sexta-feira, 1 de julho de 2016

Estudo sobre a mediunidade


SILVIO E CLARICE SENO CHIBENI

1. Introdução

A mediunidade desempenha papel essencial no estabelecimento da base experimental da ciência espírita e nas atividades dos centros espíritas. Seu estudo sistemático e contínuo possibilita a correta compreensão tanto de sua natureza como de suas finalidades, habilitandonos a dela obter seguros e produtivos resultados, com vistas ao nosso aperfeiçoamento intelectual e moral.

Esse estudo deve necessariamente estar centralizado no mais completo e profundo tratado que já se escreveu sobre a mediunidade: O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Os presentes apontamentos devem ser tidos unicamente como uma exposição incompleta de alguns tópicos importantes, destinada a facilitar posteriores contatos com essa obra fundamental e a vasta literatura subsidiária surgida desde sua publicação, em 1861.

No Vocabulário Espírita que forma o capítulo 32 desse livro, Kardec dá como sinônimos  os termos mediunidade e medianimidade, definindo-os como “a faculdade dos médiuns”.
Quanto à palavra médium, Kardec explicita o seu significado em várias passagens de suas obras, como por exemplo nesse mesmo Vocabulário, onde se encontra esta definição sucinta:

MÉDIUM (do latim, medium, meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens.

Ao analisar os conceitos de médium e de mediunidade, faz notar que a palavra médium comporta duas acepções distintas, expressas com clareza neste trecho da Revue Spirite:¹

Acepção ampla:
Qualquer pessoa apta a receber ou a transmitir comunicações dos Espíritos é, por issomesmo, médium, quaisquer que sejam o modo empregado e o grau de desenvolvimento da faculdade, desde a simples influência oculta até à produção dos mais insólitos fenômenos.

Acepção restrita:
Em seu uso ordinário, todavia, esse termo tem uma aplicação mais restrita, aplicando-se às pessoas dotadas de um poder mediador suficientemente grande, seja para a produção de efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra.

Quando analisamos um texto ou um discurso onde o termo médium aparece, é importante reconhecer em qual desses sentidos está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e discussões sem fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação feita no parágrafo 159 de O Livro dos Médiuns de que “todos [os homens] são quase médiuns” deverá ser entendida apenas na acepção ampla do termo, pois sabemos, pela questão 459 de O Livro dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos em grave equívoco se concluirmos daí que todos somos mais ou menos médiuns no sentido restrito e usual da palavra, ou seja, se julgarmos que todos podemos produzir manifestações ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os efeitos físicos etc.

2. A natureza da mediunidade

Limitando-nos daqui para frente à acepção restrita do termo 'médium', que é a mais usual e relevante, estaremos, no que se vai seguir, entendendo a mediunidade como a aptidão
especial que certas pessoas possuem para servir de meio de comunicação entre os Espíritos e os homens.

A questão que naturalmente surge neste ponto é a de se determinar qual é a natureza da faculdade mediúnica: quais as suas causas, por que surge somente em determinadas pessoas e em modalidades e graus diversos, se é passível de desenvolvimento forçado mediante alguma técnica etc.

Um aspecto central relativo à natureza da mediunidade acha-se exposto na resposta à questão que Kardec endereçou aos Espíritos no parágrafo 226 de O Livro dos Médiuns:²

O desenvolvimento da mediunidade guarda proporção com o desenvolvimento moral dos médiuns? “Não; a faculdade propriamente dita prende-se ao organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.”

Como observamos pela resposta dos Espíritos, a capacidade de servir de “ponte” entre o mundo espiritual e o mundo material está ligada a fatores de ordem orgânica. Esse ponto encontra-se exarado em vários lugares das obras de Kardec e de outros autores espíritas abalizados, passando, no entanto, despercebido à maioria das pessoas, mesmo espíritas.

Já em 1859 Kardec afirmava, em seu livro Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas que “essa faculdade depende de uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento.”³ Em O Livro dos Médiuns as referências nesse sentido são numerosas. No parágrafo 94, por exemplo, que trata das manifestações físicas espontâneas, os Espíritos informam que a aptidão de ser médium de efeitos físicos “se acha ligada a uma disposição física”. Bem mais adiante, ao estudar a formação dos médiuns (§ 209), Kardec retorna ao assunto:

Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever [mediunicamente] a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.

Notemos que nesta última passagem há referência a mais um princípio importante: a mediunidade não depende das convicções filosóficas ou das crenças religiosas do médium.

Por fim, em resposta à questão 19 do parágrafo 223 desse mesmo livro os Espíritos esclarecem que “a mediunidade propriamente dita independe da inteligência bem como das qualidades morais” do médium. Portanto a mediunidade independe também do desenvolvimento intelectual do médium.4

Resumindo o que vimos até aqui:
A mediunidade é a faculdade especial que certas pessoas possuem para servir de intermediárias entre o Espíritos e os homens. Ela tem origem orgânica, e independe:
- da condição moral do médium;
- de suas crenças;
- de seu desenvolvimento intelectual.

No parágrafo 200 de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec deixa claro que “não há senão um único meio de constatar [a existência da faculdade mediúnica em alguém]: a experimentação.” Ou seja, só poderemos saber que uma pessoa é médium observando que efetivamente é capaz de servir de intermediário aos Espíritos desencarnados.

Isso naturalmente remete à importante questão do desenvolvimento da mediunidade. Por sua importância e pelas confusões e equívocos a que se tem prestado, merece ser abordada numa seção especial.

3. O desenvolvimento da mediunidade

Uma primeira observação a ser feita é que se a presença da faculdade mediúnica em uma pessoa independe de sua condição moral, intelectual e de crença, ninguém poderá tornarse médium tão-somente pelo fato de moralizar-se, ou de estudar, ou de aderir às convicções  espíritas. É evidente que essas atitudes serão de imenso proveito para a criatura, pois a colocarão em condições de compreender e utilizar bem a faculdade mediúnica que porventura possua.

É significativo, a esse respeito, que Kardec tenha alertado já no terceiro parágrafo da Introdução de O Livro dos Médiuns que muito se enganaria aquele que “supusesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns.” Lança mão, a seguir, de uma comparação muito clara e objetiva, que esclarece o assunto à saciedade (os destaques são nossos):

Se bem que cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que a ninguém é dado conseguir se verifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fazem que se tornem poetas, pintores, ou músicos os que não têm o gênio de algumas dessas artes. Apenas guiam os que as cultivam no emprego de suas faculdades naturais. O mesmo sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil, quando ela exista.

O caráter espontâneo da faculdade mediúnica é ainda destacado no parágrafo 208 de O Livro dos Médiuns (o destaque é nosso): 
Se os rudimentos da faculdade [mediúnica] não existem, nada fará que apareçam[...]. 
No capítulo intitulado “Manifestações dos Espíritos” de Obras Póstumas (parágrafo 6, nº 34) encontramos esta densa passagem (destaque nosso):

O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém, ser adquirida quando o princípio não exista.

E no parágrafo 198 de O Livro dos Médiuns, que trata da diversidade das faculdades mediúnicas, lemos ainda:

Em erro grave incorre quem queira forçar a todo custo o desenvolvimento de uma faculdade que não possua. Deve a pessoa cultivar todas aquelas de que reconheça possuir o gérmen. Procurar à força ter as outras é, antes de tudo, perder tempo, e, em segundo lugar, perder talvez, enfraquecer com certeza, as de que seja dotado.

Encerrando esse parágrafo, Kardec transcreve comunicação mediúnica de Sócrates sobre o desenvolvimento da mediunidade, que contém grave advertência:

Quando existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta sempre por sinais inequívocos. Limitando-se à sua especialidade, pode o médium tornar-se excelente e obter grandes e belas coisas; ocupando-se de tudo, nada de bom obterá. Notai, de passagem, que o desejo de ampliar indefinidamente o âmbito de suas faculdades é uma pretensão orgulhosa, que os Espíritos nuncam deixam impune. Os bons abandonam o presunçoso, que se torna então joguete dos mentirosos. Infelizmente, não é raro verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por amor-próprio ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os tornarem notados. Essa pretensão lhes tira a qualidade mais preciosa: a de médiuns seguros.

