Terezinha Colle
O amor é a lei de atração para os
seres vivos e organizados. A atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.1
Vicente de Paulo
O amor talvez seja um dos temas mais
explorados de todos os tempos e também um dos mais empolgantes. Os gregos
Antigos tinham várias palavras para designar esse sentimento, em suas diversas
manifestações.
A recomendação para que a humanidade
ame é muito antiga e sempre atual. No Antigo Testamento vamos encontra-la, na
seguinte passagem: “Amarás Yahvé, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a
tua alma e com todas as tuas forças.2
Encontramos, também na Bíblia, a
recomendação de amor ao próximo, em Levítico,
19,18: “Não te vingarás e não guardarás rancor pelos filhos de teu povo, mas
amarás teu próximo como a ti mesmo.”
Muitos séculos depois um fariseu,
doutor da lei, faz a Jesus a seguinte pergunta: “Mestre, qual o mandamento
maior da lei?” Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de todo
o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo,
semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e
os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.”3
Como dissemos no início, havia vários
termos gregos para designar tipos de amores diferentes.
Um deles é o amor eros, que
muito resumidamente poderíamos dizer que é o amor paixão, o amor de posse, o
amor egoísta. É o amor que devora para suprir uma falta, uma necessidade, o
amor carnal.
Depois tem o amor philia, que
já é um amor pelo outro, pelo que o outro é. Poderíamos dizer que é uma
passagem do amor puramente carnal ao amor espiritual, do amor por si mesmo ao
amor pelo outro. É o amor entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre
amigos. Mas ainda pode ser um amor condicionado, um amor que também espera amor
em troca.
Jesus, ao prescrever o amor, utilizou
o termo agapè, que vem do verbo grego agapan, que significa
“querer bem”, para designar o amor mais autêntico, o amor incondicional.
É esse mesmo termo que Jesus utiliza,
de acordo com João, ao dizer: “Nisto, todos vos reconhecerão como meus
discípulos: por esse amor que tereis uns pelos outros.”4 O termo agapè, de
que Jesus se utilizou é o que se costuma traduzir como caridade.
Com o passar do tempo, as más
traduções e as falsas interpretações, como saber o real sentido da palavra
caridade proferida por Jesus?
No século XIX, quando elaborava a
ciência espírita, o sábio Allan Kardec fez a seguinte pergunta aos Espíritos: qual
o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? Obteve
a seguinte resposta: “Benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”
E Kardec acrescenta: “O amor e a
caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe
todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos nos fosse feito. Tal o
sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.5
Vicente de Paulo, um dos Espíritos que
colaborou com a ciência espírita diz: “Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei,
lei divina mediante a qual governa Deus os mundos.”6
Ao observar uma mãe animal amamentando
seu filhote, arriscando ou sacrificando a própria vida para defendê-lo, quem
diz que aí não se encontra o germe do amor em forma de instinto?
Talvez seja esse o sentido das
palavras de Lázaro, quando disse: “O amor resume a doutrina de Jesus toda
inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os
instintos elevados à altura do progresso feito.7
O Cristo foi e continua sendo o maior
exemplo de amor incondicional que a humanidade pode conhecer. Espírito puro, de
nada precisava deste planeta imperfeito, nem mesmo da gratidão daqueles a quem
ajudava; ele fez o bem pelo bem, e amou simplesmente porque o amor é a sua
natureza.
“Jesus ia por toda a Galileia,
ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todos os
langores e todas as enfermidades no meio do povo. - Tendo-se a sua reputação
espalhado por toda a Síria, traziam-lhe os que estavam doentes e afligidos por
dores e males diversos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos e ele a
todos curava. - Acompanhava-o grande multidão de povo da Galiléia, de
Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de além Jordão. (S. Mateus, 4:23 a 25.)
De todos os fatos que dão testemunho
do poder de Jesus, os mais numerosos são, não há contestar, as curas. Queria
ele provar dessa forma que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o
seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por
meio de coisas extraordinárias.
Aliviando os sofrimentos, prendia a si
as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros, do que
se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se
amado, ao passo que se se limitasse a produzir surpreendentes fatos materiais,
conforme os fariseus reclamavam, a maioria das pessoas não teria visto nele
senão um feiticeiro, ou um mágico hábil, que os desocupados iriam apreciar
para se distraírem.
Assim, quando João Batista manda, por
seus discípulos, perguntar-lhe se ele era o Cristo, a sua resposta não foi: “Eu
o sou”, como qualquer impostor houvera podido dizer. Tampouco lhes fala de
prodígios, nem de coisas maravilhosas; responde-lhes simplesmente: “Ide dizer a
João: os cegos veem, os doentes são curados, os surdos ouvem, o Evangelho é
anunciado aos pobres.” O mesmo era que dizer: “Reconhecei-me pelas minhas
obras; julgai da árvore pelo fruto”, porquanto era esse o verdadeiro caráter da
sua missão divina.8
Encerremos com as palavras de
Sócrates, o nobre filósofo grego, ao referir-se ao amor:
Chamo homem vicioso a esse amante
vulgar, que mais ama o corpo do que aalma. O amor está por toda parte em a
Natureza, que nos convida ao exercício da nossa inteligência; até no movimento
dos astros o encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes;
ele se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o
amor que dá paz aos homens, calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor.
1 O Livro dos Espíritos, item 888.
2 Deuteronômio, 6,5.
3 S. Mateus, 22: 34 a 40.
4 João, 13,35.
5 O Livro dos Espíritos, item 886.
6 O Livro dos Espíritos, item 888
7 O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XI - Amar o próximo como a si mesmo, Instrução dos Espíritos - A lei de amor, item 8.
8 A Gênese » Os milagres segundo o
Espiritismo, cap. XV - Os milagres do Evangelho, Curas, Numerosas curas operadas
por Jesus, itens 26 e 27.
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