quarta-feira, 6 de maio de 2015

MAGNETISMO PESSOAL – A CONSCIENCIA Estudos de Heri Durville – parte III



Ana Vargas
anavargas.adv@uol.com.br

Todos os fatos de consciência apresentam três propriedades: eles se gravam e se reproduzem; são ligados a outros e podem ser isolados. Eles se gravam na memória; são reproduzidos pelo hábito, são ligados pela associação; são isolados uns dos outros pela atenção. Para conquistardes um perfeito domínio sobre vós mesmos e sobre os outros, é essencial bem compreenderdes a natureza e as condições destas propriedades, pois toda a vossa vida – física, mental e emocional – depende de vossas lembranças, de vossos hábitos, de vossas associações de ideias e de vossa força e atenção.

Dissecaremos em poucas palavras cada um desses elementos, procurando mostrar sua conexão íntima.

Todo fato de consciência: ideia, prazer ou dor, ação, resolução, se grava em vossa memória. Ele aí subsiste e em certos casos, como no delírio, vedes reaparecer, com estupor, em um enfermo, lembranças de acontecimentos muito distantes e que pareciam completamente esquecidos. Possuis, pois, em vós um tesouro cujo valor talvez nem sequer suspeitais. Cabe-vos zelar por ele para que não se perca. Estas lembranças não perduram como clichês sobre uma placa fotográfica, poder-se-ia compará-las aos carneiros encerrados em um aprisco no momento em que a pastora vai buscá-los para os conduzir a pascer. Elas se comprimem para sair do inconsciente; uma luta violenta se trava entre todas, as mais fracas ficam na sombra e só as mais fortes conseguem sair.Compreendereis sem dificuldade quanto vos importa saber por que algumas destas lembranças são mais fortes do que as outras.

Um fato de consciência reaparece tanto melhor quanto ele foi mais frequentemente registrado, ligado a um maior número de outros fatos, acompanhado de uma dor ou de um prazer mais vivo, enfim, que ele já tenha aparecido com muita frequência.

Ficai certo que vossa memória será tanto melhor quanto mais vos dedicardes ao trabalho de rever, sem cessar, o que desejais saber; ligar entre si, cada vez melhor, todos os vossos conhecimentos; estudar alegremente o que desejardes saber, procurando criar-vos hábitos metódicos. Não esquecei que vossas lembranças são conservadas pelo vosso inconsciente, isto é, por vossas máquinas psicológicas. Importa, pois, antes de tudo, que estas se conservem em bom estado. Um cérebro banhado, irrigado por um sangue puro e nutritivo será mais poderoso do que todos os outros. Quando tiverdes lido nosso capítulo sobre a alimentação, compreendereis porque os pensadores, os sábios, os artistas mais notáveis têm um regime muito regular (exemplo: Victor Hugo) e uma alimentação muito frugal.

Podeis atuar sobre vossas lembranças; atuareis, portanto, sobre vossos hábitos, que são as lembranças de vossos atos. Sois o senhor de sua repetição, do prazer que ela vos causa, das associações que estabeleceis entre esses atos. Criastes os hábitos que tendes de ler, de escrever, de nadar, de montar em bicicletas, de cultivar a música. Podeis criar uma infinidade de outros mais. A aquisição de todas as profissões, de todas as artes, de todas as ciências é devida ao hábito. Se compreenderes profundamente o que vos é dito aqui, a vossa vida irá, como o prometemos, transformar-se inteiramente. Dividireis, sem cessar, os vossos esforços para tornar cada um deles sem-pre igual às vossas forças e, por conseguinte, agradável. Pouco a pouco, fareis passar em vosso inconsciente uma quantidade de atos a princípio penosos, mas que se tornarão regulares, automáticos; não mais necessitarão de vossa direção perpétua, podendo consagrar a novos objetivos as vossas forças mentais incessantemente decuplicadas.

Cuidareis igualmente de vossas associações psíquicas. Vosso encéfalo contém um grande número de fibras que estão ligadas umas às outras e que são a imagem das ligações mentais, cuja existência em vós constatais incessantemente. Uma palavra traz outra; vossas lembranças, vossas sensações, vossas emoções, vossos sentimentos, vossos atos, sobretudo, estão ligados entre si. Entretanto, tereis percebido que essas ligações são feitas ao acaso.
Maury conta que, em um de seus sonhos, ele se viu perto do fogo, apanhando as cinzas com uma pá; depois, bruscamente, se encontrou em casa de seu amigo patrício, e, depois, se viu a passeio em Jerusalém. É a associação das palavras que tinha conduzido a associação das imagens. Isto acontece, principalmente, em uma conversação intervalada, cheia de interrupções, o que podeis verificar, conservando-vos à parte, como ouvinte, constatando, assim, onde ela começa e onde termina. Ao lado, porém, destas associações fortuitas onde parece que um eixo guia o pensamento, há outras mais importantes: aquelas, por exemplo, que conduziram os químicos a comparar o hélio gasoso ao hidrogênio, a constatar que ele era da mesma densidade, mas que não se inflamava e que não tinha a mesma tendência a atravessar as paredes dos vasos que o continham. Assim, se chegou à conclusão prática, muito importante, de que o hélio deve substituir vantajosamente o hidrogênio nos balões dirigíveis. Seu emprego tornará possível este gênero de navegação aérea.

Tais são as associações de ideias que deveis procurar. Afastareis aquelas que são devidas ao acaso e que só podem diminuir vossa força psíquica.

Conseguireis o melhor êxito se souberdes governar a vossa atenção. Não julgueis que isso seja fácil. Compenetrai-vos que esse fenômeno é, antes de mais nada, inteiramente espontâneo e nele não há interferência vossa.

Projete bruscamente, em uma sala escura, um jato de luz viva: todos os olhos se fixarão sobre ele, quer queiram ou não. Ai está a imagem de toda atenção. Ela vem do inconsciente; trabalha sem cessar. Vosso corpo vos evita a todo instante, sem que o suspeiteis, uma infinidade de perigos. As condições deste fenômeno são: uma respiração ampla e bem ritmada, uma circulação sanguínea regular e poderosa, e, principalmente, a nutrição do sistema nervoso.

Desde então, conhecendo as causas do fato, vos tornais senhor do mesmo. Colocai-vos, graças aos conselhos que vamos dar dentro em pouco, nas melhores condições fisiológicas, dotai vossa usina humana de boas máquinas, alimentai-as bem, reparai-as sem cessar, e obtereis de vós mesmo uma atenção poderosa; vossas lembranças, vossos hábitos, vossas associações de ideias vos dirigirão para os melhores objetivos, os mais úteis ao desenvolvimento da vossa personalidade. Não dominareis, pois, vossa atenção senão obedecendo-lhe a princípio, não a forçando nunca. Não se lhe deve pedir senão o que ela pode dar a cada instante; peçase-lhes, entretanto, tudo o que ela deve fornecer; e a riqueza de vosso espírito e vosso poder mental serão incomparáveis. Assim se desenvolverá vosso eu e, por conseguinte, vossa personalidade. Ligareis entre si vossas lembranças no tempo e no espaço, e tais ligações são da mais alta importância.

