Adilson Mota
Na segunda
edição do Jornal Vórtice, de julho de 2008, escrevemos artigo acerca do
sonambulismo e suas características. Trataremos, hoje, dos aspectos práticos
relativos ao fenômeno sonambúlico, ou seja, como reconhecer um sonâmbulo e como
aproveitar as suas faculdades.
Há um ano e
meio vimos trabalhando com o sonambulismo através de duas sonâmbulas, das quais
a primeira foi descoberta ao ser tratada magneticamente. Ao receber passes, ela
via-se fora do corpo, recebia instruções espirituais, orientava telepaticamente
o magnetizador quanto às técnicas que deveriam ser utilizadas, via o ambiente
material estando de olhos fechados, enxergava à distância, a maioria das
informações podendo ser comprovadas após o término da aplicação.
A nossa
ignorância no assunto dificultava o entendimento, deixando-nos indiferentes com
relação ao que acontecia, até percebermos que aquele fenômeno se chamava
sonambulismo.
O
desconhecimento do assunto é a maior dificuldade que se apresenta. Os fenômenos
que Kardec chamou de “fenômenos de emancipação da alma” são muitas vezes
ignorados ou confundidos com mediunidade, fazendo se perca, às vezes, bons
trabalhadores nesta área. Graças à análise apressada aliada à falta de
conhecimento, muita gente tem, ainda, desenvolvido o medo das próprias
faculdades, confundindo o sonambulismo com obsessão.
A melhor
forma de saber se alguém é sonâmbulo é conversando com ele quando o transe
chega. Através do diálogo, se poderá diferenciar um processo mediúnico ou
obsessivo do sonambulismo. As respostas atestarão a presença de um terceiro ser
(um Espírito desencarnado) ou a capacidade do próprio encarnado de se
relacionar e conversar conosco, mesmo estando desprendido parcialmente do corpo
físico. Se for um Espírito, ele poderá dizer que o é, se identificar,
inclusive. Se tratando de um sonâmbulo, ele dirá que é ele mesmo que fala,
podendo descrever as pessoas e coisas que percebe, seja do mundo físico ou
espiritual, dentre outras capacidades, se ele já as tiver desenvolvido.
É importante
saber que nenhum sonâmbulo é igual ao outro.
Apesar de
haver características gerais, os graus de percepção, os níveis de transe, as
potencialidades, enfim, de cada um, são muito particulares. Enquanto alguns
veem os Espíritos, outros apenas os entreveem; alguns ouvem os Espíritos,
outros captam seus pensamentos intuitivamente; há os que enxergam à distância
ou através de obstáculos materiais, veem o interior do organismo físico,
comunicamse telepaticamente, veem-se fora do corpo físico, enquanto outros o conseguem
mais ou menos. É importante para quem vai lidar com o sonâmbulo saber destas
diferenças a fim de não tentar lhe impor o desenvolvimento de um aspecto que
ele não possui. O mais recomendável é que a faculdade desenvolva-se
naturalmente, devendo, o magnetizador, apenas aproveitar da melhor forma os
recursos disponíveis em cada sujet.
Apesar do
caráter espontâneo que deve haver para o desenvolvimento das faculdades
sonambúlicas, o magnetizador não será um sujeito passivo. Ele não é apenas o
doador de fluidos para a magnetização que levará o sujet ao transe e aos estágios sonambúlicos.
O magnetizador é mais do que isso. Ele é o cuidador, controlador e direcionador
do trabalho, a fim de que o mesmo alcance os resultados desejados.
Durante todo
o transcorrer da sessão sonambúlica, deve o magnetizador zelar pela integridade
física e psíquica do sonâmbulo, a começar pela acomodação do mesmo, pois este,
em certo estágio do transe, perde o controle dos movimentos voluntários, com
exceção dos que são necessários à fala. Deve, ainda, haver confiança recíproca,
a fim de que o sonâmbulo mantenha a sua serenidade em qualquer percalço durante
a tarefa, para que se entregue ao trabalho sabendo que alguém vela por ele. As
nossas
sonâmbulas,
às vezes, quando diante de uma situação espiritual muito negativa, relatam
dificuldades de percepção.
É o momento
em que fazemos uma prece, juntamente com elas, o que as deixa mais seguras e
confiantes, além de que as dificuldades encontradas se desvanecem. O
magnetizador pode, com a voz mesmo, infundir-lhe serenidade, segurança e
confiança na Espiritualidade e em si mesmo. A cada sessão, vai-se criando uma
interação magnética intensa entre magnetizador e sonâmbulo, ao ponto das
disposições íntimas e dos pensamentos do magnetizador poderem interferir nos
resultados alcançados pelo sonâmbulo.
Esta relação
magnética, aumentando com o tempo, faz com que a necessidade de magnetização
para provocar o transe seja reduzida bastando, às vezes, um comando de voz para
o transe sonambúlico acontecer.
Não devem ser
esperados, de início, grandes resultados. É um desenvolvimento que o exercício
irá fazer através do tempo, com paciência e serenidade.
Os recursos
oferecidos pelo sujet devem ser deixados
se manifestar espontaneamente, mas isto não deve ser tomado de forma absoluta,
é preciso um direcionamento. E este é feito pelo magnetizador. No trabalho que
realizamos, a cada sessão selecionamos um paciente a ser verificado. Mais
abaixo, analisaremos a questão da quantidade de pacientes e da duração do trabalho.
