terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A GRAVIDEZ DE ESPÍRITOS


Paulo da Silva Neto Sobrinho

Vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança.
(KARDEC)

 Numa reunião de estudos doutrinários, um frequentador principiante dirigiu-nos a seguinte pergunta: poderia ocorrer a gravidez de espíritos? Ao que lhe respondemos: até onde nós sabemos não. Retrucou-nos: mas existe um livro espírita, citando-lhe o título, que fala disso. Não o conhecíamos; entretanto, dissemos-lhe que iríamos procurar estudá-lo, pois não poderíamos emitir opinião sobre algo de que não tínhamos nenhum conhecimento; isso não seria muito ético.

Fomos, então, buscar a informação no livro Infinitas Moradas, do qual transcreveremos uma parte. É um trecho específico de um suposto diálogo entre o Dr. Inácio Ferreira com Odilon Fernandes; ambos, já na condição de espíritos desencarnados. Inicia-se com a fala de Dr. Inácio:

- Com tanta grandeza acima de nossas cabeças e nós insistindo em continuar a ver o que temos sob os pés!... Por mais me esforce, eu não entendo esse pessoal que deixa o corpo e prossegue na mesma... Não era para que, deste Outro Lado, tivéssemos hospitais, vales de expiação e nem tampouco regiões trevosas. Nem esses nossos irmãos com problemas de deformidade no corpo espiritual, ao ponto de necessitarem praticamente de um novo nascimento por aqui, com a finalidade de readquirirem a forma humana, antes de um novo mergulho na carne.

 - É um tema que transcende este, Inácio, sobre o qual, infelizmente, não devemos nos aprofundar com os nossos companheiros encarnados que, a bem da verdade, ainda revelam dificuldade para aceitar a Reencarnação como ela é... Eles não entenderiam a “gravidez” perispiritual nas regiões inferiores, onde seres que padecem aberrações de forma carecem de um renascimento como recurso terapêutico. Deixemos que a semente da ideia floresça naturalmente. Se se “morre” por aqui, por que também não se renasceria?...

 - Ou nasceria, não é?

 - Sim, ou nasceria, pois, se os Espíritos Superiores confirmaram a Allan Kardec que em a Natureza nada dá saltos, como explicar-se, por exemplo, sem elementos de transição em nosso Plano, a primeira encarnação humana do princípio espiritual? O corpo humano não está apto a receber entidades primárias, sem que o seu organismo perispiritual tenha, antes, humanizado a forma. Os primeiros nascimentos acontecem aqui!... Mas, repito, talvez isto seja muito para a cabeça de quantos ainda não conseguiram, por si mesmos, intuir semelhante realidade. O assunto tem gerado polêmicas, e não podemos comprometer a tarefa que, apesar dos pesares, tem produzido frutos de significativa qualidade.

- Talvez eu tenha me excedido...
(BACCELLI, 2003, p. 59-60) (grifo nosso).

Bom, não há dúvida alguma sobre o que o nosso companheiro nos informou a respeito de haver um livro abordando o assunto da gravidez de espíritos, que se trata, obviamente, de assunto inédito no meio espírita.

Como estudioso da Doutrina Espírita e, especialmente, por estar, momentaneamente, exercendo a função de instrutor, cabe-nos o dever de verificar se encontraremos apoio para isso nas obras básicas da codificação, uma vez que, como o próprio Kardec disse, a opinião de um espírito não passa apenas de uma opinião e dela não podemos assentar base para ponto doutrinário, conforme podemos confirmar nestas suas falas, transcritas da Revista Espírita, dos anos de 1865 e 1866, respectivamente:

O Espiritismo não é mais a obra de um único Espírito como não é a de um único homem; é a obra dos Espíritos em geral. Segue-se que a opinião de um Espírito sobre um princípio qualquer não é considerada pelos Espíritos senão como uma opinião individual, que pode ser justa ou falsa, e não tem valor senão quando é sancionada pelo ensino da maioria, dado sobre os diversos pontos do globo. Foi esse ensino universal que fez o que ele é, e que fará o que será. Diante desse poderoso critério caem necessariamente todas as teorias particulares que sejam o produto de ideias sistemáticas, seja de um homem, seja de um Espírito isolado. Uma ideia falsa pode, sem dúvida, agrupar ao seu redor alguns partidários, mas não prevalecerá jamais contra aquela que é ensinada por toda a parte. (KARDEC, 2000a, p. 306)  (grifo nosso).

 Quando tratarmos essas questões, o faremos sem cerimônia; mas é que, então, teremos recolhido os documentos bastante numerosos, nos ensinos dados de todos os lados pelos Espíritos, para poder falar afirmativamente e ter a certeza de estar de acordo com a maioria; é assim que fazemos todas as vezes que se trata de formular um princípio capital. Nós os dissemos cem vezes, para nós a opinião de um Espírito, qualquer que seja o nome que traga, não tem senão o valor de uma opinião individual; nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, para as coisas que não podemos controlar por nossos próprios olhos. De que nos serviria dar prematuramente uma doutrina como uma verdade absoluta, se, mais tarde, ela devesse ser combatida pela generalidade dos Espíritos? (KARDEC, 1993c, p. 191) (grifo nosso).

