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segunda-feira, 13 de julho de 2015

INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS SOBRE OS NOSSOS PENSAMENTOS E AS NOSSAS AÇÕES.


Estudo com base in O Livro dos Espíritos, Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo,
Capítulo IX, itens de 456 à 472. Obra codificada por Allan Kardec

Pesquisa: Elio Mollo

Livres da matéria, os Espíritos usam o pensamento para se comunicarem entre si e com os encarnados. Para eles o pensamento é tudo. (1). Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está também, uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da alma. (2)

Os Espíritos podem, muitas vezes, conhecer os nossos pensamentos mais secretos, principalmente, aquilo que desejaríamos ocultar a nós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para eles.  Assim sendo, pareceria mais fácil ocultar-se uma coisa a uma pessoa viva, pois não o podemos fazer a essa mesma pessoa depois de morta, pois quando nos julgamos bem escondidos, temos muitas vezes ao nosso lado uma multidão de Espíritos que nos veem. 

A ideia que fazem de nós, os Espíritos que estão ao nosso redor e nos observam, depende da capacidade evolutiva do observador, assim, os Espíritos levianos riem das pequenas traquinices que nos fazem, e zombam das nossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam as nossas trapalhadas e tratam de nos ajudar. 

Os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações, e nesse sentido, a influência deles é maior do que podemos supor, porque muito frequentemente são eles que nos dirigem.

Temos pensamentos próprios e outros que nos são sugeridos, ou seja, a nossa alma é um Espírito que pensa e não podemos ignorar que muitos pensamentos nos ocorrem, a um só  tempo, sobre o mesmo assunto e frequentemente bastante contraditórios. Pois bem: nesse conjunto há sempre os nossos e os dos Espíritos, e é isso o que nos deixa na incerteza, porque temos em nós duas ideias que se combatem. Para distinguir os nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos, temos que, quando um pensamento nos é sugerido, é como uma voz que nos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os que nos ocorrem no primeiro impulso. De resto, não há grande interesse para nós nessa distinção, e é frequentemente útil não o sabermos, assim, o homem pode agir mais livremente e, se decidir pelo bem, o fará de melhor vontade, e se tomar o mau caminho a sua responsabilidade será maior.

Os homens de inteligência e de gênio, algumas vezes, as ideias surgem de seu próprio Espírito, mas frequentemente lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de as  compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram  em si mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem o suspeitar.

Se fosse útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos, Deus nos teria dado o meio de fazê-lo, como nos deu o de distinguir o dia e a noite. Quando uma coisa permanece vaga é que assim deve ser para o nosso bem.

O primeiro impulso pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve as boas inspirações.

Para distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito, devemos aprender que os bons Espíritos não aconselham senão o bem, assim, cabe a nós distinguir e escolher.

Os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal com a intenção de nos fazer sofrer como eles, ou seja, eles o fazem por inveja dos seres mais felizes e porque ainda se sentem pertencer a uma ordem inferior e estarem com a consciência pesada a lhe cobrarem a reparação dos seus erros.

Também podemos dizer que os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Nós, como Espíritos, devemos progredir na ciência do infinito, e é por isso que passamos pelas provas do mal até chegarmos ao bem.

A missão dos bons Espíritos é a de nos porem no bom caminho, e quando más influências agem sobre nós, somos nós mesmos que as chamamos, pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores, também, vêm em nosso auxílio para nos fazer praticar o mal quando temos a vontade de o cometer. (3) Assim, se somos inclinado ao assassínio, teremos uma nuvem de Espíritos ainda voltados ao mal fortalecendo esse pensamento em nós, contudo, quando temos a vontade de fazer o bem, também, teremos junto a nós, Espíritos bons que tratarão de nos influenciar para o bem, isso faz com que se reequilibre a balança, assim, Deus deixa à nossa consciência a escolha da rota que devemos seguir, e a liberdade de ceder a uma ou a outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.

O homem pode se afastar da influência dos Espíritos que o incitam ao mal, porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.

Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade (4) do homem renunciam às suas tentativas, ou seja, quando nada têm para fazerem, abandonam o campo. Não obstante, espreitam o momento favorável, como o gato espreita o rato.

O melhor meio para neutralizar a influência dos maus Espíritos e fazendo o bem e colocando toda a nossa confiança em Deus, assim, repelimos a influência dos Espíritos inferiores e destruímos o império que desejam ter sobre nós. Devemos evitar de dar ouvidos as sugestões dos Espíritos que suscitam em nós os maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em nós todas as más paixões. Desconfiemos  sobretudo daqueles que exaltam o nosso orgulho, porque eles aproveitam das nossas fraquezas. Eis porque Jesus nos ensinou através da oração dominical: "Senhor, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal!"

Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando ele o faz, é pela sua própria vontade e consequentemente terá de sofrer as consequências (5). Deus pode deixá-lo fazer para nos provar, mas jamais o ordena, assim, cabe a nós afastar essa espécie de Espirito. 

Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível, ou de satisfação interior sem causa conhecida, isso pode ser consequência de um efeito das comunicações que, sem o saber, tivemos com os Espíritos, ou das relações que tivemos com eles durante o sono. 

Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal aproveitam a circunstância, mas frequentemente a provocam, empurrando-nos sem o percebermos para o objeto da nossa ambição. Assim, por exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acreditemos pois que foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar-se dele, enquanto outros lhe sugerem devolver o dinheiro ao dono. Acontece o mesmo em todas as outras tentações.

NOTAS:

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, item 100, Escala Espírita.
(2) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, item 89a, Forma e Ubiquidade dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, primeira parte, cap. II, item 7..
(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VI, item 100, questão 11.
 (4) A vontade não é uma entidade, uma substância e nem mesmo uma propriedade da matéria mais eterizada: é o atributo essencial do Espírito, ou seja, do ser pensante. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VIII, Laboratório do Mundo Invisível, item 131.)


(5) Diz o texto francês: "et par conséquent il en subit les conséquences". Em geral, nas traduções, procura- se corrigir a repetição. Preferimos respeitá-la, mesmo porque nos parece destinada a dar ênfase ao fato. (Nota. de J. Herculano Pires)

domingo, 3 de maio de 2015

OS BONS MÉDIUNS - Manoel Philomeno de Miranda (espírito)


Manoel Philomeno de Miranda (espírito)

Inerente a todos os seres humanos, a faculdade mediúnica expressa-se de maneira variada, conforme a estrutura evolutiva, os recursos morais, as conquistas espirituais de cada indivíduo.
Incipiente em uns e ostensiva noutros, pode ser considerada com a peculiaridade psíquica que permite a comunicação dos homens com os Espíritos, mediante cujo contributo inúmeras interrogações e enigmas encontram respostas e elucidações claras para o entendimento dos reais mecanismos da existência física na Terra.
Distúrbios psíquicos inexplicáveis, desequilíbrios orgânicos injustificáveis, transtornos comportamentais e dificuldades nos relacionamentos sociais e afetivos, malquerenças e aflições íntimas destituídas de significado, exaltação e desdobramentos da personalidade, algumas alucinações visuais e auditivas, na mediunidade encontram seu campo de expansão, refletindo os dramas espirituais do ser, que procedem das experiências anteriores à atual existência física, alguns transformados em fenômenos obsessivos profundamente perturbadores.