Apenas como exemplo de opinião de um outro autor, corroborativo da de Allan Kardec, vejamos como Emmanuel responde à questão 384 de seu livro O Consolador, questão essa que versa especificamente sobre o tema que estamos focalizando:

Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade?
— A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele setor da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas mediúnicas são dirigidas pelos mentores do plano espiritual.
Logo em seguida, em resposta à questão 386, o conceituado Espírito reitera:
Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade, porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária; observando-se contudo, a floração mediúnica espontânea, nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores disposições de trabalho e boa-vontade [...].5

Precisamos portanto estar vigilantes quanto à opinião, infelizmente tão comum no meio espírita, de que as pessoas que aparecem nas casas espíritas devem, cedo ou tarde, ser encaminhadas às chamadas “sessões de desenvolvimento mediúnico”. São dois os motivos mais freqüentemente alegados para esse tipo de recomendação: 1) o empenho e dedicação com que alguém se interesse pelo Espiritismo, sugerindo, segundo julgam, que tem “todas as condições” para exercer a mediunidade; 2) os desequilíbrios variados de saúde ou de comportamento que apresente, notadamente quando venham desafiando a perícia dos médicos.

Ora, no primeiro caso dever-se-ia ponderar que as boas disposições da pessoa deverão ser aproveitadas antes de mais nada em seu aperfeiçoamento intelectual e moral, e, em se tratando de sua colaboração nas atividades do centro espírita, naquele setor ao qual mais se ajuste por sua formação profissional, seus interesses e disponibilidades, quais sejam a condução de estudos, a evangelização infanto-juvenil, a administração, a biblioteca, as visitas fraternas, a costura de enxovais, a faxina, a distribuição de alimentos, a acolhida aos novos freqüentadores etc., ou os trabalhos mediúnicos, se os sinais de mediunidade se apresentarem de forma espontânea.

No segundo caso, que é o mais freqüente, seria preciso compreender que o mero fato de alguém encontrar-se desequilibrado significa que não pode ser inserido no grupo mediúnico, sob o risco de comprometer o seu bom funcionamento. A mediunidade em si é uma faculdade neutra, que não tem qualquer conexão com os desajustes físicos, mentais e espirituais da criatura. Estes surgem por motivos específicos, e requerem o tratamento médico, psicológico ou espírita adequado ao caso. Somente após seu retorno à normalidade é que a pessoa poderá participar, como médium, dos trabalhos mediúnicos, se a faculdade surgir espontaneamente. O exercício da mediunidade não é recomendável na presença de determinadas enfermidades físicas, como por exemplo, nas doenças contagiosas, ou onde o equilíbrio orgânico esteja “por um fio” e a atividade mediúnica envolva situações que emocionem muito o médium. No caso dos desequilíbrios mentais e espirituais, o exercício mediúnico não pode nunca ser iniciado, ou continuado. Um médium nessas condições não poderá contribuir positivamente, além de gerar dificuldades para o grupo, facilitando mesmo a atuação de Espíritos interessados na instalação da desarmonia, dos melindres, das suspeitas, do enregelamento das relações entre os membros.

O desenvolvimento mediúnico a ser promovido nos centros espíritas não deve nunca ser entendido como o aprendizado de técnicas e métodos para fazer surgir a mediunidade, pois que não os há nem pode haver, mas exclusivamente como o aprimoramento e direcionamento útil e equilibrado das faculdades surgidas de forma natural, o que pressupõe o aperfeiçoamento integral do médium, por meio do estudo sério e de seus esforços incessantes para amoldar suas ações às diretrizes evangélicas.

Ressaltemos, outrossim, que os núcleos espíritas não deverão iniciar qualquer trabalho mediúnico, quer de desenvolvimento (no sentido correto do termo), quer, menos ainda, de assistência aos Espíritos enfermos, se não estiverem seguros de que dispõem de colaboradores suficientemente preparados, por seus conhecimentos doutrinários, por seu equilíbrio psicológico e por sua conduta cristã, que disponham de tempo para encetar com regularidade tão delicada tarefa.

Resumindo o que foi visto nesta seção:
- A mediunidade é uma faculdade natural, que surge espontaneamente.
- Não se deve procurar desenvolvê-la enquanto não aflorar por si só.
- O desenvolvimento da mediunidade deve ser entendido unicamente como a sua educação, o seu aprimoramento, a sua disciplina, o seu direcionamento útil para o bem.

- A mediunidade não é a causa primária dos desequilíbrios orgânicos e psicológicos.
- O exercício da mediunidade não deve ser colocado como a culminação obrigatória das atividades do cooperador da casa espírita.

4. Os mecanismos da mediunidade

Na presente seção procuraremos reunir alguns informes sobre os mecanismos da faculdade mediúnica, ou seja, sobre como se dá o fenômeno mediúnico. A fonte básica continuará sendo Allan Kardec. Iniciemos com este trecho, já parcialmente transcrito, do capítulo “Manifestações dos Espíritos” de Obras Póstumas (§ 6, n° 34; o destaque é nosso):

O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos.

Esmiuçando as informações aqui contidas, notamos:

1) O perispírito desempenha papel de capital importância no processo mediúnico.
2) Sendo o perispírito “o agente de todos os fenômenos espíritas”, e estes só podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito, temos como regra sem exceções que, ocorrendo um fenômeno de comunicação com o mundo espiritual, necessariamente haverá a participação de um médium. Em alguns casos, como em certas manifestações de efeitos físicos, não se nota a presença do médium, mas podemos estar certos de que haverá alguém, em algum lugar, servindo de médium ainda mesmo que este não esteja consciente do papel que desempenha. Também percebemos que serão vãos os esforços de certos pesquisadores que, desprezando a riquíssima contribuição do Espiritismo para o estudo daquilo que (impropriamente) denominam “paranormalidade”, tentam detectar o Espírito unicamente por meio de aparelhos. Se algum instrumento chegar a registrar um spírito, é porque houve a participação oculta de algum médium. Neste caso, seria mais confiável analisar a manifestação diretamente, sem o recurso indireto de instrumentos, que sempre constituem fonte adicional de incertezas.6

3) A presença da faculdade mediúnica em alguém liga-se à possibilidade de seu perispírito “expandir-se”. Veremos logo mais que essa “expansão” do corpo espiritual pode ser entendida como a sua parcial desvinculação do corpo físico.

4) A efetivação da comunidade exige, além da “expansão” do perispírito do médium, a
assimilação deste com o perispírito do Espírito comunicante, ou seja, tem de haver sintonia entre ambos. Esse fato importante, de que o médium em geral não é capaz de comunicar-se indiscriminadamente com todos os Espíritos, é exposto em Obras Póstumas imediatamente após o trecho que acabamos de transcrever (§ 6, nº 35; os grifos são nossos):

As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias, e outros que não o podem a não ser pela transmissão do pensamento, sem qualquer manifestação exterior.

No exame do assunto do item 3, podemos colher subsídios em André Luiz, o autor espiritual que tanto tem contribuído para a extensão de nosso conhecimento científico acerca da mediunidade. Em sua obra Evolução em Dois Mundos, ao analisar a fase evolutiva em que se elaborava a faculdade de desprendimento do veículo perispiritual durante o sono (capítulo 17, item “Mediunidade espontânea”), adianta esta valiosa informação (grifamos):

Consolidadas semelhantes relações com o Plano espiritual [...], começaram na Terra os movimentos de mediunidade espontânea, porquanto os encarnados que demonstrassem capacidades mediúnicas mais evidentes, pela comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo espiritual, em certas regiões do campo somático, passaram das observações durante o sono às da vigília, a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo [...].

Vemos, assim, que o respeitado cientista deixa entrever a correlação íntima entre a possibilidade de contato com a realidade espiritual durante a vigília (mediunidade) e um certo “afrouxamento” das ligações entre as células do perispírito e as suas correspondentes do corpo material. Prosseguindo, André Luiz explicita mais essa correlação:

Quanto menos densos os elos de ligação entre os implementos físicos e espirituais, nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência, prevalecendo as mesmas normas para a clariaudiência e modalidades outras, no intercâmbio entre as duas esferas [...].

Refletindo um pouco sobre as assertivas de André Luiz, verificamos, inicialmente, que não conflitam com a explicação dada por Kardec, em termos da capacidade de expansão do perispírito do médium. Há, pelo contrário, até um reforço, já que a noção de “expansão” é aquisuficientemente abrangente e flexível para permitir ulteriores elaborações e detalhamentos, dentro da natureza eminentemente progressiva do Espiritismo. Podemos compreender, deste modo, a “expansibilidade” do perispírito como a sua faculdade de desvinculação parcial e temporária do corpo físico, passando, nesse estado especial, a partilhar da realidade do mundo espiritual para nela colher impressões diversas, sem no entanto perder a possibilidade de atuação sobre o corpo denso.