Vossa personalidade é vossa obra. Eixo de unidade que existe em vossa máquina fisiológica, ela cessará, se esta máquina se desorganizar. Ela se tornará tanto mais ativa quanto esta máquina for continuamente aperfeiçoada. Se vos expuserdes à sífilis, ao alcoolismo, à morfinomania, lesareis ao mesmo tempo o vosso sistema nervoso. Ele se dissociará, e, desde então, vossa personalidade fará o mesmo. Ao contrário, se fixardes o fim para o qual caminhais, se colocardes o mais alto possível, se ligardes estreitamente todas as vossas sensações, todas as vossas emoções, todos os vossos atos, se vos criardes um atlas de lembranças, cada vez mais desenvolvido, mais claro, se ligardes cada vez mais intimamente vossa história e vossa geografia do mundo em que viveis, daquele que vos precedeu e do que seguirá, estareis então, não o duvideis, cada vez mais senhor de vós mesmos e dos outros. Não se trata aqui de uma ciência unicamente teórica, mas de aptidões práticas, as únicas eficientes na vida, as únicas que farão de vós um herói.

É este personagem superior que um de nossos amigos, Victor Morgan, herói também, caído gloriosamente em Dixmude, definiu nas linhas seguintes:

“O homem superior é uma força em repouso. Nele, nada de palavras insignificantes ou sem um alvo. Nada de movimentos inúteis. É uma força cônscia de si mesma, que não se manifesta nunca sem necessidade, porque ela sabe que, ao primeiro grito de alerta, de um salto, atingirá, como o relâmpago, o ponto onde deve agir. O herói é um leão que, deitado, contempla, com o olhar calmo, por cima da cabeça das pessoas, os horizontes infinitos, cheios de luz.“Ele transforma seus sentimentos em ação.”

Mesmo nesta inação, sua presença é benfazeja. De suas palavras, mesmo as mais simples, se irradia uma influência que atua sobre os que o rodeiam. Uma harmonia reconfortante paira à sua volta.
Não obstante, é um homem de ação.

Raros, em verdade, são os momentos em que podeis surpreendê-lo em repouso. O domínio de sua vontade é o sinal característico que o consagrou grande homem. Seu eu paira em uma calma olímpica, comanda a todas as suas paixões, excita-as ou disciplina-as. Tornado senhor de si mesmo, con-quistou o direito e o poder de dirigir o mundo exterior e de subjuga-lo à sua vontade.
Ele transforma seus sentimentos em ação.

Pensais que, em um tal homem, no qual pressentis uma alma tão ardente e tão poética, uma vontade com um tal domínio, tão impaciente por materializar os sonhos do poeta, pensais que suas menores ações possam estar em desacordo com seus sentimentos? Isso seria impossível. Sua voz, seus gestos, seu porte, seu olhar devem imprimir um pouco daquele fogo que tem em si. 

Sim, a sua voz manifesta todas as emoções que ele deseja expressar: doce, penetrante, se ele quer tranquilizar e reconfortar; fervente, entusiasta se quer excitar; grave, profunda, solene, se deseja impressionar; altíssona se quer comanda

De uma calma imperturbável na tormenta, quando os outros homens estão desvairados ou terrificados, ele faz sempre ouvir a voz do chefe, cuja palavra é uma ordem. Ele é senhor do seu corpo. 

Todo seu ser emite uma radiação invisível e poderosa que se impõe mesmo aos menos sensitivos. Sente-se, antes que ele tenha agido, que possui uma confiança sem limites em suas próprias forças. E apesar desta grande confiança, não deve ser confundido com o anjo do orgulho. 
Enfim, seu coração é todo poderoso. 

Ama, compreende, e porque compreende, é justo com os homens. Tendo lido no fundo de seu próprio coração e verificado que, muitas vezes, o mal não é senão ignorância, um profundo sentimento de piedade despertou nele. E quando é preciso agir, castigar, punir, seu coração não tem mais ódio. 

Suas faculdades mentais são poderosas. 

Elas têm, principalmente, o poder de julgar sensatamente todas as coisas. O que o torna  verdadeiramente grande é que personifica, ao mesmo tempo, o idealista e o homem de ação.” 1

 Aí está esboçado o retrato do homem que queremos formar em vós. Resta, agora, estudar como chegaremos a realizar esse desiderato. Para que vos compenetreis bem, desde já, do método que empregaremos, vamos indicar o plano que pretendemos seguir na presente obra. 

Formularemos, sucessivamente, regras práticas para transformar: 

1. Vosso corpo por meio de:
a)Uma alimentação sadia;
b)Uma respiração ampla e metódica;
c)Exercícios físicos judiciosamente compreendidos. 

2. Vosso inconsciente, servindo-vos de: 
A) autossugestão emocional; 
B) olhar magnético. 

3. Vosso consciente, vosso espírito, com o auxílio de:
 a) concentração mental;
 b) isolamento.

Assim, o ser superior que está em vós adquirirá o domínio de si.
É fora de dúvida que se trata de um trabalho que requer não só tempo, como energia. Certamente que este tempo convenientemente repartido entre as ocupações cotidianas, acaba por passar despercebido. E a energia dispendida é recuperada ao cêntuplo por este treinamento bem compreendido. Além disso, a alegria sucede depressa ao esforço. Toda esta disciplina que parecia, a princípio, fastidiosa, torna-se, a cada momento, a fonte de satisfações numerosas. Os membros tornam-se flexíveis e sempre prontos a agir. Sente-se o corpo ágil. Uma respiração mais ampla e mais regular vos remoça. Parece que o sangue mais vivo corre nas veias. A digestão é perfeita. Nenhum incômodo ou peso nos órgãos. Sente-se a cabeça livre, desembaraçada de qualquer constrangimento. O tédio se dissipa como, aos primeiros raios de sol, as sombras fogem. O cérebro, livre de todas as dúvidas, prepara-se para a vida nova. E os primeiros clarões da aurora que se levanta tingem festivamente nossos sonhos. Para onde foram nossas decepções, nossos rancores, nossas tristezas? Nuvens que, agora, se esfumam.

1 Victor Morgan – A estrada do cavalheiro.
Como o galo que canta alegremente ao romper da amanhã, nós deixamos escapar dos lábios um grito de alegria.

O nosso desenvolvimento psíquico traz, pois, ao nosso corpo um bem-estar extraordinário, ao nosso espírito pensamentos mais sãos, ao nosso coração alegrias mais doces.

Também, o novo discípulo, feliz por esta transformação que ultrapassa suas melhores esperanças, entrega-se cada dia com maior entusiasmo a este treinamento. Ele compreende que esta direção nova de vida será a verdadeira saúde. 
Convence-se de que os poderes psíquicos, há tanto tempo ambicionados, estão ao seu alcance; que não há entrave algum que não possa remover, nenhuma cadeia que não possa quebrar, nenhuma sugestão atávica, nenhum sestro ou mania, nenhuma forma de pensamento da qual não possa tornar-se senhor absoluto.

Encorajado pelo bem-estar que resulta destas constatações, só pensa em perseverar. Bem depressa repara as faltas antigas. Observa. Reflete. Compreende. Esforça-se por desenvolver em si sentimentos mais puros. Despoja o velho homem. E, desde então, uma doce emoção inunda o coração do novo adepto. Faz alegremente a escalada da encosta que conduz aos píncaros.