Mal compreendida por largo tempo através da História, foi envolta em mitos e cercada de superstições, que nada têm a ver com a sua realidade.

Sendo uma percepção da alma encarnada cujo conteúdo as células orgânicas decodificam, não significa manifestação de angelitude ou de santificação, como também não representa punição imposta por Deus, a fim de alcançar os calcetas e endividados perante as Soberanas Leis.

Existente igualmente no ser espiritual, é uma faculdade do Espírito que, através dos delicados equipamentos sutis do seu perispírito, faculta o intercâmbio entre os desencarnados de diferentes esferas da Erraticidade.

Dessa maneira, não se trata de um calvário de padecimentos intérminos em cujo curso a tristeza e o sofrimento dão-se as mãos, como pretendem alguns portadores de comportamento masoquista, mas também não é característica de superioridade moral, que distingue o seu possuidor em relação às demais pessoas.

Pode ser considerada como a moderna escada de Jacó, que permite a ascensão espiritual daquele que se lhe dedica com abnegação e devotamento.

Semelhante às demais faculdades do ser humano, exige cuidados especiais, quais aqueles que se dispensam à inteligência, à memória, às aptidões artísticas e culturais...

O conhecimento do seu mecanismo torna-se indispensável para que seja exercida com seriedade, ao lado de cuidados outros que se lhe fazem essenciais, quais sejam, a identificação da lei dos fluidos, a aplicação dos dispositivos morais para o aperfeiçoamento incessante, a disciplina dos equipamentos nervosos, as disposições superiores para o bem, o nobre e o edificante.

Neutra, sob o ponto de vista ético-moral, qual ocorre com as demais faculdades, é direcionada pelo seu portador, que se encarrega de orientá-la conforme as próprias aspirações, perseguindo os objetivos elevados, que são a meta essencial da reencarnação.

À medida que o médium introjeta reflexões em torno do seu conteúdo valioso, mais se lhe dilatam as possibilidades, que, disciplinadas, facultam ensejo para a produção de resultados compatíveis com o direcionamento que se lhe aplique.

A observação cuidadosa dos sintomas através dos quais se expressa, favorece a perfeita identificação daqueles que se comunicam e podem contribuir em favor do progresso moral do medianeiro.

O hábito do silêncio interior e da quietação emocional faculta-lhe a captação das ondas que permitem o intercâmbio equilibrado, ampliando-lhe a área de serviços espirituais.

Concessão divina para a Humanidade, é a ponte que traz de volta aqueles que abandonaram o corpo físico ou que dele foram expulsos, sem que deixassem a vida, comprovando-lhes a imortalidade em triunfo.

Ante a impossibilidade de ser alcançada a perfeição mediúnica, face à condição predominante de mundo de provações que caracteriza o planeta terrestre e tipifica os seus habitantes por enquanto, cada servidor deve lutar para adquirir a qualidade de bom médium, isto é, aquele que comunica com facilidade, que se faz instrumento dócil aos Espíritos que o utilizam sob a orientação do seu Mentor.

Nunca se acreditando imaculado, sabe que pode ser vítima da mistificação dos zombeteiros e maus, não a temendo, mas trabalhando por sutilizar as suas percepções psíquicas e emocionais, e elevando-se moralmente para atingir patamares mais enobrecidos nas faixas da evolução.

A facilidade com que os desencarnados o utilizam, especialmente por estar disponível sempre que necessário, propicia-lhe maior sensibilidade e o credencia ao apoio dos Guias da Humanidade, que o cercam de carinho e o inspiram para a ascensão contínua.

Consciente dos próprios limites e das infinitas possibilidades da Vida, reconhece o quanto necessita de transformar-se interiormente para melhor, a fim de ser enganado menos vezes e jamais enganar aos outros, pelo menos conscientemente.

A disciplina e o equilíbrio moral, os pensamentos e as ações honoráveis, o salutar hábito da oração e da meditação, precatam-no das investiduras dos maus e perversos que pululam em toda parte, preservando-lhe os sutis equipamentos mediúnicos dos choques de baixo teor vibratório que lhes são inerentes, ajudando-o, assim, a manter contato com esses infelizes, quando necessário, porém, sob o controle dos Guias que os conduzem, jamais ao paladar e apetite da loucura que os avassala.

O bom médium é simples e sem as complexidades do agrado da ignorância, do egoísmo e da presunção, cujas conquistas são internas e que irradia os valores morais de dentro para fora, qual antena que possui os requisitos próprios para a captação das ondas que serão transformadas em imagens sonoras, visuais ou portadoras de força motriz para muitas finalidades.

Quando esteja açodado pelas conjunturas difíceis ou afligido pelas provações iluminativas, que fazem parte do seu processo de evolução, nunca deve desanimar, nem esperar fruir de privilégios, que os não possui, seguindo fiel e tranqüilo no desempenho da tarefa que lhe diz respeito, preservando a alegria de viver, servir e amar.

O trabalho edificante será sempre o seu apoio de segurança, que o fortalecerá em todos os momentos da existência física, nunca se refugiando na inoperância, que é geradora de mil males que sempre perturbam.

Porque identifica as próprias deficiências, não se jacta da faculdade que possui, reconhecendo que ela pode ser bloqueada ou retirada, empenhando-se para torná-la uma ferramenta de luz a serviço do Amor em todos os instantes.

Os bons médiuns, que escasseiam, em razão da momentânea inferioridade humana, são os instrumentos hábeis para contribuírem em favor do Mundo Novo de amanhã, quando a mediunidade, melhor compreendida e mais bem exercida, se tornará uma conquista valiosa do espírito humano credenciado para a felicidade que já estará desfrutando.

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na sessão mediúnica da noite de 08 de agosto de 2001, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)


(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 2001)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

COMO ENTENDER A ORTODOXIA - PARTE II

Nelson Costa da Silva

A Doutrina dos Espíritos nos lança a uma ordem tão grandiosa de estudos, que este só pode ser feito por pessoas sérias, perseverantes, isentas de toda e qualquer prevenção e com uma vontade firme de se esclarecer. Não o podem aqueles que a seguem levianamente, que não dão aos estudos seqüência, regularidade ou a cautela necessária.

Aqueles que não queiram estudar, ou que aderem por aderir, aceitando tudo que se lhes apresenta como se espiritismo fosse, apenas para não perder a pose de homens de espírito, que se empenham em ridicularizar aos que tomam o estudo e as pesquisas como coisa séria, ou aqueles que tentam tornar como ridículo o esforço e a dedicação de se apresentar o Espiritismo em seu viés filosófico com as conseqüências morais, assim como o de demonstrar a utilidade para o avanço da ciência, que se calem em suas críticas inócuas; ninguém tenciona impor-lhes a mudança nas suas crenças espiritualistas, ninguém tenciona violentá-los nas suas convicções, mas que saibam, no entanto, respeitar a convicção dos que defendem a coerência doutrinária Espiritista.