Fica claro que a opinião pessoal de um espírito não faz corpo de doutrina. Acrescentamos, por nossa conta, que a opinião de um espírita, seja ele quem for, também não faz corpo doutrinário.

Conforme se vê em Obras Póstumas Kardec desde o ano de 1855, ou seja, bem no início da Codificação, já conseguira formar conceito disso, cujo motivo nos explica:

Um dos primeiros resultados de minhas observações foi que os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não tinham a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida desde o princípio, me preservou do grande escolho de crer em sua infalibilidade, e me impediu de formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns. (KARDEC, 2006, p. 299) (grifo nosso).

Dessa forma, Kardec preservou-se de crer na infalibilidade dos espíritos, algo que também não podemos deixar de considerar, sob pena de cairmos nas malhas de espíritos pseudossábios, “que se comprazem vendo editados suas fantasias e utopias e isso por homens que conseguiram enlear a ponto de fazê-los aceitar, de olhos fechados, tudo quanto lhes debitam, oferecendo alguns poucos grãos de boa qualidade em meio ao joio”. (KARDEC, 2000b, p. 96).

 Inicialmente, veremos que, em O Livro dos Espíritos, à pergunta de Kardec se os Espíritos tinham sexo (200), a resposta dos Espíritos foi: “Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.” (KARDEC, 1995a, p. 134).

 Segundo podemos entender dessa resposta, por lhes faltar uma organização física, os espíritos não têm sexo. Se não há sexo, como haveria a relação sexual para a consequente fecundação do óvulo pelo espermatozoide? Além disso, onde o gameta fecundado se fixaria?

 Da resposta dos Espíritos à questão 822a, transcrevemos este trecho: “Os sexos, além disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles” (KARDEC, 1995a, p. 381) e acrescentamos do próprio Kardec: “Não se sabe, de resto, que os Espíritos só têm sexo para a encarnação?” (KARDEC, 2000b, p. 107), mantém-se, portanto, coerência com o que foi dito anteriormente.

 Mais à frente, quando o assunto é a evolução do princípio inteligente, especificamente no momento que ele sai do reino animal para estagiar no reino hominal, à pergunta (607b), feita por Kardec aos espíritos, se o período de humanização principia na Terra, eles respondem que “a Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra” (KARDEC, 1995a, p. 300).

Vindo do reino animal, obviamente, com um perispírito adequado àquele reino, ele, o princípio inteligente, não se liga a um corpo humano igual ao nosso, mas a um corpo humano muito mais próximo ao dele, adaptado às condições ambientais dos planetas primitivos. Esse corpo humano, tão análogo ao dos animais, não oferece nenhuma dificuldade de adaptação a esse novo estágio evolutivo pelo qual ele passa. Certamente que isso não ocorre de um dia para o outro, mas em milhares de anos, sem que haja solução de continuidade: “tudo se encadeia na Natureza”. Foi o que aconteceu aqui na Terra, quando ainda era um planeta primitivo, com os seres dos quais descendemos, que mais pareciam animais que propriamente seres humanos da forma que somos hoje. Kardec, tecendo considerações sobre a hipótese da origem do corpo humano, disse que “como em a Natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros homens aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e não muito também pela inteligência.” (KARDEC, 1995b, p. 213).

Assim, podemos perceber que a transição do princípio inteligente do reino animal para o hominal ocorreu num corpo físico adequado àquela fase, e na época em que a Terra ainda era um planeta primitivo, transição essa que, pelo que entendemos, deita por terra a afirmativa de que “O corpo humano não está apto a receber entidades primárias, sem que o seu organismo perispiritual tenha, antes, humanizado a forma. Os primeiros nascimentos acontecem aqui!...” (grifo nosso), dita no diálogo entre os dois espíritos – Dr. Inácio e Odilon.

Em O Céu e o Inferno, no capítulo II, da segunda parte, quando dos relatos sobre as manifestações dos Espíritos Felizes, encontramos a afirmativa de que “os Espíritos não se reproduzem” e que “os Espíritos não podem ter sexo”. Kardec, em nota, explica: “Sempre disseram que os Espíritos não têm sexo, sendo este apenas necessário à reprodução dos corpos. De fato, não se reproduzindo, o sexo ser-lhes-ia inútil.” (KARDEC, 1995c, p. 183). Assim, fica claro que os Espíritos não se reproduzem; por conseguinte, não há como se falar em gravidez de Espírito, que, se ocorresse, aí sim, teríamos a tal gravidez perispiritual.

Na Revista Espírita 1859, Kardec trata dos agêneres, que assim define em O Livro dos Médiuns: “É o estado de certos Espíritos que podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva, ao ponto de causar completa ilusão. (Do grego – a, privativo, e - géiné, géinomaï, gerar; que não foi gerado.)” (KARDEC, 1996, p. 485) que, após tecer vários comentários, faz várias perguntas ao Espírito São Luís, das quais, destacamos: “Podem eles procriar? -R. Deus não lhes permitiria; seria contrário às leis que estabeleceu para a Terra; elas não podem ser elididas”. (KARDEC, 1993a, p. 39). Os agêneres não podem, pois, procriar porque ainda estão na condição de Espíritos desencarnados; é simples, não?