É fundamental deixar claro que o que acabamos de expor não corrobora de modo algum a idéia popular de que no processo mediúnico o Espírito do médium “sai” e “dá lugar” ao Espírito comunicante, que passaria então a servir-se diretamente do corpo do médium. Os Instrutores Espirituais já esclareceram a Kardec, no importante capítulo “Do papel do médium nas comunicações espíritas” de O Livro dos Médiuns que essa idéia não corresponde à realidade. A mensagem sempre passa pelo Espírito do médium, mesmo quando ele nãoguarda disso a consciência ao despertar do transe. Vejamos o que dizem no item sexto do parágrafo

O Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente o seu pensamento, ou este tem por intermediário o Espírito do médium?

“É o Espírito do médium que é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve ara
falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar à grande distância uma notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que a receba e transmita.”

Compreendemos então que, em última instância, o comando do veículo físico só pode ser feito pelo seu próprio “dono”. Poderíamos dizer que o corpo material é feito “sob medida” para cada Espírito, e que não “serve” para nenhum outro. O Espírito estranho não tem como agir diretamente sobre as células materiais formadas sob a influência de outro Espírito e para o seu próprio uso.

É interessante notar que nas questões seguintes à transcrita os Espíritos frisam — mesmo enfrentando uma oposição inicial de Kardec — que essa é uma regra absoluta, sem exceções, nem mesmo na mediunidade dita “mecânica”, ou ainda nos casos de efeitos físicos onde uma mensagem inteligente é transmitida (tiptologia, escrita por meio de pranchetas etc).
Vemos, na questão 10 do referido parágrafo, que os Espíritos expressam indiretamente sua desaprovação a esse modo de denominar a mediunidade na qual o médium não guarda consciência do conteúdo da comunicação: o médium jamais atua como máquina, mecanicamente.
Resumindo o conteúdo desta seção:
- O perispírito desempenha papel essencial em todos os processos mediúnicos.
- A faculdade mediúnica liga-se à possibilidade de o perispírito desvincular-se parcialmente do corpo físico durante a vigília.
- A comunicação não se efetiva sem que haja sintonia entre os perispíritos do médium do Espírito.
- A comunicação espiritual, ainda que de efeitos físicos, sempre passa pelo Espírito do médium.

5. As modalidades mediúnicas

Um aspecto importante dos esclarecimentos de André Luiz é que permitem compreender não somente como se dá o fenômeno mediúnico, mas também o porquê da existência de diferentes modalidades de mediunidade. Observamos, pelos trechos citados, que a faculdade mediúnica será deste ou daquele tipo conforme a região do organismo em que as células do perispírito apresentem maiores possibilidades de desvinculação das que lhe correspondem no corpo físico. Desse modo, segundo o exemplo dado, se for nos órgãos da visão que ocorre a maior liberdade das células do perispírito, a mediunidade assumirá a forma de vidência; se nos órgãos da audição, a de audiência; se nos da fala, a de psicofonia, e assim por diante.

Devemos notar, no entanto, que os órgãos a que se refere André Luiz são, conforme e depreende de outras passagens de sua obra, não tanto os órgãos periféricos — olhos, ouvidos, mãos etc. —, mas fundamentalmente as regiões do cérebro responsáveis por seu comando. De fato, a ciência mostrou que há no cérebro grupos de neurônios (células nervosas) mais ou menos especializados para as diversas faculdades sensoriais e motoras. No caso da visão, por exemplo, tais neurônios recebem, através do nervo óptico, os impulsos elétricos gerados na retina do olho, sinais esses que a alma interpreta como imagens. O mesmo se dá, mutatis mutandis, com os demais sentidos. No caso das funções motoras, ao comando da alma determinados centros cerebrais enviam, através dos diferentes nervos, impulsos elétricos aos músculos, resultando daí os movimentos corporais.

Kardec dividiu os médiuns em duas grandes categorias: os de efeitos físicos e os de efeitos intelectuais. Os primeiros são “aqueles que têm o poder de provocar efeitos materiais, ou manifestações ostensivas”; os segundos, “os que são mais especialmente próprios a receber e a transmitir comunicações inteligentes” (O Livro dos Médiuns, parágrafo 187). Para fins didáticos, é conveniente subdividir a categoria de efeitos inteligentes em dois grupos: efeitos sensoriais (percepção da realidade espiritual na forma de uma impressão dos sentidos) e efeitos intelectuais propriamente ditos (transmissão de uma mensagem inteligente pela palavra escrita, oral, por gestos etc.).

Apresentaremos agora um quadro sinótico com os principais tipos de fenômenos mediúnicos, associados às diversas modalidades mediúnicas. Trata-se de uma adaptação do que foi elaborado por Jayme Cerviño em seu livro Além do Inconsciente, reunindo apenas as modalidades mais importantes. Nesse interessante e original livro, o autor infere, a partir de estudos clássicos da psicologia experimental e da neurofisiologia, bem como de investigações sobre os fenômenos espíritas, quais regiões do encéfalo estariam associadas às diferentes categorias de fenômenos espíritas.7

a) - EFEITOS INTELECTUAIS (mediunidades de expressão cortical)
a.1) Efeitos estritamente intelectuais (córtex frontal)
a.1.1) intuição, psicografia, psicofonia, psicopraxia.
a.2) Efeitos sensoriais (córtex extrafrontal)
a.2.1) vidência, audiência, sensitividade.

b) - EFEITOS FÍSICOS (mediunidades de expressão subcortical)
b.1) Telergia
b.1.1) sons, luzes, movimentos, curas.
b.2) Teleplastia
b.2.1) materializações
b.3) Somatização
b.3.1) transfiguração
b.3.2) estigmatização

6. O exercício da mediunidade 

Na seção 2 deste trabalho vimos que se deve fazer uma distinção clara entre a mediunidade, enquanto faculdade, e o seu uso ou exercício. Se a faculdade em si é neutra, o mesmo não vale para o seu uso, que pode ser bom ou mau, dependendo da condição moral do médium.

Na Introdução de O Livro dos Médiuns Kardec destaca entre os objetivos da obra a orientação para que a mediunidade seja empregada de modo útil. Um requisito essencial para isso é a compreensão de sua natureza e mecanismos, no que o Espiritismo tem contribuído de forma decisiva. Respeitando a liberdade humana, ele não poderia prescrever normas de conduta para os médiuns de maneira cega, impositiva, sem um esclarecimento racional da sua necessidade. É facil constatar a justeza da afirmação de Kardec, nessa mesma Introdução, de que “as dificuldades e os desenganos com que muitos topam na prática do Espiritismo se originam na ignorância dos princípios desta ciência”.

A preocupação com a compreensão e o exercício corretos da mediunidade vem sendo partilhada pelos espíritas sérios, que se conscientizaram da necessidade do crescimento espiritual do médium para que sua faculdade seja bem empregada. Muitos dos grandes autores espíritas dos dois planos da vida nos têm legado estudos e lições preciosas sobre a mediunidade e seu objetivo. Procuraremos, no que se vai seguir, compilar alguns desses ensinamentos.

Comecemos, no entanto, com O Livro dos Médiuns, em cujo parágrafo 226 Kardec pergunta aos Espíritos (nº 3):

Os médiuns que fazem mau uso de suas faculdades, que não se servem delas para o bem, ou que não as aproveitam para se instruírem, sofrerão as conseqüências dessa falta?

“Se delas fizerem mau uso, serão punidos duplamente, porque têm um meio a mais de se esclarecerem e não o aproveitam. Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso.”

A questão da responsabilidade moral do uso da mediunidade é semelhante à das demais faculdades do homem. Aquele que emprega mal a inteligência, a palavra, os dotes artísticos ou a força física arcará com as conseqüências desse emprego, devendo expiar e reparar as faltas cometidas. No caso da mediunidade há um agravante, conforme se salienta na resposta dada, pois ela é poderoso recurso iluminativo.

É por meio da mediunidade que nos certificamos de nossa natureza imortal, fato de suma importância, em torno do qual gira todo o Espiritismo e sua doutrina moral. É ela que nos desvenda a vida futura, possibilitando-nos conhecer de modo abrangente os efeitos de nossas ações. Ajuizaremos então com mais acerto sobre o que nos convém ou não fazer, com vistas à nossa felicidade integral.