O movimento que torna forte a manutenção da Ortodoxia dos Ensinamentos dos Espíritos é um movimento formado por pessoas comprometidas com a base desses ensinamentos, em toda a extensão das obras que compõem a Doutrina dos Espíritos. A coerência será defendida pela convicção de que o que está postulado ao longo da gênese do Espiritismo foi construído com a mais cuidadosa lógica e a mais apurada racionalidade, não havendo, até os dias atuais, alguém que pudesse contestar essa lógica ou que pudesse desacreditá-la com a razão.

Então dizem que o movimento em prol dessa Ortodoxia e que as pessoas concordantes com os avanços filosóficos e científicos do Espiritismo não passam de iludidos, retrógrados e fundamentalistas. Não se pode admitir a pretensão de alguns críticos que julgam ter o privilégio do bom senso e que, desrespeitando a decência ou o valor moral das pessoas que se aliam à idéia do movimento pela coerência e ortodoxia, os tacham, sem nenhuma cerimônia, de tolos todos aqueles que não estejam de acordo com as suas opiniões espiritualistas.

Aos olhos de todas as pessoas sensatas, ajuizadas, um movimento dessa natureza constituirá sempre um resgate aos fundamentos de base da Doutrina Espírita; constituirá sempre a propagação da coerência para as coisas do espírito, preservando as suas estruturas doutrinárias. E a esse movimento, faz-se mister salientar que a seu favor conta a lhe dar rumo e propósito, a atenção de homens sérios que não se dignam a propagar erros, enganos ou ilusões, e que não têm, também, tempo para perder com futilidades.

Quando se fala e se pratica a Ortodoxia Espírita é para combater, no terreno intelectual, o intenso e nocivo religiosismo e misticismo implantados, ao longo de mais de um século, ao movimento espírita atual. E combater não quer dizer atacar as pessoas que professam esse sistema de crença construído tal qual uma colcha de retalhos, ou rejeitar as pessoas que aderem a um espiritismo híbrido. O combate está proposto na divulgação e esclarecimentos coerentes com a base dos ensinamentos ditados pelos espíritos que compuseram a codificação Espírita. O combate está proposto na demonstração e fundamentação do atraso que causa ao indivíduo, quando não percebe a essência desses ensinamentos filosóficos, e quando não percebe o caráter progressista da Doutrina Espírita, ao ignorar o convite que a doutrina faz para que cada um a entenda em sua profunda filosofia e científica construção. A filosofia é a que dará ao indivíduo o suporte lógico e racional, para compreender os valores morais que alavancam a sua evolução e o seu progresso; e a ciência é a que dará ao indivíduo oportunidades, para que as experiências e as pesquisas das relações entre os mundos material e espiritual possam ser mais bem compreendidas.

Temos hoje o que identificamos como espiritismo híbrido, que é uma variação equivocada do Espiritismo como doutrina. Este [o Espiritismo] não se sustenta sob os pilares de nenhuma religião formal conhecida ou desconhecida. Ele é, especificamente, Filosofia de conseqüências morais e Ciência. Já aquele [o espiritismo híbrido] tem a lhe sustentar um pilar religioso, formal e sincrético, cuja base é a Igreja Católica Apostólica Romana. A criação do espiritismo híbrido, sincrético, com a fusão de dois elementos culturais antagônicos, na intenção de formar uma base de pensamento e prática sustentada num terceiro elemento, acabou formando uma mistura heterogênea, contraditória e paradoxal em si mesma. Enquanto um elemento [cultural] diz não à idolatria, o outro diz sim; enquanto um elemento diz não aos rituais, o outro diz sim; enquanto um elemento diz não à hierarquia, o outro diz sim; enquanto um elemento diz não às imagens e adorações personalizadas, o outro diz sim. O antagonismo cultural e filosófico só não é trágico, porque os interesses dos seus idealizadores superaram o desvio moral com a consciência doutrinária e ideológica.

Esse foi um passo fundamental e antidoutrinário de transformar o Espiritismo em religião – o espiritismo híbrido -, e fez com que os seus seguidores passassem a adorar e idolatrar Jesus e seus prepostos “santos”, colocando-os em patamar inalcançável, fazendo-os acreditar que assim encontrariam o caminho para a cura do sofrimento e das tragédias humanas. Num reduto cultural como o nosso, onde a religiosidade é latente, foram falácia e sofismas muito convenientes para agregar adeptos e lotar auditórios. É mais cômodo entregar os problemas nas "mãos" de Deus e crer que “Jesus salva". Entre todas as religiões podem-se distinguir, nesse panorama universal, quatro grandes tendências, na seguinte classificação: religiões de Integração, religiões de Servidão, religiões de Libertação e religiões de Salvação. Não é difícil saber e entender o porquê da escolha da religião de Salvação, para o sincretismo na Doutrina dos Espíritos. Para séculos de dominação religiosa, nada melhor do que se aliar. E o Espiritismo e a coerência são vilipendiados nos seus alicerces, pois não há movimentos significativos para a crítica e os consequentes esclarecimentos necessários aos adeptos menos esclarecidos.

Como se chegou a essa hibridez é um estudo que será apresentado em outra oportunidade. O interesse e o foco deste ensaio é o de demonstrar de que forma podemos e devemos entender a ortodoxia dos ensinamentos dos Espíritos, ou seja, a coerência da base doutrinária do Espiritismo. E para isso devemos considerar em primeira mão como análise dessa coerência, a fundamentação e a demonstração de o Espiritismo NÃO ser uma religião. E ao mesmo tempo e na mesma demonstração, fundamentar o equívoco perpetrado ao se concretizar, propagar e divulgar o espiritismo híbrido.

Quando Allan Kardec escreveu: "O Espiritismo é o futuro das religiões", muitas pessoas, notadamente aquelas que produziram e praticam o espiritismo híbrido, entenderam e defendem, ainda hoje e erradamente, que o codificador quisera dizer que o Espiritismo “é a religião do futuro”, porém Allan Kardec não tinha por hábito tropeçar intelectualmente na condução das suas idéias. Ele não poderia querer dizer aquilo que não dissera e não escrevera.

O codificador teve um cuidado muito grande para que as pessoas, ao terem contato com os postulados espíritas, entendessem que ali não se criava uma nova religião. E mesmo que não tivesse esse cuidado, a razão já levaria a essa conclusão. Os postulados da Doutrina são inconfundíveis. Mas Allan Kardec ia mais além; toda a vez que tinha oportunidade ou quando era confrontado com a afirmação de que o Espiritismo surgia como mais uma religião, ele, prontamente, rebatia a equivocada compreensão da Doutrina dos Espíritos. Uma das provas nós encontramos na Revista Espírita de maio de 1859, quando da refutação de um artigo do jornal O Universo, no número de 13 de abril daquele mesmo ano, que continha o artigo do senhor abade Chesnel onde a questão do Espiritismo foi longamente discutida, mas que não deixou de ter um erro grave, segundo Allan Kardec, que ele tratou, prontamente, de refutar. O codificador reportava à parte onde o artigo intitulava o Espiritismo como “Uma religião nova em Paris”, e como resposta disse ao longo de sua explanação ao abade:

“Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus adeptos, com homens de todas as crenças, e que por isso não renunciaram às suas convicções: os católicos fervorosos que não praticam menos todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e brâmanes; há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas idéias são incompatíveis com as observações espíritas.”

