceiros com o propósito de se alcançar os benefícios que proporcionem a desejada cura. Não se deve esquecer, porém, que é a própria vontade que deve ser mobilizada em todos os sentidos no tocante à obtenção do estado mais saudável, sendo necessário, nesse âmbito, adotar uma postura diferenciada perante a vida e perante a própria consciência. Isto significa a realização da propalada reforma interior, que deve acontecer pela seriedade dos fatos e pela responsabilidade por parte de quem deseja efetivamente libertar-se dos males afligentes, sob pena de se prolongarem essas mazelas. "Vai e não peques mais, para que te não suceda coisa pior", avisou o Mestre.

Francisco Muniz
http://almaespirita.blogspot.com.br/
17 .07. 2012


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