Para nós, os encarnados, a mediunidade constitui advertência contra o equívoco de tudo considerarmos do ponto de vista de nossos interesses materiais e imediatos, incentivando-nos a lutar contra o egoísmo, o embrutecimento dos prazeres, a estagnação do conhecimento.

Para os desencarnados sofredores, revoltados ou aturdidos, representa muitas vezes via preferencial de despertamento, possibilitando-lhes retomar o progresso espiritual. A maioria das instituições espíritas em nosso país hoje em dia centraliza sua atuação mediúnica precisamente nessa tarefa, tão louvável pelos benefícios que espalha, mas também tão delicada em sua condução, exigindo muito preparo da equipe, quer no que concerne ao conhecimento doutrinário e à disciplina, quer quanto ao espírito fraterno e à devoção incondicional ao bem do próximo.

A esse respeito adverte Emmanuel no capítulo “Examinando a mediunidade” do livro Encontro Marcado:

O exercício da mediunidade nas tarefas espíritas exige larga disciplina mental, moral e física, assim como grande equilíbrio das emoções.

Na obra Educação e Vivência, lição “Mediunidade e problemas”, o Espírito Camilo tece as seguintes considerações, ainda dentro desse tópico:

Tristemente, porém, muitas dessas criaturas que se sabem ou se imaginam médiuns não são bafejadas pelos recursos de amadurecido estudo, a fim de que compreendam o que é que se passa nesse vasto território dos fenômenos psíquicos. Seria de esperar que os indivíduos que se embrenham pelos bosques das percepções mediúnicas fossem caindo em si, aprendendo que todos terão que dar conta desses talentos formidáveis que lhes são concedidos, nas experiências terrenas, na condição de empréstimo, proporcionando liberdade e ventura íntimas, logrando evadir-se dos tormentosos episódios do pretérito culposo ou negligente.

E em Cintilação das Estrelas (capítulo 32) esse lúcido Espírito prossegue no assunto: Em mediunidade é importante que o médium se aplique em melhorar-se a si próprio, ampliando as percepções, iluminando-se a cada hora, nas lutas que deve enfrentar, na pauta do cotidiano. O desenvolvimento da mediunidade marcha ladeando o desenvolvimento do médium. Quanto melhor o indivíduo, maior a sua fulgência mediúnica no bem. Aprimore-se o homem para que se lhe ampliem as posições de sensibilidade mediúnica.

Têm-se infelizmente observado muitos agrupamentos mediúnicos descuidados quanto às superiores finalidades da mediunidade, bem como quanto às diretrizes doutrinárias que devem guiar sua prática. Não raro desenvolvem suas atividades de forma ritualística, tratando os médiuns como simples máquinas de comunicação. No momento do intercâmbio, os trabalhadores assumem posturas formais, como que denotando concentração e devoção ao bem, mas que nem sempre se fazem acompanhar das atitudes íntimas correspondentes.
Manoel Philomeno de Miranda comentou esse tópico no capítulo intitulado “Mediunidade e viciação”, do livro Sementeira da Fraternidade (p. 123):

O médium é filtro por cuja mente transitam as notícias da vida além-da-vida. 
Nesse sentido, consideramos a concentração mental de modo diverso dos que a comparam a interruptor de fácil manejo que, acionado, oferece passagem à energia comunicante, sem mais cuidados... A concentração, por isso mesmo, deve ser um estado habitual da mente em Cristo, e não uma situação passageira junto ao Cristo.

Já analisamos na seção 3 a situação na qual o aparecimento da faculdade mediúnica se dá juntamente com desequilíbrios físico-espirituais variados, destacando o erro dos que consideram tais distúrbios como uma conseqüência da mediunidade em si. Em Educação e Vivência (p. 111), Camilo enfoca outro ângulo dessa questão:

A decantada “mediunidade de provas” não passa de episódio no qual alguém em provas e sérias expiações recebeu da Divina Misericórdia as excelências da sensibilidade mediúnica, através de cujas portas será chamado ou convocado à assunção de responsabilidades, bem como ao cumprimento dos deveres para com Deus, através do próximo.

Dessa forma a mediunidade, mesmo quando se apresente assinalada por impertinentes padecimentos dos médiuns, representa para eles a mão da Celeste Providência evitando dores maiores e tormentos mais acerbos.

A origem do nosso sofrimento, da nossa aflição, não reside na mediunidade, mas na bagagem de desacertos que ainda trazemos, acumulada nesta e em vidas pregressas. É por isso que nossos recursos mediúnicos, neutros em si mesmos, amiúde ainda se ligam aos mundos de sombra. Mal empregada, a mediunidade significará cultivo da ignorância, a disseminação da dúvida e da mentira, o insuflamento do egoísmo e do orgulho, da vaidade e do personalismo, o verbo e o texto degradantes, a manipulação de forças mentais deletérias, a porta aberta às obsessões.

No capítulo 39 do livro Sementeira da Fraternidade, Vianna de Carvalho descreve a mediunidade como “canal cósmico por onde transitam seguras as consolações e esperanças para o atribulado espírito humano„ (p. 179), destacando outro aspecto da mediunidade: o consolo que prodigaliza ao homem em sua vida de incertezas e de dores. Que de mais belo existe do que saber que o abismo que se imagina existir entre nós e os entes queridos que já partiram não é intransponível; que os sofrimentos que não conseguimos evitar têm causas justas ligadas ao nosso passado!...

Dádiva com que a misericórdia divina nos favorece, informando-nos de nossa natureza de seres imortais, a mediunidade bem empregada reveste as formas de esclarecimento acerca da vida além-túmulo, de consolo para os que perderam a esperança, de advertência salvadora para os equivocados, de amparo para os que cambaleiam, de recursos terapêuticos para os que enfermaram, de despertamento para os sofredores e os trânsfugas do dever que já cruzaram a aduana da morte. Daí a necessidade de desenvolvermos esse abençoado talento, nos trabalhos da caridade, nos exercícios constantes de benevolências para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, de perdão das ofensas, conforme a questão 886 de O Livro dos Espíritos.

Reconheçamos, acima de tudo, que mais importante do que sermos bons médiums, o que toca à faculdade, é sermos médiums bons, a serviço de Jesus. Æ
__________
1 - 1859, p. 33; L'Obsession, p. 87. Ver também O Livro dos Médiums, parágrafo 159.
2 - Nesta e demais citações de O Livro dos Médiums e de Obras Póstumas utilizamos os textos originais, aproveitando em grande parte as traduções publicadas pela Federação Espírita Brasileira.
3 - Vocabulário Espírita, item 'Médium'. Ver também O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 24, § 12.
4 - Outras referências sobre a origem orgânica da mediunidade podem ser encontradas por exemplo, em O Livro dos Espíritos, Introdução, item 4; O Livro dos Médiums, parágrafo
174; Revue Spirite, 1859, "Écueils des médiums" (p.33; L'Obsession, p.88); Estudos Espíritas, de Joana de Ângelis, capítulo "Mediunidade".
5 - Todos os destaques são nossos. Ver também, sobre esse ponto, André Luiz, Nos
Domínios da Mediunidade, cap. 1, pp. 18-9, e Yvonne Pereira, Devassando o Invisível, cap. 10, p. 216.

6 - Esse é um ponto que merece reflexão, em vista da ampla divulgação em nossos dias da chamada "transcomunicação instrumental" (TCI). Em artigos anteriores (Chibeni 1984, 1988 e 1994) analisamos, à luz da moderna filosofia da ciência, a questão da cientificidade do Espiritismo e de sistemas alternativos, procurando mostrar que, do mesmo modo como entendia Kardec, o Espiritismo é uma disciplina genuinamente científica, enquanto que esses sistemas não. Contrariamente ao que em geral assumem os proponentes da TCI, o mero emprego de aparelhos não assegura a cientificidade de nenhuma disciplina; eles só são usados nas ciências ordinárias porque o seu objeto de estudo - a matéria - presta-se à análise quantitativa, e muitos de seus aspectos só podem ser observados com aparelhos. Já o objeto de estudo do Espiritismo - o elemento espiritual - não é passivel de análise quantitativa, como tão apropriadamente fez notar Kardec em várias de suas obras.

