Terezinha
Colle
“A inveja é uma das mais feias e tristes misérias do vosso globo. A caridade e a constante emissão da fé extirparão todos esses males, que desaparecerão, um a um, à medida que se multiplicarem os
homens
de boa vontade que virão depois de vós.1
Inveja e ciúme muitas
vezes são confundidos, e talvez seja porque esses dois vícios têm
algo em comum: são tristeza e causa de tristeza. Em outra oportunidade
refletiremos sobre o ciúme, mas agora vamos nos ocupar um pouco sobre a inveja.
A
palavra inveja vem do termo latino invidia. Em muitas línguas essa palavra está
relacionada
com o que se tem “em vista”.
Na linguagem popular
também encontramos as expressões: “olho mau”, “olho gordo”,
“mau
olhado”, etc. O vocabulário francês possui a palavra envie, da família
etimológica do verbo voir (ver), cuja origem é latina, do verbo videre. O termo
francês envie significa inveja, desejo intenso, cobiça. Em português, segundo o
Dicionário Houaiss (2001), inveja é o “sentimento em que se misturam o ódio e o
desgosto, e que é provocado pela felicidade ou a prosperidade de outrem.
Jesus, em suas parábolas,
nos deixou valiosos ensinamentos, sempre muito atuais. A
parábola
sobre “Os trabalhadores da última hora”, por exemplo, contém vários preceitos
dos quais podemos extrair grandes lições de vida. Neste artigo vamos nos deter
somente no que diz respeito ao vício da inveja. 2
A parábola fala sobre
um pai de família que saiu de madrugada a contratar homens
para
trabalhar na sua vinha. Tratou com eles que pagaria um denário por dia, a cada um. Uns começam a trabalhar de madrugada, outros à hora sexta, alguns à hora
nona, e também teve os que chegaram à hora undécima.
Vejamos esta parte
da parábola, que reproduzimos:
Ao
cair da tarde disse o dono da vinha àquele que cuidava dos seus negócios: Chama
os trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e indo até aos primeiros.
– Aproximando-se então os que só à undécima hora haviam chegado, receberam
um denário cada um. – Vindo a seu turno os que tinham sido encontrados em
primeiro lugar, julgaram que iam receber mais; porém, receberam apenas um denário cada um. – Recebendo-o, queixaram-se ao pai de família –dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora e lhes dás tanto quanto a nós que suportamos o peso do dia e do calor.
Mas, respondendo,
disse o dono da vinha a um deles: Meu amigo, não te causo dano algum; não
convencionaste comigo receber um denário pelo teu dia? Toma o que te pertence e
vai-te; apraz-me a mim dar a este último tanto quanto a ti. – Não me
é então
lícito fazer o que quero? Tens mau olho, porque sou bom?
Notemos quão marcante
é o ensinamento sobre a inveja contido nessa parábola.
Quando
o dono da vinha pergunta: Não me é então lícito fazer o que quero? Tens mau
olho, porque sou bom? O “mau olho”, nesse caso, é o que Descartes define como
inveja: uma perversidade de natureza, que faz certas pessoas ficarem
contrariadas com o bem que veem acontecer aos outros homens. 3
Observemos que
o senhor da vinha diz a um dos reclamantes: Meu amigo, não te
causo
dano algum; não convencionaste comigo receber um denário pelo teu dia?
É provável que se
o patrão tivesse pago um valor menor aos trabalhadores da última
hora,
os da primeira não tivessem reclamado, o que indica claramente um sentimento de
inveja, ou seja, achar injusto que o outro receba. O filósofo romano Cícero,
considerou que “ainveja é a amargura que se sofre ao ver a felicidade alheia.”
Aqui vale uma reflexão
aos pais que desejam educar seus filhos para que sejam virtuosos e evitem o
sofrimento que as más paixões causam. De muito boa vontade, muitas vezes
desejam corrigir o filho lançando mão de argumentos que despertam na alma
infantil o vício da inveja, e outros mais.
Eis um exemplo: o filho
não quer comer ou tomar algo. Os pais, querendo que ele se
alimente,
dizem: “se você não comer, daremos a porção ao seu irmão, ou a outra criança. Diante
dessa ameaça, é muito comum ver a criança abocanhar o alimento rapidamente...
Ela aprendeu duas
lições: de gulodice e inveja. De gulodice, porque come sem ter
fome;
de inveja, para que o outro não tenha o alimento.
Interessante de se notar
é que há na inveja uma peculiaridade: geralmente ela tem por alvo os irmãos,
parentes, vizinhos e amigos que estão numa mesma posição.
É
o que expressa sabiamente o provérbio: Ninguém é profeta em sua terra.
Tanto
isso é verdade, que nem mesmo Jesus foi acreditado em Nazaré, sua terra natal. E
por que?
O princípio de tal verdade
reside numa consequência natural da fraqueza humana e
pode
explicar-se deste modo:
O hábito de se verem
desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece
entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria
deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou
comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam.
O orgulho os faz sofrer
ao terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do
nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem
incapazes de chegar à sua altura esforçam-se para rebaixá-lo por meio da
difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto
menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo ruído que fazem.
Tal foi e será
a História da Humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua
natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante
preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que reportam tudo a sua
personalidade.4
Se assim é, se a
inveja e tantos outros vícios são causadores de infelicidade e sofrimento, de
que antídoto podemos lançar mão para neutralizar a causa e o feito desses males
em nós?
Eis
um sábio conselho: “O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o
ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das
quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como antídoto: a
caridade e a humildade. 5
1 São Luís, Revista Espírita, julho de 1858 -
A inveja.
2 Essa parabola está desenvolvida no capítulo
XX, de O Evangelho segundo o Espiritismo, acrescida de Instruções dos
Espíritos.
3 René Descartes, Paixões da alma, art. 182.
4 Allan Kardec, A Gênese, cap. XVII - Predições do Evangelho - Ninguém é
profeta em sua terra, item 2. 5 O Espiritismo em sua mais simples expressão -
Máximas extraídas do ensinamento dos Espíritos, 37.
Fonte; Ipeak
– Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec
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E ESPIRITISMO
VIVÊNCIAS
EVOLUTIVAS DE ALLAN KARDEC
AS
MESAS GIRANTES
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KARDEC
REFLEXÃO
SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO
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COMO
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