Na montanha, aquele que galga um pico, descortina diante de si tão vastos horizontes, que lhe vem o desejo de subir ainda mais. O mesmo se dá no decurso do desenvolvimento psíquico. Os resultados são tais para quem se dedica com amor, que, enlevado por um sucesso alcançado sobre si mesmo, se sente tomado de uma emulação que o leva a agir com uma vontade mais firme e mais persistente. Quer desenvolver a si mesmo, a princípio física e mentalmente, obter um ritmo exterior e interior que seja o penhor da saúde material e moral, mas quando se alcançou este fim, quando se sente cheio de forças novas, quer empregá-las de uma forma que seja digna delas e de si. Certamente, está bem longe de renunciar a estes deveres que são os laços da própria vida. Fica-se preso ao país, à família, à profissão, porém restam ainda muitas aspirações a realizar. Descortinou o vasto horizonte e as visões do egoísmo não podem desviá-lo.

Somos agora poderosos, fortes, senhores de nós mesmos. Mas que adianta isto, se esta força só serve a interesses restritos? Sente-se o funcionamento perfeito da máquina humana. Deseja-se agora que esta máquina obedeça a um ideal elevado, a um coração puro, a um pensamento mais belo. E, todas as engrenagens de nossa máquina tendo sido aperfeiçoadas, o contramestre tornado dócil e zeloso como um excelente empregado, compreende-se que nosso dever sobre a Terra é auxiliar os outros. Unicamente o bem, o bem de todos aqueles que nos rodeiam ou se nos aproximam, merece os cuidados que tomamos. Um altruísmo entusiasta e bem compreendido nos permite dar a todas as nossas faculdades a liberdade que elas devem ter.

Sim, vós vos tornareis senhor de todas as vossas engrenagens e elas funcionarão a contento, porém todas essas energias que se vão desenvolver vos lembrarão continuamente o vosso dever. O cultivo de vossas forças vos preparará para os mais belos impulsos; o domínio de vossos ímpetos mostrar-vos-á que, além de vossa pessoa e de vossos interesses, há regiões tão belas quanto vastas, que deveis explorar. Não tereis mais receios, cóleras ou invejas. Ireis ter, com todos os seres, a mão estendida e o coração fraternalmente aberto. É esta forma de pensamento que deve florescer em vosso jardim mental. Os intuitos elevados, cheios de beleza e de bondade, serão a necessidade nova que se criará para o aperfeiçoamento de vosso organismo. E não mais será mister esforços para dirigirdes para esse lado; é para ele que se inclina toda natureza formada pelas boas disciplinas e inclinada para uma nova iniciação.

Esta iniciação só pode ser estudada, aqui, brevemente, dela tratamos mais detalhadamente em uma obra escrita para aqueles que nos acompanham: A Caminho da Sabedoria. 

Nosso escopo, neste último trabalho, que é a continuação do presente - Curso de Magnetismo Pessoal – é reativar a tradição das antigas iniciações, e fazer nascer o desejo de entrar em relação com as potências desconhecidas que se encontram em nós e em redor de nós.

Que horizontes mágicos se desenrolam diante do adepto, quando ele se sente evoluir neste mundo, onde tudo é doçura e claridade! Os estudos que empreende lhe ensinam que, por mais elevados que possam ser os conheci-mentos que adquiriu, ele não é mais do que uma parte infinitesimal deste grande Todo, deste Universo que é o macrocosmo; entretanto, que imensa dignidade dele se apossa ao saber, de uma forma irrefutável, que ele próprio é o microcosmo, a imagem perfeita deste grande Todo, construído segundo o mesmo ritmo e podendo, pelo acordo misterioso de seus ritmos, pôr-se em relação com ele segundo seu legítimo querer. Eu disse dignidade, não orgulho, pois, para aquele que sabe, o orgulho é letra morta. Ele só vale pela sua relação com o Absoluto, por esta tendência constante, e que ele compreende, enfim, de unir-se, com todas as suas forças constantes, ao plano divino da Natureza. 

Não basta, porém, conhecer estas coisas, penetrá-las com uma nobre satisfação. É preciso submeter-se a uma ascese que faz de nós adeptos perfeitos, capazes das mais elevadas e mais grandiosas ações. Esta evolução, de que nossa Ciência Secreta fará compreender e penetrar toda a serena beleza, toda a esplendida consolação, é mister obtê-la e merecê-la; é preciso abreviar-lhe as etapas tanto quanto nos seja possível. 

No presente volume, ensinamos a adquirir uma perfeita saúde, a dominar seus impulsos, porém isto não é mais do que uma primeira etapa. A Caminho da Sabedoria vos conduzirá ao limiar do Templo iniciático. 

E, uma vez lá, o guarda do umbral – a enigmática Esfinge da terra dos faraós – deixará cair de seus lábios de pedra o segredo dos quatro verbos iniciáticos. Vitorioso da prova, vê abrir-se, diante dele as portas do santuário. Nossa Ciência Secreta prepara o novo eleito para todas as alegrias que são a recompensa do sábio.

Aos métodos incompletos que se propõe dar-vos saúde, sucesso, felicidade, poder, nós antepomos um método sintético. 

Sua superioridade, a nosso ver, está em que ele compreende e utiliza a conexão que apresentam as três partes da usina humana: 

1º) A máquina fisiológica tem por fim criar a força nervosa, graças:

a)Ao aparelho digestivo que forma o sangue;
b)Ao aparelho circulatório que o transporta para alimentar os órgãos;
c)Ao aparelho respiratório que o purifica;
d)Ao sistema nervoso composto: 1º) do sistema raquidiano, dominado pelo encéfalo, centro motor e sensitivo do organismo; 2º) do grande simpático, que regula automaticamente os aparelhos vitais. 

2º) O contramestre da usina ou inconsciente conserva: 1º) nossas lembranças; 2º) nossos sentimentos; 3º) nossos atos. Quem conhece bem, pode adivinhar o pensamento, os cálculos, o caráter de outrem. 

Conhecer bem o inconsciente é lutar, depois, vitorio-samente, contra a timidez, o medo do fiasco, é compreender o mecanismo de certos sonhos. É explicar-se a natureza de todos os fatos conscientes, que são para o inconsciente o que a chama é para o fogo. 

3º) O diretor da usina é o espírito. Suas propriedades gerais são: 1) a memória; 2) o hábito; 3) a associação; 4) a atenção.
                                           

Podemos, estudando estas propriedades, tornamo-nos senhores das mesmas e formar em nós uma personalidade poderosa. 

Chegareis à maravilhosa síntese dos três elementos que compõe o ser humano, observando atentamente:

1)Vossa alimentação, vossa respiração, vossos exercícios físicos;
2)Desenvolvendo a autossugestão; adquirindo um olhar magnético;
3)Habituando-vos à concentração mental e ao isolamento.

 Eis o que vos conduzirá ao perfeito domínio de vossos impulsos, a um sentimento de força, de equilíbrio, de bem-estar. Isto não é, porém, senão uma primeira etapa. Perseverando no  estudo, magníficos horizontes se descobrirão aos vossos olhos. De dia para dia, melhor compreendereis que a verdadeira finalidade da vida é o vosso aperfeiçoamento, sob a condição, porém, que esse aperfeiçoamento beneficie os que vos rodeiam.

 Esforçai-vos, pois, constantemente, por alcançar qualidades físicas, intelectuais e morais. Assim fazendo, avançareis com um passo mais rápido pelo caminho da evolução. Tal é o objetivo do iniciado.