7 - Note-se que, como toda classificação, esta não é absoluta, pois o estabelecimento de fronteiras nítidas entre diferentes modalidades mediúnicas não é possível. Lembremos ainda que o encéfalo é a parte do sistema nervoso contida na caixa craniana; o córtex cerebral corresponde à parte mais externa desse órgão, e coordena a inteligência, os sentidos, os reflexos condicionados ou adquiridos; o subcórtex, que inclui vários órgãos da base do encéfalo - tálamo, hipotálamo, cerebelo - é a sede dos reflexos incondicionados ou inatos: instintos, atividades fisiológicas, emoções.

Fonte; Reformador AGOSTO, 1997 ANO 115 Nº 2.021

Referências bibliográficas

ANDRÉ LUIZ. Nos Domínios da Mediunidade. (Médium Francisco Cândido Xavier.) 13ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1955.
— Evolução em Dois Mundos. (Médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.) 1ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1959. CAMILO. Cintilação das Estrelas. (Médium José Raul Teixeira.) Niterói, Fráter, 1992.
— Educação e Vivência. (Médium José Raul Teixeira.) Niterói, Fráter, 1993. CERVIÑO, J. Além do Inconsciente. 2ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1968. CHIBENI, S. S. “Espiritismo e ciência”, Reformador, maio de 1984, pp. 144 -47 e 157-59.
— “A excelência metodológica do Espiritismo”, Reformador, novembro de 1988, pp. 328-333, e dezembro de 1988, pp. 373-378.
— “O paradigma espírita”, Reformador, junho de 1994, pp. 176-80. EMMANUEL. O Consolador. (Médium Francisco Cândido Xavier.) 8ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1940.
— Encontro Marcado. (Médium Francisco Cândido Xavier.) 6ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira. JOANNA DE ÂNGELIS, Estudos Espíritas. (Médium Divaldo P. Franco.) 2ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1982.
KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985).
— Instruction Pratique sur les Manifestations Spirites. Paris, La Diffusion Scientifique, 1986.
— Le Livre des Médiums. Paris-Dervy Livres, s.d. (dépôt légal 1978). O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro, 59ª ed., revista, Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
— L'Évangile selon le Spiritisme. (Reprodução fotográfica da 3ª edição francesa.) 1ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1979.
— Oeuvres Posthumes. Paris, Dervy-Livres, 1978. Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro, 18ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
— L'Obsession. (Extratos da Revue Spirite.) Farciennes, Éditions de L'Union Spirite, 1950. PEREIRA, Y. A. Devassando o Invisível. 4ª ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1963. PHILOMENO DE MIRANDA, Manoel. “Mediunidade e viciação”, in: Sementeira da Fraternidade. (Ditado por Espíritos diversos a Divaldo Pereira Franco.) 3ª ed., Salvador, Livraria Espírita Alvorada Editora, 1979. Capítulo 25, pp. 121-24.
VIANNA DE CARVALHO. “Hipnose e mediunidade”, in: Sementeira da Fraternidade. (Ditado por Espíritos diversos a Divaldo Pereira Franco.) 3ª ed., Salvador, Livraria Espípita Alvorada Editora, 1979. Capítulo 39, pp. 177-81.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Qual o Limite de Fazer o Bem?

Ana Vargas
anavargas.adv@uol.com.br

Dizem pais e educadores que impor limites às crianças é uma necessidade e uma dificuldade. Acredito que podemos ir além: é difícil reconhecer e aceitar os nossos limites também na vida adulta. As situações se tornam mais complexas que as experiências infantis, envolvem crenças, valores, que também podem viver de forma obscuradentro de nós, mesclados por senso comum, tendências culturais familiares e até atavismos de outras encarnações. Tudo isso contribui ou pode contribuir para fazer dos nossos limites uma zona nebulosa, desconhecida, frequentemente falseada por onipotência ou impotência. Penso que posso tudo ou, ao contrário, que sou uma criatura infeliz destituída de qualquer poder.

Trabalhando com formação de magnetizadores, esse é um quadro bastante comum. Aquele que crê não ter poder algum, além das dificuldades referidas para identificar o seu limite, carrega ainda uma baixa estima por si mesmo, e realmente, não enxerga os potenciais. Demanda trabalho teórico grande do orientador, e as experiências práticas com o Magnetismo são fontes de auto convencimento e autodescoberta que muito contribuem para elevação de sua autoestima. Há mesmo lindas histórias de florescimento pessoal. E tem aqueles outros que não conseguem identificar o limite, em geral creem de forma muita singela, com bons sentimentos e pouca reflexão que o bem é uma obrigação e tem que ser feito às raias do sacrifício. Às vezes, há um orgulho, um sentimento de heroísmo, até uma vaidade inconsciente. E aí quando barrados de fazer o bem, para o bem deles mesmo, se melindram, por exemplo: solicitar a um magnetizador que não se encontra física ou emocionalmente bem que se abstenha, durante a crise ou a enfermidade, de magnetizar.
Isso não deveria acontecer, mas acontece. Somos humanos e espiritualmente “crianças crescendo” no dizer dos Espíritos Superiores. Então, convém refletir sobre o tema.
Qual é o limite para fazermos o bem? Vejamos o que diz a questão 642 de O Livro dos Espíritos:

“Bastará não  fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar sua posição futura?

- Não, é preciso fazer  o bem no limite de suas forças, por que cada um responderá por todo o mal que resulte do bem que não haja feito.”

A indiferença, a omissão, são   deplorados como conduta. Mas os Espíritos Superiores não recomendam o absurdo, nem o impossível, sequer o sacrifício pessoal. Eles respondem com clareza: é preciso fazer o bem no limite de suas forças, até onde elas lhe permitam ir, não significa esgotamento. Todo limite traçado pela natureza é o do equilíbrio e do bem-estar. A saciedade me diz que estou suficientemente alimentada, o cansaço me aponta a necessidade do descanso e o meu limite. Exaustão é sofri-mento, é excesso do limite, conduzirá à doença, assim como alimentação em excesso conduzirá a indigestão. Essa regrinha é repetida muitas vezes no capítulo das Leis Morais. Conhecer o limite das próprias forças é tarefa fundamental no autoconhecimento. E aplicável em todos os setores, em especial na prática do Magnetismo espírita.

E mais, vale lembrar outra lição de O Livro dos Espíritos, pertinente ao tema do Magnetismo, comentário de Kardec no capítulo Princípio Vital:

“A quantidade de fluido vital não é  fator absoluto para todos os seres orgânicos; varia segundo as espécies e não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Existem alguns que são por dizer, saturados, enquanto que outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente; daí, para alguns, a vida é mais ativa, mais vibrante e, de certo modo, superabundante.

A quantidade de fluido vital se esgota, pode vir a ser insuficiente para manter a vida, se não se renova pela absorção a assimilação das substâncias que o contém. O fluido vital se transmite de um indivíduo para outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo àquele que tem pouco e, em certos casos, restabelecer a vida prestes a se apagar.”

Ponto fundamental na formação do magnetizador: conhecer os limites da sua força, da sua energia vital, pois é isso que irá transmitir aos outros.Precisa tê-la para poder doá-la, em primeiro lugar. 

Se, vive em um país tropical como o nosso, por mais que cuide da saúde e tenha bons hábitos, está sujeito a doenças virais, estamos encarnados, o corpo sofre a ação do tempo e a idade traz limitações, por exemplo. É preciso aceitar, são fatos da vida. E, de mais a mais, no estágio evolutivo do nosso mundo, enfermidades são naturais, são mesmo necessárias. Eu sou magnetizadora há dezessete anos. Ao longo desse tempo, já tive vários períodos em que me declarei impossibilitada de magnetizar: tive muitas pneumonias, infecções respiratórias, precisei fazer cirurgias, crises de coluna, tenho hérnia de disco inoperável. Tratei todos os meus males com medicina e com magnetismo. Estando enferma, era hora de cuidar de mim. Tornava-me paciente e atendida pelos demais magnetizadores do nosso grupo. Recuperada, voltava devagar a atividade. Jamais fui à exaustão, nem permito que o grupo vá. Em todos esses anos nenhum caso de fadiga fluídica, alguns casos de melindres temporários por afastar alguém que se saiba estar enfermo precisando ser atendido.E quantos a estados emocionais, isso depende da consciência do magnetizador. Ele precisa se conhecer, reconhecer e dizer ao grupo: hoje não estou em condições. Isso é ser responsável e coerente com o conhecimento adquirido. Aliás, na enfermidade física também deveria ser, mas é a ideia falseada do valor do sacrifício, de ir à exaustão, e esquecer que o magnetizador transmite suas energias com a coloração que elas têm em seu ser, logo se estou doente, posso contaminar meu magnetizado com minhas dores e achaques, se enfrento uma crise emocional vou transmitir angustia, raiva, etc.