Novamente, encontraremos Kardec falando sobre o assunto na Revista Espírita, anos 1862 e 1866:

De outro lado, é preciso considerar que os Espíritos se desmaterializam à medida que se elevam e se depuram; que não é senão nas classes inferiores que a encarnação é material; para os Espíritos superiores, não há mais encarnação material, e, consequentemente, mais procriação, porque a procriação é para o corpo e não para o Espírito. […] (KARDEC, 1993b, p. 219) (grifo nosso).

As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que as une nada têm de carnal, e, por isto mesmo, são mais duráveis, porque são fundadas sobre uma simpatia real, e não são subordinadas às vicissitudes da matéria.

 [...]

 Os sexos não existem senão no organismo; são necessários à reprodução dos seres materiais; mas os Espíritos, sendo a criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, é por isto que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual. (KARDEC, 1993c, p. 3) (grifo nosso).

Essas duas falas resumem tudo quanto de mais importante poderíamos encontrar na codificação; não precisaríamos de mais nada; mas, ainda vamos continuar a nossa pesquisa em outras obras.

 Vamos, agora, recorrer ao espírito André Luiz, autor espiritual da obra Evolução em dois mundos, pela psicografia de Chico Xavier, para elucidarmos ainda mais esse assunto. André Luiz cita uma situação onde será necessário recompor a forma espiritual humana, conforme podemos ler quando ele fala sobre o monoideísmo:

Estabelece-se nele o monoideísmo pelo qual os outros desejos se lhe esmaecem no íntimo.

 Pela oclusão de estímulos outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados, no fulcro dos pensamentos em circuito fechado sobre si mesmo, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo.

 Em tais circunstâncias, se o monoideísmo é somente reversível através da reencarnação, a criatura humana desencarnada, mantida a justa distância, lembra as bactérias que se transformam em esporos quando as condições de meio se lhes apresentam inadequadas, tornando-se imóveis e resistindo admiravelmente ao frio e ao calor, durante anos, para regressarem ao ciclo de evolução que lhes é peculiar, tão logo se identifiquem, de novo, em ambiente propício.

Sentindo-se em clima adverso ao seu modo de ser, o homem primitivo, desenfaixado do envoltório físico, recusa-se ao movimento na esfera extrafísica, submergindo-se lentamente, na atrofia das células que lhe tecem o corpo espiritual, por monoideísmo auto-hipnotizante, provocado pelo pensamento fixo-depressivo que lhe define o anseio de retorno ao abrigo fisiológico.

Nesse período, afirmamos habitualmente que o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciando-se num corpo ovoide (7), o que ocorre, aliás, a inúmeros desencarnados outros, em situação de desequilíbrio, cabendo-nos notar que essa forma, segundo a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da individualidade, a encerrar consigo, conforme os princípios ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de exteriorização da alma, nos círculos terrestres e espirituais, assim como o ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de amanhã, ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir.
_____
(7) Ver no livro “Libertação”, do mesmo Autor espiritual, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, capítulos 6º e 7º, págs. 84 e seguintes, observações sobre estas formas ovoides. — (Nota da Editora.)
(XAVIER, 1987, p. 90-91) (grifo nosso).

Portanto, “na próxima dimensão”, alguns Espíritos perdem a forma perispiritual humana para se transformarem em ovoides. Poderiam eles reencarnar nessas condições? Teriam a necessidade de retomar à forma humana? Enfim, o que acontecerá nessa situação? Vamos, ainda, continuar recorrendo a André Luiz que, mais à frente, diz da necessidade da reencarnação, de uma forma geral:

FORMA CARNAL - Todavia, assim como o germe para desenvolver-se no ovo precisa aquecer-se ao calor da ave que o acolha maternalmente ou do ambiente térmico apropriado, no recinto da chocadeira, e assim como a semente, para liberar os princípios germinativos do vegetal gigantesco em que se converterá, não prescinde do berço tépido no solo, os Espíritos desencarnados, sequiosos de reintegração no mundo físico, necessitam do vaso genésico da mulher que com eles se harmoniza, nas linhas da afinidade e, consequentemente, da herança, vaso esse a que se aglutinam, mecanicamente, e onde, conforme as leis da reencarnação, operam em alguns dias todas as ocorrências de sua evolução nos reinos inferiores da Natureza.

 Assimilando recursos orgânicos com o auxílio da célula feminina, fecundada e fundamentalmente marcada pelo gene paterno, a mente elabora, por si mesma, novo veículo fisiopsicossomático, atraindo para os seus moldes ocultos as células físicas a se reproduzirem por cariocinese, de conformidade com a orientação que lhes é imposta, isto é, refletindo as condições em que ela, a mente desencarnada, se encontra.

 Plasma-se-lhe, desse modo, com a nova forma carnal, novo veículo ao Espírito, que se refaz ou se reconstitui em formação recente, entretecido de células sutis, veículo este que evoluirá igualmente depois do berço e que persistirá depois do túmulo. (XAVIER, 1987, p. 91-92) (grifo nosso).