Referência;

1 Victor Morgan – A estrada do cavalheiro.




JORNAL VÓRTICE ANO VII, n.º 11 - abril  2015


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A USINA HUMANA - Estudos de Henri Durville – parte II


Ana Vargas
anavargas.adv@uol.com.br

Costumo dizer que a sala de atendimento magnético, ou a sala de passes, é um solo sagrado. Ali tudo, tudo mesmo, pode acontecer. Os mais incomuns fenômenos podem parar sob nossos olhos, e tanto poderão ser físicos (doenças raras, por exemplo), psicológicos ou espirituais, ou ainda a mescla dos anteriores. Por isso, um conhecimento mínimo das estruturas que compõem o ser humano é imprescindível para que o magnetizador saiba reconhecer com o que está lidando, além dos fenômenos magnéticos que devem ser intimamente conhecidos. A abordagem a respeito do inconsciente e suas manifestações é um alerta oportuno, uma boa e fácil leitura para quem nunca leu a respeito, e um incentivo aos que já o estudam para que se aprofundem mais, acrescentando as contribuições feitas pelo avanço das ciências da mente desde a época desses autores clássicos. Muitos outros fenômenos do inconsciente param em nossas mãos, tenho certeza. 


“O que se entende por  inconsciente, não tem sido compreen-dido em toda sua exatidão. Os filósofos franceses do século XVII, e em particular Descartes, entenderam suprimir esta parte de nós mesmos.

Ou nós sentimos clara e nitidamente uma coisa, diziam eles, ou não a sentimos em absoluto. E concluíam assim: a alma é mais fácil de conhecer do que o corpo.

Isto era cometer um perigoso erro por omissão. É fácil provar que sois o teatro de uma porção de fatos semiconscientes, os quais, uma vez passados, deles só guardareis algumas impres-sões. Todas as gradações existem, apesar disso, na consciência, desde a visão deslumbrante de um raciocínio por um espírito seguro de si, até as meias  tintas mais atenuadas e mais fugazes que apresentam os fenômenos obscuros da sensibilidade inter-na, as dores vagas chamadas de doenças do coração, os prazeres obscuros da digestão e muitos outros mais.

Certos exemplos que provam a existência do inconsciente são clássicos. O moleiro dorme ao tic-tac de seu moinho. Acorda quando esse tic-tac cessa e a roda  pára. Há nele, pois, como que um despertador vigilante que acompanha, fora da consciência, durante o sono, este ruído particular. A supressão desse ruído, importante apenas para o moleiro, só afetou a consciência.

Estais em vosso aposento e trabalhais. De repente, durante um momento de descanso, os vossos olhos se fixam, sem que deis por isso, sobre os desenhos do papel que forra as paredes: são ramalhetes de rosas atadas por fitas azuis. Os ramalhetes estão unidos uns aos outros por guirlandas de rosas menores. Analisais todos os detalhes do desenho, observais todos os matizes das flores. Parece-vos que nunca tínheis visto o que agora olhais assim. Entretanto, há longos anos habitais aquele aposento. Quantas e quantas vezes vossos olhos pousaram sobre aquelas rosas! Há quanto tempo as conheceis, vendo-as sem cessar... Elas estão contidas em todas as impressões que recebeis a cada segundo, a cada milésimo de segundo, do mundo exterior a vós. Porque não as víeis? É que desviáveis a sensação recebida, porque ela era inútil. Não existe então? Sim, mas dizeis que dela não tínheis consciência. A impressão consciente pode produzir-se, ela está sempre à vossa disposição, porém foi posta em reserva, como uma cozinheira econômica faz com seus confeitos.

O mesmo sucede com todos os fatos de vossa vida mental; todos os vossos sentidos vos dão, a cada instante, milhões de informações, entre as quais escolheis algumas, muitas vezes uma só, para sobre ela fixar toda atenção. Por outra parte, guardais milhares de recordações, e dentre elas podeis escolher, quando vos apraz, como podeis ir procurar em um álbum uma fotografia entre mil outras. Todas essas recordações estão em reserva em vosso inconsciente.

Uma pessoa que nunca vistes, vos  aparece um dia. Sentis por ela uma  certa atração; ela vos agrada. Experimentastes o desejo de lhe falar, de vos aproximar dela. Por quê? É que vosso inconsciente faz das suas. Tal traço desta pessoa, tal atitude, tal inflexão de voz, vos despertaram, sem que o percebêsseis, uma porção de recordações que se relacionam com pessoas amadas por vós anteriormente. É o olhar de uma irmã, a voz de uma mãe, a atitude de uma mulher que admirastes numa reunião, num teatro, em uma fotografia ou numa gravura.

Todos os sentimentos que experimentastes pelas pessoas que, de perto ou de longe, se pareciam com aquela que vos desperta uma viva e repentina simpatia, se associam à vista, ao pensamento desta pessoa. E esta síntese brusca se opera sem o perceberdes; ser-vos-ia tão difícil descobrir-lhes os elementos como é, de ordinário, remontar às causas de nossos sonhos. A maior parte de nossas sensações, de nossas emoções, de nossos sentimentos tem, no que se chama o inconsciente, suas causas profundas.

O mesmo se dá com os nossos atos involuntários. Eles são preparados por movimentos automáticos, cuja existência foi revelada por experimentalistas.

O Dr. Binet dá um livro a uma pessoa acordada e ordena-lhe que leia em voz alta. Durante esse tempo, ele isola, com um cartão assaz grande, a mão que não segura o livro. A esta mão, que tem um lápis, ele imprime um movimento determinado, de tal modo que ela traça círculos ou retas sobre um papel. Ele continua, durante alguns instantes, o movimento, enquanto que toda atenção do paciente está concentrada na leitura. Depois de certo tempo, ele abandona a mão a si mesma: esta continua automaticamente o movimento que lhe foi imposto e que ela prolonga ainda, durante muito tempo, fora da direção de seu proprietário, absorvido por outros cuidados.

Pode-se ir mais longe e penetrar no pensamento alheio, graças aos indícios que nos fornecem seus movimentos inconscientes. O Dr. d’Allones imaginou um dispositivo que permite adivinhar automaticamente um pensamento não expresso, com a condição de que ele não seja muito com-plicado.

Trata-se de um cilindro rotativo, onde estão inscritas ordenadas ou linhas verticais a intervalos sempre iguais. Cada ordenada é marcada por um algarismo ou uma letra inscrita sobre ela.
O paciente de quem se quer adivinhar o pensamento fica  sentado, de costas voltadas para o cilindro, segurando uma pera de borracha como as que são usadas pelos fotógrafos. A pera é adaptada a um tubo delgado que comunica com um tambor inscritor de Marey. A menor contração do paciente que aperta a pera verifica-se, sem que ele o perceba, um sinal sobre o tambor.

Dizei ao paciente que pense um algarismo ou uma letra, nomeie todas as letras ou todos os algarismos, à medida que forem passando diante da ponta. Quando tiverdes enunciado o algarismo ou a letra que o paciente pensou, sem que ele o perceba, a sua mão se contrairá e esta contração se inscreverá quase sem erro possível.

Se desejardes obter uma frase inteira, procure adivinhar sucessivamente as letras de cada palavra. Que vosso paciente pense, antes de tudo, na primeira letra da primeira palavra. Soletrai, em voz alta, todo o alfabeto e o paciente contrairá a mão, involuntariamente, à passagem da letra que ele tiver pensado

Chegareis, assim, facilmente, a formar a frase inteira. Estas experiências são bem sucedidas não só com os grandes nervosos, mas também com a grande maioria das pessoas.