Boas intenções e boa vontade não bastam, é preciso ser responsável e coerente consigo, com o conhecimento que se busca e com os outros. O limite das próprias forças precisa ser conhecido, admitido e usado.

Fonte: Jornal Vortice ANO VIII, Nº 12 - MAIO– 2016

As primeiras “salas” de reuniões mediúnicas?



Wesley Caldeira
caldeirawesley@ig.com.br

A arte é o espelho de uma época, ou a narrativa visual de um tempo, e sua finalidade – segundo bem intuiu o escritor Oscar Wilde – é criar um estudo da alma.

O homem pré-histórico era fascinado com a pintura na rocha.

Entre 60 e 30 mil anos atrás ocorreu a primeira grande transformação no comportamento humano, chamada explosão cultural ou explosão criativa do Paleolítico Superior. Subitamente – após 2,5 milhões de anos desde o aparecimento da linhagem Homo, e passados quase 100 mil anos, desde a chegada do último membro dessa linhagem, o Homo sapiens sapiens – surgem os primeiros objetos de tecnologia complexa e as primeiras manifestações artísticas e ideias religiosas.

Durante o século XX, os estudiosos polemizaram explicações para a arte na rocha.

Essas pinturas, de modo geral, retratavam a vida do caçador. Um grupo delas, porém, foi produzido sem qualquer intenção decorativa ou ocupacional, apresentando características enigmáticas que desautorizam a hipótese geral, pois:
  • esse grupo especial de pinturas foi gravado não em locais em que pudesse ser admirado, mas em paredes altas de cavernas completamente escuras, profundas, inóspitas, algumas quase inacessíveis; e
2) tais pinturas não se referem somente à fauna, mas também a temas abstratos, figuras que não se relacionam com o mundo material, compostas de pontos, linhas, formas geométricas, às vezes associadas à fauna. Outras vezes são detalhes de animais enxertados no corpo humano e vice-versa, formando novas e estranhas criaturas.

Nos anos de 1980, o arqueólogo David Lewis-Williams, apoiado em experimentos neu rológicos e estudos sobre as tradições xamânicas e artísticas dos bosquímanos de seu país, a África do Sul, propôs que essas pinturas são registros de visões obtidas em estados alterados de consciência, isto é, em transe – a base fenomênica para as experiências mediúnicas. Elas não são pinturas da natureza, mas de imagens percebidas pela mente em estados de consciência incomuns. Seu livro The mind in the cave – consciousness and the origins of art (A mente na caverna – consciência e as origens da arte),1 sobre a importância dos estados alterados de consciência para a evolução humana e a arte rupestre, concluiu:

[…] o limiar crucial na evolução humana foi entre duas espécies de consciência, e não simplesmente entre uma inteligência moderada e uma inteligência avançada.1 (Traduzimos.)

A conclusão de Lewis‑Williams é revolucionária: o marco mais importante da evolução da espécie humana foi o início da relação/influência entre a consciência comum e os estados alterados de consciência.

Hoje, uma geração de especialistas também acredita que algumas dessas gravuras eram similares às imagens formadas na mente do homem primitivo nos estágios de aprofundamento do transe.

O inglês Julian Bell, em seu magnífico Uma nova história da arte,2 também se perguntou por que aquelas pessoas “se recolhiam da luz do sol em passagens frias, escuras e perigosas” para praticar a pintura nas cavernas. Sua tese é:

A arte antiga gira em torno de forças e princípios invisíveis que fazem o mundo ser tal como é, mas que são ao mesmo tempo pessoas. Em outras palavras, gira em torno do que chamaríamos de “deuses”. Mais que isso, ela se dirige a essas pessoas: procura, por meio da criação de imagens, conferir-lhes uma localização e uma forma corpórea (amiúde um animal).2 (Grifamos.)

As cavernas eram o espaço físico do lar do homem pré-histórico, mas algumas eram templos, lugares dos Espíritos, dos “deuses”. Representavam uma passagem entre o mundo físico e o mundo invisível; um local sagrado e secreto que permitia, por meio de técnicas arcaicas de transe, romper o véu que separava o mundo do homem primitivo e o mundo espiritual.

Com a arte na pedra, “o invisível saltou para a visibilidade” – asseverou Julian Bell.2 Foram as primeiras imagens que deram ao homem pré-histórico algum sentido para o mundo.

As gravuras encontradas em cavernas europeias, como as de Lascaux, na França, e as de Altamira, na Espanha – considerada a Capela Sistina da Pré-História –, são famosas pela incomparável riqueza técnica e estética. Quando se descobriu a primeira galeria dessas pinturas, em Altamira, 1789, os estudiosos se recusaram a aceitar que elas datassem da Pré-História, influenciados pela proposta evolucionista, nos moldes sugeridos por Darwin. Os artistas pré-históricos pintavam com uma confiança e habilidade próprias do mundo moderno. De fato, a perícia e a beleza de suas imagens causam assombro. Picasso, ao visitá-las, disse: “Nós não aprendemos nada”.

No Brasil, entre os principais conjuntos pictóricos estão, sem dúvida, os do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, norte de Minas Gerais. Os sedimentos encontrados nas suas camadas arqueológicas mais antigas datam de 11 mil anos. A Lapa dos Desenhos impressiona. Alguns painéis de gravuras chegam a dez metros de altura. Múltiplos temas estão pintados na rocha, trabalhados em variedade de cores, traços e detalhes. Ora são representações humanas, ora figuras de animais, formas geométricas e símbolos misteriosos.

Joaquim Perfeito da Silva,3 professor-pesquisador Ph.D. da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, defende a existência de uma conexão entre as práticas xamânicas e as pinturas do Peruaçu.

Os antropólogos denominam xamãs os indivíduos de sociedades primitivas capazes de terem contato com seres da dimensão espiritual. Ao atingirem o transe, seus corpos caem imóveis, suas almas se emancipam, desprendem-se, e são guiadas por Espíritos aliados, em excursões pelo plano espiritual – o típico transe xamânico: “o voo da alma”.

Para chegar ao estado mediúnico, os xamãs utilizam as técnicas arcaicas de êxtase: a música de ritmo repetitivo, o jejum, a privação sensorial, obtida com o isolamento na escuridão (daí, na Pré-História, o tipo especial de cavernas que escolhiam), o consumo de plantas e fungos psicoativos, com o objetivo de reduzir a atividade do córtex cerebral e abrir o mundo neurológico para outras formas e percepção da mente.

Nesse estado, os xamãs pré-históricos recebiam orientações do mundo dos Espíritos sobre a cura de doenças, as rotas de sobrevivência, ou seja, as melhores condições de clima, caça, pesca, frutos. Quando regressavam do transe, algumas vezes transferiam para as paredes das grutas as lembranças dos fenômenos psíquicos e mediúnicos experimentados, matizadas de simbolismo mágico, na forma de códigos visuais. Os animais reproduzidos estavam associados a um potencial mágico, de acordo com o poder pelo qual eram admirados na natureza.

Os fenômenos mediúnicos, portanto, apareceram já na Pré-História. E algumas grutas foram, de certo modo, as primeiras “salas mediúnicas”.

O Espírito André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier,4 esclareceu que o homem do período paleolítico – por ele chamado de infraprimitivo4 – ainda não dispunha de recursos em si para enfrentar o desconhecido na dimensão espiritual. Liberto do corpo físico pela morte, sentia-se como um menino amedrontado. Na rudeza da caverna em que se escondia, era surpreendido pela morte como a criança “deslumbrada à frente de paisagem maravilhosa, cuja grandeza, nem de leve, pode ainda compreender”.4

Por isso, buscava segurança no magnetismo do clã e se confinava na ideia depressiva de voltar à vida material, que lhe surgia “à imaginação como sendo a única abordável à própria mente”.4

A visita dos Espíritos, mesmo os benevolentes e sábios, estarrecia-o, levando-o a crer-se “à frente de deuses bons ou maus, cuja natureza ele próprio se incumbe de fantasiar, na exiguidade das próprias concepções”.4

Os xamãs – assim acreditamos – foram iniciadores do homem pré-histórico quanto à vida no mundo espiritual, preparando-o para outra condição individual, de consciência mais lúcida. Com os séculos, e na medida em que foi introduzido em novos campos de indagação, entendimento e trabalho, o homem passou a despertar, após a morte, mais familiarizado com a realidade espiritual e melhor capacitado para refletir sobre as relações entre os dois planos da vida, no capítulo moral da causa e efeito.