Deixa clara a questão do Espírito ter que cumprir a lei da reencarnação, entrando, novamente, num corpo feminino, via óvulo fecundado, para seguir o curso normal do processo reencarnatório; e, em especial, para os casos dos Espíritos em forma de ovoides, ele diz:

Os Espíritos categoricamente inferiores, na maioria das ocasiões, padecendo monoideísmo tiranizante, entram em simbiose fluídica com as organizações femininas a que se agregam, experimentando o definhamento do corpo espiritual ou o fenômeno de “ovoidização”, sendo inelutavelmente atraídos ao vaso uterino, em circunstâncias adequadas, para a reencarnação que lhes toca, em moldes inteiramente dependentes da hereditariedade, como acontece à semente, que, após desligar-se do fruto seco, germina no solo, segundo os princípios organogênicos a que obedece, tão logo encontre o favor ambiencial. (XAVIER, 1987, p. 152-153) (grifo nosso).

Assim é que, mesmo neste caso, há a necessidade da ligação do Espírito em forma de ovoide com o óvulo já fecundado, sem outro procedimento a não ser a redução perispiritual. Interessante é que há, para os reencarnantes, o ato de “restringimento do corpo espiritual” para ligá-lo ao óvulo. Curioso é que o processo de redução perispiritual para a reencarnação é bem semelhante ao ocorrido na ovoidização do perispírito, por fixação mental do Espírito, ainda preso a sentimentos inferiores, dos quais, parece, não querer largar mão.

 O que aqui está sendo dito vem contrariar o que foi afirmado no livro, que estamos analisando, de que Espíritos “com problemas de deformidade no corpo espiritual, ao ponto de necessitarem praticamente de um novo nascimento por aqui, com a finalidade de readquirirem a forma humana, antes de um novo mergulho na carne”, uma vez que tal processo ocorre realmente numa nova encarnação física no nosso plano.

 Podemos, ainda, para corroborar isso, trazer mais a informação ditada pelo espírito Adamastor, na obra Ícaro redimido:

A ovoidização é uma das pungentes enfermidades que pode acometer o espírito depois da morte. Consiste na perda da consciência ativa, quando o eu consciente desmorona-se completamente, em decorrência de atrozes e insuportáveis sofrimentos, voltando-se sobre si mesmo, anulando-se e perdendo todo o contato com a realidade. A atividade consciente da alma entra em letargia, refugiando-se nas camadas do subconsciente. O pensamento contínuo se fragmenta, perdendo seu fio de condução, e a estrutura perispiritual se desfigura completamente, desfazendo sua natural conformação humana, adquirindo o formato aproximado de um ovo, cujas dimensões se aproximam de um crânio infantil. O processo é em tudo semelhante ao das bactérias que se encistam diante de condições adversas de vida, aguardando novas oportunidades para retornarem à atividade normal. A ovoidização é processo incurável no plano espiritual, sendo uma das mais graves enfermidades de nosso mundo, e somente pode ser revertido em reencarnações expiatórias, quando o espírito reencontra-se com novo ambiente de manifestação e pode refazer o metabolismo do seu consciente. Várias reencarnações, porém, se consomem em tentativas frustradas, de modo que a perda evolutiva é imensa para estes infelizes seres. Muitos regridem a condições tão primárias da vida humana que necessitam reencarnar entre povos primitivos, a fim de suportar-lhes a grave patologia, sem se desfazerem em malformações congênitas incompatíveis com a biologia humana. [...] (FREIRE, 2002, p. 28) (grifo nosso).

Juntamos, também, a essa nossa pesquisa, o pensamento do escritor espírita Eurípides Khül, em seu estudo do capítulo XII – Alma e desencarnação, do livro Evolução em dois mundos. Leiamos:

5) O que são os ovoides e qual a origem de sua existência no mundo espiritual?
R - Ovoides são os espíritos que, ainda na fase primitiva da evolução, assumem a forma de ovo, após a desencarnação, em consequência de sua incapacidade em se adaptar à nova maneira de viver, agora no mundo espiritual. A ideia fixa, única, auto-hipnotizante, de renascer na carne, mantém o seu psiquismo ligado na vida carnal e magnetiza-lhe a mente, reprimindo outros estímulos aos órgãos do corpo espiritual, que se retraem e atrofiam, por falta de função. Voltam-se, então, esses órgãos, para a mente, onde se deixam dominar pelos pensamentos. Suas células são atrofiadas pela ideia única de retorno ao veículo físico. É um processo semelhante ao encolhimento do perispírito por ocasião da reencarnação. Enquanto perdura esta situação, o espírito perde a forma humana, assumindo a forma ovoide. O formato de ovo se explica por ser este o berço onde se dá inicio ao processo de renascimento de vários seres, inclusive do próprio homem, que tem o seu corpo físico gerado no óvulo da mãe. Daí por que a mente desses espíritos, fixados na ideia de renascerem para a vida física, plasmam a forma ovoide.