Pelo mesmo processo, pode se  adivinhar os números e as operações aritméticas. Pedi ao vosso paciente para operar mentalmente uma subtração de dois números compreendidos entre 7 e 41. Se ele reage em 16, em 24 e em 40, é, evidentemente, porque terá pensado que 40 menos 24, igual a 16.

Pedi, depois, ao paciente que pense em uma multiplicação, cujos algarismos não ultrapassem 10. Se ele reage em 2, em 4 e em 8, concluireis que ele pensou: 2 multiplicado por 4, igual a 8.

Podereis ainda adivinhar o que a vontade daquele que serve para a experiência quereria ocultar-vos, uma vez que se trata de um grande nervoso. O Dr. d’Allones foi levado a tentar esta experiência porque havia observado que quando um paciente tem consciência de suas reações involuntárias e procura suprimi-las, acontece-lhe reagir mais fortemente ainda do que de costume.

Uma rapariga de vinte anos, criminosa, não alienada, tinha envenenado sua rival. Simulando histeria, ela conseguira obter da justiça uma declaração de que não havia motivo para prosseguir-se a causa, subterfúgio que o seu advogado, dizia ela, não havia desaprovado. O Dr. d’Allonnes, por meio de seu dispositivo, obteve confissões escritas

Reproduzimos uma figura que mostra esta curiosa experiência. O traçado contém a confissão: gai voler por j’ ai volé (eu roubei). O francês está estropiado porque a paciente é semianalfabeta.

Estas contrações involuntárias dos músculos foram utilizadas por todos os pseudoledores de pensamento. Um deles, Bellini, fazia ocultar um objeto em uma sala e afirmava descobri-lo, penetrando o pensamento de um espectador que percorria a sala com ele, dando-lhe a mão. Na reali-dade, ele sentia, quando passava diante da fila de cadeiras onde o objeto estava oculto, uma ligeira resistência de seu guia involuntário. Ele estacava e não ia mais longe. Para empregar a expressão das crianças em um brinquedo semelhante, “tinha farejado”. Então, penetrando pela fila de cadeiras, continuava sua pesquisa, animado pelos murmúrios de admiração dos vizinhos e pelos fracos movimentos da mão que ele segurava.

Da mesma forma, Pickmann, o leitor de pensamentos bem conhecido, dizia a um espectador, que não era absolutamente um comparsa:

‘O Sr. vai pensar um número; eu o lerei em seu cérebro e escreverei depois em um quadro negro. Não haverá, assim, nem truque, nem compadrismo  possível.’

Pickmann dizia uma parte da verdade: ele não tinha nenhum guia. Entretanto, sem o perceber, o espectador, por seus movimentos inconscientes, servia de comparsa.

Para fazer a experiência, Pickmann colocava alguém diante de um quadro negro e fazia-o segurar na mão direita um pedaço de giz. Segurava, depois, esta mão e, à medida que ia pronunciando rapidamente e em voz bem alta os algarismos 0, 1, 2, etc., agarrava a mão direita do espectador, fazendo o simulacro de escrever cada um dos algarismos, ao mesmo tempo, que os enunciava. Quando o algarismo pensado era pronunciado, o espectador tinha um ligeiro movimento que o levava, sem que ele se apercebesse, a escrever, ele mesmo, o algarismo.

Esta influência do inconsciente se revela plenamente na escrita. É desta observação que nasceu a grafologia. Se a nossa saúde se altera, nós vemos os finais das palavras, as terminações das linhas abaixarem-se da maneira mais desalentada. Ao contrário, linhas ascendentes revelam uma saúde florescente, uma excelente moral e perspectivas ambiciosas, confessadas ou não.

Da mesma forma, aquele que a vida tornou concentrado, fechará seus o e seus a, afivelando-os mesmo, se ele se tornou de todo desconfiado. Aquele que é voluntário, corta fortemente seus t. O fato de pontuar corretamente revela hábitos de ordem. Mil outros indícios podem nos revelar o estado de saúde ou de espírito daqueles com quem tratamos.

É ao inconsciente ainda que se deve atribuir o medo do fiasco e os sonhos. O medo do fiasco, isto é, a timidez, é o temor exagerado do público. A força de se dizer que ele vai falar mal, mal cantar ou mal representar, o infeliz medroso põe-se em um tal estado que se realiza suas mais sinistras predições. Sua memória se paralisa, suas ideias não têm mais nenhuma coerência, as palavras que ele deve proferir fogem-lhe. E quando ele dá fé desses desfalecimentos, seus temores duplicam. Seu corpo amolece, suas pernas se recusam a sustentá-lo, sente um aperto na laringe e no estômago e, não raro, torna-se presa da afonia e de penosas vertigens.

O medo do fiasco exerce uma influência nefasta sobre os rins e os intestinos, que ele impede de funcionar. Suores abundantes e gelados cobrem o corpo do infeliz que experimenta tão rude provação. Vamos procurar demonstrar que nossos sonhos são o produto de nosso inconsciente, que, neste caso, age sozinho. Alfred Maury1 provou que a causa de certos sonhos reside em fatos psicológicos que precedem ou acompanham o sono ou nas associações inconscientes. M. Foucault insistiu sobre este último ponto2.

Um exemplo deste gênero de sonho, dado por Maury, é característico. O distinto psicólogo tinha-se dedicado a registrar suas impressões. Uma noite, ele se vê bruscamente diante de um tribunal revolucionário. Reconheceu o terrível Fouquier-Tinville e, dentro em pouco, viu-se condenar à morte. Passa para a prisão, ouve chamarem-no pelo nome, sobe para a carreta fúnebre; chega ao cadafalso, é impelido sobre a báscula e sente nitidamente sobre a nuca o pavoroso choque da lâ-mina. Desperta bruscamente e verifica que o dossel do leito acabara de cair-lhe sobre a nuca e de provocar seu retorno à plena consciência.
Assim é que, as múltiplas imagens que haviam desfilado em seu espírito tinham sucedido à queda do dossel. Vê-se com que rapidez assombrosa elas se produziram, pois que não havia certamente decorrido mais de um segundo entre o choque do pedaço de madeira do dossel e o despertar. Vê-se também que a inteligência do observador havia inconscientemente procurado uma explicação do fenômeno físico e psicológico, e que uma influência secreta tinha levado Maury a dizer para si mesmo:

‘Eu devo estar na época do Terror, pois que recebo sobre minha cabeça a lâmina da guilhotina.’

Começai a imaginar que lugar considerável ocupa o inconsciente em vossa vida mental. Pode-se dizer que os fatos conscientes são, em proporção aos fatos inconscientes, muito pouco numerosos. Nós o admitimos sem dificuldade, se considerarmos que são eles que presi-dem a tudo o que é em nós automático, invariável, sempre idêntico a si mesmo. Os fatos inconscientes se organizam e é de sua própria ordem que nasce a consciência. Ela é como a chama que se produz de uma vez no fogão, mas que não poderia iluminar, se o fole não tivesse atuado sobre as brasas.

