Ana
Vargas
anavargas.adv@uol.com.br
Por
que dois atendimentos iguais não têm o mesmo resultado?
Essa
é uma pergunta comum aos que estão iniciando em Magnetismo. Às vezes, sentem-se
culpados e ainda dizem: mas eu fiz tudo direitinho, exatamente como ensinam os
livros, o que aconteceu que com “A” foi tudo bem e com “B” o tratamento não
anda? Mas a enfermidade é a mesma, a técnica empregada também, então o que deu
errado?
É
sempre bom lembrar que em Magnetismo não existe padronização, cada paciente é
único. Apesar das técnicas terem indicações específicas, isso não significa que
se possa desenvolver um procedimento padrão que será aplicado
indiscriminadamente e produzirá resultado. Esse é um dos motivos, mas não é no
que iremos nos ater nesse texto. O nosso foco será refletir sobre outras
questões que passam despercebidas e até inconscientes, mas que permeiam o dia a
dia dos magnetizadores: o que é doença, cura e saúde?
Gosto
dos conceitos do filósofo Canguilhem quando afirma que “saúde implica poder
adoecer e sair do estado patológico.” Ou seja, ser saudável é ser capaz de
enfrentar situações novas, pela margem de tolerância ou segurança que se possui
para enfrentar e superar as adversidades da vida. Diz ele que a doença “não é
apenas o desaparecimento de uma ordem vital, mas o aparecimento de uma nova
ordem vital. O patológico implica um sentimento direto e concreto de sofrimento
e de impotência, um sentimento de vida contrariada.” Saúde é mais do que a
possibilidade de viver em conformidade com o meio externo, ela é a capacidade
de instituir novas normas. Não é um conceito científico, exato, é simplesmente
humano. É uma potencialidade, é questão de compreensão.
Encontramos
pessoas que têm um histórico de diagnósticos, no entanto são saudáveis, vivem
bem. São saudáveis porque elas souberam tolerar, enfrentar e superar a
enfermidade.
A
OMS (Organização Mundial de Saúde) define saúde como um completo estado de
bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença.
Surge
outra pergunta: o que é bem-estar? Será possível usufruir bem-estar completo?
A
grosso modo, significa alguém ter tudo o que necessita para viver. Ou ainda, um
estado que permita a uma pessoa o bom desempenho de suas atividades psíquicas e
físicas. Subjetivo, não é mesmo? Por isso, s.m.j, sou partidária dos que
consideram utópico o conceito da OMS. Convenhamos, seria difícil dizer que
usufruímos completo bem-estar social na Terra; países desenvolvidos oferecem
bem-estar material, mas esse é outro assunto. Quem não enfrenta ou enfrentou
uma dor moral, culpa, fracasso, tristeza, luto, nojo, revolta? Seria preciso
não errar. E isso é humano, nos pertence e nos é conhecido. Graças a Deus,
causam mal-estar. São dores e aflições que gritam pedindo transformações da
alma, são típicos do nosso nível evolutivo, contam partes da nossa história. E
a nossa saúde não poderá ser pensada como carência de erros e sim como capacidade
de enfrentá-los.
A
lei de equilíbrio rege a natureza, e sabiamente ela conduz o organismo a
compensações, atuando para evitar sofrimento. Sabemos que nossos órgãos
físicos, por exemplo, compensam funções uns dos outros, adaptando-se a uma nova
ordem trabalhando ao máximo para evitar a dor causada pelo desequilíbrio. Eis o
vilão. E de onde vem? Na linha de frente, vem as causas atuais (e não vamos
explorar aqui questões relativas a causas reencarnatórias), mas mesmo em O
Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec alinha as causas atuais em primeiro
lugar e a lista é bem maior do que a das anteriores. Dentre as causas atuais
precisamos reconhecer fontes em maus hábitos alimentares, no meio ambiente, em
comportamentos inadequados, em acidentes, no uso indevido ou inadequado de
medicamentos, no uso adequado de medicamentos que acarretam efeitos colaterais,
nos transtornos psíquicos, em origens ocupacionais, na falta de informação, na
irresponsabilidade, na falta de auto-disciplina e bom senso, na ausência de
controle de pensamentos e emoções, etc.
Promovemos
o desequilíbrio ou lesionamos o organismo (corpo/mente/espírito). E ele reage,
desencadeia as defesas necessárias ao equilíbrio, e a dor é a natureza gritando
para nos advertir a retornar ou a reformular conceitos e escolhas, enfim a
mudar. Esse princípio também atua nas desarmonias energéticas, sabemos que os
centros vitais também respondem a essa lei.
Com
base nesse princípio podemos questionar se um médico, um remédio, um psicólogo,
um terapeuta, um curandeiro, um magnetizador e outros podem, de fato, curar
alguém. Parece-me que a resposta é clara: o ser se cura. O princípio vital está
no organismo vivo, não nas coisas. Portanto, todos os meios de tratamento acima
citados atuam como auxiliares do princípio vital e da capacidade de auto-cura
da pessoa.
E,
justamente, aqui reside um problema grande: a maioria das pessoas ainda pensa
que a cura é um processo de fora para dentro, realizado por alguém (no nosso
caso, pelo magnetizador); querem que esse processo seja imediato ou o mais
breve e indolor possível, exigem cuidados e atenções, que podem beirar o mimo,
em alguns casos, pedindo privilégios e crendo que ninguém tem dor maior que a
delas. É comum uma postura passiva, veio receber o passe, com isso fez a sua
parte e basta.
Creio
que já temos elementos para entender por que, muitas vezes, um tratamento com
magnetismo bem feito, da mesma forma que os melhores especialistas da ciência
médica, não são capazes de curar todos os casos, embora a doença manifestada e
o tratamento sejam os mesmos, o paciente não é. Vê-se magnetizadores darem o
melhor de si e o paciente há menos de cinquenta metros e alguns minutos do
atendimento entregar-se a seus maus hábitos, tais como: o cigarro, comportamentos
irados, etc.
É
imprescindível oferecer ao paciente novos conceitos, apontar-lhe o caminho do
autoconhecimento, da necessidade de transformação e da compreensão do que
significa doença, cura, saúde e bem-estar. Além, é claro, de repetir incansavelmente
que a prática do passe magnético não é religiosa, não é bênção aos enfermos,
exige compromisso e coparticipação tanto moral quanto material, pois há
situações em que seja por ingerir substâncias, seja por desestruturação
mental/-emocional, colocamos a perder o procedimento magnético.
Por
isso, não esqueçamos que um tratamento magnético exige compromisso e acordo de
vontades, no qual o magnetizador participa com 50% e o atendido com 50%. Os
resultados serão o somatório das vontades e compromissos.□
JORNAL
VORTICE - ANO VI, Nº 08 – JANEIRO 2014