Por Thiago S.
Argolo e Riviane Damásio
Pintura
de Jacques Réattu 1760-1833: Der Triumph der Zivilisation ("Os Deuses do
Olimpo")
Desde a
chegada do Espiritismo no Brasil, há décadas, vem se acumulando
assustadoramente livros e livros de espíritas e espíritos que estão na
prateleira do Espiritismo. Mas basta um leitor mais cuidadoso confrontar o
conteúdo com a base da Doutrina Espírita, que atende pelo nome de O Livro dos
Espíritos que veremos o choque de conceitos, claramente expressos entre um e
outro. O cume deste confronto ideológico de conceitos atende pelo nome de
“Colônias Espirituais”.
Os incautos
podem então afirmar que tanto numa quanto na outra obra, são retratadas
palavras de espíritos, e nada há para validar ou invalidar as afirmações.
Entretanto, ao curioso e atento leitor que pretenda se denominar Espírita, não
há de ter passado despercebido bem no início de O Evangelho Segundo o
Espiritismo – outra obra considerada básica no cerne doutrinário espírita – um
capítulo que atende pelo nome de CONTROLE UNIVERSAL DO ENSINO DOS ESPÍRITOS –
CUEE. Temos ali, revelados numa
linguagem relativamente simples e inteligível, o caminho das pedras para a
validação de uma obra espírita, inclusive e principalmente, o caminho de aferição
da própria Doutrina Espírita, que não “caiu do céu” simplesmente, como acontece
com tanta literatura fácil no meio.
O CUEE mostra
a preocupação dos Espíritos, acatada por Kardec em todo o seu trabalho, do uso
de metodologia, razão e bom senso. O
cuidado no aceitar qualquer coisa que venha de um médium ou de um espírito,
está refletido no alerta do CUEE e também em toda a obra de O Livro dos
Médiuns.
Deparamo-nos
então com dois tipos de erros graves: A preguiça de aferir pelo método aquilo
que supostamente é revelado como novo e o descaso com o rico conteúdo
doutrinário que apesar de não estar fechado, ainda é jovem, e fonte preciosa de
estudos e revelações. E não raras vezes, a doutrina é rechaçada pela prática
espírita vigente, virando mero objeto de ilustração, supostamente inspirando
por aí, supostos “filhos” ou filiados desta doutrina, mas que não trazem em
suas obras, colocações e práticas doutrinárias - o fruto que comprovaria seu
DNA.
No mais, no
capítulo do Controle Universal do Ensino dos Espíritas, temos o alerta tão
especialmente perfeito:
“Os Espíritos
Superiores procedem, nas suas revelações, com extrema prudência. Só abordam as
grandes questões da doutrina de maneira gradual, à medida que a inteligência se
torna apta a compreenderas verdades de uma ordem mais elevada, e que as
circunstâncias INTRODUÇÃO são propícias para a emissão de uma idéia nova. Eis
porque, desde o começo, eles não disseram tudo, e nem o disseram até agora, não
cedendo jamais à impaciência de pessoas muito apressadas, que desejam colher os
frutos antes de amadurecerem. Seria, pois, inútil, querer antecipar o tempo
marcado pela Providência para cada coisa, porque então os Espíritos
verdadeiramente sérios recusam-se positivamente a ajudar. Os Espíritos
levianos, porém, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem. É por
essa razão que, sobre todas as questões prematuras, há sempre respostas
contraditórias.”
Como é vida
após a morte? Seria a pergunta chave que culmina em tanta controvérsia entre
espíritas diversos. Por um lado, defensores do relato dos Espíritos Superiores,
Laboratório de estudos psíquicos de Kardec, e outras obras mais antenadas com o
Espiritismo, acham graça dos mitos que permeiam as crenças: umbrais, colônias,
hospícios, hospitais, verdadeiros elefantes brancos espirituais, que em suma se
existissem não justificariam a encarnação, pois sendo cópia do mundo terrestre,
desnecessário seria aos espíritos destes mundos encarnarem para sua evolução.
O choque
materialista, trava a batalha da razão versus a emoção de evitar conceber um
mundo espiritual sem os acessórios terrenos. Na instrução
dos Espíritos da Codificação, concluímos após leitura atenta, que a Terra não é
uma cópia do plano espiritual, sendo o mundo espiritual o principal e o
material, secundário que poderia até mesmo não existir. Este mundo é fruto das
nossas necessidades materiais e orgânicas enquanto espíritos encarnados,
desnecessário, portanto, ao espírito desencarnado, cujo foco é o seu progresso
intelectual e moral. O ambiente
terrestre também pode ser concebido como o laboratório onde iremos colocar em
ação vivencial os nossos avanços. Se em
erraticidade tivéssemos uma cópia da terra, encarnar seria supérfluo e
desnecessário. Não haveria motivo para encarnar, se no mundo espiritual apresenta
as mesmas condições materiais para se evoluir.
Em certa
literatura que se denomina Espírita, lemos:“O Umbral – continuou ele, solícito
– começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se
resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los,
demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.” (...) “O
Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos
mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima, a prestações, o
material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado,
menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena."
Entra então o
conceito de existir. Será Existência "real/material" ou existência
"psíquica"? Segundo O Livro dos Médiuns, nos redutos espirituais não
há existência concreta, são de curta duração, transitórias, fluídicas... O
Livro dos Espíritos afirma que não existe purgatório e nenhum local destinado a
penas ou sofrimentos, o que existem são aglomerações por afinidades de Espíritos
ainda apegados à matéria. Necessidades materiais apenas são contempladas em
mundos materiais e não num contexto espiritual. Temos então,
vários mundos materiais, prontinhos para serem sugados/desbravados/obsedados
por espíritos ainda apegados à matéria, que não precisam demandar tempo e
esforço em criarem clones terrestres deste à moeda até os trambolhos
habitacionais.
Os espíritos
em erraticidade e encontram numa dimensão invisível ao nosso olhar racional,
mas tecnicamente podem estar aqui do nosso lado, se ainda apegados aos nossos
impulsos primários e muito distantes se avançados em sua evolução.
Cabe-nos
entender principalmente que o caminho evolutivo é longo e penoso. Não só para
os que desligados do corpo terrestre, caminham para o fim destinado a todos os
espíritos – o da purificação – quanto aos que se encontram neste intervalo
encarnatório, em lutas quixotescas contra as páginas de Kardec e dos Espíritos
da Codificação que tão bem ilustram nossas dúvidas e anseios do porvir. Duvidas
estas embaçadas pelos nossos olhos que se recusam a ver e nosso orgulho se
recusa a entender.
REFERÊNCIAS
KARDEC,
Allan, O Livro dos Espíritos – 1857. Tradução Ed. Lake, 1995, Herculano Pires
KARDEC,
Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo - 1863, Tradução Ed. Lake, 2003,
Herculano Pires
XAVIER,
Chico , Nosso Lar - Ed. Feb, 1944 - 45ª edição
Fonte; NEFCA -NÚCLEO ESPÍRITA DE FILOSOFIA E CINCIA APLICADA
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