(...)

“O Espiritismo não é, pois, uma religião: de outro modo teria seu culto, seus templos, seus ministros. Cada um, sem dúvida, pode se fazer uma religião de suas opiniões, interpretar ao seu gosto as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja, há distância, e creio que seria imprudente dar-lhe a idéia.”

(...)

“A Sociedade, da qual falais, definiu seu objetivo por seu próprio título; o nome de: Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se parece com nada de uma seita; tem-lhe tampouco caráter, que seu regimento lhe interdita ocupar-se de questões religiosas; ela está alinhada na categoria de sociedades científicas porque, com efeito, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos que resultam das relações entre o mundo visível e o mundo invisível;”

Allan Kardec ainda disse mais: que o Espiritismo não formava homens ateus, mas isso não implicava, de modo algum, que aqueles que o seguissem fossem novos formandos religiosos. (grifo meu)

Como conseqüência filosófica o Espiritismo não nega Deus, não nega a alma, nem a sua individualidade após a morte do corpo físico, nem nega o livre arbítrio do homem, não nega as penas ou as recompensas futuras e, se os negasse, poderia ser considerada uma doutrina imoral. Ao contrário, o Espiritismo prova, não pela fé cega, mas pelos fatos, todas as bases fundamentais da religião, para demonstrar que o mais perigoso inimigo do homem é o materialismo. Ele ensina, pela resignação, a suportar dores e misérias da vida, minorando o desespero; ensina sobre o perdão e sobre o amor.

Então percebemos o acerto na afirmativa de Allan Kardec quando vaticinou ser o Espiritismo “o futuro das religiões”, pois, sem ser este uma religião vem para desempenhar o papel que as religiões omitiram, ao enunciar todas as consequências reservadas ao Espírito com clareza, raciocínio e lógicas irrefutáveis. Tornou claro aquilo que estava obscuro e tornou evidente aquilo que era duvidoso. O Espiritismo, sem ser uma religião, deveria ser uma ferramenta de conhecimento obrigatória para todas elas, pois ao invés de acompanhar impotente a perdição de almas, ele salva almas.



Deixar a Doutrina dos Espíritos em seu estado genésico e básico é de fundamental importância para o resgate do processo de evolução e progresso dos espíritos. Seguir a coerência com que o compêndio Espírita foi formulado é demonstrar sabedoria e lucidez intelectual. O Espiritismo é progressista pela natureza das suas bases e pelos seus objetivos, já que se sustenta nas Leis Divinas e Naturais. Aquilo que a ciência revelar, o Espiritismo dará curso, conforme orientações e esclarecimentos dos Espíritos da codificação, ao sugerirem que muitas coisas ainda não nos foram dadas conhecer, mas que a ciência se ocupará delas. E é para isso que devemos trabalhar, pelo esclarecimento e pelas pesquisas, e acima de tudo pela compreensão correta do que é o Espiritismo, ou a Doutrina dos Espíritos.

Fonte; NEFCA - NÚCLEO ESPÍRITA DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS APLICADAS


Leitura Recomendada;

A  AURA E OS CHACRAS NO ESPIRITISMO                                              (NOVO)
AS PAIXÕES: UMA BREVE ANÁLISE FILOSÓFICA E ESPÍRITA [1]          (NOVO)
COMO ENTENDER A ORTODOXIA - PARTE I                                            (NOVO)
ORGULHO                                                                                                     (NOVO)
SOBRE A EDUCAÇÃO1                                                                                (NOVO)
ESCOLA FUNDADA NO MONT-JURA                                                         (NOVO)
DA INVEJA                                                                                                     (NOVO)  
HUMILDADE - Termos traduzidos do francês                                                (NOVO)  
AS PIRÂMIDES DO EGITO E O MUNDO ESPIRITUAL                                (NOVO)  
LITERATURA MEDIÚNICA                                                                            (NOVO)
A DEGENERAÇÃO DO ESPIRITISMO                                        
CARTA DE ALLAN KARDEC AO PRÍNCIPE G.
A CIÊNCIA EM KARDEC
O QUE PENSA O ESPIRITISMO
ESPIRITISMO E FILOSOFIA
O PROBLEMA DO DESTINO
PIONEIRISMO E OPOSIÇÃO DA IGREJA
ESPIRITISMO Ou será científico ou não subsistirá
ESTUDO SEQUENCIAL OU SISTEMATIZADO?
CEM ANOS DE EVANGELIZAÇÃO ESPÍRITA
DIMENSÕES ESPIRITUAIS DO CENTRO ESPÍRITA
O ESPIRITISMO E A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
PRIMEIRO LIVRO DE ALLAN KARDEC TRADUZIDO PARA O BRASIL
O SEGREDO DE ALLAN KARDEC
A DIMENSÃO ESPIRITUAL E A SAÚDE DA ALMA
O ASPECTO FILOSÓFICO DA DOUTRINA ESPÍRITA
O SILÊNCIO DO SERVIDOR
TALISMÃS, FITINHAS DO “SENHOR DO BONFIM” E OUTROS AMULETOS NUM CONCISO COMENTÁRIO ESPÍRITA
“CURANDEIROS ENDEUSADOS”, CIRURGIÕES DO ALÉM – SOB OS NARCÓTICOS INSENSATOS DO COMÉRCIO
DILÚVIO DE LIVROS “ESPÍRITAS” DELIRANTES
TRATAR OU NÃO TRATAR: EIS A QUESTÃO
ATRAÇÃO SEXUAL, MAGNETISMO, HOMOSSESUALIDADE E PRECONCEITO
RECORDANDO A VIAGEM ESPÍRITA DE ALLAN KARDEC, EM 1862
OS FRUTOS DO ESPIRITISMO
FALTA DE MERECIMENTO OU DE ESTUDO?
FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO
EURÍPIDES E HÉCUBA
O HOMEM DA MÁSCARA DE FERRO
FONTE DE PERFEIÇÃO
MESMERISMO E ESPIRITISMO
VIVÊNCIAS EVOLUTIVAS DE ALLAN KARDEC
AS MESAS GIRANTES
RESGUARDEMOS KARDEC
REFLEXÃO SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO
AUTO DE FÉ DE BARCELONA
ACERCA DA AURA HUMANA
COMO PODEMOS INTERPRETAR A FRASE DE JESUS: "A tua fé te curou"?
http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2012/12/como-podemos-interpretar-frase-de-jesus.html