A mediunidade é uma aptidão natural. O homem caminha pelas eras desenvolvendo sua capacidade de interação com os Espíritos. O termo “mediunismo”, todavia, nomeia com mais propriedade o período primitivo desse desenvolvimento. Apenas quando a mediunidade passa a ser vivida de maneira racional e comprometida com valores éticos é que melhor se lhe conforma essa designação.

Com o Espiritismo, codificado por Allan Kardec a partir de 1857, o exercício mediúnico alcançou outro nível teórico, ético e prático, favorecendo que a mediunidade se eleve da categoria de fenômeno psíquico para a de verdadeira faculdade do ser.  

REFERÊNCIAS:

1 LEWIS-WILLIAMS, David. The mind in the cave – consciousness and the origins of art. Londres: Editora Thames & Hudson, 2002. p. 285. (1ª publicação no Reino Unido). O professor David Lewis-Williams é renomada autoridade sobre a antiga arte na rocha e leciona na Witwatersrand, a mais afamada universidade da África do Sul.

2 BELL, Julian. Uma nova história da arte. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2008. p. 18 e 17, respectivamente. O professor Julian Bell ensina teoria e história da arte na tradicional City & Guilds of London Art School, fundada em 1879. Seus quadros são expostos em vários países e ele escreve resenhas sobre arte e livros para importantes jornais do mundo.

3 MNEME – Revista de Humanidades – dossiê arqueologias brasileiras, v. 6, n. 13, dez. 2004/jan. 2005. Artigo Uma interpretação levistraussiana das representações rupestres da Gruta do Índio, Vale do Peruaçu, MG.


4 XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 27. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. pt. 1, cap. 12, it. Além da histogênese, p. 90; O selvagem desencarnado, p. 91-92, respectivamente

quinta-feira, 23 de junho de 2016

História da Era Apostólica - Novas perguntas


“A diversidade de imagens de Jesus levanta a suspeita de que os retratos de Jesus sejam na verdade auto-retratos de seus autores.”1

HAROLDO DUTRA DIAS

O reinado de Guilherme II (1859-1941) assistiu, na Alemanha, ao florescimento do liberalismo teológico e da pesquisa “clássica” sobre a história do Cristianismo, cuja característica marcante foi a exploração histórico-crítica das fontes literárias, visando a reconstrução da personalidade e da vida de Jesus, ao menos na concepção dos seus expositores mais destacados.

Inaugurava-se a Terceira Fase da pesquisa histórica do Cristianismo sob a influência de desmedido otimismo. F. Baur defendia a primazia dos sinóticos sobre o Evangelho de João. H. Holzmann propunha a teoria das duas fontes,
segundo a qual Marcos e “Q”2 representavam as mais antigas e confiáveis fontes para a reconstrução do quadro biográfico do Cristo.

O colapso do liberalismo teológico, porém, veio mais cedo do que se imaginava, em virtude de três fatores: a constatação do caráter fragmentário dos evangelhos, que impediria qualquer esforço de extrair um “desenvolvimento” da personalidade de Jesus a partir da seqüência narrativa do evangelho de Marcos; o caráter tendencioso das fontes antigas, visto que o evangelista privilegiava determinada mensagem, ainda que em detrimento de uma suposta “precisão histórica”; o elemento projetivo das biografias sobre Jesus, uma vez que os biógrafos retratavam a personalidade do Mestre ao sabor das suas preferências e conveniências pessoais.

O ocaso da Teologia Liberal contribuiu para o surgimento da chamada “Teologia Dialética”, herdeira da filosofia existencialista de Heidegger, segundo a qual “o ser humano conquista sua ‘autenticidade’ apenas na decisão, a qual não pode ser assegurada mediante argumentos objetiváveis (como o conhecimento histórico).
Para um existencialismo cristão a decisão é a resposta ao chamado de Deus no querigma3 da cruz e da ressurreição de Cristo, que  o ser humano compreende por meio de um morrer e viver existencial em Cristo”.4

O trabalho de R. Bultmann (1884-1976), o mais destacado exegeta da Teologia Dialética, reflete o ceticismo histórico que tomou conta dos pesquisadores, após o colapso da pesquisa tradicional. Na sua concepção, o Cristianismo começa apenas com a Páscoa, razão pela qual conclui que o ensino de Jesus não é relevante para uma Teologia Cristã. Nessa abordagem, o Jesus histórico não é objeto nem fundamento da pregação neotestamentária, que se baseia exclusivamente no “Cristo” percebido e divulgado após o Pentecostes (Cristo Querigmático).5

A Quarta Fase da pesquisa, desenvolvida no círculo dos discípulos de Bultmann, propõe uma “nova pergunta” pelo Jesus histórico, buscando o elo entre a pregação
pós-pascal dos apóstolos e a pregação do próprio Jesus. Enquanto a “antiga pergunta” (Teologia Liberal) contrapunha Jesus à pregação da Igreja, a “nova pergunta” procura harmonizar esses dois elementos.

No lugar da reconstrução crítico-literária das fontes, a metodologia da Teologia Dialética se concentra na comparação entre a história das religiões e a história da tradição evangélica.Nesse contexto, assume papel relevante o intitulado “critério da diferença”, segundo o qual, para se reconstruir um mínimo de tradição autêntica sobre Jesus, torna-se necessário excluir tudo que possa ser derivado tanto do Judaísmo quanto da pregação apostólica, nabusca da voz “original” do Cristo.

Na opinião dos estudiosos do tema:

[...] com o fim da escola bultmaniana ficaram cada vez mais evidentes as arbitrariedades da “nova pergunta” pelo Jesus histórico. Ela era basicamente determinada pelo interesse teológico de fundamentar a identidade cristã ao distingui-la do judaísmo e de garanti-la ao separá-la de heresias cristãs primitivas (como a gnose e o entusiasmo carismático).Por isso ela deu preferência a fontes ortodoxas e canônicas.6

Assim, o esforço para minimizar os contornos judaicos da mensagem cristã constitui o aspecto problemático dessa abordagem, já que favoreceu o anti-semitismo, desfigurando o pano de fundo histórico dos evangelhos para torná-lo mais palatável aos existencialistas.

A Quinta Fase da pesquisa, também conhecida como terceira busca (Third Quest), que se desenvolveu, sobretudo, nos países de fala inglesa, procura superar essas
idiossincrasias. Nela, o interesse histórico-social substitui o interesse teológico, ao passo que a inserção de Jesus no Judaísmo substituiu o interesse de separá-lo das
suas bases históricas e sociais. Há, também, maior abertura a fontes não-canônicas (em parte heréticas), tais como os apócrifos.

Em suma, munidos dos novos instrumentos da pesquisa hodierna, tais como história antiga, crítica literária, crítica textual, filologia, papirologia, arqueologia, geografia, religião comparada, os atuais pesquisadores tentam reconstruir o ambiente sociocultural de Jesus, de modo a experimentar o efeito que as palavras do Mestre produziram nos ouvintes da sua época.

Nesse esforço, procura-se evitar juízos preconcebidos, premissas rígidas, preconceitos étnicos, deixando que a mensagem se estabeleça ainda que contrariamente às expectativas dos crentes atuais.
No entanto, ao montar o quebra-cabeça da história do Cristianismo Primitivo com as escassas peças disponíveis, nem sempre é possível ao pesquisador humano dispensar certa dose de imaginação.

Na avaliação de Gerd Theisen:

[...] todas as descrições de Jesus contêm um elemento construtivo que vai além dos dados contidos nas fontes. A imaginação histórica cria com suas hipóteses uma “aura de ficcionalidade” em torno da figura de Jesus, assim como a imaginação religiosa do Cristianismo primitivo. Pois tanto aqui como lá atua uma grande força imaginativa, acesa pela mesma figura histórica. Em ambos os casos, ela opera de forma aberta: símbolos religiosos, imagens e mitos permitem sempre nova interpretação, hipóteses históricas permitem sempre nova correção.Neste processo, nem a construção religiosa, nem a reconstrução histórica da história de Jesus procede com arbitrariedade, mas com base em convicções axiomáticas. A imaginação religiosa do cristianismo primitivo é conduzida pela sólida crença de que por meio de Jesus é possível fazer contato com Deus, a realidade última. A imaginação histórica é determinada pelas convicções básicas da consciência histórica: todas as fontes se originam de seres humanos falíveis e devem, portanto, ser submetidas à crítica histórica.7

O espírita-cristão, abençoado pela revelação dos Espíritos superiores, especialmente na produção mediúnica de Francisco Cândido Xavier, conta com um elemento precioso, muitas vezes negligenciado. Os romances do Benfeitor Emmanuel constituem detalhado processo de reconstrução dos três primeiros séculos do Cristianismo.