A consciência não é, como julgou Maudsley, um luxo sem importância; ela é o resultado necessário de todo este encadeamento que passamos em revista convosco. Da mesma forma que nossa usina fisiológica tem por fim fabricar a força nervosa que, segundo a forte expressão de Th. Ribot,  se acumula em nosso inconsciente, assim também esta força, quando seu potencial é suficiente, se manifesta sob a forma consciente que nos resta estudar.”

Seguiremos, no nosso próximo encontro, aqui no Vórtice, compartilhando o estudo de Henri Durville sobre a consciência, encerrando o conhecimento básico do organismo material, da nossa usina humana, conforme esse autor denomina.

Referências;


1 Maury, Alfred – O sono e os sonhos.
2 Foucault, Marcel – O sonho; Paris, 1906.


JORNAL VÓRTICE ANO VII, n.º 09 - fevereiro - 2015


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domingo, 3 de maio de 2015

OS BONS MÉDIUNS - Manoel Philomeno de Miranda (espírito)


Manoel Philomeno de Miranda (espírito)

Inerente a todos os seres humanos, a faculdade mediúnica expressa-se de maneira variada, conforme a estrutura evolutiva, os recursos morais, as conquistas espirituais de cada indivíduo.
Incipiente em uns e ostensiva noutros, pode ser considerada com a peculiaridade psíquica que permite a comunicação dos homens com os Espíritos, mediante cujo contributo inúmeras interrogações e enigmas encontram respostas e elucidações claras para o entendimento dos reais mecanismos da existência física na Terra.
Distúrbios psíquicos inexplicáveis, desequilíbrios orgânicos injustificáveis, transtornos comportamentais e dificuldades nos relacionamentos sociais e afetivos, malquerenças e aflições íntimas destituídas de significado, exaltação e desdobramentos da personalidade, algumas alucinações visuais e auditivas, na mediunidade encontram seu campo de expansão, refletindo os dramas espirituais do ser, que procedem das experiências anteriores à atual existência física, alguns transformados em fenômenos obsessivos profundamente perturbadores.

Mal compreendida por largo tempo através da História, foi envolta em mitos e cercada de superstições, que nada têm a ver com a sua realidade.

Sendo uma percepção da alma encarnada cujo conteúdo as células orgânicas decodificam, não significa manifestação de angelitude ou de santificação, como também não representa punição imposta por Deus, a fim de alcançar os calcetas e endividados perante as Soberanas Leis.

Existente igualmente no ser espiritual, é uma faculdade do Espírito que, através dos delicados equipamentos sutis do seu perispírito, faculta o intercâmbio entre os desencarnados de diferentes esferas da Erraticidade.

Dessa maneira, não se trata de um calvário de padecimentos intérminos em cujo curso a tristeza e o sofrimento dão-se as mãos, como pretendem alguns portadores de comportamento masoquista, mas também não é característica de superioridade moral, que distingue o seu possuidor em relação às demais pessoas.

Pode ser considerada como a moderna escada de Jacó, que permite a ascensão espiritual daquele que se lhe dedica com abnegação e devotamento.

Semelhante às demais faculdades do ser humano, exige cuidados especiais, quais aqueles que se dispensam à inteligência, à memória, às aptidões artísticas e culturais...

O conhecimento do seu mecanismo torna-se indispensável para que seja exercida com seriedade, ao lado de cuidados outros que se lhe fazem essenciais, quais sejam, a identificação da lei dos fluidos, a aplicação dos dispositivos morais para o aperfeiçoamento incessante, a disciplina dos equipamentos nervosos, as disposições superiores para o bem, o nobre e o edificante.

Neutra, sob o ponto de vista ético-moral, qual ocorre com as demais faculdades, é direcionada pelo seu portador, que se encarrega de orientá-la conforme as próprias aspirações, perseguindo os objetivos elevados, que são a meta essencial da reencarnação.

À medida que o médium introjeta reflexões em torno do seu conteúdo valioso, mais se lhe dilatam as possibilidades, que, disciplinadas, facultam ensejo para a produção de resultados compatíveis com o direcionamento que se lhe aplique.

A observação cuidadosa dos sintomas através dos quais se expressa, favorece a perfeita identificação daqueles que se comunicam e podem contribuir em favor do progresso moral do medianeiro.

O hábito do silêncio interior e da quietação emocional faculta-lhe a captação das ondas que permitem o intercâmbio equilibrado, ampliando-lhe a área de serviços espirituais.

Concessão divina para a Humanidade, é a ponte que traz de volta aqueles que abandonaram o corpo físico ou que dele foram expulsos, sem que deixassem a vida, comprovando-lhes a imortalidade em triunfo.

Ante a impossibilidade de ser alcançada a perfeição mediúnica, face à condição predominante de mundo de provações que caracteriza o planeta terrestre e tipifica os seus habitantes por enquanto, cada servidor deve lutar para adquirir a qualidade de bom médium, isto é, aquele que comunica com facilidade, que se faz instrumento dócil aos Espíritos que o utilizam sob a orientação do seu Mentor.

Nunca se acreditando imaculado, sabe que pode ser vítima da mistificação dos zombeteiros e maus, não a temendo, mas trabalhando por sutilizar as suas percepções psíquicas e emocionais, e elevando-se moralmente para atingir patamares mais enobrecidos nas faixas da evolução.

A facilidade com que os desencarnados o utilizam, especialmente por estar disponível sempre que necessário, propicia-lhe maior sensibilidade e o credencia ao apoio dos Guias da Humanidade, que o cercam de carinho e o inspiram para a ascensão contínua.

Consciente dos próprios limites e das infinitas possibilidades da Vida, reconhece o quanto necessita de transformar-se interiormente para melhor, a fim de ser enganado menos vezes e jamais enganar aos outros, pelo menos conscientemente.

A disciplina e o equilíbrio moral, os pensamentos e as ações honoráveis, o salutar hábito da oração e da meditação, precatam-no das investiduras dos maus e perversos que pululam em toda parte, preservando-lhe os sutis equipamentos mediúnicos dos choques de baixo teor vibratório que lhes são inerentes, ajudando-o, assim, a manter contato com esses infelizes, quando necessário, porém, sob o controle dos Guias que os conduzem, jamais ao paladar e apetite da loucura que os avassala.

O bom médium é simples e sem as complexidades do agrado da ignorância, do egoísmo e da presunção, cujas conquistas são internas e que irradia os valores morais de dentro para fora, qual antena que possui os requisitos próprios para a captação das ondas que serão transformadas em imagens sonoras, visuais ou portadoras de força motriz para muitas finalidades.

Quando esteja açodado pelas conjunturas difíceis ou afligido pelas provações iluminativas, que fazem parte do seu processo de evolução, nunca deve desanimar, nem esperar fruir de privilégios, que os não possui, seguindo fiel e tranqüilo no desempenho da tarefa que lhe diz respeito, preservando a alegria de viver, servir e amar.

O trabalho edificante será sempre o seu apoio de segurança, que o fortalecerá em todos os momentos da existência física, nunca se refugiando na inoperância, que é geradora de mil males que sempre perturbam.

Porque identifica as próprias deficiências, não se jacta da faculdade que possui, reconhecendo que ela pode ser bloqueada ou retirada, empenhando-se para torná-la uma ferramenta de luz a serviço do Amor em todos os instantes.

