Aécio Pereira Chagas
Certas pessoas, muitas vezes
bem-intencionadas, buscam provas científicas referentes à imortalidade do Espírito,
à comunicabilidade deste conosco, à reencarnação e sobre outros pontos
fundamentais da Doutrina Espírita. Isso é muito salutar, mas o problema é que,
entre essas pessoas, algumas passam toda a existência terrena procurando essas
provas, ou melhor, atrás "da prova", e nunca a encontram apesar de
terem tido contato com inúmeros fatos que a confirmam. Algumas assim agem por
um ceticismo crônico, crentes de bem procederem cientificamente, pois acreditam
(aqui elas não são céticas) que um "verdadeiro cientista não tem idéias
preconcebidas". Acho que essas pessoas que passam o tempo todo atrás das
provas e continuam insatisfeitas precisam ser informadas do que vem a ser uma
"prova científica". É o que pretendemos mostrar.
Vamos utilizar-nos de um
exemplo para ilustrar nossos pontos de vista. E o que escolhemos é a
"teoria atômico-molecular", devido à nossa experiência como
pesquisador no campo da Química. O que se segue é um diálogo imaginário (ou não
tão imaginário assim) que tivemos com uma pessoa a princípio cética.
Inicialmente ela nos
perguntou:
-- "Você acredita na
existência de átomos e moléculas?"
-- "Não só acredito,
mas sei que eles existem", respondi.
-- "Como você pode
provar isso?"
-- "Não lhe posso
oferecer nenhuma prova como aquelas apresentadas nos tribunais; inclusive nunca
os vi, toquei ou mesmo os senti de alguma maneira, nas formas que penso que
sejam. O que me faz saber que os átomos e as moléculas existem é um conjunto de
evidências experimentais, um conjunto de provas. Nenhuma delas por si é
suficiente par provar a existência dos átomos ou das moléculas. Vendo a coisa
de outra maneira, todo esse conjunto de evidências experimentais ou de
experimentos só pode ser explicado, entendido, racionalizado, por meio da
admissão da existência dos átomos e moléculas, e essa miríade de experimentos é
que constitui "a prova". Cada um dos experimentos, considerados
separadamente, pode até ser explicado por outras hipóteses ou teorias, mas até
hoje ninguém encontrou nenhuma outra alternativa que desse conta de todo o
conjunto de experimentos considerados, a não ser a "teoria
atômico-molecular". Um dado experimento pode ser explicado pela hipótese
de que a matéria é contínua, alguns outros também, mas há muitos outros que
não. Podemos até inventar hipóteses as mais estapafúrdias, mas com lógica e bom
senso perceberemos que poderão dar conta apenas de alguns poucos fatos. Não vou
citar aqui os experimentos; nas bibliotecas encontramos centenas e centenas de
descrições deles.
"Ainda mais: como já
sei que os átomos e as moléculas existem, como cientista não vou mais procurar
provas de sua existência. Vou daí para a frente. Vou realizar experimentos nos
quais a priori já considero existentes os átomos e moléculas, e os resultados
têm sido até agora coerentes com isso. Assim procedem também os meus colegas
cientistas do mundo todo."
Da mesma maneira que se faz
a pergunta sobre os átomos e as moléculas, faz-se também com relação à
existência dos Espíritos e a outros pontos que mencionamos no início deste
artigo. A resposta que daríamos a essa pergunta seria a mesma dada sobre os
átomos e as moléculas: "Não só acredito, mas sei que eles existem."
-- "Como você pode provar isso?" -- "Não posso lhe oferecer
nenhuma prova, como aquelas apresentadas num tribunal; inclusive nunca os vi,
toquei ou mesmo os senti de alguma maneira, na forma que penso que tenham. O
que me faz saber que os Espíritos existem é um conjunto de provas (...)."
O leitor poderá continuar o diálogo, é só trocar 'átomos e moléculas' por
'Espíritos'. Alternativa para 'Espíritos' (como a hipótese da matéria contínua
no lugar dos átomos)? É só procurar uma dessas muitas explicações
"parapsicológicas" que há por aí (o inconsciente etc.).
Quanto aos novos
experimentos, já há uma diferença: são poucos os que vão à frente, a maioria
ainda está querendo "provar" que o Espírito existe.
Se as pessoas que buscam
provas sobre esses pontos básicos da Doutrina Espírita, após examinarem todo
esse conjunto de evidências que a própria Doutrina oferece, além de outras
procedentes de fontes não espíritas, ainda quiserem "a prova", é
porque continuam desinformadas sobre a atividade científica (ou não a aceitam)
ou realmente não querem aceitar nada. Mas isso não acontece apenas com o
Espiritismo. Com átomos e moléculas hoje em dia não se pode ser cético, mas com
outras coisas... Há pouco ouvi: "(...) afinal de contas, a teoria da
Evolução ainda não está cientificamente provada"...
Artigo publicado em Reformador,
agosto de 1987, pp. 232-33. Digitado por Luiz Otávio Ferreira.
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