 Assim permanecem até que surja nova oportunidade reencarnatória. Com o processo de reencarnação iniciado, assimilam novos recursos orgânicos, utilizando-se do auxílio de células dos pais. Sua mente passa a elaborar o novo veículo fisiológico, em moldes cuja orientação lhe é imposta. Plasma, desta maneira, nova forma carnal, novo veículo físico, para o que refaz e reconstitui o perispírito, readquirindo a forma humana.

 André Luiz compara essas criaturas a algumas bactérias que, apartadas do seu meio ambiente, tornam-se incólumes ao frio e ao calor, mantendo-se imóveis por longos períodos, mas que entram em atividade tão logo sejam alocadas no ambiente que lhes seja peculiar.

 6) Como é plasmada a nova forma carnal na qual o espírito reencarnante se expressará?
R - Para que se dê o processo reencarnatório que o libertará da forma ovoide, o espírito reencarnante necessita do organismo genésico da futura mãe, com a qual tem afinidade e da qual herdará características físicas, para assimilar recursos orgânicos através da célula feminina, fecundada pelo gene paterno. Sua mente, então, elabora, por si mesma, novo veículo fisiopsicossomático, atraindo células físicas que se reproduzem de conformidade com a orientação que lhe é imposta e refletindo o seu estado evolutivo. Plasma, assim, a nova forma carnal, que irá repercutir no perispírito, através de células sutis, promovendo alterações no corpo espiritual desde o renascimento e que irão perdurar após o túmulo.

 (Fonte: Centro Virtual de Divulgação e Estudos do Espiritismo, Internet) (grifo nosso).

Portanto, temos, aqui, pela opinião desse autor, que é necessária a reencarnação para que o Espírito readquira novamente a forma perispiritual humana.

Voltemos à obra Evolução em dois mundos, porquanto algo importante nela ainda temos para apresentar:

VIDA NA ESPIRITUALIDADE - Na moradia de continuidade para a qual se transfere, encontra, pois, o homem as mesmas leis de gravitação que controlam a Terra, com os dias e as noites marcando a conta do tempo, embora os rigores das estações estejam suprimidos pelos fatores de ambiente que asseguram a harmonia da Natureza, estabelecendo clima quase constante e quase uniforme, como se os equinócios e solstícios entrelaçassem as próprias forças, retificando automaticamente os excessos de influenciação com que se dividem.

 Plantas e animais domesticados pela inteligência humana, durante milênios, podem ser aí aclimatados e aprimorados, por determinados períodos de existência, ao fim dos quais regressam aos seus núcleos de origem no solo terrestre, para que avancem na romagem evolutiva, compensados com valiosas aquisições de acrisolamento, pelas quais auxiliam a flora e a fauna habituais à Terra, com os benefícios das chamadas mutações espontâneas.

 As plantas, pela configuração celular mais simples, atendem, no plano extrafísico, à reprodução limitada, aí deixando descendentes que, mais tarde, volvem também à leira do homem comum, favorecendo, porém, de maneira espontânea, a solução de diferentes problemas que lhes dizem respeito, sem exigir maior sacrifício dos habitantes em sua conservação.

 Ao longo dessas vastíssimas regiões de matéria sutil que circundam o corpo ciclópico do Planeta, com extensas zonas cavitárias, sob as linhas que lhes demarcam o início de aproveitamento, qual se observa na crosta da própria Terra, a estender-se da superfície continental até o leito dos oceanos, começam as povoações felizes e menos felizes, tanto quanto as aglomerações infernais de criaturas desencarnadas que, por temerem as formações dos próprios pensamentos, se refugiam nas sombras, receando ou detestando a presença da luz. (XAVIER, 1987, p. 96-97) (grifo nosso).

Observar, caro leitor, que André Luiz cita as plantas e os animais na espiritualidade; porém, quanto à reprodução ele restringe apenas às plantas e mesmo assim de forma limitada por possuírem “configuração celular mais simples”. Isso torna fato que os animais não se reproduzem no plano espiritual, por terem uma “configuração celular mais complexa”; então, cabe-nos perguntar: por que motivo especial a espécie humana reproduzir-se-ia, considerando que tem configuração celular tão complexa quanto à dos animais?

À pergunta do Dr. Inácio: “E nascem criança por aqui?...”, respondeu André Luiz: “É claro que sim,...” (BACCELLI, 2002, p. 215), não deixa dúvida de que se fala mesmo da gravidez como algo real. Entretanto, por esse estudo, concluímos que a gravidez perispiritual de Espíritos, seguindo-se a ideia do que ocorre aqui na terra, não é uma possibilidade real, porquanto são outras as leis que regem o mundo espiritual. Aliás, se ela ocorresse, só poderia ser mesmo a nível perispiritual, já que o corpo do Espírito, na dimensão espiritual, é o perispírito. Obviamente, essa não deixa de ser também uma opinião pessoal, mas nosso objetivo não é levar o leitor a aceitá-la; mas, apenas provocar-lhe uma reflexão sobre o assunto, de forma a encontrarmos uma solução para o problema levantado. E, que fique claro, que não estamos contra ninguém; apenas analisamos as opiniões, o que, certamente, acontecerá conosco em relação ao que aqui estamos falando.