Os bons médiuns, que escasseiam, em razão da momentânea inferioridade humana, são os instrumentos hábeis para contribuírem em favor do Mundo Novo de amanhã, quando a mediunidade, melhor compreendida e mais bem exercida, se tornará uma conquista valiosa do espírito humano credenciado para a felicidade que já estará desfrutando.

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão mediúnica da noite de 08 de agosto de 2001, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)


(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 2001)

sábado, 2 de maio de 2015

PARA OS ESPÍRITOS O PENSAMENTO É TUDO


Estudo com base numa comunicação dos Espíritos Erasto e Timóteo in O Livro dos Médiuns, Cap. XIX, Papel do Médium nas Comunicações, item 225. Obra codificada por Allan Kardec.

Pesquisa: Elio Mollo

Os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Contudo, o ser encarnado põe o seu corpo, como instrumento de comunicação por palavras, à disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo.  Assim, podemos perceber a importância do papel dos médiuns nas comunicações espíritas
Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço, porém, rápido como o pensamento. Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está também, uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da alma. Para os Espíritos o pensamento é tudo. (1)

Os Espíritos agindo sobre os fluidos espirituais, não os manipulam como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos, combinam-nos ou os dispersam. É com esses fluidos que eles formam a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual. (2)

A linguagem dos Espíritos é o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los, pois, sendo a linguagem a expressão do pensamento, eles tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más que possuem em sua capacidade evolutiva, sendo assim, o primeiro sentimento que os evocadores e os médiuns devem ter em relação a eles é o da prudência (3), pois os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não possuem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência. O saber dos Espíritos esta limitado ao grau de seu adiantamento, e a suas opiniões tem unicamente o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida preservará os evocadores e os médiuns da grande dificuldades de crerem em suas infalibilidades. Inclusive, é útil e sensato não formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns Espíritos. (4)

Salvo algumas poucas exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos de que dispõe, e a expressão desse pensamento pode e deve, o mais frequentemente, ressentir-se da imperfeição desses meios.

Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, mecânicos, semi-mecânicos ou simplesmente intuitivos, os processos de comunicação dos Espíritos não variam na essência. As comunicações com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação do pensamento. Os pensamentos não necessitam das vestes da palavra para que os Espíritos os compreendam. Todos os Espíritos percebem o pensamento transmitido, pelo simples fato de ele ter sido dirigido a alguém, um grupo, ou de uma maneira geral e cada um o entenderá na razão do grau de suas faculdades intelectuais. Quer dizer que determinado pensamento pode ser compreendido por estes e aqueles, segundo o respectivo adiantamento, enquanto para outros o mesmo pensamento, não despertará nenhuma lembrança nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do seu cérebro não será perceptível. No caso de ser um Espírito encarnado que serve de médium, este processo é o método mais apropriado para transmitir o pensamento de um Espírito para outros encarnados, mesmo que o médium não o compreenda.

Se um Espírito tiver a necessidade de usar de um médium para comunicar o seu pensamento por palavras, ele irá usar um ser terreno (espirito encarnado), porque este pode ceder o seu corpo como um instrumento, colocando-se a sua disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo. Eis aqui um ponto importante do papel dos médiuns nas comunicações espíritas.

Assim, quando os Espíritos superiores encontram num médium o cérebro cheio de conhecimentos adquiridos na sua vida atual, e o seu Espírito rico de conhecimentos anteriores, latentes, próprios a facilitar as comunicações, eles preferem servir-se dele, porque então o fenômeno da comunicação será muito mais fácil do que através de um médium da inteligência limitada, e cujos conhecimentos anteriores fossem insuficientes.

Para compreender melhor tentaremos usar algumas explicações que nos parecem ser mais claras e precisas.

Com um médium cuja inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, o pensamento do Espírito se comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito, graças a uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso o Espírito encontra no cérebro do médium os elementos apropriados à roupagem de palavras correspondentes a esse pensamento, quer o médium seja intuitivo, semi-mecãnico ou mecânico. É por isso que apesar de diversos Espíritos se comunicarem através do médium, os ditados por eles recebidos trazem sempre o cunho pessoal do médium, quanto à forma e ao estilo. Porque embora o pensamento não seja absolutamente dele, o assunto não se enquadre em suas preocupações habituais, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha do médium, ele não deixa de exercer sua influência na forma, dando-lhe as qualidades e propriedades características da sua individualidade. É precisamente como quando olhamos diversos lugares através de binóculos coloridos, de lentes brancas, verdes ou azuis, e embora os lugares e objetos vistos pertençam ao mesmo trecho, mas tenham aspectos inteiramente diferentes, aparecem sempre com a coloração dada pelas lentes.

Melhor ainda: comparemos os médiuns a esses botijões de vidros com líquidos coloridos e transparentes que se veem nos laboratórios farmacêuticos. Pois bem, os Espíritos são como focos luminosos voltados para certos trechos de paisagens morais, filosóficas, psicológicas, iluminando-os através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de maneira que os nossos raios luminosos tomam essas colorações, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha dele, ou seja, obrigados a atravessar vidros mais ou menos bem lapidados, mais ou menos transparentes, o que vale dizer médiuns mais ou menos apropriados, esses raios só atingem os objetos que os Espíritos desejam iluminar tomando a coloração ou a forma própria e particular desses médiuns.

Para terminar oferecemos mais uma comparação: os Espíritos são como os compositores de música que tendo composto ou querendo improvisar uma ária só dispõem de um destes instrumentos; um piano, um violino, uma flauta, um fagote ou um apito comum. Não há dúvida que com o piano, com a flauta ou com o violino eles executarão a ária de maneira satisfatória. Embora os sons do piano, do fagote ou da flauta sejam essencialmente diferentes entre si, a composição do Espírito será sempre a mesma nas diversas variações de sons. Mas se ele dispõe apenas de um apito comum, ou mesmo de um sifão de esguicho, ei-lo em dificuldade.

Quando os Espíritos são obrigados a servir-se de médiuns pouco adiantados o trabalho deles se torna mais demorado e penoso, pois eles tem de recorrer a formas imperfeitas de expressão, o que é para eles um embaraço. São então forçados a decompor os pensamentos e ditar palavra por palavra, letra por letra, o que é fatigante e aborrecido, constituindo verdadeiro entrave à presteza e ao bom desenvolvimento das manifestações espíritas.

É por isso que eles se sentem felizes quando encontram médiuns bem apropriados, suficientemente aparelhados, munidos de elementos mentais que podem ser prontamente utilizados, bons instrumentos, numa palavra, porque então o perispírito dos Espíritos, agindo sobre o perispírito daquele que mediunizam, só tem de lhe impulsionar a mão que serve de porta caneta ou porta lápis. Com os médiuns mal aparelhados eles, para se comunicarem são obrigados a realizar um trabalho por meio de pancadas, ou seja, indicando letra por letra, palavra por palavra, para formar as frases que traduzem o pensamento a ser transmitido. Essa a razão dos Espíritos preferirem as classes esclarecidas e instruídas, para a divulgação do Espiritismo e o desenvolvimento da mediunidade escrevente, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais destituídos de moralidade. E é também por isso que, se deixam aos Espíritos brincalhões e pouco adiantados a transmissão das comunicações tangíveis por meios de pancadas e os fenômenos de transporte, é porque os homens são pouco sérios preferindo os fenômenos que lhes tocam os olhos e os ouvidos aos de natureza puramente espiritual, puramente psicológica.