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O MUNDO ESPIRITUAL

Terezinha Colle

Uma abordagem segundo a Doutrina Espírita

Não sabeis também que alguns Espíritos se comprazem emconservar os homens na ignorância, aparentando instruí-los, e que aproveitam da facilidade com que suas palavras são acreditadas? Podem seduzir os que não descem ao fundo das coisas; mas, quando pelo raciocínio são levados à parede, não sustentam por muito tempo o papel."
O Espírito de Verdade.1

      O que será de mim após a morte? Essa pergunta inquieta muitas pessoas, e as
respostas variam conforme as crenças.
    Ao deixarmos o corpo físico iremos para o inferno? Para o céu, ou paraíso? Para o purgatório? Ou será que, segundo certas crenças, alguma cidade cercada por altas muralhas abrirá seus portões a fim de que ali fiquemos protegidos dos maus Espíritos?
    Vejamos o que diz o Espiritismo sobre esse assunto. Apenas reproduziremos aqui os textos que extraímos das obras de Kardec, colocando-os numa ordem que julgamos nos levar à compreensão desse tema tão discutido, mas pouco conhecido mesmo dos espíritas.
     Após cada texto consta a referência bibliográfica, para aqueles que desejam
aprofundar o tema.
    Comecemos por compreender nossa situação como Espíritos e como homens. Segundo 
a Ciência Espírita, não somos um corpo carnal que tem um Espírito: somos um Espírito temporariamente revestido de um corpo físico, com o objetivo de progredir.

Somos Espíritos imortais no corpo, ou fora dele

     Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o
Universo, fora o mundo material.” 2
     Os Espíritos constituem um mundo à parte, fora daquele que vemos?
     “Sim, o mundo dos Espíritos, ou das inteligências incorpóreas.”3

     Que é a alma?
     “Um Espírito encarnado.”
     a) - Que era a alma antes de se unir ao corpo?
     “Espírito.”
     b) - As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
     “Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um envoltório carnal para se purificarem e esclarecerem.”4
     Que sucede à alma no instante da morte?
     “Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara
momentaneamente.”5
     “O homem é composto do corpo e do Espírito; o Espírito é o ser principal, o ser
racional, o ser inteligente; o corpo é o envoltório material que reveste temporariamente o        Espírito, para o cumprimento de sua missão na Terra e a execução do trabalho necessário a seu adiantamento. O corpo, usado, destrói-se, e o Espírito sobrevive à sua destruição. Sem o Espírito, o corpo é apenas uma matéria inerte, como um instrumento privado do braço que o faz agir; sem o corpo, o Espírito é tudo: a vida e a inteligência.Deixando o corpo, ele retorna ao mundo espiritual de onde havia saído para encarnar.
   Existem, pois, o mundo corporal, composto de Espíritos encarnados, e o mundo espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a um globo qualquer; o mundo espiritual está por toda parte, em torno de nós e no Espaço; nenhum limite lhe é fixado. Em razão da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que os retinham cativos.”6
    “A morte é apenas a destruição do envoltório corporal, que a alma abandona, como o faz a borboleta com a crisálida, conservando porém seu corpo fluídico ou perispírito.
    A morte do corpo desembaraça o Espírito do laço que o prendia à Terra e o fazia sofrer; e uma vez libertado desse fardo, não lhe resta mais que o seu corpo etéreo, que lhe permite percorrer o espaço e transpor as distâncias com a rapidez do pensamento.”7

No mundo espiritual o poder é confiado aos Bons Espíritos

       Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta para estes alguma
hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e autoridade?
     Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível.”
      a) Podem os Espíritos inferiores subtrair-se à autoridade dos que lhes são
superiores?
     “Eu disse: irresistível.”
     O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão supremacia no mundo dos Espíritos?
     “Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os
Salmos.”
a) Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?
     “Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será humilhado?”
     Aquele que foi grande na Terra e que, como Espírito, vem a achar-se entre os de ordem inferior, experimenta com isso alguma humilhação?
     “Às vezes bem grande, mormente se era orgulhoso e invejoso.”
   O soldado que depois da batalha se encontra com o seu general, no mundo dos Espíritos, ainda o tem por seu superior?
     “O título nada vale, a superioridade real é que tem valor.”8
      Os Espíritos das diferentes ordens se acham misturados uns com os outros?
     “Sim e não. Quer dizer: eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Evitamse ou se aproximam, conforme à simpatia ou à antipatia que reciprocamente uns inspiram aos outros, tal qual sucede entre vós. Constituem um mundo do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham.” 
     Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde a virtude e o vício se acotovelam, sem trocarem palavra.9

Penas e gozos da alma depois da morte

     Têm alguma coisa de material as penas e gozos da alma depois da morte?
     “Não podem ser materiais, diz o bom-senso, pois a alma não é matéria. Nada têm de carnal essas penas e gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que experimentais na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais impressionável. Então, já a matéria não lhe embota as sensações.” (237 a 257)
      Por que das penas e gozos da vida futura faz o homem, muitas vezes, tão
grosseira e absurda ideia?
     “Inteligência que ainda não se desenvolveu suficientemente. Compreende a criança as coisas como o adulto? Isso, ao demais, depende também do que se lhe ensinou: aí é que há necessidade de uma reforma.
    “Muito incompleta é a vossa linguagem para exprimir o que está fora de vós. Tevese então que recorrer a comparações e tomaste como realidade as imagens e figuras que serviram para essas comparações. À medida, porém, que o homem se instrui, melhor vai compreendendo o que a sua linguagem não pode exprimir.”
     Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?
   “São tão variados como as causas que os determinaram, e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: invejarem o que lhes falta para ser felizes e não o obterem; verem a felicidade e não a poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desesperança quanto ao que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.”10

Os Espíritos não ocupam uma região circunscrita, nem localizada

      Ocupam os Espíritos uma região determinada e circunscrita no espaço?
    "O Espíritos estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Vós os tendes de contínuo a vosso lado, observando-vos e sobre vós atuando, sem o perceberdes, pois os Espíritos são uma das potências da Natureza e os instrumentos de que Deus se serve para a execução de seus desígnios providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte, pois há regiões interditas aos menos adiantados."11
    “A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas apropriadas ao seu adiantamento.
   Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado feliz ou infeliz do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha variarão ao infinito. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o rigor dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.”12
      Haverá no Universo um lugar circunscrito para as penas e gozos dos Espíritos,
segundo seus méritos?
   Já respondemos a essa questão. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito nem fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos Espíritos encarnados, eles são mais ou menos felizes ou infelizes, conforme seja mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”
    a) De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?
    “São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e desditosos.
Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.”
     A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na
imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.
     Que se deve entender por purgatório?
“Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar as vossas faltas.”
      O que o homem chama purgatório é igualmente uma alegoria, devendo-se
entender como tal, não um lugar determinado, porém o estado dos Espíritos imperfeitos que se acham em expiação até alcançarem a purificação completa, que os levará à categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal. 
     Como se explica que Espíritos, cuja superioridade se revela na linguagem de que usam, tenham respondido a pessoas muito sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de conformidade com as ideias correntes?
   “É que falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando estas se mostram imbuídas de certas ideias, eles evitam chocá-las muito bruscamente, a fim de lhes não ferir as convicções. Se um Espírito dissesse a um muçulmano, sem precauções oratórias, que Maomé não foi profeta, seria muito mal acolhido.”
     a) Concebe-se que assim procedam os Espíritos que nos querem instruir. Como, porém, se explica que, interrogados acerca da situação em que se achavam, alguns Espíritos tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório?
  “Quando são inferiores e ainda não completamente desmaterializados, os Espíritos conservam uma parte de suas ideias terrenas e, para dar suas impressões, se servem dos termos que lhes são familiares. Acham-se num meio que só imperfeitamente lhes permite sondar o futuro. Essa a causa de alguns Espíritos errantes, ou recémdesencarnados, falarem como o fariam se estivessem encarnados. Inferno se pode traduzir por uma vida de provações, extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor; purgatório, por uma vida também de provações, mas com a consciência de melhor futuro. Quando experimentas uma grande dor, não costumas dizer que sofres como um danado? Tudo isso são apenas palavras, e sempre ditas em sentido figurado.”13