Referências bibliográficas:

BACCELLI, C. A. Infinitas Moradas. Uberaba – MG: LEEPP, 2003.
BACCELLI, C. A. Na próxima dimensão. Uberaba – MG: LEEPP, 2002.
FREIRE, G. T. Ícaro redimido: a vida de Santos Dumont no Plano Espiritual. Belo Horizonte: Ediame, 2002.
KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 1995b.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1995c.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1995a.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
KARDEC, A. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
KARDEC, A. Revista Espírita 1859. Araras, SP: IDE, 1993a.
KARDEC, A. Revista Espírita 1862. Araras, SP: IDE, 1993b.
KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE, 2000a.
KARDEC, A. Revista Espírita 1866. Araras, SP: IDE, 1993c.
KARDEC, A. Viagem Espírita em 1862. Matão, SP: O Clarim, 2000b.
XAVIER, F. C. Evolução em dois mundos. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
Centro Virtual de Divulgação e Estudos do Espiritismo, Estudo: Alma e desencarnação: http://www.cvdee.org.br/est_nltexto.asp?id=08&cap=12), acesso 11/12/2006, 20:35:hs.

 (A versão original foi publicada na revista Espiritismo & Ciência nº 51, ago/2007, p. 28-33)

Paulo da Silva Neto Sobrinho
Dez/2006.
(revisado jun/2012).
A Era do Espírito


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REFLEXÃO SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO
AUTO DE FÉ DE BARCELONA
ACERCA DA AURA HUMANA
COMO PODEMOS INTERPRETAR A FRASE DE JESUS: "A tua fé te curou"?
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A AURA E OS CHACRAS NO ESPIRITISMO


Esses dois temas, geralmente, são considerados como alheios à Doutrina Espírita, aceitos como pertencentes exclusivamente ao esoterismo. O que temos visto é que, quando determinada coisa tem alguma semelhança com crenças esotéricas, muitos espíritas logo a rechaça, mesmo que não tenham feito qualquer pesquisa nas obras da Codificação para saber se nelas há algo a respeito.

O nosso propósito neste estudo é exatamente esse, ou seja, pesquisar nas obras da Codificação para confirmarmos ou não se nelas podemos encontrar apoio para aceitar, doutrinariamente, a aura e os chacras como integrantes dos postulados espíritas, ou, quem sabe, abrir portas para isso.

Aura

Encontramos, no Dicionário Houaiss, a definição da aura para a Parapsicologia como sendo: "suposto campo de energia que irradia dos seres vivos".

Ao se pesquisar, nas obras da Codificação, é fato que a palavra aura, não a encontramos mencionada em nenhuma delas; porém, devemos procurar ver se essa ideia pode ser encontrada em alguma das explicações, das quais não restem dúvidas de que se trata dela.

Na Revista Espírita 1865, mês de outubro, e na Revista Espírita 1867, mês de junho, descobrimos, em trechos de considerações de Allan Kardec (1804-1869), referências ao perispírito, dois que merecem destaques:

Compreende-se, até um certo ponto, o desenvolvimento da faculdade por um meio material, mas como a imagem de uma pessoa distante pode se apresentar no copo? Só o Espiritismo pode resolver este problema pelo conhecimento que dá da natureza da alma, de suas faculdades, das propriedades de seu envoltório perispiritual, de sua irradiação, de seu poder emancipador e de seu desligamento do envoltório corpóreo. […]. (KARDEC, 2000c, p. 295, grifo nosso).

Seria errado, pensamos, que se considerasse o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, tendo em vista que não são senão dois efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma, e tem por órgão o perispírito, cuja irradiação transporta a percepção além dos limites da ação dos sentidos materiais. Propriamente falando, é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual. (KARDEC, 1999, p. 172, grifo nosso).

Embora ele tenha utilizado um termo diferente, entendemos que essa irradiação do envoltório perispiritual, ou seja, do perispírito, não é outra coisa senão aquilo que se entende por aura.

Em Obras Póstumas, vê-se uma explicação bem interessante no artigo "Manifestações dos Espíritos", que vem ao encontro do que estamos falando:

O perispírito não se acha encerrado nos limites do corpo, como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem dilatar mais ou menos. Daí se segue que pessoas há que, sem estarem em contato corporal, podem achar-se em contato pelos seus perispíritos e permutar a seu mau grado impressões e, algumas vezes, pensamentos, por meio da intuição. (KARDEC, 2006a, p. 50, grifo nosso).

Confirma-se, portanto, a irradiação do perispírito, que, para nós, como dito, se trata da aura.

Na obra No Invisível, Léon Denis (1846-1927), fala desse tema:

Os eflúvios do corpo humano são luminosos, coloridos de tonalidades diferentes – dizem os sensitivos – que os distinguem na obscuridade. Certos médiuns os veem, mesmo em plena luz, a escapar-se das mãos dos magnetizadores. Analisados ao espectroscópio, a extensão das suas ondas tem sido determinadas segundo cada uma das cores.