Nesses romances, alguns dados da pesquisa histórica puramente humana são confirmados, todavia, muitas retificações são feitas, de forma sutil. Exige-se do leitor exame cuidadoso, sob pena de serem divulgadas informações espiritualmente incorretas, apenas porque determinado pesquisador encarnado as defenda em suas obras.

Nesse sentido, é valiosa a advertência de Emmanuel:

[...] Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, no estudo das idéias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do Cristianismo.

[...] É que, portas a dentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos.8

Vê-se que a proposta da Espiritualidade superior reside na conjugação da Razão e da Fé, razão pela qual, antes de iniciarmos nosso estudo da “História Apostólica”, à
luz da obra Paulo e Estêvão, decidimos fazer um histórico da pesquisa acadêmica, a fim de evitar, ou pelo menos conhecer, as extravagâncias e equívocos de seus expositores.

Referência:

1THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 31.
2Termo alemão que significa “fonte”. Schleiermacher foi o primeiro a propor a existência de uma coletânea de declarações de Jesus como uma das fontes dos evangelhos. Alguns críticos acreditam que Papias faz referência a esse documento quando
3No grego, essa palavra (querigma) significa “a coisa pregada”, a pregação dos primeiros cristãos, ou melhor, o conjunto de crenças básicas por eles defendidas e
divulgadas.  menciona a existência das “Logias” de Levi. Todavia, cumpre salientar que não há comprovação histórica da existência do referido documento. O trabalho dos estudiosos tem sido selecionar ditos de Jesus, nos evangelhos de Mateus e Lucas, ausentes no evangelho de Marcos, propondo que essa seleção aponte para a suposta fonte “Q”. Em resumo, estamos diante de uma hipótese que deve ser analisada com cautela.
4THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 31.
5O Cristo retratado na pregação dos apóstolos e dos primeiros cristãos do Século I.
6THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 28.
7THEISEN, Gerd; MERZ,Annette. O Jesus histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 31.
8XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XIV, item “A redação dos textos definitivos”, p. 124-125.

Fonte: Reformador Ano 126 • Nº 2. 146 • Janeiro  2008


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O Novo Testamento - Redação

História da Era Apostólica - A fé transporta montanhas


HAROLDO DUTRA DIAS
  
“Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém
adorareis o Pai [...] Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade.”1

A passagem acima citada diz respeito ao encontro da mulher de Samaria com Jesus. A samaritana indaga quanto ao verdadeiro local de adoração a Deus, se no monte Gerazim (Samaria) ou, ao contrário, no monte Sião (Jerusalém). O Mestre lhe responde, todavia, que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e verdade, não em pontos geográficos fixos.

Com o Cristo, transportam- se as montanhas sagradas, da tradição bíblica, para o interior da alma. Assim, haverá um santuário espiritual erguido ao Criador em todos os lugares da Terra onde estiver presente um espírito sincero e fervoroso, visto que a adoração terá lugar portas adentro do coração.

A fé transporta montanhas. Mudando o enfoque, urge reconhecer que a edificação do “Reino de  Deus” representa verdadeira obra divina a desdobrar- -se, também, no coração dos seres. No entanto, não raro, exige trabalhos ingentes, inúmeros sacrifícios e lutas acerbas, decorrentes do esforço de superação das nossas deficiências íntimas.

Desse modo, com o propósito de debelar o pessimismo, o desânimo, a incerteza, a hesitação, Jesus nos ensina que: “[...] se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível”.2

 A fé “é força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que é a sabedoria da própria vida [...]”,3 não obstante as adversidades de cada dia. Consoante o ensino de Emmanuel:

Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade.

Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer: “eu creio”, mas afirmar: “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude  de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.

Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe  enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça- se no escravo a vontade do Senhor”.4

Sensível aos desafios que o progresso espiritual apresenta, Allan Kardec asseverou:

 [...] As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em  suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade.[...]5

A fé transporta montanhas. Noutro giro, consultando o dicionário constata-se que o vocábulo “fé” cobre um amplo espectro de significados, tais como: “[...] confiança absoluta (em alguém ou algo); [...] crédito, [credibilidade] (um homem digno de fé); [...] asseveração, afirmação, comprovação de algum fato; [...] compromisso assumido de ser fiel à palavra dada, de cumprir exatamente o que se prometeu”.
6 (Destaque do autor.)

A palavra “fé” é utilizada para  traduzir, na Bíblia hebraica (Velho Testamento), o radical “aman” (confirmar, sustentar; estabelecer- se; ser fiel; estar certo, crer em), bem como os seus derivados, em especial, os termos “omen” (verdade, fidelidade) e “emuna” (firmeza, fidelidade).

Vê-se que, no âmago dos significados dessa raiz, está a idéia de certeza, mas também o sentido de “ser fiel” (2 Crônicas 19:9).

Por sua vez, no Novo Testamento, utiliza-se o vocábulo “fé” para traduzir a expressão grega7 “pistis” (fé, confiança depositada nas pessoas ou nos deuses), e especialmente seu derivado “to piston” (confiabilidade ou fidelidade daqueles que se obrigam por um contrato).

Nesse ponto, Humberto de Campos vem em nosso socorro, reproduzindo belíssimo diálogo de Jesus com os discípulos:

– Na causa de Deus, a fidelidade deve ser uma das primeiras virtudes. Onde o filho e o pai que não desejam estabelecer, como ideal de união, a confiança integral e recíproca? Nós não podemos duvidar da fidelidade do nosso Pai para conosco. Sua dedicação nos cerca os espíritos, desde o primeiro dia. Ainda não o conhecíamos e já Ele nos amava. E, acaso, poderemos desdenhar a possibilidade de retribuição? Não seria repudiarmos o título de filhos amorosos, o fato de nos deixarmos absorver no afastamento, favorecendo a negação?

 [...] É certo que as forças destruidoras reclamarão a indiferença e a submissão do filho de Deus; mas, o filho de coração fiel a seu Pai se lança ao trabalho com perseverança e boa vontade. Entrará  em luta silenciosa com o meio, sofrer-lhe-á os tormentos com heroísmo espiritual, por amor do Reino que traz no coração plantará uma flor onde haja um espinho; abrirá uma senda, embora  estreita, onde estejam em confusão os parasitos da Terra; cavará pacientemente, buscando as entranhas do solo, para que surja uma gota d’água onde queime um deserto. Do íntimo desse trabalhador brotará sempre um cântico de alegria, porque Deus o ama e segue com atenção.8

Munidos de fé sincera estaremos em condições de atravessar esses difíceis momentos de transição do orbe terrestre, bem como triunfar nas provas e expiações, rumo à iluminação espiritual.

É preciso procurar “[...] as águas vivas da prece para lenir o coração, mas não nos esqueçamos de acionar os nossos sentimentos, raciocínios e braços, no progresso e aperfeiçoamento de nós mesmos, de todos e de tudo, compreendendo que Jesus reclama obreiros diligentes para a edificação de seu Reino em toda a Terra”.9

A fé transporta montanhas.

Fonte: Reformador Ano 126 • Nº 2. 149 • Abr i l 2008

Referência:

1Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo: PAULUS, 2004. João, 4: 21-24, p. 1851.
2Idem, ibidem. Mateus, 17: 20, p. 1735.
3XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 6, p. 32.
4XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão 354.
5KARDEC, Allan. O Evangelho  segundo o Espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XIX, item 2.
6HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco M. M. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: OBJETIVA, 2007. p. 1317.
 7Todos os manuscritos do Novo Testamento, encontrados e catalogados até o presente momento, estão redigidos na língua grega, excetuando-se os manuscritos referentes às diversas traduções desse mesmo texto. 32 150 Reformador • Abr i l 2008
8XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 6, p. 49-50 e 53-54.
9XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. Cap. 69, p. 180-181.


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