Como se realizam as penas e gozos dos Espíritos?

       Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos,
segundo seu merecimento? 
    “Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme seja mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”
      a) De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?
      “São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e desditosos.
Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.”
A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.14
      Em que sentido se deve entender a palavra céu?
“Julgas que seja um lugar, como os Campos Elíseos dos Antigos, onde todos os Espíritos bons estão promiscuamente aglomerados, sem outra preocupação que a de gozar, pela eternidade toda, de uma felicidade passiva? Não; é o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores, onde os Espíritos gozam plenamente de suas faculdades, sem as tribulações da vida material, nem as angústias peculiares à inferioridade.”
      Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o quinto céus, etc. Que
queriam dizer com isso?
    “Se lhes perguntais que céu habitam, é que formais ideia de muitos céus dispostos como os andares de uma casa. Eles, então, respondem de acordo com a vossa linguagem. Mas por estas palavras quarto e quinto céus exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se está no inferno. Se for infeliz, dirá sim, porque, para ele, inferno é sinônimo de sofrimento. Sabe, porém, muito bem que não é uma fornalha. Um pagão diria estar no Tártaro.”
      O mesmo ocorre com outras expressões análogas, tais como: cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera, etc., que apenas são alegorias usadas por alguns Espíritos, quer como figuras, quer, algumas vezes, por ignorância da realidade das coisas, e até das mais simples noções científicas.
    De acordo com a ideia restrita que se fazia outrora dos lugares das penas e das recompensas e, sobretudo, de acordo com a opinião de que a Terra era o centro do Universo, de que o firmamento formava uma abóbada e que havia uma região das estrelas, o céu era situado no alto e o inferno em baixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, ser precipitado nos infernos. Hoje, que a Ciência demonstrou ser a Terra apenas, entre tantos milhões de outros, uns dos menores mundos, sem importância especial; que traçou a história da sua formação e lhe descreveu a constituição; que provou ser infinito o espaço, não haver alto nem baixo no Universo,   teve-se que renunciar a situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares inferiores. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe fora designado. Estava reservado ao Espiritismo dar de tudo isso a explicação mais racional, mais grandiosa e, ao mesmo tempo, mais consoladora para a humanidade. Pode-se assim dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso. O purgatório, achamo-lo na encarnação, nas vidas corporais ou físicas.15

     “Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com aptidão para tudo adquirir e a progredir, em virtude do seu livre-arbítrio. Pelo progresso adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, por conseguinte, novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, ouvir, sentir, nem compreender. A felicidade está na razão do progresso realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto outro, unicamente por não porque não é tão avançado intelectual e moralmente, sem que por isso precisem estar cada qual em um lugar distinto. Ainda que estejam um ao lado do outro, um pode estar nas trevas, enquanto que tudo é resplandecente em torno do outro, tal como um vidente e um cego que se dão as mãos; um percebe a luz, que não causa nenhuma impressão sobre seu vizinho. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às qualidades que eles possuem, haurem-na eles em toda parte em que a encontrem, na superfície da Terra, no meio dos encarnados ou no Espaço. 
    Uma comparação vulgar fará compreender melhor ainda esta situação. Se, num concerto, encontrem-se dois homens, um, bom músico, de ouvido educado, outro, sem nenhum conhecimento da música e de sentido auditivo pouco delicado, o primeiro experimentará uma sensação de felicidade, enquanto o segundo fica insensível, porque um compreende e percebe o que nenhuma impressão produz no outro. Assim é com todos os gozos dos Espíritos, que estão na razão da sua sensibilidade.
     O mundo espiritual tem esplendores por toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos inferiores, ainda submetidos à influência da matéria, nem sequer entreveem, e que somente são acessíveis aos Espíritos depurados.16

Um exemplo prático - Lincoln e o seu matador.
(Extraído do banner of light, de Boston)

Análise de uma comunicação de Abraão Lincoln, obtida pelo médium de Ravenswood.

     “Quando Lincoln voltou de seu atordoamento e despertou no mundo dos Espíritos, ele ficou muito surpreso e perturbado, porque não tinha a menor ideia de que estivesse morto. O tiro que o feriu havia suspendido instantaneamente toda sensação e ele não compreendeu o que lhe havia acontecido. Essa confusão e essa perturbação, contudo, não duraram muito. Ele era bastante espiritualista para compreender o que é a morte e não ficou, como muitos outros, admirado da nova existência para a qual fora transportado. Ele se viu cercado por muitas pessoas que ele sabia que estavam mortas há muito tempo, e logo soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por muitas pessoas que com ele simpatizavam. Compreendeu sua afeição por ele e, num olhar, pôde abarcar o mundo feliz no qual tinha entrado.
    “No mesmo instante experimentou um sentimento de angústia pela dor que devia experimentar sua família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte poderia ter para o país. Esses pensamentos o trouxeram violentamente de volta à Terra.
     “Tendo sabido que William Booth estava mortalmente ferido, veio a ele e curvou-se sobre o seu leito de morte. Nesse momento Lincoln tinha recuperado a perfeita consciência e a tranquilidade de Espírito, e esperou com calma o despertar de Booth para a vida espiritual.
       “Booth não ficou espantado ao despertar, porque esperava a morte. O primeiro
Espírito que encontrou foi Lincoln; olhou-o com muita afoiteza, como se se gabasse do ato que havia praticado. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não testemunhava nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário, mostrava-se suave e bom e sem a menor animosidade. Booth não pôde suportar esse estado de coisas e o deixou cheio de emoção.
     “O ato que ele perpetrou teve vários móveis; primeiro, sua falta de raciocínio, que lho fazia considerar como meritório, depois, seu amor desregrado por louvores o tinha persuadido que ele seria cumulado de elogios e visto como um mártir. 
     “Depois de ter vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes enche-se de arrependimento, outras vezes seu orgulho o impede de emendar-se. Entretanto, compreende quanto o seu orgulho é vão, sabendo sobretudo que não pode esconder, como em vida, nenhum dos sentimentos que o agitam, e que seus pensamentos de orgulho, de vergonha ou de remorso são conhecidos dos que o rodeiam. Sempre em presença de sua vítima e dela não receber senão manifestações de bondade, eis o seu estado atual e sua punição. Quanto a Lincoln, sua felicidade ultrapassa o que poderia ter esperado.”