Esses eflúvios formam em torno de nós camadas concêntricas que constituem uma espécie de atmosfera fluídica. É a "aura" dos ocultistas, ou fotosfera humana, pela qual se explica o fenômeno da exteriorização da sensibilidade, estabelecidas pelas numerosas experiências do Coronel De Rochas, do Dr. Luys, do Paul Joire, etc. (102).
__________
(102) […] Já desde 1860 ("Revue Spirite", pág. 81), Allan Kardec afirmava, de acordo com as revelações do Espirito do Dr. Vignal, que os corpos emitem vibrações luminosas, invisíveis aos sentidos materiais, o que mais tarde a Ciência confirmou. O Espiritismo tem, pois, o mérito de haver, em primeiro lugar, sobre esse como sobre tantos outros pontos, apresentado teorias físicas que a Ciência não admitiu senão trinta anos depois, sob a reiterada pressão dos fatos. (DENIS, 1987, p. 177, grifo nosso).

As considerações de Denis são claras em apontar a irradiação do perispírito como sendo a aura. Sobre o que fala na nota, fomos conferir e encontramos na Revista Espírita 1860, mês de março, o artigo "Estudos sobre o espírito de pessoas vivas", no qual se narra a experiência, na Sociedade Espírita de Paris, em 03 de fevereiro de 1860, relativa a evocação de espírito de pessoa viva. No caso em questão foi evocada a alma do Dr. Vignal. Foram-lhe dirigidas várias perguntas, entre elas a de número 15, da qual Denis tirou a informação.

Vemos em algumas descrições de pessoas que têm a capacidade de ver a aura, no estado de vigília, dando-nos conta de que são coloridas e também os sentimentos da pessoa estão como que "impregnados" nela. Pessoas com raiva, ódio, desejo de vingança, por exemplo, são, facilmente, detectadas, por eles, quando veem as suas auras. A bem da verdade, isso não soa bem, parece mesmo ser algo estranho.

Quanto às cores, além do que foi dito por Léon Denis, logo acima, procuramos ver se encontraríamos, nas obras da Codificação, algo a respeito. Nelas nada vimos; porém, na obra publicada após o desencarne de Kardec, fruto de alguns de seus manuscritos particulares – Obras Póstumas –, apareceu-nos explicações que nos levaram a confirmar isso.

O fluido perispirítico é imponderável, como a luz, a eletricidade e o calórico. É-nos invisível, no nosso estado normal, e somente por seus efeitos se revela.

Torna-se, porém, visível a quem se ache no estado de sonambulismo lúcido e, mesmo, no estado de vigília, às pessoas dotadas de dupla vista. No estado de emissão, ele se apresenta sob a forma de feixes luminosos, muito semelhante à luz elétrica difundida no vácuo. A isso, em suma, se limita a sua analogia com este último fluido, porquanto não produz, pelo menos ostensivamente, nenhum dos fenômenos físicos que conhecemos. No estado ordinário, denota matizes diversos, conforme os indivíduos que o emitem: ora vermelho fraco, ora azulado, ou acinzentado, qual ligeira bruma. As mais das vezes, espalha sobre os corpos circunjacentes uma coloração amarelada, mais ou menos forte. (KARDEC, 2006a, p. 121-122, grifo nosso).

Confirma-se, portanto, a sua coloração, e também a irradiação do perispírito provocando uma certa luminosidade, que, um pouco mais à frente, é novamente mencionada:

[…] Cada um de nós tem, pois, o seu fluido próprio, que o envolve e acompanha em todos os movimentos, como a atmosfera acompanha cada planeta. É muito variável a extensão da irradiação dessas atmosferas individuais. Achando-se o Espírito em estado de absoluto repouso, pode essa irradiação ficar circunscrita nos limites de alguns passos; mas, atuando a vontade, pode alcançar distâncias infinitas. A vontade como que dilata o fluido, do mesmo modo que o calor dilata os gases. As diferentes atmosferas individuais se entrecruzam e misturam, sem jamais se confundirem, exatamente como as ondas sonoras que se conservam distintas, a despeito da imensidade de sons que simultaneamente abalam o ar. Pode-se, por conseguinte, dizer que cada indivíduo é centro de uma onda fluídica, cuja extensão se acha em relação com a força da vontade, do mesmo modo que cada ponto vibrante é centro de uma onda sonora, cuja extensão está na razão propulsora do fluido, como o choque é a causa de vibração do ar e propulsora das ondas sonoras. (KARDEC, 2006a, p. 123, grifo nosso).

Todos nós vivemos como numa redoma luminosa ou envolto num halo, que nada mais é que a nossa aura irradiando luz e cor.

Quanto aos sentimentos, vamos encontrar em A Gênese, cap. XIV, explicações sobre as qualidades dos fluidos espirituais, das quais transcrevemos estes trechos dos itens 16 e 17, respectivamente:

[…] Sendo esses fluidos [fluidos espirituais] o veículo do pensamento e podendo este modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem achar-se impregnados das qualidades boas ou más dos pensamentos que os fazem vibrar, modificando-se pela pureza ou impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. […]. (KARDEC, 2007e, p. 325, grifo nosso).

