domingo, 6 de julho de 2014

A GRANDE CONTRIBUIÇÃO DE JAN HUSS

Segundo os anais espíritas fidedignos, Allan Kardec (1804 -1869), o Codificador do Espiritismo, foi a reencarnação de Jan Huss (1369 -1415).

Através dos grupos de estudos das sociedades espíritas e nos livros doutrinários, já sabemos alguma coisa sobre o mestre lyonês, que brilhantemente nos legou a veneranda Doutrina Espírita, juntamente com os Espíritos Superiores da Codificação. Mas quem foi Jan Huss? O que sabemos realmente dele? Quem foi aquele Espírito tão lutador que, de alguma maneira, não somente foi precursor da Reforma protestante, senão também foi precursor e modelador da personalidade do ínclito Allan Kardec, pseudônimo do insigne professor Hippolyte Léon Denizard Rivail? Qual a sua grande contribuição na História da Humanidade?

Nas próximas linhas procuraremos, sinteticamente, adentrar-nos na vida desse glorioso mártir, ainda que em poucas pinceladas extraídas de enciclopédias (1) e da literatura espírita doutrinária (2).

Jan Huss, ou Jean Hus foi sacerdote tcheco, mártir e precursor da Reforma protestante. Nasceu em Husinec (de onde tirou o seu nome), Boêmia, em 1369 (Allan Kardec desencarnou exatamente 500 anos após, em 1869) e morreu em Constança, em 6 de julho de 1415, queimado vivo pela «Santa Inquisição».

Filho de pais camponeses, completou o seu curso na Universidade de Praga, onde se formou como bacharel em Teologia (1394) e em Artes (1396).

Assinava Jan de Husinec, e por abreviatura, Hus, que em tcheco quer dizer ganso ou pato.

Trabalhou na fixação da ortografia e na reforma da língua literária tcheca (lembremos, por um instante, do trabalho pedagógico e educativo desenvolvido pelo emérito professor Hippolyte Léon Denizard Rivail).

Em 1400 foi ordenado sacerdote e no ano seguinte passou a ocupar o cargo de Reitor da Universidade, quando se aproximou da obra do reformador inglês John Wycliffe, passando a considerar-se teologicamente seu discípulo. No ano seguinte (1401), tornou-se pregador da Capela de Belém, em Praga, capital da Boêmia, e tinha o apoio do Arcebispo.

DOUTRINA - Como Wycliffe, Huss não aceitava a supremacia papal, mas a doutrina de que o Cristo e não Pedro era o chefe e cabeça da Igreja, considerando o Evangelho como «única Lei». Seu pensamento sobre a Igreja era influenciado fortemente por Agostinho.

DISCÍPULO DE WYCLIFFE - Foi dito, há pouco, que Huss considerava-se teologicamente discípulo de Wycliffe. Mas, quem foi Wycliffe? John Wycliffe era professor da Universidade de Oxford, e atualmente é considerado um dos grandes sábios de sua época; foi discípulo de Ockham, adversário da supremacia do Papa.

Ele aproveitava habilmente as fraquezas do clero para ridicularizá-las. Apoiou o Parlamento, que recusou o tributo ao Papa, e a Lancastre, que propunha se retirassem os benefícios dos Bispos. Escreveu a obra De Domínio Divino, onde provava que a autoridade é Deus. Entre seus princípios estabelecia que as relações de Deus para com os homens eram diretas: não eram necessários os intermediários, e isso era um golpe contra Roma. Foi trazido à corte eclesiástica de S. Paulo e teve Lancastre a seu lado, como defensor. Achava mais, que os eclesiásticos deviam ser submetidos ao tribunal civil.

Atacou e ironizou os perdões, indulgências, absolvições, peregrinações, cultos de santos, etc. Mais hábil que João Huss, não se deixou apanhar em qualquer armadilha, e por isso Roma teve o desgosto de não o poder levar a fogueira. Morreu tranqüilamente, depois de um ataque de paralisia.

A luta pela liberdade religiosa

A Capela de Belém, onde Jan Huss pregava, fora fundada para que nela se falasse em tcheco. Antes disso somente podia falar-se em latim. A Igreja, então, ocupava lugar excepcional na Boêmia; a sua opulência e os privilégios de que gozava produziram o enfraquecimento das regras canônicas e da moral. Praga revoltou-se contra os abusos eclesiásticos. Destarte, as preocupações de uma reforma religiosa juntaram-se às reivindicações nacionais. Até na doutrina religiosa havia hostilidade entre alemães e boêmios.