    OBSERVAÇÃO: A situação destes dois Espíritos é, em todos os sentidos, idêntica àquela de que diariamente vemos exemplos nos relatos de além-túmulo. Ela é perfeitamente racional e está em relação com o caráter dos dois indivíduos.17

Por que certos Espíritos falam da existência de cidades felizes e de regiões de
sofrimento localizadas no espaço?

      Antes de a Ciência ter revelado aos homens as forças vivas da Natureza, a constituição dos astros, o verdadeiro papel da Terra e sua formação, poderiam eles compreender a imensidade do Espaço e a pluralidade dos mundos? Antes de a Geologia comprovar a formação da Terra, poderiam os homens tirar-lhe o inferno das entranhas e compreender o sentido alegórico dos seis dias da Criação? Antes de a Astronomia descobrir as leis que regem o Universo, poderiam compreender que não há alto nem baixo no Espaço, que o céu não está acima das nuvens nem limitado pelas estrelas? Poderiam identificar-se com a vida espiritual antes dos progressos da ciência psicológica? conceber depois da morte uma vida feliz ou infeliz, a não ser em lugar circunscrito e sob uma forma material? Não; compreendendo mais pelos sentidos que pelo pensamento, o Universo era muito vasto para a sua concepção; era preciso restringi-lo ao seu ponto de vista para alargá-lo mais tarde. Uma revelação parcial tinha sua utilidade, e, embora sábia até então, não satisfaria hoje. O absurdo provém dos que pretendem poder governar os homens de pensamento, sem se darem conta do progresso das ideias, quais se fossem  crianças. (Vede O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III.) 
      18. Nessa imensidade ilimitada, onde está o Céu? Em toda parte. Nenhum contorno lhe traça limites. Os mundos adiantados são as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam. Ante este quadro grandioso que povoa o Universo, que dá a todas as coisas da Criação um fim e uma razão de ser, quanto é pequena e mesquinha a doutrina que circunscreve a Humanidade a um ponto imperceptível do Espaço, que no-la mostra começando em dado instante para acabar igualmente com o mundo que a contém, não abrangendo mais que um minuto na Eternidade!
      Como é triste, fria, glacial essa doutrina quando nos mostra o resto do Universo,durante e depois da Humanidade terrestre, sem vida, nem movimento, qual vastíssimo deserto imerso em profundo silêncio! Como é desesperadora a perspectiva dos eleitos votados à contemplação perpétua, enquanto a maioria das criaturas padece tormentos sem-fim! Como lacera os corações sensíveis a ideia dessa barreira entre mortos e vivos! As almas ditosas, dizem, só pensam na sua felicidade, como as desgraçadas, nas suas dores. Admira que o egoísmo reine sobre a Terra quando no-lo mostram no Céu? 
      Oh! quão mesquinha se nos afigura essa ideia da grandeza, do poder e da bondade de Deus! Quanto é sublime a ideia que dele fazemos pelo Espiritismo! Quanto a sua doutrina engrandece as ideias e amplia o pensamento! Mas, quem diz que ela é verdadeira? A Razão primeiro, a Revelação depois, e, finalmente, a sua concordância com os progressos da Ciência. Entre duas doutrinas, das quais uma amesquinha e a outra exalta os atributos de Deus; das quais uma só está em desacordo e a outra em harmonia com o progresso; das quais uma se deixa ficar na retaguarda enquanto a outra caminha, o bom-senso diz de que lado está a verdade. Que, confrontando-as, consulte cada qual a consciência, e uma voz íntima lhe falará por ela. Pois bem, essas aspirações íntimas são a voz de Deus, que não pode enganar os homens. Mas, dir-se-á, por que Deus não lhes revelou de princípio toda a verdade? Pela mesma razão por que se não ensina à infância o que se ensina aos de idade madura.
     A revelação limitada foi suficiente a certo período da Humanidade, e Deus a proporciona gradativamente ao progresso e às forças do Espírito.
   Os que recebem hoje uma revelação mais completa são os mesmos Espíritos que tiveram dela uma partícula em outros tempos e que de então por diante se engrandeceram em inteligência. 18
   “No estado de ignorância, o homem é incapaz de captar as abstrações e abarcar as generalidades; nada concebe que não seja localizado e circunscrito; materializa as coisas imateriais; rebaixa até a majestade divina. Mas, à medida que o progresso da ciência positiva vem esclarecê-lo, reconheceu seu próprio erro: suas ideias, de mesquinhas e acanhadas que eram, crescem e o horizonte do infinito se desenrola aos seus olhos. É assim que, segundo a doutrina espírita, as penas de além-túmulo não podem ser senão morais e são inerentes à natureza impura e imperfeita dos Espíritos inferiores; não há inferno localizado no sentido vulgar ligado ao termo: cada um o tem em si, pelos sofrimentos que suporta e que não são menos cruciantes pelo fato de não serem físicos. O Inferno está em toda parte onde há Espíritos imperfeitos. (Vide Paraíso, Fogo Eterno, Penas Eternas)”19

Ocupação dos Espíritos

     A ocupação dos Espíritos de segunda ordem consiste em se prepararem para as provas que terão de passar; por meditações sobre suas vidas passadas e por observações sobre os destinos humanos, seus vícios, suas virtudes, e o que pode aperfeiçoá-los ou levá-los a falir. Os que, como eu, têm a felicidade de ter uma missão, dela se ocupam com tanto zelo e amor, que o progresso das almas que lhes são confiadas lhes é contado como mérito. Assim, esforçam-se por lhes sugerir bons pensamentos, ajudar os seus bons impulsos, afastar os Espíritos maus, opondo sua suave influência às influências nocivas. Essa ocupação interessante, sobretudo quando se é bastante feliz para dirigir um médium e ter comunicações diretas, não dispensa o cuidado e o dever de aperfeiçoar-se.
     Não creias que o tédio possa atingir um ser que não vive senão pelo espírito e cujas faculdades todas tendem para um objetivo, que sabe afastado, mas certo. O tédio não resulta senão do vazio da alma e da esterilidade do pensamento. O tempo, tão pesado para vós que o medis por vossos temores pueris ou por vossas frívolas esperanças, não submete ao seu talante os que não estão sujeitos nem às agitações da alma, nem às necessidades do corpo. Ele passa ainda mais depressa para os Espíritos puros e superiores, que Deus encarrega da execução de suas ordens e que percorrem as esferas num voo rápido.
     Quanto aos Espíritos inferiores, sobretudo os que têm pesadas faltas a expiar, o tempo se mede por seus pesares, seus remorsos e seus sofrimentos. Os mais perversos dentre eles procuram subtrair-se fazendo o mal, isto é, sugerindo-o. Então experimentam essa áspera e fugidia satisfação do doente que coça a sua ferida e que não faz senão aumentar a sua dor. Assim, seus sofrimentos aumentam de tal modo que acabam fatalmente por lhes ministrar o remédio, que não é senão a volta ao bem.
    Os pobres Espíritos que não são culpados senão pela fraqueza ou pela ignorância, sofrem a sua inanidade, o seu isolamento. Lamentam o seu envoltório terreno, seja qual for a dor que lhes tenha causado. Revoltam-se e se desesperam até o momento em que percebem que só a resignação e uma vontade firme de voltar ao bem podem aliviá-los.
Acalmam-se e compreendem que Deus não abandona nenhuma de suas criaturas. 