 […] Como os odores, eles [os fluídos] são designados pelas suas propriedades, seus efeitos e tipos originais. Sob o ponto de vista moral, trazem o cunho dos sentimentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de violência, de hipocrisia, de bondade, de benevolência, de amor, de caridade, de doçura, etc. Sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, soporíficos, narcóticos, tóxicos, reparadores, expulsivos; tornam-se força de transmissão, de propulsão, etc.

O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade e das propriedades da matéria, correspondentes aos efeitos que eles produzem. (KARDEC, 2007e, p. 325-326, grifo nosso).

Diante de tão claras explicações não podemos deixar de levá-las em consideração para aceitar, de forma pacífica, a realidade da repercussão dos sentimentos na aura, influenciando-a positiva ou negativamente.

Temos na Revista Espírita 1867 algo que corrobora isso:

[…] Segundo os pensamentos que dominam num encarnado, ele irradia raios impregnados desses mesmos pensamentos que os viciam ou os saneiam, fluidos realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis para os sentidos perispirituais, e visíveis para os olhos da alma, uma vez que impressionam fisicamente e tomam aparências muito diferentes para aqueles que estão dotados de visão espiritual. (KARDEC, 1999, p. 130-131, grifo nosso).

Confirma-se que a irradiação vem impregnada dos pensamentos e além disso que podem ser vistas pelos que são dotados de vidência, ou por médiuns sonambúlicos.

Chacras

 Novamente recorremos ao Dicionário Houaiss, agora para ver a definição de chacra:

s.m. FIL REL em certas formas de hinduísmo e no budismo, cada um dos centros de acumulação de energia espiritual distribuídos pelo corpo; xacra [Os chacras principais, situados ao longo do eixo vertical que perpassa o centro do corpo, são em número de sete para a ioga e o tantrismo, e quatro para o budismo; são supostamente ativados através de meditação, ássanas, recitação de mantras etc.].

Essa ligação com o hinduísmo e budismo pode ser o motivo pelo qual não querem citá-los no Espiritismo. Aliás, o termo apropriado para os espíritas seria: centros vitais ou centros vitais perispirituais, segundo alguns estudiosos.

São mais fáceis de identificar na Codificação do que a aura. Vejamos essas duas questões de O Livro dos Espíritos:

140. Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?
"Ainda isto depende do sentido que se empreste a palavra alma. Se se entende por alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se entende por alma o Espirito encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espirito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se dívida."

 a) Entretanto, alguns Espíritos deram essa definição.
"Os Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa."

A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital, que por eles se reparte, existindo em maior abundância nos que são centros ou focos de movimento. Esta explicação, porém, não procede, desde que se considere a alma o Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por ocasião da morte.

146. A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita?
"Não; porém, nos grandes gênios, em todos os que pensam muito, ela reside mais particularmente na cabeça, ao passo que ocupa principalmente o coração naqueles que muito sentem e cujas ações têm todas por objeto a Humanidade."

 a) Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?
"Quer isso dizer que o Espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de convergência de todas as sensações. Os que a situam no que consideram o centro da vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital. Pode, todavia, dizer-se que a sede da alma se encontra especialmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais."

(KARDEC, 2007a, p. 127-129, grifo nosso).

Embora não encontremos nas obras da Codificação a especificação dos Centros Vitais, não há como negar a referência a eles tomando-se o que está dito acima.

Podemos também citar Léon Denis, que, em O Grande Enigma, disse: "A física atual nos demonstra que a matéria se dissocia pela análise, se resolve em centros de forças, e que a força se reabsorve no éter universal." (DENIS, 1988, p. 19).

Em André Luiz, especialmente, na obra Evolução em dois mundos, capítulo "Corpo Humano" (p. 25-30), temos a especificação dos Centros Vitais ou Centros de Força. Também a autora espiritual Joanna de Ângelis, através do médium Divaldo P. Franco (1927- ), fala dos Centros Vitais, conforme se pode comprovar na obra Estudos Espíritas, capítulo 4, Perispírito (p. 39-45). Aos interessados recomendamos a leitura dessas duas obras.

Diante de tudo isso que encontramos, entendemos, que tanto a aura como os chacras (Centros Vitais), são abordados nas obras da Codificação, ainda que sob outras denominações, razão pela qual passamos a aceitá-los como pontos doutrinários.

Claro que, por questão moral, respeitaremos todos aqueles que não comungarem de nossa conclusão, já que estimaríamos que também respeitassem a nossa opinião, que é a de uma pessoa que quer respaldar seus estudos em bases doutrinárias, procurando, na medida do possível, deixar de lado eventuais "achismos".

Fonte; A Era do Espirito;
Paulo da Silva Neto Sobrinho nov/2014.

Referências bibliográficas:

DENIS, L. No invisível. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
DENIS, L. O grande enigma. Rio de Janeiro: FEB, 1988. FRANCO, D. P. Estudos Espíritas. Rio de Janeiro: FEB, 1982. KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC, A. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2006a.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a. KARDEC, A. Revista Espírita 1860. Araras, SP: IDE, 2000a. KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras, SP: IDE, 2000c. KARDEC, A. Revista Espírita 1867. Araras, SP: IDE, 1999.
XAVIER, F. C e VIERIA, W. Evolução em dois mundos. Rio de Janeiro: FEB, 1987.

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