TRADUÇÃO DE
LIZARBE GOMES
É necessário
distinguir entre um tratamento magnético e uma magnetização acidental e
passageira.
Para curar
uma doença é preciso tempo; é neste caso que se torna necessário um tratamento
regular e não interrompido.
A duração de
um tratamento varia segundo o estado do doente e o gênero de sua afecção; como
as doenças diferem em cada indivíduo, é quase impossível determinar um tempo.
A experiência
demonstra que algumas doenças se curam em oito dias, em quinze dias, em um,
dois e três meses e outras em seis meses ou mesmo além disso.
Ocorre ainda,
quando se começa a não ter mais confiança, a ação tornar-se mais sensível, a
doença se atenuar e a cura acontecer.
Não seria
demais repetir: se o magnetismo nem sempre produzir efeitos sensíveis e
aparentes, não é preciso se desencorajar tão rápido.
CAPÍTULO XI
DO PERIGO DE
COMEÇAR UM TRATAMENTO SEM ESPERANÇA DE CONCLUÍ-LO
§ I: Perigos
resultantes do deslocamento de humores
Jussieu,
tendo reconhecido ao magnetismo o poder de operar desvios salutares diz, em seu
relatório ao Rei: “Deslocar-se-ia assim um humor que não teria tido tempo de se
fixar, restabelecerse-ia muitas vezes o calor, a vida e o movimento nos membros
recentemente paralisados.”
(Relatório ao
Rei, pág. 38)
O
deslocamento dos humores é, com efeito, um dos resultados mais freqüentes da
magnetização e eu vou, entre milhares de provas, citar uma:
“Todo magnetizador que não tenha nem a possibilidade
nem a vontade de ocupar-se bastante com o lazer para bem conduzir um tratamento
magnético não deve empreendê-lo diz Puységur, pois após um doente experimentar
os bons e salutares efeitos da ação magnética, a cessação muito súbita desta
ação a torna prejudicial e os fatos seguintes provam isto.
Um jovem
afetado pela surdez veio me procurar em Busancy e o cura de Joli que foi mais
surdo que ele, o encorajou a vir tentar o mesmo remédio que ele; este jovem não
era sonâmbulo. O efeito que ele sentia era uma dor na cabeça e um zumbido nos
ouvidos. Pouco a pouco sua dor de cabeça aumentou e ele tinha por vezes o ar
hebetado.
Eu tinha
então doentes sonâmbulas e eu o apresentei a uma delas: - Faz-se um grande
trabalho em sua cabeça – me disse a sonâmbula – ele terá um mal a suportar.
- O que lhe
acontecerá então?
- Ele se
tornará louco e se você não tomar cuidado, ele partirá num belo dia sem que
você saiba e você não o verá mais.
- E o que lhe
causará este cruel acidente?
- O humor que
se desloca em sua cabeça e que desejaria sair. Se continuar o magnetismo, pouco
a pouco ele sairá por seu nariz e suas orelhas, mas ele é bem grande!
- E ele se
curará?
- Sim, mas
precisará de tempo.
Uma vez bem
advertido, eu tomei todos os tipos de precauções para que meu doente não
pudesse se escapar, sobretudo à noite; eu o via às vezes com o ar perturbado.
Ao fim de um mês ele teve um escorrimento nos ouvidos e começou a ouvir bem
melhor.
Mas o que me
haviam anunciado aconteceu. Um dia vieram me dizer que meu surdo havia destrancado
sua janelas e com a ajuda de uma corda saiu de seu quarto sem que eu soubesse
onde pudesse estar. Eu escrevi a Dormans, onde seu pai tinha um albergue e
soube que no dia de sua partida de Busancy ele disse que estava curado, pois
havia entendido bem a todos aqueles que vieram lhe procurar naquele dia. Soube
que este bem estar não havia durado muito tempo e que no dia seguinte a surdez
havia retornado, levemente de início, até que, por fim, ela havia - no momento em que me escrevia - retornado tão
forte quanto antes de ser magnetizado.
Oito dias
depois, o pobre rapaz veio me ver; ele não se lembrava nem de sua partida de
Busancy, nem de sua viagem para casa e de nada que lhe aconteceu. Eu tentei,
porque ele me pediu, recolocar uma segunda vez os humores de sua cabeça em
movimento, mas foi em vão; como o
trabalho da natureza foi interrompido , o malretomou a vantagem e
nenhuma força magnética pode de novo
deslocá-los.
Estes dois
exemplos, acrescenta Puységur, tão instrutivos tanto para os magnetizadores
como para os doentes, devem ensinar aos primeiros a jamais empreender
tratamentos magnéticos sem estar bem seguros de sua continuidade... se nada é
mais soberanamente e vitoriosamente curativo que o agente da natureza posto em
ação por uma boa e constante vontade, nada é mais perigoso que suspendê-la ou
cessar seu movimento quando seus bons efeitos se manifestam.” (Puységur,
Pesquisas Psicológicas, 388 a 390).
§II – Perigos
resultantes da provocação de germes mórbidos não seguida de desenvolvimento
Joli, um dos doentes de Puységur, escreveu um dia, em estado de sonambulismo a
seu magnetizador: “O magnetismo animal acaba de provocar em mim uma doença a
qual chamam de catalepsia, que viria em seis meses da qual eu seria morto, mas
talvez não morrerei a tendo atualmente; então é uma grande vantagem para mim
dizer que morrerei talvez em lugar de
morrerei certamente; estou convencido de
que não é o grande número de crises nas quais eu entrei que precipitaram esta
doença da qual, eu espero, contudo, ter
um resultado favorável.
Eu acredito,
diz a este respeito Puységur, que não há circunstância em que não se deva
esperar bons efeitos do magnetismo; mas quando os doentes são suscetíveis de
entrar no estado magnético, talvez seja perigoso cessá-lo tão cedo porque o
magnetismo, tendendo a desenvolver o germe das próximas doenças, um efeito
começado e não sustentado pode contrariar a natureza sem acrescentar a seus
recursos.” (Puységur, Memórias)
Jornal Vórtice ANO III, n.º 04, setembro/2010
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