MARCILLAC, Espírito familiar.

     OBSERVAÇÃO: A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para o melhoramento do mundo em que ele habita. Assim, ele ajuda em sua transformação e no seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de que ele é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito tiver realizado a sua tarefa, quando estiver suficientemente adiantado, gozará dos frutos de suas obras. 20
     Que é a alma no intervalo das encarnações?
     “Espírito errante, que aspira a novo destino; fica esperando.”
     a) Quanto podem durar esses intervalos?
   “Desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Propriamente falando, não há limite máximo estabelecido para o estado de erraticidade, que pode prolongar-se muitíssimo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito terá que volver a uma existência apropriada a purificá-lo das máculas de suas existências precedentes.”
    b) Essa duração depende da vontade do Espírito, ou lhe pode ser imposta como expiação?
      “É uma consequência do livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que
fazem. Mas, também, para alguns, constitui uma punição que Deus lhes inflige. Outros pedem que ela se prolongue, a fim de continuarem estudos que só na condição de Espírito livre podem efetuar-se com proveito.”
       De que modo se instruem os Espíritos errantes? Certo não o fazem do mesmo
modo que nós outros?
     "Estudam o seu passado e procuram meios de elevar-se. Veem, observam o que ocorre nos lugares aonde vão; ouvem os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados, e tudo isso lhes incute ideias que antes não tinham." 21

O que é erraticidade?

      “Estado dos Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de
suas diversas existências corpóreas. A erraticidade absolutamente não é símbolo de inferioridade para os Espíritos. Há Espíritos errantes de todas as classes, salvo os da primeira ordem, ou puros Espíritos, que, não tendo mais que passar pela reencarnação, não podem ser considerados errantes. Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes, conforme seu grau de depuração. É nesse estado que o Espírito, então despojado do véu material do corpo, reconhece suas existências anteriores e as faltas que o distanciam da perfeição e da felicidade infinita. É ainda nessa condição que ele escolhe novas provas, a fim de progredir mais rapidamente.”22
      230. Na erraticidade, o Espírito progride?
    “Pode melhorar-se muito, tais sejam a vontade e o desejo que tenha de conseguilo. Todavia, na existência corporal é que põe em prática as novas ideias que adquiriu.”23

Não há solução de continuidade nas relações entre Espíritos e homens

     Os Espíritos já purificados vêm aos mundos inferiores?
“Fazem-no frequentemente, com o fim de auxiliar-lhes o progresso. A não ser assim, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.” 24 
     Costumam os Espíritos imiscuir-se em nossos prazeres e ocupações?
     “Os Espíritos vulgares, como dizes, costumam. Esses vos rodeiam constantemente
e com frequência tomam parte muito ativa no que fazeis, de conformidade com suas naturezas. Cumpre assim aconteça, para impelir os homens pelas diversas veredas da vida, e para lhes excitar ou moderar as paixões.”
     Com as coisas deste mundo os Espíritos se ocupam segundo o grau de elevação ou de inferioridade em que se achem. Os Espíritos superiores dispõem, sem dúvida, da faculdade de examiná-las nas suas mínimas particularidades, mas só o fazem na medida em que isso seja útil ao progresso. Unicamente os Espíritos inferiores ligam a essas coisas uma importância relativa às reminiscências que ainda conservam e às ideias materiais que ainda se não extinguiram neles.25

     O Espírito encarnado permanece de bom grado no seu envoltório corporal?
     “É como se perguntasses se ao encarcerado agrada o cárcere. O Espírito
encarnado aspira constantemente à sua libertação, e tanto mais deseja ver-se livre do seu envoltório, quanto mais grosseiro é este.”
       Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
    “Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos. ”
Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
     “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potência e pode pôr-se em comunicação com outros Espíritos, quer neste mundo, quer noutro. Dizes frequentemente: Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente inverossímil. Enganas-te. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião.
Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro. “Pobres homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da vida! Julgais-vos muito sábios e as coisas mais comezinhas vos confundem. Nada sabeis responder a estas perguntas que todas as crianças formulam: Que fazemos quando dormimos? Que são os sonhos? (…)26
     Os Espíritos amigos que nos seguem os passos na vida serão talvez os que vemos em sonho, que nos testemunham afeto e que se nos apresentam com semblantes desconhecidos?
“Muito frequentemente são; eles vos vêm visitar, como ides visitar um encarcerado.”27

1 O Livro dos Médiuns, item 301, 9ª.
2 Idem, item 76.
3 Idem, item 84.
4 O Livro dos Espíritos, item 134.
5 Idem, item 149.
6 . O Céu e o Inferno - Primeira Parte - Doutrina - Cap. III - O Céu, item 5.
7 O que é o Espiritismo?, cap. II - Noções elementares de Espiritismo - Dos Espíritos, itens 12 e 13.
8 Ver artigo publicado na Revista Espírita de julho de 1859 - Conversas familiares de além-túmulo – Notícias da Guerra – O Zuavo de Magenta.
9 O Livro dos Espíritos, itens 274 a 278.
10 Idem, itens 965 a 970.
11 Idem, item 87.
12 O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III - Há muitas moradas na casa de meu Pai – Diferentes estados da alma na erraticidade.
13 O Livro dos Espíritos, itens 12 a 14.
14 O Livro dos Espíritos, item 1012.
15 O Livro dos Espíritos, itens 16 e 17.
16 O Céu e o Inferno - Primeira Parte - Doutrina - Cap. III - O Céu, item 6.
17 Revista Espírita, março de 1867 - Lincoln e o seu matador.
18 O Céu e o Inferno - Primeira Parte – Doutrina, cap. III - O Céu, item 18.
19 Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas - Vocabulário Espírita – INFERNO
20 Revista Espírita, junho de 1861 - Dissertações e ensinos espíritas - Ocupações dos Espíritos.
21 O Livro dos Espíritos, itens 224 e 227.
22 Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas -Vocabulário Espírita – ERRATICIDADE.
23 O Livro dos Espíritos, item 230.
24 Idem, item 233.
25 Idem, item 567.
26 O Livro dos Espíritos, itens 400 a 402.
27 Idem, item 343.

Geak - Grupo de Estudos Allan Kardec


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