domingo, 5 de junho de 2016

Emancipação da Alma – Letargia

Adilson Mota
adilsonmota1@gmail.com

E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés, e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos, para que sare, e viva. E foi com  ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. Estando ele ainda falando, chegaram alguns dos principais da sinagoga, a quem disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre? E Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente. E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago. E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e pranteavam. E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi; que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto. E mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer. (MARCOS, V, 35-43)

Este texto extraído do Novo Testamento retrata um fato que é de certo modo comum, o da morte aparente. Jairo e seus familiares, sem conhecimento do  que ali se afigurava, achavam que a menina estivesse morta. Jesus, ercebendo o que realmente ocorria, informa-lhes que a menina está apenas dormindo. Operando o seu maravilhoso magnetismo, faz com que a criança retorne do seu "sono", levando os presentes ao assombro, imaginando uma verdadeira ressurreição.



Na classificação espírita este fenômeno é conhecido como  letargia. O indivíduo sai da consciência de vigília havendo a perda temporária da sensibilidade e do movimento. Em processo avançado, o corpo toma as aparências da morte.

Antes do desenvolvimento da ciência médica e da constatação da veracidade desses fatos, vários relatos falam de pessoas que foram enterradas vivas, o que pôde ser verificado quando da remoção dos ossos, onde estes foram encontrados em posição diferente daquela em que o cadáver foi enterrado.

A pessoa pode ficar nesse estado durante dias e exalar, inclusive, um odor de decomposição do corpo. Isto não significa que esteja morta e o Espírito desligado definitivamente da matéria. Foi o que aconteceu com Lázaro, no relato de João (capítulo XI do Evangelho).

A ciência oficial, ao buscar explicações estritamente materiais para estes acontecimentos, não consegue elaborar soluções que consigam justificá-los de forma satisfatória. A Doutrina Espírita, porém, como ciência do Espírito, tem na emancipação da alma os elementos que nos colocam no caminho do entendimento.

Nesse estado [emancipação, grande sobreexcitação ou preocupação], o Espírito não pensa no corpo e, em sua febril atividade, atrai a si, por assim dizer, o fluido perispiritual que, retirando-se da superfície, produz aí uma insensibilidade momentânea. Poder-se-ia também admitir que, em certas circunstâncias, no próprio fluido perispiritual uma modificação molecular se opera, que lhe tira temporariamente a propriedade de transmissão.(...) Efeito análogo, porém mais pronunciado, se verifica nalguns sonâmbulos, na letargia e na catalepsia. (A GÊNESE, cap. XIV Catalepsia. Ressurreições, Allan Kardec)

A letargia é um estado de emancipação da alma. Esta desprende-se parcialmente do corpo ocasionando uma relativa dificuldade do organismo físico receber e executar os comandos transmitidos pelo Espírito. Isso também contribui para gerar a insensibilidade que em alguns pode ser bem acentuada. O Espírito não perde a consciência, pelo contrário, maior consciência tem das coisas, além de manter a percepção do que ocorre ao redor podendo ouvir e ver, sem contudo conseguir comunicar-se com as pessoas presentes.


Fonte: Jornal Vortice ANO VIII, Nº 05 Fevereiro– 2016


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