Quando os Espíritos desejam ditar mensagens espontâneas agem sobre o cérebro, nos arquivos do médium, e juntam o material deles com os elementos que o médium fornece. E tudo isso sem que ele o perceba. É como se os Espíritos tirassem da bolsa do médium o seu dinheiro e dispuséssem a moedas, para somá-las. Na ordem que lhes parecer melhor. (5)

Mas quando o próprio médium quer interrogar os Espíritos, melhor será que antes reflita seriamente a fim de fazer as perguntas de maneira metódica, facilitando assim o trabalho deles para responder. Porque o cérebro do médium, como acontece frequentemente, pode estar numa desordem dificílima de organizar, sendo para os Espíritos muito mais difícil trabalhar com o labirinto do pensamento do médium.

Quando as perguntas devem ser feitas por terceiro, é bom e conveniente que sejam antes comunicadas ao médium para que ele se identifique com o Espírito do interrogante, impregnando-se, por assim dizer, das suas intenções. Porque então os Espíritos terão muito mais facilidades para responder, graças à afinidade existente entre o perispírito do Espírito e o do médium que servirá de intérprete (6).

Certamente, os Espíritos podem tratar de Matemáticas através de um médium que as desconheça por completo, mas quase sempre o Espírito do médium possui esse conhecimento em estado latente. Isso quer dizer que se trata de um conhecimento pessoal do ser fluídico e não do ser encarnado, porque o seu corpo atual é um instrumento inadequado ou rebelde a essa forma de conhecimento. O mesmo se dá com a Astronomia, a Poesia, a Medicina e as línguas diversas, e ainda com todos os demais conhecimentos peculiares à espécie humana. Por fim, os Espíritos, tem ainda o meio dificultoso de elaboração, aplicado aos médiuns completamente estranhos ao assunto tratado, que é o de reunião das letras e das palavras como se faz em tipografia (7).

Finalizando, os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Eles o percebem e os transmitem naturalmente entre si. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Enquanto a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, enfim, são necessários para percepção dos seres encarnados, mesmo mental, nenhuma forma visível ou tangível é necessária para os Espíritos. (8).

Esta análise do papel dos médiuns e dos processos, pelos quais se comunicam é tão clara quanto lógica. Dela decorre o princípio de que o Espírito não se serve das ideias do médium, mas dos materiais necessários para exprimir os seus próprios pensamentos, existentes no cérebro do médium, e de que, quanto mais rico for cérebro do médium, mais fácil se torna a comunicação.

Os que exigem esses fenômenos para se convencerem, devem antes tratar de estudar a teoria, só assim, poderão saber em que condições especiais eles se produzem. (9)


NOTAS

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Escala Espírita, itens 89, 89a e 100.
 (2) Ver Allan Kardec, Revista Espírita junho 1868, Fotografia do Pensamento.
 (3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, setembro 1859, Procedimentos para Afastar os Maus Espíritos.
 (4) Ver Allan Kardec, Obras Póstumas, 2ª. Parte, Minha primeira iniciação no Espiritismo.
 (5) Note-se a precisão deste exemplo: o médium possui os elementos materiais da comunicação, que no caso são as moedas; o Espírito os toma e utiliza segundo as suas ideias para exprimir o seu pensamento. Os exemplos anteriores são também de extrema clareza. Mas devemos ressaltar neste capitulo o perfeito esclarecimento das relações entre os Espíritos e os médiuns. Graças a esse esclarecimento, compreende-se a função médiuns como de verdadeiro intérprete espiritual e os problemas tantas vezes levantados pela crítica, como o da marca pessoal do médium nas mensagens, o da trivialidade da maioria destas, o da dificuldade na obtenção de comunicações de teor elevado no campo das Ciências ou da Filosofia, e outros que tais ficam perfeitamente esclarecidos. Vê-se que os críticos do Espiritismo, em sua esmagadora maioria, nada conhecem de todos esses problemas, expostos de maneira precisa e didática há mais de um século. (Nota de J. Herculano Pires)
 (6) Observe-se aqui a origem de uma das maiores dificuldades encontradas pela pesquisa psíquica. A lei de afinidade fluídica é desconsiderada pelos pesquisadores, em nome da desconfiança "necessária" ao rigor científico. Felizmente, na atualidade, os estudos de Parapsicologia sobre as relações entre o experimentador e o sensitivo modificaram muito essa situação, dando razão à pesquisa espírita. Compreende-se, afinal, depois de muitas torturas físicas e morais impostas aos médiuns, que o problema exige condições psicológicas favoráveis.  (Nota de J. Herculano Pires)
 (7) Note-se a diferença entre ser fluídico e ser encarnado. O primeiro, como Espírito, possui conhecimentos e predicados que podem não se refletir no segundo. O ser encarnado é um condicionamento especial do ser fluídico para uma experiência terrena, com vistas aos objetivos dessa experiência. A personalidade total do homem está no Espírito e não na conjugação espírito corpo.  que constitui a sua forma de manifestação temporária e específica na Terra. (Nota de J. Herculano Pires)
 (8) A expressão vestir os pensamentos com palavras corresponde precisamente ao princípio espírita da encarnação e da materialização. O pensamento, segundo a Lógica, é uma entidade abstraia, que existe realmente, mas como objeto lógico.  Essa entidade se manifesta no plano material através dos elementos convencionados para traduzir ideias: a palavra, a letra, os sinais da mímica, telegráficos e outros. É a esses signos convencionais que os Espíritos recorrem para nos transmitir, através dos médiuns, os seus pensamentos, que então se encarnam ou se materializam na palavra, na escrita, na tiptologia. Esse problema lógico, até há pouco encarado como de simples abstração mental, passou para o plano da realidade científica através das pesquisas parapsicológicas sobre telepatia. O pensamento não é hoje apenas um objeto lógico, sem realidade própria, uma espécie de epifenômeno produzido pelo cérebro (segregado pelo cérebro como o fígado segrega a bílis, segundo a conhecida expressão materialista), mas um objeto dotado de realidade cientificamente constatada e cuja natureza extrafísica (segundo Rhine e sua escola)  abre as portas da Ciência para um novo mundo, evidentemente o espiritual. Na Física moderna o problema é colocado em termos de antimatéria, mas também já foi atingido e o físico nuclear Arthur Compton chegou mesmo a afirmar que "por trás da energia", a que as pesquisas reduziram a própria matéria, existe algo mais, e que esse algo mais "parece ser pensamento".  Vemos assim a importância dessas explicações dos espíritos de Erasto e Timóteo, dadas há mais de um século e sistematicamente desprezadas e ridicularizadas pelos que negam e combatem o Espiritismo. (Nota de J. Herculano Pires)

 (9) Porque os Espíritos se referiram ao cérebro e não à mente, nessas explicações, Kardec segue a mesma linha nas suas observações? Porque estão explicando o processo de manifestação, que implica a materialização do pensamento. E claro que os elementos ou materiais que aludem são abstratos, são conceitos, mas em forma palavras. Atente-se para a explicação final de que as palavras nos são necessárias pá a percepção do pensamento, mesmo mental, e será fácil compreender que eles trata das funções mentais do cérebro, que é o instrumento material da mente. De fato, (experiências telepáticas ficou demonstrado que a transmissão do pensamento se por meio de palavras, em virtude do nosso hábito de pensar em palavras. (Nota de J. Herculano Pires).