Huss era francamente pela reforma e pela preponderância nacional da Boêmia, embora sem entrar em conflito com as autoridades eclesiásticas. Chegou, mesmo, a ser nomeado pregador sinodal, com o mandato de protestar contra os desregramentos do clero.

Mais tarde, ele desmascarava a velhacaria dos que atraiam a Wilsnack numerosos peregrinos, e, de acordo com o Arcebispo, publicou um tratado, onde desenvolvia a tese de que um cristão não deve correr atrás de milagres.

Pouco depois, suas relações com o Arcebispo começam a esfriar; o clero irritava-se contra as suas acusações e, afinal, retiraram-lhe o cargo de pregador sinodal.

A rainha Sofia, entretanto, gostava de ouvi-lo. Surge dai um conflito político e religioso, e João Huss aparece como o chefe do partido nacional.

Aos poucos, suas críticas ao clero foram evidenciando suas simpatias para com a doutrina de Wycliffe, e a oposição cresceu contra ele, sendo excomungado em 1410. O resultado disso foi um grande tumulto popular em Praga, quando Huss, com o apoio do rei Venceslau, foi festejado como herói nacional.

O rei Vaclav, filho de Carlos IV, decidira-se pela neutralidade entre os dois papas que, na época, pretendiam chefiar o mundo cristão. Pediu à Universidade uma decisão a respeito. Os alemães eram partidários de Gregório XII e possuíam três votos, como representantes de três nações polonesas, e a Tcheca um voto só. Por instigação de Huss, o rei modificou os Estatutos, ficando a Tcheca com os três votos e os outros com um. Mas, cerca de 5.000 alemães, professores e alunos, deixaram Praga. Huss foi, então, nomeado Reitor da Universidade, que se tornou inteiramente eslava.

Ora, o Arcebispo, que era por Gregório XII, acusou Huss de heresia wyclifita e transmitiu sua queixa a Alexandre II, eleito pelo Concílio de Pisa. O Papa, então, pela bula de 1409, exigiu a retratação dos erros wyclifitas, a apreensão dos livros de Wycliffe e a interdição de se pregar em igrejas que não fossem as antigas.

Huss apelou, mas o Arcebispo fez queimar os escritos de Wycliffe e excomungou os seus partidários. Mas o clero inferior, a Universidade, o povo e o rei ficaram com João Huss. Continuaram as prédicas na Capela de Belém, apesar da bula, e ninguém se incomodou com o interdito contra Praga. Numa segunda fase da luta, entra diretamente em cena o Papa João XXIII, que sucedeu a Alexandre V.

O tráfico das indulgências e a política guerreira do Papa escandalizaram Huss e seus partidários, embora alguns recuassem, com receio da autoridade papal. Huss, porém, sustentava que o perdão dos pecados só se poderia obter por contrição e penitência sincera, e nunca por dinheiro; que nem o Papa, nem qualquer sacerdote, poderiam levantar a espada em nome da Igreja; que a infalibilidade do Papa era uma blasfêmia.

Houve o discurso inflamado de Jerônimo de Praga, cortejos satíricos, onde se ridicularizava a Igreja Oficial. O rei de Nápoles estabeleceu a pena de morte para quem ofendesse o Papa, e logo três moços foram decapitados. Os hussitas os enterraram solenemente e Huss lhes fez o necrológio.

O Papa ameaçou a Boêmia de excomunhão, e Venceslau aconselhou Huss, novamente excomungado, a deixar a capital em 1412, ao que Huss obedeceu. Entrementes, o imperador 


Sigismundo, irmão de Venceslau, da Boêmia, entendia-se com João XXIII, para convocar o Concílio de Constança, de cujo programa constava a pacificação religiosa da Boêmia.
Sigismundo prometeu a Huss um salvo-conduto, se consentisse em comparecer ao Concílio de Constança (1414). Huss acedeu. Diante da promessa veio a Praga e se pôs em caminho. Em Constança recebeu o dito salvo-conduto onde se dizia que ele podia transire, stare, morari et redire libere.

Mas, com o pretexto de que ele queria retirar-se, prenderam-no e internaram-no no Convento dos Dominicanos, em infecto recinto. Instauraram-lhe um processo; o ato da acusação coube a Etienne Palec. Começara a sua via-crucis.

Ficou sob a guarda do Bispo de Constança, e o transferiram, como medida de maior segurança, para o torreão do Castelo de Gottlieben, onde foi encadeado, e assim perma-neceu dia e noite. Daí vai para o Convento dos Franciscanos.

O Concílio condena as teorias de Wycliffe. Depois, apresentam a Huss o seu tratado De Ecclesia; ele nem pode defender-se, porque vozes exasperadas o interrompem e abafam a sua.