Pois bem, sem esta definição, o sonâmbulo poderia “ver” qualquer um que
quisesse. Apesar disto ter um lado positivo, pois podemos colher informações
sobre determinado paciente que, talvez, jamais averiguássemos, por outro lado,
pode ser improdutivo.
O mesmo com
relação aos detalhes referentes a cada paciente. O sonâmbulo deve ficar à
vontade para relatar todas as desarmonias que percebe, o que não impede que, de
vez em quando o magnetizador lhe peça para verificar este ou aquele órgão, este
ou aquele centro de força, este ou aquele aspecto seja físico, energético,
emocional ou espiritual. Dessa maneira, o rendimento se torna muito maior e
mais rico.
Alguns dos
leitores podem estar se questionando neste momento: e se isto o induzir a
percepções ilusórias, ou seja, a perceber coisas criadas pela sua mente e não
percepções reais a respeito do paciente? Não deveria, para evitar este
percalço, deixar tudo acontecer espontaneamente? Primeiramente, compreenda-se
que a espontaneidade não é garantia de autenticidade, pois a mente do sonâmbulo
funciona sozinha e, a despeito do magnetizador, pode fantasiar. Em segundo
lugar, há um meio que é o mais seguro para se saber da fidedignidade destas
informações, que é a análise.
Todas as
recomendações dadas por Allan Kardec relativas às comunicações mediúnicas devem
ser seguidas com relação ao sonambulismo. Devem ser passadas pelo crivo da
lógica e da razão, questionadas, comparadas. Só assim, chegaremos a discernir
acerca do seu grau de confiabilidade.
Há mais um
motivo para o magnetizador direcionar o trabalho quando necessário. Fora do
corpo físico toma, o ser, uma maior independência e, sendo possuidor de vontade
própria, pode, de início, por conta da inexperiência, tomar o rumo que quiser,
ou quando há diferença entre os seus desejos enquanto no corpo físico e de
quando liberto do mesmo. Neste caso, é necessário que o magnetizador chame o
sonâmbulo ao trabalho a fim de que as suas finalidades sejam alcançadas.
A pergunta
seguinte é: como estruturar um trabalho usando o sonambulismo?
O trabalho
pode ser com um só sonâmbulo ou com vários, necessitando de um magnetizador
para cada. É preciso, como já dito acima, que os sonâmbulos estejam bem
acomodados, podendo ser em cadeiras ou em macas. Inicia-se com uma prece, após
a qual se realiza a magnetização, certificandose de que o sonâmbulo esteja à
vontade e relaxado.
O que fazer
em seguida, somente a experiência poderá dizer, bem como os objetivos e
propósitos de cada grupo e sessão. Pode-se verificar a situação de um ou de
vários pacientes. Pode-se, inclusive, pedir a todos os sonâmbulos para
diagnosticarem a situação do mesmo paciente para efeito de comparação dos
resultados.
Terminados os
relatos e não havendo mais nada que o sonâmbulo queira comunicar, inicia-se a
desmagnetização, não sem antes deixá-lo amparado e tranquilo quanto ao retorno
e ao bem-estar que deverá sentir depois que despertar. É comum, nas primeiras
sessões, o sonâmbulo reclamar, ao retornar completamente ao corpo físico, de
algumas dores e incômodos, muitas vezes originários das tensões e nervosismos
do iniciante. Estas sensações podem ser atenuadas, caso o magnetizador tome as
devidas precauções antes de fazê-lo retomar a sua consciência. Para isto,
deve-se executar a desmagnetização sem pressa, longamente, podendo, ainda,
sugerir verbalmente ao sonâmbulo ideias de bem estar, leveza e tranquilidade.
Após a desmagnetização, faz-se uma prece de encerramento. No trabalho que
realizamos, costumamos após todo o encerramento trocar impressões com as
sonâmbulas, com vistas ao aprendizado geral.
Quanto à
duração de cada sessão, não há regra, depende da disponibilidade dos
participantes, devendo levar em conta o bom senso, pois há dispêndios de
energia tanto por parte do sonâmbulo quanto do magnetizador.
Pode ainda
ser aproveitado o sonambulismo de algum paciente, durante a aplicação de
passes, quando o mesmo ocorre espontaneamente. Assim sendo, ele mesmo
verificará a sua situação de doença, suas desarmonias e poderá dar indicações e
recomendações de tratamento.
Uma última
questão a analisar é com relação ao discernimento quanto àquilo que seja
proveniente da faculdade sonambúlica ou da participação de Espíritos durante a
sessão. O primeiro ponto é que devemos conquistar a confiança da
Espiritualidade, atraindo os Bons Espíritos através dos propósitos elevados do
trabalho, pautado no bem do próximo e da busca de aprendizado sincero, excluída
toda curiosidade malsã. Assim sendo, eles auxiliarão muito mais do que se possa
imaginar. Participarão de todo o processo, desde proteção até direcionamentos e
informações. O segundo ponto é que às vezes é muito difícil ou até mesmo
impossível delimitar onde termina a participação do sonâmbulo e começa a dos
Espíritos. Na maioria das vezes, o sonâmbulo consegue fazer este discernimento.
Uma das sonâmbulas com as quais trabalhamos faz todas as verificações sozinha a
respeito do paciente. Quanto às técnicas magnéticas para o tratamento, ela
transmite a orientação dada pelos Espíritos. Lembrando que esta não é uma regra
para todos os sonâmbulos. O último ponto é que, quase sempre, fazer essa
distinção não é o importante, mas sim o conteúdo informado, que deve sempre ser
analisado.
Jornal
Vórtice ANO III, n.º 05, outubro/2010
Leitura
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