Voltou-se ao exame do tratado De Ecclesia; Huss, porém, manteve a doutrina de que apenas o Cristo e não Pedro era o chefe da Igreja, e resistiu às promessas e ameaças que lhe fizeram. Logo João Huss percebeu a sorte que o aguardava; cheio de pena pelos inimigos, escreve cartas de reconhecimento pela amizade que lhe devotaram, e aos amigos, animando-os, por se terem conservado fiéis à verdade.

A 6 de julho de 1415 é proclamada a condenação de João Huss e logo executada. Foi degradado e lhe fizeram um chapéu de papel, onde se lia esta inscrição: Hic est hoere siarcha (Eis o herege). Conduzido a um terreno vazio, despiram-no, amarraram-no a um poste, ajuntaram lenha em torno e lhe puseram fogo. Ouviram-no cantar a litania - Christo, Fili Dei vivi, miserere nobis.

Quando ia entoar a segunda linha - pai natas es ex Maria -, foi envolvido inteiramente pelas chamas e pela fumaça e a voz morreu-lhe na garganta. Suas cinzas foram lançadas ao Reno.

E assim pereceu queimado, aos 46 anos, quem pregou contra a injustiça, a venalidade e a insinceridade, tendo enfrentado a morte com grande coragem.

Dizem os historiadores que ele era uma alma sensível, piedosa, pura, honesta, só se deixando dominar pelo que lhe parecia justo e verdadeiro. E, ainda, que sua vida anuncia uma era nova, onde se imporão os direitos religiosos da consciência individual.

Dava grande importância à lei do Cristo, pregando que a verdadeira Igreja era aquela de que o Cristo era o chefe autêntico. Como pregador, a clareza de sua inteligência e a lógica de sua argumentação (Allan Kardec tinha essas virtudes bem ressaltadas, sendo chamado, por Camille Flammarion, o bom senso encarnado) produziam uma forte impressão em todos os que o ouviam.

Um ano após o martírio de Jan Huss, um discípulo seu também era imolado na fogueira da Inquisição: Jerônimo de Praga (1416).

Para concluir, lembramo-nos, emocionados, duma passagem contada pelo prestigioso médium e orador espírita Divaldo Pereira Franco, sobre a morte de Jan Huss, extraída da sua conferência «Deus tem pressa», dizendo que, enquanto seu corpo queimava na fogueira, Jan Huss teria proferido a seguinte frase, antes de morrer cantando: «Hoje vós assais um pato, mas dia virá em que o cisne de luz voará tão alto, que as vossas labaredas não mais alcançarão. Séculos depois Jan Huss volta como Allan Kardec...»

Fontes:

1 - «Enciclopédia Britânica Mirador Internacional» e «Grande Enciclopédia Larousse Cultural».
2 - «A Missão de Allan Kardec», de Carlos Imbassahy, edição da FEP.
* FOTO - Gravura de Jan Hus extraída da Enciclopédia Britânica Mirador Internacional.

(Jornal Mundo Espírita de Janeiro de 1999)


Leitura Recomendada;


EXPOENTES DA CODIFICAÇÃO FÉLICITÉ ROBERT DE LAMENNAIS
EXPOENTES DA CODIFICAÇÃO JOÃO MARIA VIANNEY - O CURA D'ARS
EXPOENTES DA CODIFICAÇÃO JOÃO MARIA VIANNEY - O CURA D'ARS
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO JEAN-JACQUES ROUSSEAU
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO DELPHINE DE GIRARDIN
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO BLAISE PASCAL                  
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO SÓCRATES                          
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO PLATÃO                               
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO JOANA D'ARC                     
EXPOENTE DA CODIFICAÇÃO DELPHINE DE GIRARDIN   
ANDRÉ LUIZ CONCEDE ESPETACULAR ENTREVISTA EM 1964.             
ERASTO
TOMÉ - O APÓSTOLO DESCRENTE
A CARIDADE SEGUNDO O APÓSTOLO PAULO
SANTO AGOSTINHO E O ESPIRITISMO
PAULO [OU SAULO PARA OS HEBREUS] DE TARSO, O APÓSTOLO DOS GENTIOS
KARDEC ANALISA EMMANUEL SWEDENBORG
NICODEMOS (O ENTREVISTADOR NOTURNO)
SERIE ANDRE LUIZ (CHICO XAVIER)
ANDRÉ LUIZ - REFLEXÕES NECESSÁRIAS
AS IRMÃS FOX E O FENÔMENO DE HYDESVILLE
http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2012/09/as-irmas-fox-e-o-fenomeno-de-hydesville.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário